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INTRODUÇÃO O contraste entre a psicologia individual e a psicologia social ou de grupo, que à primeira vista pode parecer pleno de significação, perde grande parte de sua nitidez quando examinado mais de perto. É verdade que a psicologia individual relaciona-se com o homem tomado individualmente e explora os caminhos pelos quais ele busca encontrar satisfação para seus impulsos instintuais; contudo, apenas raramente e sob certas condições excepcionais, a psicologia individual se acha em posição de desprezar as relações desse indivíduo com os outros. Algo mais está invariavelmente envolvido na vida mental do indivíduo, como um modelo, um objeto, um auxiliar, um oponente, de maneira que, desde o começo, a psicologia individual, nesse sentido ampliado mas inteiramente justificável das palavras, é, ao mesmo tempo, também psicologia social. As relações de um indivíduo com os pais, com os irmãos e irmãs, com o objeto de seu amor e com seu médico, na realidade, todas as relações que até o presente constituíram o principal tema da pesquisa psicanalítica, podem reivindicar serem consideradas como fenômenos sociais, e, com respeito a isso, podem ser postas em contraste com certos outros processos, por nós descritos como 'narcisistas', nos quais a satisfação dos instintos é parcial ou totalmente retirada da influência de outras pessoas. O contraste entre atos mentais sociais e narcisistas — Bleuler [1912] talvez os chamasse de 'autísticos' — incide assim inteiramente dentro do domínio da psicologia individual, não sendo adequado para diferençá-la de uma psicologia social ou de grupo. O indivíduo, nas relações que já mencionei — com os pais, com os irmãos e irmãs, com a pessoa amada, com os amigos e com o médico —, cai sob a influência de apenas uma só pessoa ou de um número bastante reduzido de pessoas, cada uma das quais se torna enormemente importante para ele. Ora, quando se fala de psicologia social ou de grupo, costuma-se deixar essas relações de lado e isolar como tema de indagação o influenciamento de um indivíduo por um grande número de pessoas simultaneamente, pessoas com quem se acha ligado por algo, embora, sob outros aspectos e em muitos respeitos, possam ser-lhe estranhas. A psicologia de grupo interessa-se assim pelo indivíduo como membro de uma raça, de uma nação, de uma casta, de uma profissão, de uma instituição, ou como parte componente de uma multidão de pessoas que se organizaram em grupo, numa ocasião determinada, para um intuito definido. Uma vez a continuidade natural tenha sido interrompida desse modo, se uma ruptura é assim efetuada entre coisas que são por natureza interligadas, é fácil encarar os fenômenos surgidos sob essas condições especiais como expressões de um instinto especial que já não é redutível — o instinto social (herd instinct, group mind), que não vem à luz em nenhuma outra situação. Contudo, talvez possamos atrever-nos a objetar que parece difícil atribuir ao fator numérico
Esse texto corresponde ao extrato de aula ministrada na disciplina de Psicopatologia e Cultura do curso de graduação em Psicologia da UFRGS no segundo semestre de 2018. Trata-se de uma síntese comentada de "Psicologia das Massas e Análise do Eu", poderoso escrito freudiano com grandes consequências para a prática clínica e para o pensamento político.
Psicologia em Pesquisa (UFJF), 2021
Ao levar em conta a sua importância tanto metapsicológica quanto social, este artigo traça um itinerário das noções de narcisismo e melancolia no escopo de "Psicologia das Massas e Análise do Eu". Neste sentido, ao promover uma reconstituição do caminho que se inicia em "Introdução ao Narcisismo" e "Luto e Melancolia" até a reaparição desses conceitos no texto sobre a psicologia das massas, pretende lançar luz sobre os processos de idealização, identificação e introjeção que, de acordo com Freud, ladrilham uma continuidade entre sujeito e sociedade. Conclusivamente, aponta possíveis conexões entre a cisão do Eu, a servidão melancólica e as tentativas de reaver um narcisismo mediante a imersão nas massas hodiernas.
Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea
O mundo político foi tomado de sobressalto em meados da década passada pela descoberta da influência de empresas de propaganda que teriam utilizado rastros digitais dos eleitores para manipulá-los. Com o auxílio do Big Data e dos algoritmos, grupos teriam conseguido hackear eleições ao redor do mundo, criando uma nova arma de manipulação psicológica que constituiria uma ameaça à democracia. Este artigo, entretanto, pretende lançar luz sobre outra perspectiva: muito embora os avanços tecnológicos demandem análises específicas, mecanismos de controle social subjetivo não são uma novidade. Dessa forma, as táticas usadas contemporaneamente não são invenção de um modo novo de fazer política, são versões atualizadas de um sistema de manipulação antigo. Se a democracia corre risco porque as pessoas estão sob a mira de grupos que tentam influenciá-las sem que elas saibam, ela sempre esteve, pois sempre que a opinião pública foi importante, houve sistemas articulados para manipulá-la.
REVISTA APOENA - Periódico dos Discentes de Filosofia da UFPA, 2021
Já em 1921, Freud inaugurou uma abordagem que considera a psicologia das massas como extensão das experiências individuais, célebre pela afirmação de que toda psicologia é, em última análise, social. Tal perspectiva seria reapropriada por Adorno, que desdobrou a posição freudiana ao situar as massas como um agente decisivo a partir do estágio industrial do capitalismo. Diante do valor deste diálogo, o presente trabalho adotou como objetivo uma análise da reapropriação feita por Adorno da psicologia das massas tal como preconizada por Freud. Mediante uma obrigatória referência a Psicologia das Massas e Análise do Eu, de Freud, delineou a trajetória do conceito de massa ao longo da obra de Adorno até a culminância de uma psicologia social analiticamente orientada. Em termos conclusivos, aposta que as condições que levam o indivíduo a “ser” massa são relativas à objetividade social que promove a irracionalidade mediante a mercantilização e reificação das relações sociais.
Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
ANA AZEVEDO - MITO E PSICANÁLISE , 2004
Um importante jornal de Brasília publicou, há algum tempo, matéria tratando de responder a uma série de dúvidas que comumente temos sobre saúde, alimentação e esporte (por exemplo, se o ovo aumenta o colesterol; se a margarina é melhor que a manteiga, ou se pintas e sinais podem virar câncer). As respostas, todas bastante assertivas e conclusivas, vinham divididas sob duas categorias, ou melhor, dois veredictos: mito ou verdade. Assim, as perguntas sobre o ovo e a margarina foram classificadas de “mito”, e a questão sobre pintas e sinais, de “verdade”
Nascido em Londres, 1963, e criado em Schwarzach, Áustria, Thomas Teo é Professor do Programa de História e Teoria da Psicologia na York University, em Toronto (Canadá), na qual trabalha desde 1996. Atualmente, edita o Journal of Theoretical and Philosophical Psychology, publicado pela American Psychological Association (APA). Recebeu diversos prêmios. Gravamos a entrevista a 22 de outubro de 2014, no escritório de Thomas na York University – ainda a salvo do rigoroso clima canadense, que já ameaçava, no ambiente externo, temperaturas próximas dos cinco graus Celsius, pondo melancolia nos semblantes e mais roupa nos corpo
2021
Neste volume, tratamos de pensar, na atualidade, a força dos postulados freudianos. A questão da constituição social, frente à formação ‘associal’ da neurose – para Freud, em Totem e Tabu, os instintos sociais são uma junção de elementos egoístas, referentes às exigências de autopreservação, e eróticos, relativos aos impulsos sexuais, ao passo que na formação da neurose, as exigências sexuais predominariam – traz uma tensão inerente ao laço social. Freud perguntava-se, após a criação de seu mito de explicação da origem da sociedade, o que mantinha os seres humanos unidos, -ndependentemente das características de tais agrupamentos.
Editora Blucher eBooks, 2024
Para avançar no exame da noção de sujeito, na Análise do Discurso de linha Francesa (AD), na contemporaneidade, procuramos identificar tanto alguns insights quanto aspectos problemáticos nos estudos de Pêcheux (1988de Pêcheux ( , 2006)), quando aborda a forma-sujeito, associando-a às relações que ela promove entre o linguístico-discursivo, a ideologia, o inconsciente e as condições sócio-históricas de produção do discurso. O fato
Polem Ca, 2012
Resumo: Esse texto pretende ser uma contribuição para pensar uma micropolítica do corpo, tomando-o em seu aspecto sensível, aberto a múltiplas experimentações. Para debater esse aspecto do corpo, o sensível, nos associamos a Deleuze e Guattari a fim de discutir o momento atual do capitalismo a partir de duas de suas características: sua tendência de transformar tudo em mercadoria e sua captura dos fluxos do corpo. A partir da ação dessas duas forças surge uma intensa produção de novas percepções e novos desejos impostos ao corpo. Aqui nos ocupamos em perguntar: pode o corpo escapar dessa produção? Em ressonância com Foucault atingimos o corpo na sua materialidade. Em sua carne, o corpo é espaço de abertura a outros possíveis, a outros espaços, ele é utópico. O corpo é o ponto zero, ele é espaço de entrecruzamentos, é um pequeno núcleo utópico de onde derivam os devires. O corpo não tem lugar, mas é dele que deságuam todos os espaços possíveis. O corpo é o invólucro, mas invólucro do infinito. O corpo entendido como espaço do infinito é um vazio-fonte que contém em si toda a virtualidade. Abordamos a dança como prática estético-política da condição minoritária do corpo, onde é possível evidenciar e engendrar no corpo um devir-dançarina. Palavras-chave: micropolítica; corpo; devir; dança.
Objetivo: A psicoterapia psicanalítica tem sido amplamente debatida e estudada. O objetivo desta revisão é compreender a importância da memória episódica e do insight para a psicanálise e psicoterapia psicanalítica, de forma a perceber o estado de arte da investigação neste âmbito. Método: Realizaram-se pesquisas sistemáticas nas bases electrónicas: PsycInfo, PsycARTICLES, PEP, Psychology and Behavioral Sciences Collection, Academic Search Complete e Researchgate, pelos termos, psicoterapia psicanalítica e psychoanalytic therapy, psychodynamic therapy, episodic memory, memória episódica e insight. Resultados: As pesquisas mostram uma considerável quantidade informação conceptual sobre a memória episódica e o insight na teoria psicanalítica. No entanto, a pesquisa de artigos empíricos revelou que são escassos os estudos acerca do fenómeno da recordação episódica e do de insight. O que se verifica ainda mais se se indagar acerca da sua preponderância ao longo do processo analítico. Conclusões: Na teoria e tratamento psicanalítico os conceitos de memória episódica e insight adquirem uma grande relevância. Estes conceitos parecem estar associados para a efetividade da psicoterapia, apesar de não se conseguir averiguar empiricamente de que modo contribuem para esta.
Sofia, 2024
O presente artigo visa considerar as teses de Husserl acerca do “eu” na primeira edição das Logische Untersuchungen. Se nos desdobramentos transcendentais de seu pensamento, a ideia de um “eu puro” assume relevância decisiva, nas origens da Fenomenologia deparamo-nos com sua expressa rejeição. Em um exame concreto dos únicos dados que poderiam ser fenomenologicamente reconhecidos como um “eu”, Husserl introduz as noções de um “eu empírico”, por um lado, e de um “eu como unidade fenomenológica de vivências”, por outro. O interesse aqui é entender a argumentação do pensador para rejeição do primeiro conceito e para a clarificação dos dois últimos, bem como de sua inter-relação e hierarquia. Com isso, pretende-se compreender melhor a posição sistemática do “eu” nas origens da Fenomenologia e oferecer subsídios para a sua compreensão nas fases mais tardias.
Resumo O presente trabalho tem como objetivo compreender a dimensão psíquica da depressão a partir de uma leitura psicanalítica, em vista de suas contribuições para a clínica da depressão. A pesquisa realizada caracterizou-se como um estudo de caso, tendo sido escolhidos para análise dois casos de pacientes atendidos no CEAPSI (Centro de Estudos Aplicados em Psicologia), durante o ano de 2013. O material trabalhado consistiu da análise relatos das participantes colhidos durante as sessões. A partir do suporte teórico, que viabilizou a interlocução com a prática clínica, foi possível perceber que a clínica de base psicanalítica, por meio da sua técnica, contribui para que o ser humano deprimido desenvolva condições e estratégias de implicação na própria vida e, desse modo, se coloca na contramão da medicação excessiva e indiscriminada que tira o sujeito do sintoma, mas não possibilita que atinja suas questões.
Problemata, 2019
Resumo: O objetivo desse artigo consiste em abordar o fenômeno social do fascismo e do comportamento dos indivíduos em grupo pelo viés da teoria freudiana da psicologia das massas, fenômeno este que teve grande influência em alguns países no século XX, tendo seu surgimento na Itália, o qual serviu de inspiração para o nazismo na Alemanha. Tal ideologia foi adotada principalmente por seu forte caráter nacionalista e autoritário como meio de salvação para a crise econômica. Abordaremos a distinção entre o comportamento da vida psíquisa do ser individual e a alma coletiva visando compreender as principais questões que surgem nesse estudo sobre o comportamento das massas, que são: como uma massa pode exercer influência na vida psíquica do ser individual? Em que consiste a modificação da 178sique que a massa impõe ao indivíduo? De acordo com Freud, como veremos, o inconsciente possui um papel fundamental nas ações humanas e, segundo Le Bom, o senso de responsabilidade dos atos dos indivíduos na massa não existe, dado que este se sente autorizado a ceder aos instintos inconscientes que, enquanto ser individual, antes controlava. Freud sustenta que os novos aspectos presentes no indivíduo da massa são exatamente o que antes, enquanto ser individual, não eram expostos e que ganha voz na massa. Outro ponto importante da abordagem de Freud e Le Bom são os aspectos do contágio e da sugestão presentes na massa, importantes para entender como o fascismo ganha adeptos ao discurso de ódio, contágio este que pode ser compreendido à luz dos estudos sobre hipnose de Freud. No presente trabalho também serão abordados os conceitos de libido e identificação, no intuito de compreender o que une os indivíduos na massa e ao seu líder, que são orientados por um discurso hipnotizador, deixando predominar, assim, uma personalidade inconsciente. Palavras-chave: Fascismo. Comportamento. Ser individual. Alma coletiva.
Revista Subjetividades, 2017
A partir de algumas reflexões freudianas sobre a arte, o artigo pergunta pelas condições de possibilidade de uma pesquisa psicanalítica do cinema. É possível pensar a imagem cinematográfica como linguagem? A fim de enfrentar este problema, este trabalho debruça-se sobre os fundamentos teórico-metodológicos do conceito linguagem cinematográfica, tal como pensado pela semiótica do cinema, de Christian Metz, e pela análise fílmica, de Raymond Bellour. É nos marcos dessas elaborações que, no início dos anos 1970, floresce uma intensa pesquisa sobre as articulações possíveis entre psicanálise e cinema. Nela, coloca-se o problema dos efeitos subjetivantes dessa linguagem singular. Ao adotar a premissa lacaniana de que a linguagem oferece ao infans a possibilidade de resistir à captura pela imagem, por meio da enunciação de si, o artigo avança algumas proposições de cunho metodológico acerca de uma singular orientação de pesquisa, que denomina análise fílmica psicanalítica.
2018
The objective of this essay is to give a special focus on the importance of the comprehension of relationships among races in Brazil for the praxis of the psychology professionals in its several fields of actuation. In order to do that, the author based on the concepts of “traumatic conflictual situation” (Guimaraes and Podkameni, 2008) and “perverse braid” (Sampaio, 2009) to work on the psycho and psychosomatic implications of the daily routine of racism exposition, begging for an effective discussion and inclusion in graduation courses, as well as among Brazilian psychologists.
2019
Expoe-se o processo de constituicao do sujeito como ser falante ( parletre ), a partir da incidencia da dimensao pulsional da linguagem ( lalangue ), articulada ao objeto voz, que perfura sua superficie corporal. O sujeito da psicanalise, causado pelo real da pulsao, em sua correlata destituicao subjetiva, situa-se no plano da ruptura ontologica. Ele subverte portanto qualquer consistencia que se queira dar-lhe, por exemplo, via categorias identitarias situadas no plano ontico-empirico. O corpo falante e uma caixa de ressonância do fato de que nele habita um dizer. Este e passivel de transmissao por intermedio dos “relatos de passe”, testemunhos singulares de um “saber se virar” ( savoir-y-faire ) com o objeto a , segredo do gozo do sujeito.
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