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Viagens de peregrinação: devoção, salvação e outras possibilidades

Abstract

Anais do XXVI Simpósio Nacional de História -ANPUH • São Paulo, julho 2011 1 VIAGENS DE PEREGRINAÇÃO: DEVOÇÃO, SALVAÇÃO E OUTRAS POSSIBILIDADES VIVIANE AZEVEDO DE JESUZ * Durante o medievo, desenvolveu-se de forma intensa a prática do deslocamento de pessoas a locais considerados sagrados, de modo que em seus séculos finais a peregrinação já se encontrava plenamente difundida. Peregrinos de diversas localidades da cristandade lançavam-se a essas viagens, que eram por vezes longínquas e de difícil realização devido aos obstáculos físicos dos caminhos que conduziam aos lugares santos. As dificuldades, no entanto, não refreavam esse movimento dos viajantes cristãos, cuja meta era o encontro com o sagrado, ainda que despendessem muito mais tempo enfrentando os desafios do que apreciando os lugares santos. Em nosso estudo, discutimos a participação dos citadinos neste movimento de peregrinação, adotando como fonte de análise o conjunto de contos reunidos na narrativa inglesa The Canterbury Tales, escrita por Geoffrey Chaucer em fins do século XIV. 1 Trata-se de um conjunto de vinte e quatro histórias em versos, nas quais os peregrinos, oriundos principalmente do meio urbano, narram momentos da vida de diversos personagens, enquanto também são personagens de uma outra história, mais ampla, a da peregrinação. Segundo Michel Sot, as peregrinações comportam quatro características centrais. Em primeiro lugar, está a própria viagem física, que acarreta uma relação com o espaço, trate-se daquele do qual se afasta, ou daquele através do qual se movimenta. Existe, então, um fim dessa caminhada, em que se espera propiciar o contato com uma nova realidade, uma realidade sagrada. A peregrinação é ainda um tempo de celebração, pois, embora se busque um objetivo, o essencial são as provações do caminho percorrido. Por fim, como recompensa por seu esforço, os peregrinos alcançam os benefícios desejados, sejam estes espirituais ou físicos, o perdão ou a cura.