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Sobre Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.
A REVOLUÇÃO CENTENÁRIA Os centenários foram inventados no fim do século XIX. Em algum momento entre o centésimo aniversário da Revolução Americana (1876) e o da Revolução Francesa (1889) -ambos comemorados com as exposições internacionais de praxe -os cidadãos instruídos do mundo ocidental tomaram consciência do fato de que aquele mundo, nascido entre a Declaração de Independência, a construção da primeira ponte de ferro do mundo e a tomada da Bastilha, estava completando cem anos. Qual seria o resultado de uma comparação entre o mundo dos anos 1880 e o dos anos 1780?* Em primeiro lugar, em 1880 ele era genuinamente global. Quase todas as suas partes agora eram conhecidas e mapeadas de modo mais ou menos adequado ou aproximado, Com mínimas exceções, a exploração já não consistia em "descoberta", mas numa forma de esforço atlético, muitas vezes mesclado a importantes elementos de competição pessoal ou nacional; tipicamente a tentativa de dominar os ambientes físicos mais duros e inóspitos do Ártico e da Antártida. O norte-americano Peary chegaria em primeiro lugar ao Pólo Norte em 1909, vencendo nesse desafio seus competidores britânico e escandinavo; o norueguês Amundsen atingiu o Pólo Sul em 1911, um mês antes do desafortunado britânico capitão Scott. (Tais façanhas não tinham nem pretendiam ter a menor conseqüência prática.) A ferrovia e a navegação a vapor haviam reduzido as viagens intercontinentais ou transcontinentais a uma questão de semanas, em vez de meses -salvo na maior parte do território da África, da Ásia continental e de partes do interior da América do Sul -, e em breve as tornariam uma questão de dias; com a conclusão da Ferrovia Transiberíana, em 1904, seria possível viajar de Paris a Vladivostok em quinze ou dezesseis dias. Com o telégrafo elétrico, a transmissão de informação ao redor do mundo era agora uma questão de horas. Em decorrência, homens e mulheres do mundo ocidental -mas não só eles viajaram e se comunicaram através de grandes distâncias com facilidade e em número sem precedentes. Vejamos apenas um exemplo do que seria considerado uma fantasia absurda na época de Benjamin Franklin. Em 1879, quase um milhão de turistas visitaram a Suíça. Mais de 200 mil deles eram norte-americanos: o equivalente a PDL -Projeto Democratização da Leitura mais de um em cada vinte habitantes da totalidade dos EUA, considerando-se seu primeiro censo (1790).* 2 Ao mesmo tempo, o mundo era muito mais densamente povoado. As cifras demográficas são tão especulativas, sobretudo no que tange ao final do século XVIII, que a precisão numérica é inútil e perigosa; mas não deve ser muito equivocado supor que os aproximadamente 1,5 bilhões de seres humanos vivos nos anos 1880 representavam o dobro da população mundial dos anos 1780. Os mais numerosos eram, de longe, os asiáticos, como sempre? Foram, mas enquanto em 1800 eles constituíam quase dois terços da humanidade (segundo estimativas recentes), em 1900 talvez fossem 55 por cento. O segundo maior grupo era o dos europeus (incluindo a Rússia asiática, esparsamente povoada). A população européia era em 1900 (430 milhões) quase com certeza mais do dobro dos, digamos, 200 milhões de 1800. Ademais, sua emigração em massa para outros continentes foi responsável pela mudança mais drástica que sofreu a população mundial: o aumento dos habitantes das Américas de cerca de 30 a quase 160 milhões entre 1S00 e 1900; e, especialmente, a América do Norte, que aumentou de cerca de 7 a mais de 80 milhões de habitantes. O devastado continente africano, sobre cujos dados demográficos, como se sabe, há pouca informação, cresceu mais lentamente que qualquer outro, talvez no máximo um terço nesse século. No final do século XVIII havia, talvez, três vezes mais africanos do que americanos (do norte e latinos), ao passo que no fim do século XIX é provável que houvesse substancial-mente mais americanos do que africanos. A reduzida população das ilhas do Pacífico, incluindo a Austrália, embora reforçada por uma migração européia de hipotéticos 2 a talvez 6 milhões de pessoas, tinha pouco peso demográfico. Contudo, enquanto num sentido o mundo estava se tornando demograficamente maior e geograficamente menor e mais global -um planeta ligado cada vez mais estreitamente pelos laços dos deslocamentos de bens e pessoas, de capital e comunicações, de produtos materiais e idéias -, em outro sentido este mundo caminhava para a divisão. Nos anos 1780, como em todos os outros períodos da história de que se tem registro, houve regiões ricas e pobres, economias e sociedades avançadas e atrasadas, unidades com organização política e força militar mais fortes e mais fracas. E é inegável que um abismo profundo separava a grande faixa do mundo que fora, tradicionalmente, o reduto das sociedades de classe e de Estados e cidades mais ou menos estáveis, administrados por minorias cultas e -feliz-mente para o historiador -gerando documentação escrita, das regiões ao norte e ao sul, sobre as quais se concentrou a atenção dos etnógrafos e antropólogos do final do século XIX e começo do século XX. Não obstante, dentro dessa ampla faixa onde vivia a maior parte da humanidade -que se estendia do Japão a leste ao litoral norte e central do Atlântico e, através da conquista européia, ao território americana -as disparidades, embora já acentuadas, ainda não pareciam insuperáveis. Em termos de produção e riqueza, para não falar de cultura, as diferenças entre as principais regiões pré-industriais eram, pelos padrões modernos, espantosamente mínimas de PDL -Projeto Democratização da Leitura digamos, 1 a 1,8. De fato, uma estimativa recente calcula que, entre 1750 e 1800, o produto nacional bruto per capita nos países hoje conhecidos como "desenvolvidos51 era basicamente? mesmo que na região agora conhecida como "Terceiro Mundo", embora isso provavelmente se deva ao enorme tamanho e peso relativo do Império Chinês {com cerca de um terço da população mundial), cujo padrão médio de vida à época devia ser superior ao europeu. 1 No século XVIII, os europeus podem ter achado o Celeste Império um lugar lealmente muito estranho, mas nenhum observador inteligente o teria considerado, em qualquer sentido, uma economia ou civilização inferior à européia, e menos ainda um país "atrasado", Mas, no século XIX a defasagem entre os países ocidentais, base da revolução econômica que estava transformando o mundo, e os demais se ampliou, primeiro devagar, depois cada vez mais rápido. Ao redor de 1880 (segundo o mesmo cálculo), a renda per capita do mundo "desenvolvido" era cerca do dobro da do Terceiro Mundo; em 1915 seria mais do que o triplo, e continuava aumentando. Em torno de 1950 (para destacar o contraste), a diferença era de I a 5; em 1970. de 1 a 7. Ademais, a defasagem entre o Terceiro Mundo e as áreas realmente desenvolvidas do mundo "desenvolvido", ou seja, os países industrializados começaram mais cedo e se ampliou ainda mais acentuadamente. O PNB per capita já era mais do dobro que o do Terceiro Mundo em 1830; em 1913, cerca de sete vezes maior.* A tecnologia era uma das principais causas dessa defasagem, acentuando-a não só econômica como politicamente. Um século após a Revolução Francesa, tornava-se cada vez mais evidente que os países mais pobres e atrasados podiam ser facilmente vencidos e {salvo se fossem muito grandes) conquistados, devido à inferioridade técnica de seus armamentos. Tratava-se de um fato relativamente novo. A invasão do Egito por Napoleão. em 1798, opôs os exércitos francês e maiêutico com equipamento comparável, As conquistas coloniais das forças européias haviam sido realizadas não par causa de armas milagrosas, mas devido a uma maior agressividade, crueldade e, "cima de tudo, organização disciplinada,4 Contudo, a revolução industrial, que se fez presente nos conflitos armados em meados do século (cf., A Era do Capital, cap. 4), fez a balança pender mais ainda a favor do mundo "avançado" graças aos explosivos potentes, às metralhadoras e ao transporte a vapor (ver cap. 13). Eis por que o meio século transcorrido entre 1880 e 1930 seria a idade de ouro. ou melhor, de ferro, da diplomacia de canhoneira. Portanto, ao abordar 1880, estamos menos diante de um mundo único do que de dois setores que, combinados, formam um sistema global: o desenvolvido e o defasado; o dominante e o dependente, o rico e o pobre. Mesmo esta descrição é enganosa. Enquanto o (menor) Primeiro Mundo, apesar de suas consideráveis disparidades internas, era unido pela história e por ser o portador conjunto do desenvolvimento capitalista, o Segundo Mundo (muito maior) não era unido senão por suas relações com o primeiro, quer dizer, por sua dependência potencia! ou real. O que PDL -Projeto Democratização da Leitura "Oriente Próximo": por isso, o sudoeste da Ásia veio a ser conhecido como "Oriente Médio", Por outro lado, os dois Estados que mais fizeram por repelir os turcos eram ou se tornaram potências européias, apesar do atraso notório da totalidade ou de parcelas de seus povos e territórios: o Império Habsburgo e, acima de tudo, o império dos czares da Rússia. Assim, grandes extensões da "Europa" estavam, na melhor das hipóteses, na periferia do centro do desenvolvimento econômico capitalista e da sociedade burguesa. Em alguns deles, a maioria dos habitantes vivia visivelmente num século diferente do de seus contemporâneos e governantes -como no litoral Adriático da Dalmácia ou na Bukovina, onde, em 1880, 88% da população eram analfabetos, contra 11% na Baixa Austrália, que fazia parte do mesmo império. Muitos austríacos cultos partilhavam da opinião de Metternich de que "a Ásia começa onde a estrada para o Oriente sai de Viena", assim como a maioria dos italianos do norte encaravam a maioria dos italianos do sul como uma espécie de bárbaros africanos; mas em ambas as monarquias as áreas atrasadas eram apenas uma parte do Estado. Na Rússia, a questão "européia ou asiática?" caiava muito mais fundo, já que praticamente...
2014
Resumo O presente livro oferece uma abordagem diacrónica de elementos patrimoniais de alguns dos padrões alimentares dos Portugueses e da forma como a receção e fusão dos mesmos se dá na cultura brasileira. A obra constituise de quatro partes, formadas por capítulos agregados por épocas históricas (da Antiguidade Clássica à Época Contemporânea). Assim os capítulos reunidos na I Parte apresentam estudos sobre hábitos de consumo e rituais de convivialidade oriundos das duas grandes civilizações fundadoras da Europa, a grega e a latina, e têm por objectivo demonstrar como algumas práticas, hoje tidas irrefletidamente por hábitos dos tempos contemporâneos, são muito mais do que isso. Constituem a ligação do homem atual a um passado distante, a herança mediterrânea antiga, ainda assim modeladora da sua identidade. Na Parte II o enfoque orienta-se para o universo da alimentação na Idade Média, quer abordando questões de ordem moral/religiosa, quer debruçando-se sobre dois dos universos mais documentados para a época em questão: a mesa dos reis e a das ordens monásticas. Segue-se a Parte III, que permite ao leitor compreender, com base no exemplo da mesa régia e de um colégio universitário, alguns dos aspetos fundamentais da transição da Idade Média para a Idade Moderna. Os Descobrimentos portugueses provocaram um enorme impulso na produção de açúcar e, consequentemente, no fabrico, comércio e consumo de doces, temática central nesta parte da obra. Na Parte IV, cria-se um espaço de reflexão sobre o contributo da herança cultural portuguesa na construção de um discurso sobre a cozinha brasileira e no aparecimento na sociedade, sob a influência colonial, de mitos, crenças e tabus associados ao aleitamento materno (um tema geralmente marginalizado no âmbito da História da Alimentação).
No quadro de dificuldades criado pela crise que afetou a Europa ocidental no fim da Idade Média, a centralização do poder pelos reis surgiu como alternativa política capaz de restabelecer a ordem e a segurança. Atuando inicialmente como árbitro entre os senhores feudais a burguesia, o rei conseguiu, aos poucos, impor sua autoridade sobre todo o território do reino. Nesse longo e tortuoso processo, a fragmentação do poder político, característica da Idade Média, deu lugar ao governo centralizado e à unificação dos territórios. Surgiram assim, por toda a Europa ocidental, monarquias fortalecidas, como as de Portugal, Espanha, França e Inglaterra. Senhor absoluto do poder, foi o rei o principal agente na construção do Estado moderno.
Studying hybris in Histories of Herodotus means realizing how the changes in fifth-century Hellenic society, caused by the growth of democracy, philosophy and theater, altered Greek values and thought. Through the analysis of the royal characters, we try to reflect upon how the hybris is manifested in the stories.
Roda da Fortuna, 2021
O objetivo deste artigo é analisar de que maneira grupos de origem escandinava inseriram-se nas dinâmicas de poder local e do reino da Inglaterra no século X. Para tanto, tomaremos como referência duas personagens aparentadas, da região da Danelaw e de descendência escandinava, que ascenderam a posições importantes na Igreja inglesa: Oda, bispo de Ramsbury e arcebispo de Canterbury e Oswald, bispo de Worcester, arcebispo de York e sobrinho de Oda. Sua participação em charters régios e locais e em círculos próximos à casa de Wessex fornecem-nos bons indícios de como pessoas de família escandinava vinham a integrar-se às lógicas de poder pré-existentes. Levaremos em consideração, ainda, o papel desses clérigos na reforma monástica na ilha e em como a vinculação a monarcas anglo-saxões contribuiu a favor deles. -------- The aim of this article is to analyse the ways in which Scandinavian groups become inserted in dynamics of local power and of Kingdom of England in the 10th Century. To do so, it will be taken as references two kin related characters, from Danelaw region and from Scandinavian ancestry, which ascended to important offices in English Church: Oda, bishop of Ramsbury and archbishop of Canterbury and Oswald, bishop of Worcester, archbishop of York and Oda's nephew. Their involvement in royal and local charters and in closer circles to Wessex house provide us supporting evidence of how people from Scandinavian family become inserted in pre-existent dynamics of power. It will be also take into consideration the role played by theses clergy in monastic movement at the island and how the entailment to Anglo-Saxon monarchs contributed in their favour.
2021
- Afinal, por onde teria andado Jesus após Sua crucificação e morte até a madrugada da Ressurreição? - Em que tipo de corpo Ele aparece aos seus discípulos? - O que ocorreu com Seu corpo carnal? - Qual é a síntese de Sua mensagem? Este livro nos leva a uma imersão na história do Cordeiro, criando um cenário a partir da Sexta-feira da Paixão até o Domingo da Ressurreição, baseando-se nos registros contidos nos Evangelhos Canônicos e no estudo cientifico do Sudário de Turim. Avançando no tempo, busca também compreender a importância da mediunidade ao longo dos séculos do cristianismo.
Revista Eletronica De Letras, 2014
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En La Espana Medieval, 1999
ARMAS E TROFÉUS, IX série, tomo 20, 2018
Revista Lusófona de Ciência das Religiões (ISSN 2183-3737), 2013
Revista de História da Sociedade e da Cultura
Literatura e Sociedade, 2009
Ehumanista Journal of Iberian Studies, 2007