Da animação comunicante do inorgânico.
A condução do conceito de inorgânico para o campo da história da arte foi primeiramente feita pelos autores do séc. XIX que consideraram a evolução histórica das formas segundo «conceitos fundamentais». O inorgânico constituiria assim uma categoria estética, na medida em que as formas minerais, como o cristal, seriam representantes de uma ordem geométrica perfeita na natureza (Alois Riegl). Por sua vez, a procura por uma ordem perfeita refletir-se-ia na produção artística dos povos, em função da procura por uma arte da pacificação e da abstração (Wilhelm Worringer). Regra geral, estes autores procedem a uma interpretação da história da arte segundo as transformações verificadas no Lebensgefühl (sentimento de vida) dos povos e das épocas. Assim, a presença do inorgânico revela uma necessidade de estabelecer os termos em que o «mundo das coisas» comunica com a senciência humana. É neste sentido que uma outra categoria estética, a empatia, dá conta de um processo de projeção da vida íntima do sujeito em algo fora dele (Friedrich Vischer), oferecendo a possibilidade de pensar a experiência estética nos termos de um relação comunicante entre as emoções humanas e o mundo neutro e aparentemente vazio de um objeto (Walter Benjamin, Mario Perniola). A «empatia para com o inorgânico» pode assim ser pensada como a relação estética propriamente dita, do ponto de vista do sujeito que sente. Mas será possível, nas cartografias do séc. XXI, deslocar a nossa perspetiva para o lado do objeto? Existe uma vida objetual, uma carga vital interior ao inorgânico (Remo Bodei, Jane Bennett)? A nossa comunicação pretende oferecer uma apresentação histórica destes conceitos e indagar o modo de sentir contemporâneo através deste eixo comunicante entre senciência e coisa, entre sentimento e impassividade, entre humano e inorgânico.
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