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Problematizações feministas à obra de Michel Foucault

2007, Revista Mal Estar e Subjetividade

Abstract

RESUMO Este trabalho propõe-se a problematizar alguns aspectos da obra de Michel Foucault a partir do diálogo-mutuamente enriquecedor-entre Foucault e os estudos feministas. Mantidas as diferenças e as tensões que lhes são constitutivas, acreditamos ...

Key takeaways

  • Apesar da crítica das feministas à omissão dos aspectos de gênero nas análises de Foucault, Diamond & Quinby (1988) destacam algumas convergências entre o pensamento feminista e a obra de Foucault: 1) ambos identificam o corpo como o local de poder, como o locus de dominação através do qual a docilidade é executada e a subjetividade constituída; 2) ambos apontam para as relações locais do poder ao invés de concebê-lo apenas como o poder vertical do Estado ou do capital; 3) ambos enfatizam o papel crucial do discurso e sua capacidade de produzir e sustentar as formas de dominação e enfatizam os desafios e as possibilidades de resistência dos discursos marginalizados; 4) ambos criticam o humanismo Ocidental que tem privilegiado a experiência da elite masculina em seus universais de verdade, liberdade e natureza humana.
  • Embora cada vez mais trabalhos como os de Perrot (1988de Perrot ( , 1998 destaquem as formas de resistência feminina ao longo da história e contraponham-se à vitimização das mulheres, as feministas têm demonstrado que o poder foi (e ainda é) predominantemente masculino, cujo objetivo original foi a dominação das mulheres, especialmente de seus corpos (Diamond & Quinby, 1988).
  • Embora Foucault não tenha elegido o modelo grego como transponível ou desejado para o nosso tempo, pois ele afirma que "a ordem hierárquica grega é degradante, uma vez baseada na submissão das mulheres e dos escravos" (Foucault, 1994, p. 612), nosso argumento é o de que a escolha da análise do cuidado de si grego como forma de colocar em evidência a precariedade dos modos de subjetivação contemporâneos, conforme ressalta Gros (2002), não é isenta de conseqüências.
  • As feministas e Foucault (1995) igualmente compreendem que há relações em que o poder está congelado, saturado, não havendo mobilidade ou fluidez, o que caracteriza os estados de dominação.
  • Se Foucault (1999) era o filósofo das problematizações, por que não problematizar as questões da dominação de gênero, de classe e de etnia evidentes na constituição do sujeito e dos regimes de verdade?