2009, Revista do Centro de Estudos Portugueses
e Uccellini (Gaviões e Passarinhos, Itália, 1966). 1 Esse grande produto não poderá ser aqui extensivamente estudado, conquanto cada elemento-texto, trilha sonora, imagem, locações, fontes e aspectos intertextuais (com a Bíblia, obras literárias, símbolos, a filmografia pasoliniana, etc)-merecesse longa investigação. Não se trata de uma análise fílmica rigorosa; o texto traz uma reflexão sobre um pequeno aspecto da película que julgamos ter permanecido, até agora, sem a devida apreciação dos críticos. É nossa intenção focalizar uma figura, ou, pensando melhor, um posicionamento determinado, que parte dos personagens incorpora e transmite: a alegria. Uccellacci e Uccellini apresenta o Santo de Assis de forma rápida, mas incisiva. Poderíamos afirmar inclusive que São Francisco é, na película, um coadjuvante. Todavia, embora sua presença seja pequeníssima, o que de resto é muito adequado para o fundador da ordem dos frades menores, sua intervenção proporciona cenas de vigor e beleza indiscutíveis. Temo-lo na tela por três vezes. Ele prega para as aves; envia dois frades, Cicillo e Ninetto para pregarem aos gaviões e aos passarinhos; faz uma admoestação final. As últimas palavras de São Francisco no filme são, na verdade, palavras do papa Paulo VI. 2 O pontífice, em seu discurso aos Resumo Neste trabalho propomos uma reinterpretação sucinta do filme Uccellacci e Uccellini, do diretor italiano Pier Paolo Pasolini a partir da rejeição de um rótulo exclusivo para a obra. Nossa leitura vê marcas diversas e ambíguas na narrativa-entre elas, uma evidente associação entre religiosidade e marxismo.