Papers by Arianne Rayis Lovo
Apresentação, 2021
A partir de dezembro de 2019, o mundo parou de muitas maneiras. Talvez não como desejasse Krenak,... more A partir de dezembro de 2019, o mundo parou de muitas maneiras. Talvez não como desejasse Krenak, para que fosse feita a recuperação do Watu, entidade ancestral adoecida há décadas pela atividade extra-tivista de minérios na região de Minas Gerais, onde habita seu povo. O rio Doce está doente, explica o autor, porque o modo de vida pautado pelo neoliberalismo separa a humanidade e a Terra e os coloca como elementos distintos, quando são, para seu povo, indissociáveis. Indis-sociável: rio, humanidade, mundo.

Maloca - Revista de Estudos Indígenas, 2018
Depois de longa e difícil mobilização para a admissão do sistema de cotas étnico-raciais pelo Con... more Depois de longa e difícil mobilização para a admissão do sistema de cotas étnico-raciais pelo Conselho Universitário da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), chegaram à instituição, em 2019, os primeiros graduandos indígenas selecionados por vestibular. Se a conquista é imprescindível devido à sua natureza política, porque procura reverter estabelecidas formas de manutenção de desigualdades entre negros, brancos e índios, ela também é urgente por razões epistemológicas, no sentido de que os ameríndios ingressantes, com seus saberes tradicionais, certamente, indigenizarão a comunidade científica que, ao contrário de sua denominação, tem sido pouco universal no que diz respeito à incorporação e ao fomento de pensamentos Outros que convivem na sociedade brasileira. Essa posição foi claramente explicada por Ailton Krenak durante sua comunicação numa mesa-redonda sobre presença indígena na universidade, ocorrida no Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em novembro de 2018. De forma perspicaz, Krenak recolocou o problema de modo mais amplo, destacando – como se pode conferir na sua fala que antecede este dossiê – que a questão é o lugar mal resolvido dos indígenas em nosso país. Sua análise ainda demonstra como isso se correlaciona aos projetos ocidentais de vida e morte para outras existências não humanas e humanas, entre as quais estão os indígenas. Em razão de uma lógica de mercado a partir da qual tudo e todos são passíveis de mensuração e metrificação, alguns, após definidos seus valores utilitários, poderiam ser extin-guidos, porque pouco ou nada oferecem em termos de recursos à produção econômica, e outros, pelo seu inverso significativo, deveriam ser consumidos predatoriamente.
RURIS - Revista do Centro de Estudos Rurais , 2020
Busco investigar a fabricação de corpos e caminhos no coletivo Pankararu, a partir das rezadeiras... more Busco investigar a fabricação de corpos e caminhos no coletivo Pankararu, a partir das rezadeiras que habitam a cidade de São Paulo e a Terra Indígena Pankararu, em Pernambuco, bem como a configuração de novas territorialidades a partir dos deslocamentos entre aldeia e cidade. Tal fato aponta para uma mobilidade que coloca em relação diferentes agentes, como indígenas, não indígenas, Estado, encantados, plantas. Nesse sentido, a pesquisa se insere nos debates acerca de processos de formação da pessoa, mobilidade e xamanismo, buscando compreender aspectos da corporalidade, noções de doença e cura e os processos de produção de novas territorialidades.
“É um absurdo que em pleno século 21 tenhamos que conviver com crimes bárbaros como esse. Tomarem... more “É um absurdo que em pleno século 21 tenhamos que conviver com crimes bárbaros como esse. Tomaremos medidas efetivas para combater a violência contra a mulher”. Com essa frase o presidente interino Michel Temer, demonstrou, nessa sexta-feira (28), sua solidariedade e repúdio ao crime cometido a uma menina de 16 anos, que foi brutalmente violentada por trinta e três homens na zona oeste do Rio de Janeiro. Entre os criminosos está seu ex-namorado, um jovem de 17 anos, que teria promovido o estupro coletivo como forma de “corretivo” a uma suposta traição da garota. Imagens do crime foram gravadas e divulgadas nas redes sociais com fotos dos criminosos se vangloriando diante do corpo ainda desacordado da menina.
Entre os dias 30 de setembro e 5 de outubro de 2013, aconteceu no país uma grande Mobilização Nac... more Entre os dias 30 de setembro e 5 de outubro de 2013, aconteceu no país uma grande Mobilização Nacional Indígena, com a participação de grupos de diversas etnias e diferentes setores da sociedade. O objetivo dessa mobilização, que teve alcance nacional e foi realizada em diferentes cidades do país, foi, além de chamar a atenção da sociedade civil e dos órgãos governamentais para os problemas sofridos por essas populações, tentar barrar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215 e o Projeto de Lei complementar (PLP) 227.

Esse trabalho busca analisar a noção de pessoa, casa e memória entre os Pankararu que habitam a a... more Esse trabalho busca analisar a noção de pessoa, casa e memória entre os Pankararu que habitam a aldeia Brejo dos Padres, em Pernambuco, e a favela do Real Parque, em São Paulo. A casa pankararu é compreendida como um lugar “sagrado” onde se realizam homenagens aos mortos, sendo também o local no qual as práticas de cura acontecem, como no “salão de trabalho”. Ela apresenta uma diferenciação espacial e sexual,
videnciando práticas distintas entre homens e mulheres, nos lugares como cozinha, quintal, terreiros e porós. O corpo apresenta uma relação de analogia com a casa, devendo estar sempre “fechado”, sob o risco de sofrer ameaças e feitiços de entidades malignas. Nesse sentido, a dicotomia “corpo fechado” e “corpo aberto” evidencia mecanismos de resguardos e moralidade do grupo, onde o desvio ou não de condutas moralmente estabelecidas, bem como a realização dos resguardos alimentares e sexuais, são fundamentais para a manutenção da saúde da pessoa.
Revista Nupen, 2019
Buscamos apresentar, de modo ainda incipiente, processos de adoecimento e cura a partir das rezad... more Buscamos apresentar, de modo ainda incipiente, processos de adoecimento e cura a partir das rezadeiras Pankararu que habitam a cidade de São Paulo, no Real Parque, e a aldeia Brejo dos Padres, na Terra Indígena Pankararu, em Pernambuco. Noções como flechada, vento caído, entre outros, nos apontam para um entendimento da doença como um desequilíbrio social, associada a um elemento cósmico e ecológico, envolvendo a relação entre humanos e outras entidades, como mortos, encantados, inimigos. Nesse sentido, a pesquisa se insere nos debates acerca de processos de formação da pessoa, saúde e xamanismo, buscando compreender aspectos da corporalidade, noções de doença e cura.

Esse artigo analisa a noção de pessoa entre os Pankararu, localizados na aldeia Brejo dos Padres,... more Esse artigo analisa a noção de pessoa entre os Pankararu, localizados na aldeia Brejo dos Padres, em Pernambuco, e na favela Real Parque, em São Paulo. A partir da mobilidade entre essas duas localidades (aldeia e cidade) busco compreender as continuidades e descontinuidades de suas práticas culturais, como os rituais de cura feitos pelas rezadeiras, xamãs conhecidas e prestigiadas entre lideranças femininas e masculinas e que estabelecem uma intercomunicabilidade entre o mundo humano e sobre-humano. Ao mesmo tempo, analiso como se configura, na cidade, os espaços domésticos do grupo, evidenciando se há transformações formais em sua organização social e cosmológica. Os Pankararu encontram-se localizados na TI Pankararu, no sertão pernambucano, próximo as cidades circunvizinhas de Petrolândia, Jatobá e Tacaratu e migram a capital paulista desde 1940, em busca de trabalho e melhores condições de vida, embora atualmente exista um fluxo maior dos " retornados " à aldeia.
Drafts by Arianne Rayis Lovo

31º Reunião Brasileira de Antropologia, 2018
Trabalho apresentado no GT - Moralidades, afetos e políticas: sobre e das relações de gênero entr... more Trabalho apresentado no GT - Moralidades, afetos e políticas: sobre e das relações de gênero entre indígenas, coordenado por Patricia Carvalho Rosa (Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá) e Elizabeth de Paula Pissolato (Universidade Federal de Juiz de Fora)
Esse trabalho busca estabelecer uma análise sobre mobilidade, pessoa e xamanismo a partir das rezadeiras Pankararu que vivem no Real Parque, em São Paulo, e na Terra Indígena Pankararu (TI Pankararu), em Pernambuco. Os deslocamentos entre aldeia e cidade, bem como os “caminhos” - lugares que interconectam essas duas localidades - são compreendidos como parte da territorialidade do grupo. Privilegiamos
o fenômeno que chamamos, num primeiro momento, de mobilidade terapêutica, ou seja, o movimento que as rezadeiras Pankararu realizam e que colocam em relação diferentes agentes, como indígenas, não indígenas, Estado, “encantados”, cura, bens, plantas, saberes. Nesse sentido, pretendemos acompanhar os “caminhos” de deslocamentos do grupo, priorizando os espaços de circulação das rezadeiras, buscando
investigar suas práticas de cura, produção de corporalidade e caminhos.

32º Reunião Brasileira de Antropologia, 2020
Trabalho apresentado no GT 16 - Antropologia, Saúde Pública e fabulações cosmopolíticas: etnograf... more Trabalho apresentado no GT 16 - Antropologia, Saúde Pública e fabulações cosmopolíticas: etnografia e possibilidades simbiopoéticas de cuidar/fazer o mundo, coordenado por José Miguel Nieto Olivar (USP - Universidade de São Paulo) e Maria Paula Prates (UFCSPA - Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre)
O que acontece quando uma equipe de saúde indígena “vira parente” dos indígenas que ela cuida? Para responder essa questão, apresento a descrição de um prato, ritual realizado na favela do Real Parque, em São Paulo, na qual busco analisar a multiplicidade de ontologias que participam dos processos de aliança, cura e luta entre os diferentes agentes que estão em relação com o povo Pankararu na capital paulista. Noções como cuidado, saúde e território são diariamente acionadas nos processos de negociação de cura entre profissionais de saúde e indígenas, muitas vezes possuindo sentidos diversos a depender de quem os enuncia, podendo “se equivocar”, bem como estabelecer uma aliança alternativa (La Cadena, 2018). As rezadeiras, circulando entre aldeia, cidade e caminhos, estabelecem, na cidade de São Paulo, uma relação de parceria com coletivos, órgãos estatais, ONGs, entre eles, a Estratégia de Saúde da Família indígena (ESFi) da Unidade Básica de Saúde do Real Parque, que atua no atendimento primário. Seguindo o fio dos “caminhos das rezas”, a experiência do caminhar é pensada na forma de “habitar” (Ingold, 2011), ou seja, experienciar o mundo a partir de uma dimensão cosmológica, aonde caminham juntos encantados, plantas, pessoas, bens, mercadorias. Nesse aspecto, o território é um campo geográfico, semântico e ontológico de disputas. O trabalho proposto busca trazer uma reflexão, a partir de dados etnográficos recentes, sobre a produção de novas territorialidades e as práticas terapêuticas que se articulam nos processos de adoecimento e cura.
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Papers by Arianne Rayis Lovo
videnciando práticas distintas entre homens e mulheres, nos lugares como cozinha, quintal, terreiros e porós. O corpo apresenta uma relação de analogia com a casa, devendo estar sempre “fechado”, sob o risco de sofrer ameaças e feitiços de entidades malignas. Nesse sentido, a dicotomia “corpo fechado” e “corpo aberto” evidencia mecanismos de resguardos e moralidade do grupo, onde o desvio ou não de condutas moralmente estabelecidas, bem como a realização dos resguardos alimentares e sexuais, são fundamentais para a manutenção da saúde da pessoa.
Drafts by Arianne Rayis Lovo
Esse trabalho busca estabelecer uma análise sobre mobilidade, pessoa e xamanismo a partir das rezadeiras Pankararu que vivem no Real Parque, em São Paulo, e na Terra Indígena Pankararu (TI Pankararu), em Pernambuco. Os deslocamentos entre aldeia e cidade, bem como os “caminhos” - lugares que interconectam essas duas localidades - são compreendidos como parte da territorialidade do grupo. Privilegiamos
o fenômeno que chamamos, num primeiro momento, de mobilidade terapêutica, ou seja, o movimento que as rezadeiras Pankararu realizam e que colocam em relação diferentes agentes, como indígenas, não indígenas, Estado, “encantados”, cura, bens, plantas, saberes. Nesse sentido, pretendemos acompanhar os “caminhos” de deslocamentos do grupo, priorizando os espaços de circulação das rezadeiras, buscando
investigar suas práticas de cura, produção de corporalidade e caminhos.
O que acontece quando uma equipe de saúde indígena “vira parente” dos indígenas que ela cuida? Para responder essa questão, apresento a descrição de um prato, ritual realizado na favela do Real Parque, em São Paulo, na qual busco analisar a multiplicidade de ontologias que participam dos processos de aliança, cura e luta entre os diferentes agentes que estão em relação com o povo Pankararu na capital paulista. Noções como cuidado, saúde e território são diariamente acionadas nos processos de negociação de cura entre profissionais de saúde e indígenas, muitas vezes possuindo sentidos diversos a depender de quem os enuncia, podendo “se equivocar”, bem como estabelecer uma aliança alternativa (La Cadena, 2018). As rezadeiras, circulando entre aldeia, cidade e caminhos, estabelecem, na cidade de São Paulo, uma relação de parceria com coletivos, órgãos estatais, ONGs, entre eles, a Estratégia de Saúde da Família indígena (ESFi) da Unidade Básica de Saúde do Real Parque, que atua no atendimento primário. Seguindo o fio dos “caminhos das rezas”, a experiência do caminhar é pensada na forma de “habitar” (Ingold, 2011), ou seja, experienciar o mundo a partir de uma dimensão cosmológica, aonde caminham juntos encantados, plantas, pessoas, bens, mercadorias. Nesse aspecto, o território é um campo geográfico, semântico e ontológico de disputas. O trabalho proposto busca trazer uma reflexão, a partir de dados etnográficos recentes, sobre a produção de novas territorialidades e as práticas terapêuticas que se articulam nos processos de adoecimento e cura.
videnciando práticas distintas entre homens e mulheres, nos lugares como cozinha, quintal, terreiros e porós. O corpo apresenta uma relação de analogia com a casa, devendo estar sempre “fechado”, sob o risco de sofrer ameaças e feitiços de entidades malignas. Nesse sentido, a dicotomia “corpo fechado” e “corpo aberto” evidencia mecanismos de resguardos e moralidade do grupo, onde o desvio ou não de condutas moralmente estabelecidas, bem como a realização dos resguardos alimentares e sexuais, são fundamentais para a manutenção da saúde da pessoa.
Esse trabalho busca estabelecer uma análise sobre mobilidade, pessoa e xamanismo a partir das rezadeiras Pankararu que vivem no Real Parque, em São Paulo, e na Terra Indígena Pankararu (TI Pankararu), em Pernambuco. Os deslocamentos entre aldeia e cidade, bem como os “caminhos” - lugares que interconectam essas duas localidades - são compreendidos como parte da territorialidade do grupo. Privilegiamos
o fenômeno que chamamos, num primeiro momento, de mobilidade terapêutica, ou seja, o movimento que as rezadeiras Pankararu realizam e que colocam em relação diferentes agentes, como indígenas, não indígenas, Estado, “encantados”, cura, bens, plantas, saberes. Nesse sentido, pretendemos acompanhar os “caminhos” de deslocamentos do grupo, priorizando os espaços de circulação das rezadeiras, buscando
investigar suas práticas de cura, produção de corporalidade e caminhos.
O que acontece quando uma equipe de saúde indígena “vira parente” dos indígenas que ela cuida? Para responder essa questão, apresento a descrição de um prato, ritual realizado na favela do Real Parque, em São Paulo, na qual busco analisar a multiplicidade de ontologias que participam dos processos de aliança, cura e luta entre os diferentes agentes que estão em relação com o povo Pankararu na capital paulista. Noções como cuidado, saúde e território são diariamente acionadas nos processos de negociação de cura entre profissionais de saúde e indígenas, muitas vezes possuindo sentidos diversos a depender de quem os enuncia, podendo “se equivocar”, bem como estabelecer uma aliança alternativa (La Cadena, 2018). As rezadeiras, circulando entre aldeia, cidade e caminhos, estabelecem, na cidade de São Paulo, uma relação de parceria com coletivos, órgãos estatais, ONGs, entre eles, a Estratégia de Saúde da Família indígena (ESFi) da Unidade Básica de Saúde do Real Parque, que atua no atendimento primário. Seguindo o fio dos “caminhos das rezas”, a experiência do caminhar é pensada na forma de “habitar” (Ingold, 2011), ou seja, experienciar o mundo a partir de uma dimensão cosmológica, aonde caminham juntos encantados, plantas, pessoas, bens, mercadorias. Nesse aspecto, o território é um campo geográfico, semântico e ontológico de disputas. O trabalho proposto busca trazer uma reflexão, a partir de dados etnográficos recentes, sobre a produção de novas territorialidades e as práticas terapêuticas que se articulam nos processos de adoecimento e cura.