A mitologia tem importância essencial na formulação na teoria da psicologia analítica desde seus ... more A mitologia tem importância essencial na formulação na teoria da psicologia analítica desde seus inícios. Isso porque toda teoria psicológica tem uma psicopatologia que fundamenta seu construto teórico. Lembrando que a psicanálise tem como a histeria como fundamento psicopatológico de seu construto, embora, é claro, Freud se dedicou ao estudo de diversas psicopatologias, a esquizofrenia é a psicopatologia que dá o fundamento teórico para a psicologia analítica de Jung. E o conteúdo esquizofrênico está profundamente imbricado no mito, como veremos a seguir. Podemos resumidamente fazer um desenho estrutural dos percursos de Freud e Jung na construção de suas teorias, um desenho quase estrutural à la Lévi-Strauss, tal a semelhança dos elementos que constituem os percursos dos dois criadores. Freud vai a Paris, trabalhar com Charcot no Hospital Salpetriére, com pacientes histéricos. No sintoma histérico, formula o conceito do recalque para justificar em sua psicodinâmica a existência do inconsciente pessoal. Chega então ao problema da novela familiar, ao complexo de Édipo e ao incesto como origem de toda neurose. Jung no início de sua carreira médica trabalha com Eugen Bleuler no Hospital Burghölzli, próximo a Zurique. Trabalha com os esquizofrênicos, e nos delírios dos esquizofrênicos descobre os mitologemas, ou mitemas, fragmentos de mitos que apontam para uma origem comum, coletiva, desses conteúdos delirantes. Os mitologemas irão dar a pista Jung para a existência do inconsciente coletivo. Além disso, fornecerão ao psiquiatra suíço uma perspectiva simbólica a partir da qual poderá compreender os delírios como tendo um sentido. O delírio não é, portanto impenetrável, como quer a psiquiatria clássica, sem sentido mas tem um sentido próprio, desde que se parta de um pressuposto simbólico para compreendê-lo. Jung seguiu seu mestre Bleuler procurando sempre o conteúdo simbólico das esquizofrenias e não apenas mantendo uma posição descritiva, diagnóstica. O caso 1 Walter BOECHAT Médico, Diplomado pelo Instituto C.G.Jung, Zurich, Suíça, Doutor, Instituto de Medicina Social,/UERJ, Membro Fundador Associação Junguiana do Brasil-AJB, Especialista em Medicina Psicossomática (IMPSIS/RJ) Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Psicologia Junguiana do IBMR/RJ. Do ponto de vista da consciência, se não partirmos de um pressuposto simbólico ou de associações tal aliteração é totalmente incompreensível. Mas Jung persistiu na convicção que todo delírio teria um núcleo compreensível, desde que partamos de um pressuposto simbólico. Em fase posterior, com ligeira melhora da paciente, com melhor comunicação, ela revelou admirar o poeta Schiller, autor do poema O Sino. Babette, filha de importante família suíça, havia sido abandonada no grande hospital cantonal Bürghozli. Sentia-se sem importância, não valendo nada. Delirava, dizendo: eu sou o sino. Era a forma de seu inconsciente dizer: eu sou importante, eu tenho valor, não sou tão sem importância assim... Jung, no começo de sua carreira profissional formula o importante conceito da compensação, de que o delírio opera compensando a atitude da consciência. Este
A mitologia tem importância essencial na formulação na teoria da psicologia analítica desde seus ... more A mitologia tem importância essencial na formulação na teoria da psicologia analítica desde seus inícios. Isso porque toda teoria psicológica tem uma psicopatologia que fundamenta seu construto teórico. Lembrando que a psicanálise tem como a histeria como fundamento psicopatológico de seu construto, embora, é claro, Freud se dedicou ao estudo de diversas psicopatologias, a esquizofrenia é a psicopatologia que dá o fundamento teórico para a psicologia analítica de Jung. E o conteúdo esquizofrênico está profundamente imbricado no mito, como veremos a seguir. Podemos resumidamente fazer um desenho estrutural dos percursos de Freud e Jung na construção de suas teorias, um desenho quase estrutural à la Lévi-Strauss, tal a semelhança dos elementos que constituem os percursos dos dois criadores. Freud vai a Paris, trabalhar com Charcot no Hospital Salpetriére, com pacientes histéricos. No sintoma histérico, formula o conceito do recalque para justificar em sua psicodinâmica a existência do inconsciente pessoal. Chega então ao problema da novela familiar, ao complexo de Édipo e ao incesto como origem de toda neurose. Jung no início de sua carreira médica trabalha com Eugen Bleuler no Hospital Burghölzli, próximo a Zurique. Trabalha com os esquizofrênicos, e nos delírios dos esquizofrênicos descobre os mitologemas, ou mitemas, fragmentos de mitos que apontam para uma origem comum, coletiva, desses conteúdos delirantes. Os mitologemas irão dar a pista Jung para a existência do inconsciente coletivo. Além disso, fornecerão ao psiquiatra suíço uma perspectiva simbólica a partir da qual poderá compreender os delírios como tendo um sentido. O delírio não é, portanto impenetrável, como quer a psiquiatria clássica, sem sentido mas tem um sentido próprio, desde que se parta de um pressuposto simbólico para compreendê-lo. Jung seguiu seu mestre Bleuler procurando sempre o conteúdo simbólico das esquizofrenias e não apenas mantendo uma posição descritiva, diagnóstica. O caso 1 Walter BOECHAT Médico, Diplomado pelo Instituto C.G.Jung, Zurich, Suíça, Doutor, Instituto de Medicina Social,/UERJ, Membro Fundador Associação Junguiana do Brasil-AJB, Especialista em Medicina Psicossomática (IMPSIS/RJ) Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Psicologia Junguiana do IBMR/RJ. Do ponto de vista da consciência, se não partirmos de um pressuposto simbólico ou de associações tal aliteração é totalmente incompreensível. Mas Jung persistiu na convicção que todo delírio teria um núcleo compreensível, desde que partamos de um pressuposto simbólico. Em fase posterior, com ligeira melhora da paciente, com melhor comunicação, ela revelou admirar o poeta Schiller, autor do poema O Sino. Babette, filha de importante família suíça, havia sido abandonada no grande hospital cantonal Bürghozli. Sentia-se sem importância, não valendo nada. Delirava, dizendo: eu sou o sino. Era a forma de seu inconsciente dizer: eu sou importante, eu tenho valor, não sou tão sem importância assim... Jung, no começo de sua carreira profissional formula o importante conceito da compensação, de que o delírio opera compensando a atitude da consciência. Este
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