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GEROPEDAGOGIA - Educar para envelhecer – 2ª Edição (Atena Editora)

2023, GEROPEDAGOGIA - Educar para envelhecer – 2ª Edição (Atena Editora)

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Abstract

A Ave de Minerva alça seu voo ao entardecer. O axioma da mitologia grega faz menção a uma metáfora sobre o saber que é contemplado no luscofusco sempre sugere o final de um dia para treinar o olhar sobre a escuridão. Como diria Goethe em seu famoso conceito: “lucidez é uma propriedade do contraste entre luz e sombra”. Enxergar em meio às brumas requer um olhar fecundo, como sinaliza a etimologia da palavra Theoros- olhar o divino. A Ave de Minerva, como símbolo da sabedoria, possui lucidez e um olhar divino, ressonâncias de quem vive na velhice o apogeu de um conhecimento que brilha entre os espectros de uma existência bela e forte. À maneira da lenda indígena do canto do Uirapuru- o pássaro encantado da floresta amazônica que emite o pio mais lúgubre e, ao mesmo tempo, o mais penetrante, ao ponto de silenciar todos seres vivos, o idoso traz consigo, em potência e ato, um hino de saberes, mas carentes de uma orientação teórica- o olhar divino- somente logrado através da educação com seu fio de Ariadne. Mas não é apenas o fio que conduz como suposto norteamento ao fundo labiríntico, é a mão que o desenrola, a mão da educação. Como na origem latina da palavra educação – educare- tirar de dentro para fora- e ducere- tirar e levar- a mão requer outra mão para tecerem em conjunto – significado da palavra complexidade- a ubiquidade de um saber natural em um saber disciplinado ou uma epistemologia. Ou seja, a educação são mãos que tecem juntas a complexidade dos saberes, tirando de dentro para fora e levando para outros, o Theoros. Outrossim, podemos afirmar que a Educação é uma teoria que penetra o coração de todas as coisas, alçando voos no entardecer da vida humana. Destarte, educação e envelhecimento são mãos que se entrelaçam para tornar a vida mais iluminada e lúcida no meio da escura trajetória humana. Não faz muito tempo que o envelhecimento coincidia com a supressão dos sentidos da vida humana em suas bases mais comuns. Crescer, trabalhar, constituir família, educar os filhos e se aposentar, era o desiderato da vida dominante de todas as gerações. Logo após a consecução destas missões, viria a morte, dispensando os idosos de antanho, a uma reinvenção de suas vidas com outros propósitos. Na contemporaneidade a lógica muda, convocando uma emergência de novos sentidos para a vida humana dado o ganho da longevidade. E agora? Depois que se expiravam os sentidos comuns aos sessenta anos a finitude existencial grafava seu ponto final na página amarela de uma vida ligeira e sem prazo para novos horizontes. O entardecer era curto. Entretanto, na atualidade, depois dos sessenta anos, nos perguntamos, muitos aturdidos e poucos entusiasmados, o que faremos com os próximos vinte ou trinta anos que galopam em futuro breve? Faz-se mister outros sentidos para reinventar a vida na longevidade, quando todos os sentidos comuns foram concretizados. Neste diapasão surgem as ciências do envelhecimento e suas estruturas life-spam, para através da Pedagogia e Androgogia, fortalecerem os passos intrépidos de populações idosas carentes da luz de Minerva e do canto do Uirapuru, no afã de gerar uma vida melhor. É preciso saber envelhe-ser, ou seja, saber ser idoso. É com este escopo que a escritora e pesquisadora Terezinha Augusta ingressa no labirinto dos saberes, com fios gero-pedagógicos, e com as mãos atadas à complexidade do envelhecimento, seu theoros, para mirar o coração de quem envelhece através de sua obra educativa que brada um canto afiado aos ouvidos de quem somente escuta a música da longevidade aqueles que sabem dançar o seu envelhecimento, parodiando Nietzsche. Há duas formas de contemplar uma vela acesa: uma é constatando que a luz que produz implica na consumação da cera que a alimenta; a outra é apreciar que enquanto há cera, há luz. Viver é brilhar na cera do nosso tempo finito. Que esta ousada obra, carregada da cera da longevidade, traga por meio da Educação, a luz que deve brilhar no crepúsculo de uma vida que teve o luxo de ser longeva, ou mais ainda, mais do que longa, uma existência honrosa. Afinal, mesmo que longeva, a vida é muita curta para ser pequena, lembra-nos Benjamim Disraeli.