Academia.edu no longer supports Internet Explorer.
To browse Academia.edu and the wider internet faster and more securely, please take a few seconds to upgrade your browser.
2022, Pós
…
25 pages
1 file
Um dos efeitos colaterais do excessivo uso da fragmentação narrativa é diluir a capacidade humana em compreender o mundo e representá-lo numa visão de conjunto. O excesso de detalhes articulados potencializa uma visão de mundo cada vez mais atomizada. O investimento na construção coletiva de uma abrangente visão de mundo pode ser uma importante estratégia para que possamos reencontrar uma identidade de ser que, talvez, tenhamos perdido em todo esse processo que chamamos de civilização.
Pos Revista do Programa de Pos Graduacao em Artes da Escola de Belas Artes da UFMG, 2022
Um dos efeitos colaterais do excessivo uso da fragmentação narrativa é diluir a capacidade humana em compreender o mundo e representá-lo numa visão de conjunto. O excesso de detalhes articulados potencializa uma visão de mundo cada vez mais atomizada. O investimento na construção coletiva de uma abrangente visão de mundo pode ser uma importante estratégia para que possamos reencontrar uma identidade de ser que, talvez, tenhamos perdido em todo esse processo que chamamos de civilização.
1 Samuel 22:1-5 Davi retirou-se dali e se refugiou na caverna de Adulão; quando ouviram isso seus irmãos e toda a casa de seu pai, desceram ali para ter com ele. Ajuntaram-se a ele todos os homens que se achavam em aperto, e todo homem endividado, e todos os amargurados de espírito; e ele se fez chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos homens. Dali passou Davi a Mispa de Moabe e disse ao seu rei: Deixa estar meu pai e minha mãe convosco, até que eu saiba o que Deus há de fazer de mim. Trouxe-os perante o rei de Moabe, e com este moraram por todo o tempo que Davi esteve neste lugar seguro. Disse o profeta Gade a Davi: Não fiques neste lugar seguro; vai e entra na terra de Judá. Então, Davi saiu e foi para o bosque de Herete.
Comentários sobre o filme Moça com brinco de pérolas (2003), de Peter Webber.
Há palavras que se desfazem no etéreo. Há textos que, mesmo em tomos artisticamente encadernados, permanecem centenas de anos docemente acomodados nas prateleiras das bibliotecas, invisíveis aos olhares inquisidores. Por outro lado, existem dizeres e ideias que atravessam os séculos mantendo viva a sua atualidade. Isto ocorre com Platão, o grande filósofo grego, autor do tomo A República Nesta inestimável obra, fez o
O homem que conduz a camioneta chama-se Cipriano Algor, é oleiro de profissão e tem sessenta e quatro anos, posto que à vista pareça menos idoso. O homem que está sentado ao lado dele é o genro, chama-se Marçal Gacho, e ainda não chegou aos trinta. De todo o modo, com a cara que tem, ninguém lhe daria tantos. Como já se terá reparado, tanto um como outro levam colados ao nome próprio uns apelidos insólitos cuja origem, significado e motivo desconhecem. O mais provável será sentirem-se desgostosos se alguma vez vierem a saber que aquele algor significa frio intenso do corpo, prenunciador de febre, e que o gacho é nada mais nada menos que a parte do pescoço do boi em que assenta a canga. O mais novo veste uniforme, mas não está armado. O mais velho traja um casaco civil e umas calças mais ou menos a condizer, leva a camisa sobriamente fechada no colarinho, sem gravata. As mãos que manejam o volante são grandes e fortes, de camponês, e, não obstante talvez por efeito do quotidiano contacto com as maciezas da argila a que o ofício obriga, prometem sensibilidade. Na mão direita de Marçal Gacho não há nada de particular, mas as costas da mão esquerda apresentam uma cicatriz com aspecto de queimadura, uma marca em diagonal que vai da base do polegar à base do dedo mínimo. A camioneta não merece esse nome, é apenas uma furgoneta de tamanho médio, de um modelo fora de moda, e vai carregada de louça. Quando os dois homens saíram de casa, vinte quilómetros atrás, o céu ainda mal começara a clarear, agora a manhã já pôs no mundo luz bastante para que se possa observar a cicatriz de Marçal Gacho e adivinhar a sensibilidade das mãos de Cipriano Algor. Vêm viajando a velocidade reduzida por causa da fragilidade da carga e também pela irregularidade do pavimento da estrada. A entrega de mercadorias não consideradas de primeira ou segunda necessidades, como é o caso das louças rústicas, faz-se, de acordo com os horários fixados, a meio da manhã, e se estes dois homens madrugaram tanto foi porque Marçal Gacho tem de marcar o ponto pelo menos meia hora antes de as portas do Centro serem abertas ao público. Nos dias em que não traz o genro, mas tem louças para transportar, Cipriano Algor não precisa de se levantar tão cedo. Contudo, de dez em dez dias, é sempre ele quem se encarrega de ir buscar Marçal Gacho ao trabalho para passar com a família as quarenta horas de folga a que tem direito, e quem, depois, com louça ou sem louça na caixa da furgoneta, pontualmente o reconduz às suas responsabilidades e obrigações de guarda interno. A filha de Cipriano Algor, que se chama Marta, de apelidos Isasca, por parte da mãe já falecida, e Algor, por parte do pai, só 4 goza da presença do marido em casa e na cama seis noites e três dias em cada mês. na noite antes desta ficou grávida, mas ainda não o sabe. A região é fosca, suja, não merece que a olhemos duas vezes. Alguém deu a estas enormes extensões de aparência nada campestre o nome técnico de Cintura Agrícola, e também, por analogia poética, o de Cintura Verde, mas a única paisagem que os olhos conseguem alcançar nos dois lados da estrada, cobrindo sem solução de continuidade perceptível muitos milhares de hectares, são grandes armações de tecto plano, rectangulares, feitas de plásticos de uma cor neutra que o tempo e as poeiras, aos poucos, foram desviando ao cinzento e ao pardo. Debaixo delas, fora dos olhares de quem passa, crescem plantas. Por caminhos secundários que vêm dar à estrada, saem, aqui e além, camiões e tractores com atrelados carregados de vegetais, mas o grosso do transporte já se efectuou durante a noite, estes de agora, ou têm autorização expressa e excepcional para fazer a entrega mais tarde, ou deixaram-se dormir. Marçal Gacho afastou discretamente a manga esquerda do casaco para olhar o relógio, está preocupado porque o trânsito se torna pouco a pouco mais denso e porque sabe que de aqui para diante, quando entrarem na Cintura Industrial, as dificuldades aumentarão. O sogro deu pelo gesto, mas deixou-se ficar calado, este seu genro é um moço simpático, sem dúvida, mas é nervoso, da raça dos desassossegados de nascença, sempre inquieto com a passagem do tempo, mesmo se o tem de sobra, caso em que nunca parece saber o que lhe há-de pôr dentro, dentro do tempo, entenda-se, Como será quando chegar à minha idade, pensou. Deixaram a Cintura Agrícola para trás, a estrada, agora mais suja, atravessa a Cintura Industrial rompendo pelo meio de instalações fabris de todos os tamanhos, actividades e feitios, com depósitos esféricos e cilíndricos de combustível, estações eléctricas, redes de canalizações, condutas de ar, pontes suspensas, tubos de todas as grossuras, uns vermelhos, outros pretos, chaminés lançando para a atmosfera rolos de fumos tóxicos, gruas de longos braços, laboratórios químicos, refinarias de petróleo, cheiros fétidos, amargos ou adocicados, ruídos estridentes de brocas, zumbidos de serras mecânicas, pancadas brutais de martelos de pilão, de vez em quando uma zona de silêncio, ninguém sabe o que se estará produzindo ali. Foi então que Cipriano Algor disse, Não te preocupes, chegaremos a tempo, Não estou preocupado, respondeu o genro, disfarçando mal a inquietação, Bem sei, era uma maneira de falar, disse Cipriano Algor. Fez virar a forgoneta para uma rua paralela reservada à circulação local, Vamos atalhar caminho por aqui, disse, se a polícia nos perguntar por que saímos da estrada, recorda-te da combinação, temos um assunto a tratar numa destas fábricas antes de chegarmos à cidade. Marçal Gacho respirou fundo, quando o tráfego se complicava na estrada, o sogro, mais tarde ou mais cedo, acabava por tomar um desvio. O que o afligia era depois verteu águas, lavou as mãos e saiu. Comiam na cozinha, sentados a uma grande mesa que havia conhecido dias mais felizes e assembleias mais numerosas. Agora, depois da morte da mãe, Justa Isasca, de quem talvez não se venha a falar muito mais neste relato, mas de quem se deixa escrito aqui o nome próprio, que o apelido já o conhecíamos, agora os dois comem num extremo, o pai à cabeceira, Marta no lugar que a mãe deixou vago, e em frente dela Marçal, quando está. Como lhe correu a manhã, perguntou Marta, Bem, o costume, respondeu o pai baixando a cabeça para o prato, Marçal telefonou, Ah sim, e que queria ele, Que tinha estado a falar consigo sobre irmos viver para o Centro quando for promovido a guarda residente, Sim, falámos nesse assunto, Estava aborrecido porque o pai tornou a dizer que não concorda, Entretanto pensei melhor, acho que vai ser uma boa solução para ambos. O que é que o fez, de repente, mudar de ideias, Não quererás continuar a trabalhar de oleira para o resto da tua vida, Não, embora goste do que faço, Deves acompanhar o teu marido, amanhã terás filhos, três gerações a comer barro é mais do que suficiente, E o pai está de acordo em ir connosco para o Centro, deixar a olaria, perguntou Marta, Deixar isto, nunca, está fora de questão, Quer dizer que passará a fazer tudo sozinho, cavar o barro, amassá-lo, trabalhar à bancada e ao torno, acender o forno, carregá-lo, desenforná-lo, limpá-lo, depois meter tudo na furgoneta e ir vender, recordo-lhe que as coisas já vão sendo bastante difíceis apesar da ajuda que nos dá Marçal no pouco tempo que cá está, Hei-de encontrar quem me auxilie, não faltam rapazes na povoação, Sabe perfeitamente que já ninguém quer ser oleiro, aqueles que se fartam do campo vão para as fábricas da Cintura, não deixam a terra para vir para o barro, Mais uma razão para que largues isto, Não está a pensar que o vou deixar aqui sozinho, Vens ver-me de vez em quando, Pai, por favor, estou a falar a sério, Eu também, minha filha. Marta levantou-se para mudar os pratos e servir a sopa, que era costume da família comer depois. O pai seguia-a com os olhos e pensava, Estou a deixar complicar tudo com esta conversa, melhor seria contar-lhe já. Não o fez, subitamente a filha passara a ter oito anos, e ele dizia-lhe, Repara bem, é como quando a tua mãe amassa o pão. Fazia rolar o bloco de argila para a frente e para trás, comprimia-o e alongava-o com a parte posterior da palma das mãos, batia-o com força sobre a mesa, calcava, apertava, voltava ao princípio, repetia toda a operação, uma vez, outra vez, outra ainda, Por que é que faz isso, perguntaralhe a filha, Para não deixar ficar dentro do barro grumos e bolhas de ar, seria mau para o trabalho, No pão também, No pão só os grumos, as bolhas não têm importância. Punha de lado o cilindro compacto em que transformara a argila e começava a amassar outro bloco, Já vai sendo tempo de aprenderes, dissera, mas depois arrependeu-se, Que estupidez, só tem oito anos, e emendou, Vai brincar lá para fora, vai, aqui está frio, mas a filha respondeu não sujo de barro, somente da cor que ele tem, da cor de todas as cores com que saiu da barreira, o que foi sendo deixado por três gerações que todos os dias mancharam as mãos no pó e na água do barro, e também, lá fora, a cor de cinza viva do forno, a derradeira e esmorecente mornidão de quando o deixavam vazio, como uma casa donde saíram os donos e que se deixa ficar, paciente, à espera, e amanhã, se tudo isto não se acabou já para sempre, outra vez a primeira chama da lenha, o primeiro bafo quente que vai rodear como uma carícia a argila seca, e depois, aos poucos e poucos, a tremulina do ar, uma cintilação rápida de brasa, o alvorecer do esplendor, a Irrupção deslumbrante do fogo pleno. Nunca mais verei isto quando nos formos daqui, disse Marta, e angustiou-se-lhe o coração como se estivesse a despedir-se da pessoa a quem mais amasse, que neste momento não saberia dizer qual delas fosse, se a mãe já morta, se o pai amargurado, ou até o marido, sim, poderia ser o marido, é o mais lógico, sendo mulher dele como é. Ouvia, como se subisse de debaixo do chão, o ruído surdo do maço rompendo o barro, porém o som das pancadas parecia-lhe hoje diferente, talvez porque não as impelisse a necessidade simples do...
Perspectiva Filosófica, 2019
O presente trabalho é uma discussão sobre a natureza do desejo filosófico tal como proposta por Platão na República mais especificamente na alegoria da caverna. Através de comentário ao trecho, tratamos de discutir como se pode inferir de tal passagem uma metafísica do desejo que orienta para a síntese do desejo filosófico.
Educação & Sociedade, 2020
RESUMO Neste artigo, discutimos a questão da espectatorialidade, especialmente em relação à educação e ao tema da subjetividade. A partir da experiência cinematográfica do documentário A caverna dos sonhos esquecidos, de Werner Herzog, e dos estudos de Marie-José Mondzain a respeito do Homo spectator, o texto procura pensar, ensaisticamente, os modos pelos quais o olhar do espectador mobiliza consigo a criação do sujeito. Trata-se de propor um diálogo entre filosofia e cinema, problematizando a relação sujeito-espectador, neste presente em que vivemos e, sobretudo, no campo da educação..
Revista Opinião Jurídica (Fortaleza), 2007
Loading Preview
Sorry, preview is currently unavailable. You can download the paper by clicking the button above.
Os Segredos dos Paineis de S Vicente de Fora, 2019