Papers by Silvio Cesar Alves
Amostra com 12 poemas do livro Diorama (2025), de Sílvio Cesar Alves (1978).
Tipografias do desejo, 2024
Silvio Cesar dos Santos Alves, em “O desejo da mulher no teatro de Camões e Sá de Miranda: Auto d... more Silvio Cesar dos Santos Alves, em “O desejo da mulher no teatro de Camões e Sá de Miranda: Auto dos Enfatriões e Comédia dos Vilhalpandos”, aponta como o papel ativo das protagonistas como sujeitos desejantes é fundamental tanto na construção da complexidade dessas duas personagens quanto no desenvolvimento da ação nas
duas obras.
Ruinografia, 2023
Amostra com 12 poemas do livro Ruinografia (2023), de Silvio Cesar Alves (1978).
Cismogramas, 2023
Amostra com 12 poemas do livro Cismogramas (2023), de Silvio Cesar Alves (1978).
Espasmopédia, 2022
Amostra com 12 poemas da terceira edição (2023) do livro Espasmopédia (2022), de Silvio Cesar Alv... more Amostra com 12 poemas da terceira edição (2023) do livro Espasmopédia (2022), de Silvio Cesar Alves (1978).
Tela Preta , 2022
Amostra com 12 poemas da segunda edição (2023) do livro Tela Preta (2022), de Silvio Cesar Alves ... more Amostra com 12 poemas da segunda edição (2023) do livro Tela Preta (2022), de Silvio Cesar Alves (1978).
Tela Azul , 2022
Amostra com 12 poemas da segunda edição (2023) do livro Tela Azul (2022), de Silvio Cesar Alves (... more Amostra com 12 poemas da segunda edição (2023) do livro Tela Azul (2022), de Silvio Cesar Alves (1978).
Trinta anos do Programa de Pós-graduação em Letras da UEL, 2024
Ser como o rio que deflui Silencioso dentro da noite. Não temer as trevas da noite. Se há estrela... more Ser como o rio que deflui Silencioso dentro da noite. Não temer as trevas da noite. Se há estrelas nos céus, refleti-las. E se os céus se pejam de nuvens, Como o rio as nuvens são água, Refleti-las também sem mágoa Nas profundidades tranquilas.

e-scrita - Revista do curso de Letras da Uniabeu, v. 15, n. 1, 2024 , 2024
intersubjetivamente e que propõe a revalorização da subjetividade e o resgate do afeto, até então... more intersubjetivamente e que propõe a revalorização da subjetividade e o resgate do afeto, até então destruídos pelo paradigma de vida contemporâneo-uma "vida de infinito caos". Elizabete Farias de Castro, no artigo "Alquimistas do ordinário e tessituras surrealistas: representações do 'real', vozes e imagens do invisível nas poesias portuguesa e brasileira contemporâneas", a partir do contributo dos estudos antropológicos e filosóficos do imaginário, e tendo em vista, especialmente, poemas de Isabel Meyrelles, Leonora Rosado, Roberto Piva e Rita Medusa, busca redimensionar o impacto do Surrealismo nas poesias portuguesa e brasileira contemporâneas, numa tentativa de compreender como a criação poética, num estado entre o sono e a vigília, tem sido capaz de se voltar para aquilo que, no mundo, é possível experienciar e fingir de forma ontológica, teológica ou suprassensível, dando origem a elaborações abstratas, semioticamente complexas e que subvertem o pensamento linear. No artigo "Além da espera: reconstruindo Penélope e Mariana Alcoforado em Ana Martins Marques e Adília Lopes", Camila Nakamura Vieira levanta reflexões sobre as reconstruções do passado promovidas por essas escritoras, a partir da noção de tradição literária, e tendo em vista o entendimento da intertextualidade enquanto memória. A autora demonstra como as experiências de espera amorosa e de reencontro dos personagens homéricos Penélope e Ulisses, quando reconstruídas por Marques, possibilitam a iluminação da perspectiva de Penélope e de sua própria odisseia silenciosa, assim como a reinvenção de Lopes acaba por alterar os rumos da freira Mariana Alcoforado e do marquês Noel Bouton de Chamilly, revelando um alto teor de coincidências entre as práticas textuais de Ana e Adília, que parecem dividir estratégias comuns na retomada da memória poética. Sandro Adriano da Silva e Giovana Buch Sgrignoli, no artigo "'Penélope assustada' e 'Penélope paciente': figurações do feminino em dois poemas de Mônica de Aquino", considerando a construção da metáfora e seus sentidos, bem como a figura de "Penélope", refletem sobre as figurações do feminino na seção "A memória das mãos", da obra Fundo Falso (2018), de Mônica de Aquino. Segundo os autores, a poeta elabora uma imagem que se distanciaria da imagem clássica de Penélope, narrada no canto II da Odisseia, de Homero, resgatando a imagem arquetípica das fiandeiras, a fim de revelar um eu lírico feminino que expressa sua própria subjetividade e seu desejo. No artigo "Roseana, básica e transcendental", Rafael Santana examina o livro Emaranhado (2023), de Roseana Murray, e adentrando a interseção entre vida e poesia, explora as interlocuções da autora com a sua expressividade artística, ao analisar poemas e-scrita

Texto, Tempo, Imagem: Interlocuções, 2023
Os estudos enfeixados nos três volumes de Texto, tempo, imagem: interlocuções resultam das interv... more Os estudos enfeixados nos três volumes de Texto, tempo, imagem: interlocuções resultam das intervenções de professores e pesquisadores da área da Literatura Portuguesa de instituições universitárias brasileiras e estrangeiras durante o XXVIII Congresso da Associação Brasileira de Professores de Literatura Portuguesa, realizado de forma remota, na UERJ, entre os dias 18 a 29 de outubro de 2021. Nesse segundo volume, reúnem-se variados estudos de autores e obras da literatura portuguesa desde os seus primórdios até a contemporaneidade. No primeiro volume, encontram-se as conferências de abertura e de encerramento, as entrevistas com os escritores e as mesas de homenagem. O terceiro volume compõe-se de estudos intertextuais entre os diversos autores e obras da literatura portuguesa em diálogo com outras literaturas e/ou outros campos do saber. Os três volumes, somados aos Anais, formam um rico e instigante painel dos estudos apresentados durante o XXVIII Congresso da ABRAPLIP.

AFETOS, DIÁLOGOS E RESILIÊNCIAS – A literatura portuguesa e as literaturas de língua portuguesa no mundo pós-pandemia (Dossiê do n. 58 da Itinerários – Revista de Literatura, dedicado ao XXIX Congresso Internacional da Associação Brasileira de Professores de Literatura Portuguesa), 2024
Partindo do princípio de que a poesia tem papel ativo na constituição da nossa relação com a ling... more Partindo do princípio de que a poesia tem papel ativo na constituição da nossa relação com a linguagem e com a realidade (Siscar, 2010), e tendo em vista a existência, no Brasil, de poetas que escrevem poesia “com sinais evidentes de leitura de literatura portuguesa” (Silveira, 2008), busco aprofundar, estudando a obra de poetas que se enquadrem nessa descrição, uma das principais características da poesia portuguesa mais recente, ou seja, a consciência de uma irreversível “virtualização do real” (Martelo, 2007). E esse aprofundamento passa, a meu ver, pela consideração dos problemas relativos ao autoconhecimento, que entraram na ordem do dia com o surgimento da Filosofia da Mente (Ryle, 1984) e com o ceticismo radical representado pela suposta impossibilidade do acesso aos nossos próprios estados mentais (Putnam, 1975). Como tento demonstrar, mas do que se caracterizar pela presença de certo conteúdo da tradição, o que certa poesia brasileira contemporânea propõe é uma atualização epistemológica do tema dissídio como modo de pensar, ou seja, como uma linguagem, ao deslocar a sua dialética de distanciamento e reaproximação entre pólos em conflito (Marnoto, 2015) para a relação do eu com a sua própria consciência, cujo acesso se tornou tão problemático quanto a percepção do real na poesia herdeira da tradição moderna.

Literaturas brasileira e portuguesa: movimentos, 2023
O cialmente, hoje em dia, as disciplinas dos cursos de Letras das universidades ainda costumam di... more O cialmente, hoje em dia, as disciplinas dos cursos de Letras das universidades ainda costumam dividir em termos de nacionalidade as literaturas escritas em português, separando-as em Literatura Brasileira, Literatura Portuguesa e Literaturas Africanas em Língua Portuguesa, quando não há ainda subdivisões das últimas também de acordo com o país de origem. Além da Literatura Brasileira, o Conselho Nacional de Ensino e Pesquisa (CNPq) considera as pesquisas realizadas sobre as demais como fazendo parte da subárea Outras Literaturas Vernáculas. Essa separação mantém uma divisão criada no século XIX, quando os movimentos nacionalistas, na voga da catalogação que a sociedade ocidental burguesa seguia como forma de explicar o mundo, reproduziram o modelo da História, também ela uma disciplina de criação então recente, e criaram as histórias da literatura nacional. Elaborava-se, assim, uma sequência cronológica, como um caminho de progresso, entre as origens da literatura de cada país e seus marcos, ou seja, as principais obras e os grandes nomes que indicassem a cultura nacional e o gênio dos escritores de cada nação. Assim, dividia-se o ramo brasileiro do português na árvore genealógica das literaturas vernáculas. Sabemos atualmente dos problemas socioculturais da história da literatura, que selecionou como canônicos algumas obras e alguns autores de modo a excluir os diferentes. Não à toa, temos visto, nas últimas décadas, diversos movimentos de crítica e de desconstrução dos cânones nacionais, buscando a inclusão de outras produções, como a de mulheres, negros, LGBTQs e outros. Contudo, a divisão em linhas históricas nacionais, por mais que possa ter sua valia em termos didáticos-e, mesmo essa, discutível-, não se sustenta na prática ao se observar as constantes trocas entre as literaturas produzidas As apresentações originais encontram-se no canal no Youtube do Real Gabinete Português de Leitura.
Iniciação a Eça de Queirós, 2022

Convergência Lusíada , 2022
O presente artigo tem como objetivo investigar a presença e a importância
do ceticismo filosófic... more O presente artigo tem como objetivo investigar a presença e a importância
do ceticismo filosófico no romance Os Maias (1888) e, de forma mais
abrangente, na mundividência queirosiana, utilizando uma abordagem
comparatista para explorar a correlação entre literatura e filosofia. Buscamos,
dessa forma, consolidar uma interpretação menos rígida e dogmática
das obras de Eça, buscando reparar a desvalorização do ceticismo
queirosiano, para o que Helder Garmes chama a atenção na comunicação
“Leituras marxistas da obra de Eça de Queirós” (2003), bem como apresentar
uma leitura alternativa à “tese do regresso”, combatida por Orlando
Grossegesse, no artigo “Não há regresso. Do sentido evolutivo do
‘primeiro Eça’” (2006/7). Assim, pretendemos demonstrar a hipótese de
que o romance Os Maias antecipa características do período que Gustavo
Bernardo Krause, n’A ficção cética, chamou de “centúria da incerteza”
(2004). Devido à riqueza e complexidade dessa obra, resultante de um
longo processo de gestação e escrita, é possível observar nela, a partir das escolhas do autor implícito, a presença de uma inteligência organizadora
estruturada de maneira análoga ao ceticismo filosófico enquanto modo
de pensar, o que se manifesta de variadas formas e se dissemina em todas
as camadas da narrativa, sempre colocando em evidência dualidades,
impasses, dúvidas, incertezas e paradoxos inerentes à natureza humana e
aos seus desdobramentos sociais.
Poéticas e políticas do feminino na literatura, 2021
A proscrição dos monstros sociais: as violências sofridas pelos casais lésbicos em Exílio, de Lya... more A proscrição dos monstros sociais: as violências sofridas pelos casais lésbicos em Exílio, de Lya Luft, e American Horror Story , de

Para Antero de Quental, uma visao completa da realidade deveria considerar seus aspectos mais div... more Para Antero de Quental, uma visao completa da realidade deveria considerar seus aspectos mais diversos, em vez sonegar suas contradicoes. Em seus textos filosoficos, Antero ira apontar o sincretismo como o passo inicial de uma evolucao da humanidade rumo a santidade, alcancada gracas a soberania da razao e da consciencia nos atos humanos. Eca de Queiros, que, na juventude, compartilhara com Antero essa crenca positivista no poder da razao e da consciencia de garantirem ao homem o “Bem” absoluto, em textos como Positivismo e Idealismo e O “Bock Ideal” revela-se bem mais critico em relacao aos pressupostos do positivismo. Nas obras publicadas ou escritas nas decadas de 80 e 90, sera possivel notar sua adesao a certa forma de sincretismo estetico, como o pregado por Antero, mas, ao contrario do amigo, Eca reconhecera que a consciencia esta sujeita a equivocos e que a crenca na sua infalibilidade pode levar o homem a prejuizos incontornaveis.

Semina Ciências Sociais e Humanas, v. 42, n, 1 (2021) - Desamparo e desencanto na Literatura Portuguesa: revisitações da memória e da história (Dossiê), 2021
O desamparo e o desencantamento diante dos acontecimentos e tribulações que a experiência com a h... more O desamparo e o desencantamento diante dos acontecimentos e tribulações que a experiência com a história impõe ao ser humano resultam em atitudes ou sintomas recorrentes na Literatura Portuguesa, desde as suas origens até a hipercontemporaneidade. Nessa perspectiva, a memória manifesta-se como agente fundamental da emergência dessa experiência na prosa, na poesia e no teatro português. Tais modalidades literárias são meios privilegiados de resgate memorialístico, de representação crítica, de desconstrução de imaginários idealizados, mas também exercícios escriturais de projeção da esperança.
Neste dossiê, estivemos abertos à recepção de artigos que explorassem tal viés investigativo, focalizado a Literatura Portuguesa desde as suas raízes, passando pela consolidação imperial, até a atualidade – marcada, segundo Eduardo Lourenço, n’O labirinto da saudade, por uma espécie de ideia “orientada ou subdeterminada consciente ou inconscientemente pela preocupação obsessiva de descobrir quem somos e o que somos como portugueses” – o que o célebre ensaísta, que nos deixou em dezembro do ano passado, “em plena luz”, considerava “uma arrumação tão legítima como a que consiste em organizá-la como caso particular (e em geral pouco relevante) da literatura ocidental”. Diante disso, o presente volume da Revista Semina – Ciências Humanas apresenta ao público uma seleção de oito artigos que exploram a ocorrência ou as recorrências desta temática cara à produção literária portuguesa, ou seja, a interlocução entre memória e história.
O artigo de Claudia Maria de Souza Amorim, intitulado “O fio tênue e áspero da poesia de Ana Marques Gastão”, propõe uma leitura crítica da obra da poeta portuguesa Ana Marques Gastão (1962) – com destaque para o livro O olho e a mão (2018), escrito em coautoria com o poeta brasileiro Sérgio Nazar David (1964) –, a partir da imagem da(s) mão(s), presente no processo da escrita e no exercício indagativo do sujeito em sua relação com o mundo. Dentro de tal proposta, a autora ainda considera o diálogo com outras artes, como a música, a dança e a pintura.
Clenir da Conceição Ribeiro e Eliana da Conceição Tolentino, com o artigo “A memória nacional lusitana em O vento assobiando nas gruas, de Lídia Jorge”, apresentam um estudo do romance O vento assobiando nas gruas (2002), da ficcionista portuguesa Lídia Jorge (1946), fazendo ressaltar uma metáfora da nação lusitana pós Revolução dos Cravos (1974) que oscila entre a grandiosidade do império e as transformações decorrentes desse acontecimento. Além disso, em um diálogo com a história do período colonial português, as autoras intentam um estudo da memória nacional e de seus desdobramentos com a descolonização, buscando problematizar a relação entre história e memória.
Valéria Cardoso da Silva, no artigo “A interpretação de relatos em Fazes-me falta - Inês Pedrosa”, põe em evidência, pela via da comparação entre a Literatura Portuguesa e outros campos do saber, um diálogo entre dois protagonistas, narradores-personagens do romance Fazes-me falta (2002), da ficcionista portuguesa Inês Pedrosa (1962): uma mulher morta e um homem vivo, mas ambos convergindo e divergindo sobre diversos temas que trazem à baila a memória imaginária de relatos confessionais sobre a História da Humanidade.
Já Suzana Costa, em “A crise afetiva e identitária do médico psiquiatra em Memória de Elefante, de António Lobo Antunes”, discorre sobre a angústia, o sofrimento amoroso e a profunda crise de identidade que permeiam a narrativa de Memória de Elefante (1979), primeiro romance do ficcionista português António Lobo Antunes (1942), e que tornam líquidas a sensibilidade e a dignidade do personagem “médico psiquiatra”, um indivíduo à deriva, que, fragmentado, não restabelece sua identidade perdida, e, em crise, vive os dramas da separação da mulher e do distanciamento das filhas, buscando, nas pequenas ações do cotidiano, as evasões para o seu desamparo e para o desencanto solitário que o mantém inerte.
No artigo “A mitologia do mundo colonial português em decomposição na prosa romanesca de António Lobo Antunes”, Ana Cristina Pinto Bezerra, lançando mão das concepções de Eduardo Lourenço (1923-2020) sobre o desencanto cultivado no cenário português e da teorização de Mikhail Bakhtin (1895-1975) sobre as características da epicidade, nos mostra como a imagística colonial de um grande império luso se torna o material revisitado pelo singular narrador de Os cus de Judas (1979), segundo romance de António Lobo Antunes (1942), na medida em que esse narrador projeta uma imagem destrutiva dos valores que fizeram parte de sua formação como o “ser português esperado”, desenvolvendo estratégias específicas para que a mitologia que arregimentou a narrativa do mundo colonial lusitano seja posta em decomposição.
Pedro Fernandes de Oliveira Neto, em “O ano de 1993 ou o encontro dos tempos, dentro e fora da revolução”, a partir de uma complexa perspectiva comparatista, privilegiando o tema da revolução e demonstrado como um instante de transformação coletiva é capaz de romper com o tempo de falibilidade dos processos civilizatórios, interpreta o livro de poesia O ano de 1993 (1975), do escritor português José Saramago (1922-2010), como um livro que é simultaneamente o produto contrário às ideologias de um tempo escuro da história e uma parábola sobre a nossa múltipla natureza, aspirando à liberdade e se elevando contra os modelos de dominação estabelecidos pela própria força humana.
No artigo “Intersecções históricas em A ilustre Casa de Ramires: o romance e a revista”, Cintia Bravo põe em foco a valorização de Portugal proposta pelo escritor português Eça de Queirós (1845-1900) ao publicar o romance A ilustre casa de Ramires (1900) nas páginas da Revista moderna (1897), mostrando como, neste que é um dos seus três romances semipóstumo, Eça conjuga perspectivas históricas que se complementam e se distanciam, sem ficar preso ao passado, enaltecendo feitos que já não poderiam ajudar o seu país a se reconstruir.
Por fim, Maria Clara Costa Pereira, no artigo “Desalento, descrença, desencanto e desesperança: o perfil poético do emigrado português em terras brasileiras”, busca imergir por entre as expressões poéticas publicadas no jornal carioca A Saudade (1855-1857 e 1861-1862) – periódico do Grêmio Literário Português –, investigando a visibilidade dada a determinadas construções sentimentais e artísticas, por meio das quais a experiência particular do grupo de portugueses emigrados no Rio de Janeiro, de afastamento e de saudade, é significada e apropriada como forma de identificação e conforto existencial e social, funcionando como meio de construção de uma ethos sensível do português emigrado, em meio aos embates sociais da sociedade brasileira oitocentista.
Com base nesses elementos, colocamos para apreciação dos leitores este número da Semina – Ciências Humanas, cujo dossiê focaliza a Literatura Portuguesa em seus vários tempos a partir da temática do desamparo e do desencanto. Agradecemos aos autores dos artigos que aderiram à chamada e tornaram o dossiê temático possível. Nessa linha, registramos nossos agradecimentos à Universidade Estadual de Londrina, pela acolhida da nossa proposta, à Presidente do Conselho Editorial da Semina – Ciências Humanas e aos vários pareceristas ad hoc pela generosa disponibilidade na leitura e exame dos originais enviados. A contribuição de todos faz com que a Semina – Ciências Humanas se consolide gradativamente como um âmbito fértil para a discussão da textualidade literária nas Literaturas de Língua Portuguesa.
O número ainda é finalizado com quatro artigos originais, marcando a ampliação do montante de textos publicados, que passa de oito para 12 artigos a cada edição. Os artigos originais versam sobre: percepções de genitores sobre a participação em Oficinas de Parentalidade; barreiras que a mulher negra enfrenta na formação em Psicologia; as montações e performances de drag queens e de pessoas gênero-dissidentes; e, por fim, divergências e semelhanças entre os entendimentos de democracia e feminismo em Chantal Mouffe e Seyla Benhabib.
Boa leitura!
Maria Aparecida da Costa (UERN)
Gerson Luiz Roani (UFV)
Maíra Bonafé Sei (UEL)
Silvio Cesar dos Santos Alves (UEL)

PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura - Dossiê 18: Representações da Violência na Literatura, 2020
The methodology utilized in this paper was the comparatist, specially its strand founded on the d... more The methodology utilized in this paper was the comparatist, specially its strand founded on the dialogue between literature and other fields of knowledge, mostly, “the study of literature in its intersections to philosophy”, which here is used “as theoretical paradigm” Not sub estimating “the possibilities offered to the philosophical thought by literature” (ALVES; CEI; DIOGO; 2018, p. 6), and “conjugating philosophy and literature in such a way that the philosophical content e literary form become indissociable” (ALVES; CEI; DIOGO; 2018, p. 6-7) – because “fictionality theory and the fiction theoretical strength create porosity in between the fields of literature and philosophy” -, it was sought, in general terms, “the subversion of the borders traditionally established between philosophical content and literary content”, as well as “the scrutiny of the multiple articulations between literature and philosophy, regarding the polymorphous character of its signs” (ALVES; CEI; DIOGO; 2018, p. 7). In specific terms, we proposed the attrition, the friction, the contamination between the thought of the two greatest theorists of the XIX Century culture, Friedrich Nietzsche – bearing in mind his On the Genealogy of Morality (1887) – and Sigmund Freud – focusing on Civilization and Its Discontents (1930) -, and the fictional work from the Portuguese writer Eça de Queirós, the novel The Maias (1888). This novel has, in its composition, a vast repository of themes, questioning, and reflections which, besides covering all the long XIX Century, make the work remain until contemporaneity as an object of attention to readers and researchers. In the present work, we are going to analyze, specifically, the social implications present in the outcome of Carlos da Maia and Maria Eduarda love relationship, the conflicts of Carlos’ moral conscience amidst the discovery that he lived a prohibited love, and the resulting violence of those conflicts, be the one directed against the subject itself, or the one directed toward the others. Moreover, we are going to pay attention to the social critique that is a mark of Eça’s work. What can be noticed is a society shrewd when dealing with question that can compromise the image of the civilized subject. It’s possible to note that the relationship between civilization and civility show itself complex, and many times, in this novel, the acquaintanceship rules, said to be civilized, use methods which refer to barbarism.
Anais do X Selisigno e XI Simpósio de Leitura da UEL, 2018
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duas obras.
do ceticismo filosófico no romance Os Maias (1888) e, de forma mais
abrangente, na mundividência queirosiana, utilizando uma abordagem
comparatista para explorar a correlação entre literatura e filosofia. Buscamos,
dessa forma, consolidar uma interpretação menos rígida e dogmática
das obras de Eça, buscando reparar a desvalorização do ceticismo
queirosiano, para o que Helder Garmes chama a atenção na comunicação
“Leituras marxistas da obra de Eça de Queirós” (2003), bem como apresentar
uma leitura alternativa à “tese do regresso”, combatida por Orlando
Grossegesse, no artigo “Não há regresso. Do sentido evolutivo do
‘primeiro Eça’” (2006/7). Assim, pretendemos demonstrar a hipótese de
que o romance Os Maias antecipa características do período que Gustavo
Bernardo Krause, n’A ficção cética, chamou de “centúria da incerteza”
(2004). Devido à riqueza e complexidade dessa obra, resultante de um
longo processo de gestação e escrita, é possível observar nela, a partir das escolhas do autor implícito, a presença de uma inteligência organizadora
estruturada de maneira análoga ao ceticismo filosófico enquanto modo
de pensar, o que se manifesta de variadas formas e se dissemina em todas
as camadas da narrativa, sempre colocando em evidência dualidades,
impasses, dúvidas, incertezas e paradoxos inerentes à natureza humana e
aos seus desdobramentos sociais.
Neste dossiê, estivemos abertos à recepção de artigos que explorassem tal viés investigativo, focalizado a Literatura Portuguesa desde as suas raízes, passando pela consolidação imperial, até a atualidade – marcada, segundo Eduardo Lourenço, n’O labirinto da saudade, por uma espécie de ideia “orientada ou subdeterminada consciente ou inconscientemente pela preocupação obsessiva de descobrir quem somos e o que somos como portugueses” – o que o célebre ensaísta, que nos deixou em dezembro do ano passado, “em plena luz”, considerava “uma arrumação tão legítima como a que consiste em organizá-la como caso particular (e em geral pouco relevante) da literatura ocidental”. Diante disso, o presente volume da Revista Semina – Ciências Humanas apresenta ao público uma seleção de oito artigos que exploram a ocorrência ou as recorrências desta temática cara à produção literária portuguesa, ou seja, a interlocução entre memória e história.
O artigo de Claudia Maria de Souza Amorim, intitulado “O fio tênue e áspero da poesia de Ana Marques Gastão”, propõe uma leitura crítica da obra da poeta portuguesa Ana Marques Gastão (1962) – com destaque para o livro O olho e a mão (2018), escrito em coautoria com o poeta brasileiro Sérgio Nazar David (1964) –, a partir da imagem da(s) mão(s), presente no processo da escrita e no exercício indagativo do sujeito em sua relação com o mundo. Dentro de tal proposta, a autora ainda considera o diálogo com outras artes, como a música, a dança e a pintura.
Clenir da Conceição Ribeiro e Eliana da Conceição Tolentino, com o artigo “A memória nacional lusitana em O vento assobiando nas gruas, de Lídia Jorge”, apresentam um estudo do romance O vento assobiando nas gruas (2002), da ficcionista portuguesa Lídia Jorge (1946), fazendo ressaltar uma metáfora da nação lusitana pós Revolução dos Cravos (1974) que oscila entre a grandiosidade do império e as transformações decorrentes desse acontecimento. Além disso, em um diálogo com a história do período colonial português, as autoras intentam um estudo da memória nacional e de seus desdobramentos com a descolonização, buscando problematizar a relação entre história e memória.
Valéria Cardoso da Silva, no artigo “A interpretação de relatos em Fazes-me falta - Inês Pedrosa”, põe em evidência, pela via da comparação entre a Literatura Portuguesa e outros campos do saber, um diálogo entre dois protagonistas, narradores-personagens do romance Fazes-me falta (2002), da ficcionista portuguesa Inês Pedrosa (1962): uma mulher morta e um homem vivo, mas ambos convergindo e divergindo sobre diversos temas que trazem à baila a memória imaginária de relatos confessionais sobre a História da Humanidade.
Já Suzana Costa, em “A crise afetiva e identitária do médico psiquiatra em Memória de Elefante, de António Lobo Antunes”, discorre sobre a angústia, o sofrimento amoroso e a profunda crise de identidade que permeiam a narrativa de Memória de Elefante (1979), primeiro romance do ficcionista português António Lobo Antunes (1942), e que tornam líquidas a sensibilidade e a dignidade do personagem “médico psiquiatra”, um indivíduo à deriva, que, fragmentado, não restabelece sua identidade perdida, e, em crise, vive os dramas da separação da mulher e do distanciamento das filhas, buscando, nas pequenas ações do cotidiano, as evasões para o seu desamparo e para o desencanto solitário que o mantém inerte.
No artigo “A mitologia do mundo colonial português em decomposição na prosa romanesca de António Lobo Antunes”, Ana Cristina Pinto Bezerra, lançando mão das concepções de Eduardo Lourenço (1923-2020) sobre o desencanto cultivado no cenário português e da teorização de Mikhail Bakhtin (1895-1975) sobre as características da epicidade, nos mostra como a imagística colonial de um grande império luso se torna o material revisitado pelo singular narrador de Os cus de Judas (1979), segundo romance de António Lobo Antunes (1942), na medida em que esse narrador projeta uma imagem destrutiva dos valores que fizeram parte de sua formação como o “ser português esperado”, desenvolvendo estratégias específicas para que a mitologia que arregimentou a narrativa do mundo colonial lusitano seja posta em decomposição.
Pedro Fernandes de Oliveira Neto, em “O ano de 1993 ou o encontro dos tempos, dentro e fora da revolução”, a partir de uma complexa perspectiva comparatista, privilegiando o tema da revolução e demonstrado como um instante de transformação coletiva é capaz de romper com o tempo de falibilidade dos processos civilizatórios, interpreta o livro de poesia O ano de 1993 (1975), do escritor português José Saramago (1922-2010), como um livro que é simultaneamente o produto contrário às ideologias de um tempo escuro da história e uma parábola sobre a nossa múltipla natureza, aspirando à liberdade e se elevando contra os modelos de dominação estabelecidos pela própria força humana.
No artigo “Intersecções históricas em A ilustre Casa de Ramires: o romance e a revista”, Cintia Bravo põe em foco a valorização de Portugal proposta pelo escritor português Eça de Queirós (1845-1900) ao publicar o romance A ilustre casa de Ramires (1900) nas páginas da Revista moderna (1897), mostrando como, neste que é um dos seus três romances semipóstumo, Eça conjuga perspectivas históricas que se complementam e se distanciam, sem ficar preso ao passado, enaltecendo feitos que já não poderiam ajudar o seu país a se reconstruir.
Por fim, Maria Clara Costa Pereira, no artigo “Desalento, descrença, desencanto e desesperança: o perfil poético do emigrado português em terras brasileiras”, busca imergir por entre as expressões poéticas publicadas no jornal carioca A Saudade (1855-1857 e 1861-1862) – periódico do Grêmio Literário Português –, investigando a visibilidade dada a determinadas construções sentimentais e artísticas, por meio das quais a experiência particular do grupo de portugueses emigrados no Rio de Janeiro, de afastamento e de saudade, é significada e apropriada como forma de identificação e conforto existencial e social, funcionando como meio de construção de uma ethos sensível do português emigrado, em meio aos embates sociais da sociedade brasileira oitocentista.
Com base nesses elementos, colocamos para apreciação dos leitores este número da Semina – Ciências Humanas, cujo dossiê focaliza a Literatura Portuguesa em seus vários tempos a partir da temática do desamparo e do desencanto. Agradecemos aos autores dos artigos que aderiram à chamada e tornaram o dossiê temático possível. Nessa linha, registramos nossos agradecimentos à Universidade Estadual de Londrina, pela acolhida da nossa proposta, à Presidente do Conselho Editorial da Semina – Ciências Humanas e aos vários pareceristas ad hoc pela generosa disponibilidade na leitura e exame dos originais enviados. A contribuição de todos faz com que a Semina – Ciências Humanas se consolide gradativamente como um âmbito fértil para a discussão da textualidade literária nas Literaturas de Língua Portuguesa.
O número ainda é finalizado com quatro artigos originais, marcando a ampliação do montante de textos publicados, que passa de oito para 12 artigos a cada edição. Os artigos originais versam sobre: percepções de genitores sobre a participação em Oficinas de Parentalidade; barreiras que a mulher negra enfrenta na formação em Psicologia; as montações e performances de drag queens e de pessoas gênero-dissidentes; e, por fim, divergências e semelhanças entre os entendimentos de democracia e feminismo em Chantal Mouffe e Seyla Benhabib.
Boa leitura!
Maria Aparecida da Costa (UERN)
Gerson Luiz Roani (UFV)
Maíra Bonafé Sei (UEL)
Silvio Cesar dos Santos Alves (UEL)
duas obras.
do ceticismo filosófico no romance Os Maias (1888) e, de forma mais
abrangente, na mundividência queirosiana, utilizando uma abordagem
comparatista para explorar a correlação entre literatura e filosofia. Buscamos,
dessa forma, consolidar uma interpretação menos rígida e dogmática
das obras de Eça, buscando reparar a desvalorização do ceticismo
queirosiano, para o que Helder Garmes chama a atenção na comunicação
“Leituras marxistas da obra de Eça de Queirós” (2003), bem como apresentar
uma leitura alternativa à “tese do regresso”, combatida por Orlando
Grossegesse, no artigo “Não há regresso. Do sentido evolutivo do
‘primeiro Eça’” (2006/7). Assim, pretendemos demonstrar a hipótese de
que o romance Os Maias antecipa características do período que Gustavo
Bernardo Krause, n’A ficção cética, chamou de “centúria da incerteza”
(2004). Devido à riqueza e complexidade dessa obra, resultante de um
longo processo de gestação e escrita, é possível observar nela, a partir das escolhas do autor implícito, a presença de uma inteligência organizadora
estruturada de maneira análoga ao ceticismo filosófico enquanto modo
de pensar, o que se manifesta de variadas formas e se dissemina em todas
as camadas da narrativa, sempre colocando em evidência dualidades,
impasses, dúvidas, incertezas e paradoxos inerentes à natureza humana e
aos seus desdobramentos sociais.
Neste dossiê, estivemos abertos à recepção de artigos que explorassem tal viés investigativo, focalizado a Literatura Portuguesa desde as suas raízes, passando pela consolidação imperial, até a atualidade – marcada, segundo Eduardo Lourenço, n’O labirinto da saudade, por uma espécie de ideia “orientada ou subdeterminada consciente ou inconscientemente pela preocupação obsessiva de descobrir quem somos e o que somos como portugueses” – o que o célebre ensaísta, que nos deixou em dezembro do ano passado, “em plena luz”, considerava “uma arrumação tão legítima como a que consiste em organizá-la como caso particular (e em geral pouco relevante) da literatura ocidental”. Diante disso, o presente volume da Revista Semina – Ciências Humanas apresenta ao público uma seleção de oito artigos que exploram a ocorrência ou as recorrências desta temática cara à produção literária portuguesa, ou seja, a interlocução entre memória e história.
O artigo de Claudia Maria de Souza Amorim, intitulado “O fio tênue e áspero da poesia de Ana Marques Gastão”, propõe uma leitura crítica da obra da poeta portuguesa Ana Marques Gastão (1962) – com destaque para o livro O olho e a mão (2018), escrito em coautoria com o poeta brasileiro Sérgio Nazar David (1964) –, a partir da imagem da(s) mão(s), presente no processo da escrita e no exercício indagativo do sujeito em sua relação com o mundo. Dentro de tal proposta, a autora ainda considera o diálogo com outras artes, como a música, a dança e a pintura.
Clenir da Conceição Ribeiro e Eliana da Conceição Tolentino, com o artigo “A memória nacional lusitana em O vento assobiando nas gruas, de Lídia Jorge”, apresentam um estudo do romance O vento assobiando nas gruas (2002), da ficcionista portuguesa Lídia Jorge (1946), fazendo ressaltar uma metáfora da nação lusitana pós Revolução dos Cravos (1974) que oscila entre a grandiosidade do império e as transformações decorrentes desse acontecimento. Além disso, em um diálogo com a história do período colonial português, as autoras intentam um estudo da memória nacional e de seus desdobramentos com a descolonização, buscando problematizar a relação entre história e memória.
Valéria Cardoso da Silva, no artigo “A interpretação de relatos em Fazes-me falta - Inês Pedrosa”, põe em evidência, pela via da comparação entre a Literatura Portuguesa e outros campos do saber, um diálogo entre dois protagonistas, narradores-personagens do romance Fazes-me falta (2002), da ficcionista portuguesa Inês Pedrosa (1962): uma mulher morta e um homem vivo, mas ambos convergindo e divergindo sobre diversos temas que trazem à baila a memória imaginária de relatos confessionais sobre a História da Humanidade.
Já Suzana Costa, em “A crise afetiva e identitária do médico psiquiatra em Memória de Elefante, de António Lobo Antunes”, discorre sobre a angústia, o sofrimento amoroso e a profunda crise de identidade que permeiam a narrativa de Memória de Elefante (1979), primeiro romance do ficcionista português António Lobo Antunes (1942), e que tornam líquidas a sensibilidade e a dignidade do personagem “médico psiquiatra”, um indivíduo à deriva, que, fragmentado, não restabelece sua identidade perdida, e, em crise, vive os dramas da separação da mulher e do distanciamento das filhas, buscando, nas pequenas ações do cotidiano, as evasões para o seu desamparo e para o desencanto solitário que o mantém inerte.
No artigo “A mitologia do mundo colonial português em decomposição na prosa romanesca de António Lobo Antunes”, Ana Cristina Pinto Bezerra, lançando mão das concepções de Eduardo Lourenço (1923-2020) sobre o desencanto cultivado no cenário português e da teorização de Mikhail Bakhtin (1895-1975) sobre as características da epicidade, nos mostra como a imagística colonial de um grande império luso se torna o material revisitado pelo singular narrador de Os cus de Judas (1979), segundo romance de António Lobo Antunes (1942), na medida em que esse narrador projeta uma imagem destrutiva dos valores que fizeram parte de sua formação como o “ser português esperado”, desenvolvendo estratégias específicas para que a mitologia que arregimentou a narrativa do mundo colonial lusitano seja posta em decomposição.
Pedro Fernandes de Oliveira Neto, em “O ano de 1993 ou o encontro dos tempos, dentro e fora da revolução”, a partir de uma complexa perspectiva comparatista, privilegiando o tema da revolução e demonstrado como um instante de transformação coletiva é capaz de romper com o tempo de falibilidade dos processos civilizatórios, interpreta o livro de poesia O ano de 1993 (1975), do escritor português José Saramago (1922-2010), como um livro que é simultaneamente o produto contrário às ideologias de um tempo escuro da história e uma parábola sobre a nossa múltipla natureza, aspirando à liberdade e se elevando contra os modelos de dominação estabelecidos pela própria força humana.
No artigo “Intersecções históricas em A ilustre Casa de Ramires: o romance e a revista”, Cintia Bravo põe em foco a valorização de Portugal proposta pelo escritor português Eça de Queirós (1845-1900) ao publicar o romance A ilustre casa de Ramires (1900) nas páginas da Revista moderna (1897), mostrando como, neste que é um dos seus três romances semipóstumo, Eça conjuga perspectivas históricas que se complementam e se distanciam, sem ficar preso ao passado, enaltecendo feitos que já não poderiam ajudar o seu país a se reconstruir.
Por fim, Maria Clara Costa Pereira, no artigo “Desalento, descrença, desencanto e desesperança: o perfil poético do emigrado português em terras brasileiras”, busca imergir por entre as expressões poéticas publicadas no jornal carioca A Saudade (1855-1857 e 1861-1862) – periódico do Grêmio Literário Português –, investigando a visibilidade dada a determinadas construções sentimentais e artísticas, por meio das quais a experiência particular do grupo de portugueses emigrados no Rio de Janeiro, de afastamento e de saudade, é significada e apropriada como forma de identificação e conforto existencial e social, funcionando como meio de construção de uma ethos sensível do português emigrado, em meio aos embates sociais da sociedade brasileira oitocentista.
Com base nesses elementos, colocamos para apreciação dos leitores este número da Semina – Ciências Humanas, cujo dossiê focaliza a Literatura Portuguesa em seus vários tempos a partir da temática do desamparo e do desencanto. Agradecemos aos autores dos artigos que aderiram à chamada e tornaram o dossiê temático possível. Nessa linha, registramos nossos agradecimentos à Universidade Estadual de Londrina, pela acolhida da nossa proposta, à Presidente do Conselho Editorial da Semina – Ciências Humanas e aos vários pareceristas ad hoc pela generosa disponibilidade na leitura e exame dos originais enviados. A contribuição de todos faz com que a Semina – Ciências Humanas se consolide gradativamente como um âmbito fértil para a discussão da textualidade literária nas Literaturas de Língua Portuguesa.
O número ainda é finalizado com quatro artigos originais, marcando a ampliação do montante de textos publicados, que passa de oito para 12 artigos a cada edição. Os artigos originais versam sobre: percepções de genitores sobre a participação em Oficinas de Parentalidade; barreiras que a mulher negra enfrenta na formação em Psicologia; as montações e performances de drag queens e de pessoas gênero-dissidentes; e, por fim, divergências e semelhanças entre os entendimentos de democracia e feminismo em Chantal Mouffe e Seyla Benhabib.
Boa leitura!
Maria Aparecida da Costa (UERN)
Gerson Luiz Roani (UFV)
Maíra Bonafé Sei (UEL)
Silvio Cesar dos Santos Alves (UEL)