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Anais Eletrônicos da XXXIV Semana de História da UFJF

2018, Anais Eletrônicos - Semana de História UFJF

Abstract

A Semana de História da Universidade Federal de Juiz de Fora é um evento anual realizado por estudantes da graduação juntamente com o Centro Acadêmico de História Galba Di Mambro. Na sua trigésima quarta edição, o evento ocorreu entre os dias 15 e 19 de outubro, trazendo a temática "Gênero, raça, sexualidade e classe: potencialidades interseccionais sob a ótica do saber histórico", proposta pelas alunas Samara Souza Silveira e Cristiane de Paula Ribeiro e escolhida através de votação entre estudantes do curso. O tema do evento teve como intuito abordar um tema pungente para o saber histórico, sobretudo em tempos mais recentes em que temos visto um avanço conservador cada vez maior, conjuntamente com constantes retiradas de direitos e ataques a grupos minoritários. Indubitavelmente, sabemos que tal saber não se desvincula do nosso lugar de sujeito no tempo, como grandes nomes da historiografia já nos esclareceram, no qual o historiador, ao se colocar diante das fontes, levanta inquietações a partir de demandas apresentadas pelo presente. Diante disso, acreditamos que o diálogo da História com o presente significa compreender o próprio fazer histórico, assim como acarreta uma forma de dar significação ao que é produzido, de forma que o passado não seja simplesmente algo dado e encerrado – que nada diz ao presente. Desde a década de 1980, com o fim do predomínio de teorias totalizantes, os historiadores vêm complexificando o saber histórico, desenvolvendo novos paradigmas, voltando o olhar para fontes históricas que antes não eram consideradas legítimas e para novos questionamentos que podem ser feitos a partir delas. Ao longo desse processo, estruturas foram revisadas, e os lugares de “certeza” de certas práticas metodológicas foram abandonados. Do mesmo modo, o sujeito histórico, no singular, deixou de ser suficiente. Assim, tanto a historiografia quanto outros campos das humanidades passaram a interpretar a realidade como uma enorme colcha de retalhos, na qual se interpõem múltiplas teias de significações. Os sujeitos, agora no plural e muito mais diversos, começam a ser vistos sob outra perspectiva, considerando a multiplicidade de demandas e sentidos de suas atuações na História e na sociedade. Tais mudanças dialogam tanto com os desafios decorrentes de um mundo globalizado e fragmentado, quanto com o fortalecimento dos movimentos sociais e das lutas por direitos civis, sobretudo a partir da segunda metade do século XX. Nesse novo cenário, denunciar ou teorizar sobre as opressões que atingem cada categoria social isoladamente deixa de ser suficiente. Assim, surge o desafio de compreender e operar a interseccionalidade. Esse conceito, introduzido pela jurista norte-america Kimberlé Crenshaw, em 1989, foi amplamente discutido em contraposição a outros, como o de consubstancialidade, de Danièle Kergoat. No Brasil, a contribuição de Mary Castro, sugerindo o uso da “alquimia das categorias sociais”, também nos ajuda a compreender a relevância histórica desse debate. Interseccionalidade, consubstancialidade ou alquimia, a despeito das diferenças epistemológicas, versam sobre a importância de analisar o modo como as opressões e as identidades se cruzam, se potencializam e se interpelam. Pensar em interseccionalidade nos remete a nomes como, por exemplo, Angela Davis e Audre Lorde. Angela Davis, em suas obras, sobretudo em “Mulheres, raça e classe”, de 1981, analisa os componentes econômicos, políticos e ideológicos do modo de produção escravista e capitalista, nos permitindo vislumbrar como as diversas opressões e identidades se combinam e se entrecruzam na sustentação de projetos de dominação. Do mesmo modo, Audre Lorde, ao se posicionar como mulher, negra, lésbica, feminista e socialista, denunciava as dificuldades de operar essas múltiplas identidades no interior do movimento e no combate às opressões, sinalizando que considerá-las individualmente não era o caminho para superá-las. A temática do evento configurou-se, assim, numa espécie de “tema guarda-chuva” que, por não delimitar nenhuma temporalidade extremamente específica, visou agrupar em seu âmago os mais variados recortes temporais e metodológicos, expandindo o debate e a geração de saberes. Tratou-se de um tema que pretende o diálogo entre Presente e Passado – a partir da compreensão das múltiplas redes que se estabelecem no fazer do historiador e no próprio exercício de dar sentido à História – e que está conectado às múltiplas frentes de lutas que cada vez mais se estabelecem como um recorte dos trabalhos em História. Partindo da mesma ideia de que passado e presente se interpenetram numa gama complexa de significações, defendemos as categorias de gênero, raça, sexualidade e classe como recortes mais do que necessários dentro da construção de uma História que faça frente às ondas reacionárias e que se estabeleça, de fato, como representativa para as chamadas minorias sociais. Ademais, debater gênero, raça, sexualidade e classe em um curso que forma, majoritariamente, docentes é trazer à tona temáticas que abrem caminho para a construção de uma educação mais emancipadora e representativa, que não busque fazer uma escrita da História sob um olhar homogêneo. Reconhecendo a importância e a complexidade de produzir um saber histórico sob a ótica da interseccionalidade, o tema da XXXIV Semana de História da UFJF veio como uma demanda de graduandos e pós-graduandos do curso, sendo útil a toda a comunidade, acadêmica ou não.