2024
Esta não é uma tese sobre o labirinto como metáfora. Este é um doutorado sobre o labirinto como projeto. O interesse reside na investigação das intenções de se imaginar um labirinto, dos princípios contidos no projeto de um labirinto, dos propósitos de se construir um labirinto, da experiência de estar no interior de um labirinto. Para tanto, fez-se aqui uma genealogia das formas e dos significados dos labirintos ao longo de milênios. A tese está organizada em quatro partes, sendo a primeira delas dedicada aos personagens e às interpretações do mito grego do Labirinto de Creta. A segunda parte mostra como uma narrativa popular converteu-se em desenho por meio de moedas da Grécia Antiga, mosaicos romanos, pavimentos de pedra de catedrais medievais e até mapas venezianos. A terceira parte abarca o período dos séculos 15 ao 18, nos quais os labirintos de cercas vivas difundiram-se por jardins europeus, codificaram-se em tratados arquitetônicos e adquiriram sentidos contraditórios que convergiam na denominação “labirinto do amor”. A quarta e última parte é o estudo de caso do labirinto verde do jardim da Villa Barbarigo, em Valsanzibio, na região do Vêneto, na Itália. A partir de uma pormenorizada cronologia sobre esse jardim, impõem-se as duas perguntas centrais: quem projetou o labirinto e quem encomendou o labirinto? Questionando o que se correlaciona a um bispo católico do Seiscentos que virou santo – São Gregório Barbarigo –, apresenta-se uma nova hipótese alicerçada em diversos documentos coletados em diferentes arquivos históricos venezianos: o labirinto de Valsanzibio como uma intervenção paisagística settecentesca, que não foi fruto do desejo ou encomenda de um clérigo, mas sim de duas mulheres – a mãe Caterina Sagredo Barbarigo e a filha Contarina Barbarigo. Cada parte deste trabalho acadêmico é ultimado por um ensaio em que se examina uma questão teórica atemporal extraída da pesquisa histórica do respectivo segmento: (1) de que modo a fábula mitológica não se petrificou em uma narrativa unívoca, mas se tornou uma fonte literária infinita; (2) como labirintos ajudam a compreender a conversão, na arquitetura, de uma intenção mental em imagem; (3) o porquê de labirintos desafiarem o paradigma cultural atual a respeito da prerrogativa do autor; (4) como a desorientação pode ser um objetivo do arquiteto. Não se pode esquecer que a mitologia grega indicou Dédalo como o primeiro arquiteto da humanidade. Qual foi sua obra-prima? Um labirinto. O que a arquitetura preservou de seu advento?