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PISTIS SOPHIA - RAUL BRANCO

INFORMAÇÕES INICIAIS O manuscrito conhecido como Pistis Sophia (P.S.), merece ser considerado por todo estudante sério dos ensinamentos ocultos de Jesus e pelos pesquisadores de religião comparada. Pois, como será visto mais adiante, as lições ali transmitidas têm muitas semelhanças com as encontradas no Tantra Budista e na Vedanta, mormente nos seus aspectos mais velados. Esta correspondência entre os ensinamentos das diferentes tradições é observada por Blavatsky, que sugere ao estudioso: "Leia Pistis Sophia à luz do Bhagavad Gitâ, do Anugita e de outras escrituras; e, então, os ensinamentos de Jesus no Evangelho gnóstico (P.S.) se tornarão claros, desaparecendo incontinente os véus do texto literal." 1 Ademais, as maiores autoridades do primitivo cristianismo têm acentuado que P.S. constitui-se num dos mais importantes monumentos do gnosticismo, às vezes reconhecido como o próprio cristianismo primitivo, mercê da profundidade, beleza e inspiração de seus ensinamentos, que contam também com a vantagem de provirem, em primeira mão, dos próprios gnósticos e não de extratos de obras de seus detratores. Como será visto, a obra, devidamente interpretada, oferece a comprovação cabal de alguns fatos anteriormente sugeridos por outros estudiosos. Primeiramente, a cosmologia de Pistis Sophia é mais rica e abrangente do que a apresentada pelas diferentes escolas gnósticas conhecidas, inclusive a de Valentino. Este esquema cosmológico não deixa nada a desejar às versões sugeridas pelas escolas orientais. Ao contrário, oferece detalhes sobre as funções das entidades macrocósmicas e de seus reflexos microcósmicos (os princípios do homem) nem sempre explicitadas por essas escolas. Em segundo lugar, o entendimento da cosmologia de P.S. e a correspondência numerológica de inúmeras expressões em grego, abrem uma nova era para o estudo dos textos mais esotéricos da Bíblia, especialmente o Evangelho de João e o Apocalipse, infelizmente tão pouco compreendidos. Em terceiro lugar, a apresentação dos princípios do homem, no contexto da peregrinação da alma assediada por seus princípios inferiores, confirma o que Jung já havia declarado, ou seja, que os textos gnósticos eram profundos tratados de psicologia. Jung chegou a declarar que havia encontrado nestas fontes a inspiração para grande parte de seus 'insights' reveladores sobre a psicologia humana. Finalmente, P.S. comprova que existe uma profunda semelhança entre os ensinamentos de Jesus e Buda. A ênfase dada à compaixão pelos dois mestres é conhecida de todos. Porém, P.S. revela um nível de paralelismo pouco conhecido: a salvação da alma está diretamente ligada à transformação dos estados mentais; o homem é prisioneiro do caos (as perturbações da mente condicionada pelo mundo material) devido à ignorância e só pode alcançar a libertação através da renovação de sua mente, culminando na integração de seus princípios inferiores e superiores. Esta linguagem, aparentemente budista, faz parte dos ensinamentos de P.S. Grupos de estudiosos das doutrinas esotéricas de Jesus sugerem que o códice foi elaborado a partir da compilação de reminiscências de ensinamentos de Jesus captados diretamente por seus discípulos, que teriam sido transmitidos após a sua morte, quando o Mestre estaria, então, revestido de um corpo sutil. Aliás esta revelação encontra-se expressa no próprio texto. É quase certo que os ensinamentos originais foram ministrados em aramaico, a língua corrente na Palestina na época em que Jesus predicava. É provável também que, em virtude de circunstâncias históricas, o livro que resultou desses apontamentos originais, acrescidos do registro de recordações e dados posteriores adicionados pelos apóstolos, tenha sido escrito em grego, a língua culta da época. Esta tese da compilação do texto em grego é reforçada pelas extensas correlações do valor numérico de palavras e expressões em grego, que oferecem uma chave adicional para a interpretação de vários aspectos dos ensinamentos nele contidos. Mais tarde, uma versão grega foi levada para uma das comunidades esotéricas gnósticas do Alto Egito, tendo sido transladada para o copto, a língua local da época. Finalmente, esta última versão, que a divina providência houve por bem conservar, chegou até nós. Desta forma, a versão atual em português, transposta do inglês, já seria a quinta na cadeia lingüística de transmissão. Em sua introdução à obra, Mead sugere que a teoria mais aceita pelos eruditos é a de que o texto original teria sido composto em grego e elaborado em data ou datas que variam entre a primeira