Papers by Tania Mara Antonietti Lopes

Resumo A partir da leitura de O ano de 1993 (1975), de José Saramago – cuja interpretação parte d... more Resumo A partir da leitura de O ano de 1993 (1975), de José Saramago – cuja interpretação parte do surrealismo e dos romances distópicos de ficção científica –, propomos uma análise que nos permita relacionar esse livro também à epopeia, uma vez que, embora não haja um herói específico, ações gloriosas ou feitos memoráveis (entre outros elementos que caracterizam o gênero), entrevemos no poema narrado uma sucessão de eventos extraordinários que provocam surpresa e maravilha – apesar de grande desilusão em determinados momentos – na medida em que relatam a aventura do homem (herói e carrasco) na terra. A partir do exercício interpretativo que propomos, esperamos confirmar a nossa hipótese referente à circularidade de traços insólitos que caracterizam a maior parte da ficção saramaguiana, presentes desde o período formativo do autor, como será demonstrado aqui. Palavras-chave: O ano de 1993, José Saramago, surrealismo, distopia. Abstract Based on our reading of O ano

Resumo: Os contos " Coisas " e " Embargo " , presentes em Objecto quase (1978), caracterizam-se p... more Resumo: Os contos " Coisas " e " Embargo " , presentes em Objecto quase (1978), caracterizam-se por uma inversão de valores entre seres humanos e objetos. Em ambos, os objetos extrapolam seu sentido convencional, o que nos permite aden-trar a esfera do insólito ficcional. Parece-nos significativo que nessas narrativas, ao relacionar-se com a realidade, a estruturação dos elementos representativos do fantástico reconduz a realidade a um mundo alternativo, cuja criação depen-de dos elementos ficcionais e do leitor. A partir da releitura do fantástico preten-demos investigar seus modos de enredamento e como essa forma é potencial-mente significativa para a reflexão crítica sobre o nosso mundo representado. Palavras-chave: Fantástico. Embargo. Coisas. Sobre a abordagem teórica: conSideraçõeS Sobre o fantáStico ■ A partir de reflexões proporcionadas por trabalhos anteriores e exten-sos associados à produção estética de José Saramago, sobretudo no que diz respeito à presença de gêneros literários 1 que se estabelecem 1 Embora o conceito de gênero ocupe um lugar relevante nas discussões literárias, não é nosso objetivo abordar esse assunto com profundidade neste trabalho. Entretanto, consideramos pertinente esclarecer que o que tratamos como gênero são a literatura fantástica e o maravilhoso. A designação de gênero para o realismo mágico nos parece abusiva, uma vez que entre os teóricos não parece haver consenso sobre isso. Reis e Lopes (2007, p. 187), ao definirem o gênero narrativo, situam-no " no contexto das relações entre modos e gêneros: de acordo com uma concepção que vem de Goethe (que falava em formas naturais e espécies literárias), a moderna teoria literária tem postulado a distinção entre categorias abstratas, universais literários desprovidos de vínculos históricos rígidos (os modos: lírica, narrativa e drama) e categorias historicamente situadas e apreendidas por via empí-rica (os gêneros: romance, conto, tragédia, canção etc.) [...] ". Massaud Moisés (2004, p. 250), por sua vez, em seu Dicionário de termos literários, após uma longa explanação sobre a historicidade do conceito de gênero, conclui " pela existência de apenas dois gêneros, e não três: a POESIA (correspondente à lírica e à épica da tripartição convencional) e a PROSA – entendidas não na sua aparência formal, mas no modo como divisam a realidade, segundo a qual a poesia seria a expressão do 'eu' e a prosa, do 'não-eu'. A poesia, por sua vez, apresenta duas espécies – o lírico e o épico – e uma série de formas – o soneto, a ode, a balada, a canção etc. A prosa não se fragmenta em espécies, mas apresenta três formas: o conto, a novela e o romance ". Assim, o romance, por exemplo, é um gênero, para Reis e Lopes, e uma forma, para Moisés. Como nenhum dos autores problematizou a existência do realismo mágico, continuaremos a tratá-lo como uma categoria literária.
MARTUSCELLI, T. Mário-Henrique Leiria inédito e a linhagem do surrealismo em Portugal. Lisboa: Ed... more MARTUSCELLI, T. Mário-Henrique Leiria inédito e a linhagem do surrealismo em Portugal. Lisboa: Edições Colibri, 2013.
A partir da experiência adquirida com a ficção de José Saramago, constatamos a ausência de pesqui... more A partir da experiência adquirida com a ficção de José Saramago, constatamos a ausência de pesquisas mais consistentes em relação ao período formativo do autor, que muito contribui para que se compreenda o desenvolvimento dos temas
relacionados com o insólito ficcional presentes nos romances do autor português. Nossa proposta para este artigo tem como meta inicial oferecer a análise do conto “Centauro”, presente em Objecto quase (1978), evidenciando que a estruturação dos elementos
representativos do insólito – no presente caso, o mito e o maravilhoso –, fundada no imaginário como aparência de realidade, a reconduz a um mundo alternativo a partir da
efabulação pautada na oralidade. A constatação de tais elementos, já nas origens da ficção saramaguiana, confirma uma prefiguração dos gêneros que se manifestarão sob novas abordagens em sua produção posterior.
Este artigo articula-se como uma análise ensaística que tem por
finalidade inserir a leitura de A... more Este artigo articula-se como uma análise ensaística que tem por
finalidade inserir a leitura de As intermitências da morte (2005), de José Saramago,
na perspectiva do realismo mágico, procedimento literário que teve
sua maior expressão com o boom da literatura hispano-americana na década
de 1960, mas que ressurge na literatura contemporânea sob um novo
olhar. Tendo como foco principal da análise a protagonista do romance, ou
seja, a morte, analisaremos aqui como se dá sua transfiguração no processo
ficcional. Como fundamento teórico, no que diz respeito ao realismo mágico,
atemo-nos, sobretudo, aos estudos de William Spindler (1993). Em
relação à interpretação mitológica, utilizamos estudos de Junito de Souza
Brandão (1998), entre outros.
A formulação deste artigo tem como preocupação traçar brevemente as origens e o uso do conceito d... more A formulação deste artigo tem como preocupação traçar brevemente as origens e o uso do conceito de realismo mágico, uma vez que a expressão tem se manifestado em diversos trabalhos acadêmicos, sendo inclusive objeto de nossos estudos nos últimos anos. A fundamentação teórica para a presente discussão baseia-se em artigos acerca da evolução do conceito, como os estudos de Irlemar Chiampi (1980), textos organizados por Zamora e Faris (1995), categorizações de William Spindler (1993), entre outros.

, O ano da morte de Ricardo Reis (1984) and A jangada de pedra (1986), by José Saramago, are the ... more , O ano da morte de Ricardo Reis (1984) and A jangada de pedra (1986), by José Saramago, are the novels which constitute the corpus of our research. We propose an analysis of those three novels through the perspective of magical realism. The most important aspect of this literary category is discovering the relationship between man and his surrounding circumstances. Saramago's work, as well as the work of Spanish-American authors, are alike in a number of narrative procedures -namely magical realism, the relationship between history and fiction and intertextuality. By taking those procedures into account, we intend to study how magical realism is an unique feature of the relationship between history and fiction in Saramago's novels. (1984) e A jangada de pedra (1986), de José Saramago, são os romances que constituem o corpus de nossa pesquisa. É sob a perspectiva do realismo mágico que propomos uma análise desses romances. O importante na configuração dessa categoria literária é a descoberta da relação existente entre o homem e as circunstâncias em que está inserido. A produção de Saramago e de autores hispano-americanos se assemelham em alguns procedimentos narrativos -tais como o realismo mágico, as relações entre história e ficção e a intertextualidade. Considerando esses procedimentos, pretendemos estudar como o realismo mágico singulariza a relação entre história e ficção no romance de José Saramago. Palavras-chave. Realismo mágico; intertextualidade; metaficção; ficção; história. Este trabalho é uma continuidade de nossa dissertação de mestrado intitulada O realismo mágico na comunhão estética entre Memorial do Convento e Cem Anos de Solidão. O objetivo era constatar a identificação de José Saramago com a ficção hispano-americana. Propomos agora uma análise mais detalhada dos procedimentos narrativos dessa ficção presentes em romances de Saramago, em que o realismo mágico
Conscientes de que José Saramago lança mão do realismo mágico em alguns de seus romances, dialoga... more Conscientes de que José Saramago lança mão do realismo mágico em alguns de seus romances, dialogando, assim, com a convenção dessa categoria literária, em nossa pesquisa analisamos como se manifesta tal categoria em três romances do autor português. Ao focalizar o realismo mágico em Memorial do convento (1982), A jangada de pedra (1986) e As intermitências da morte (2005), verificamos que ele se configura nesses romances como um procedimento narrativo de transgressão: de discursos, valores e da própria representação, ao lado da intertextualidade e da ironia. Em A jangada de pedra, o realismo mágico apresenta-se na estrutura do romance junto ao resgate de mitos e lendas, trazidos à tona por meio da intertextualidade. Procuraremos demonstrar de que forma, configurando-se como um procedimento transgressor, essa categoria se instaura no romance em questão.

O presente artigo propõe uma discussão, mesmo que breve, dos desdobramentos do narrador saramagui... more O presente artigo propõe uma discussão, mesmo que breve, dos desdobramentos do narrador saramaguiano a partir do ponto de vista do realismo mágico -procedimento associado esteticamente ao boom da literatura Hispano-Americana, da qual José Saramago se aproxima ao utilizá-lo em seus romances. Nosso objetivo é abordar de forma sucinta alguns pontos sobre o narrador, a fim de comprovarmos que o romance em questão se trata de um texto realista mágico, marcado pelos eventos extraordinários e pela posição ideológica de quem os narra, característica comum do procedimento em questão. Tendo como objeto de análise A jangada de pedra (1986), nossas reflexões baseiam-se nas concepções genettianas sobre o narrador e nos estudos de Wayne Booth (1980) sobre autor implícito, além de outros críticos. De posse desses e de outros estudos da teoria da narrativa, analisamos o texto literário com a preocupação de identificar elementos que inserem A jangada de pedra na perspectiva do realismo mágico, procedendo também à reflexão sobre a importância do narrador para a efetivação desse procedimento literário na ficção de José Saramago.

RESUMO: Neste artigo, propomos uma leitura de Ensaio sobre a cegueira (1995), de José Saramago, a... more RESUMO: Neste artigo, propomos uma leitura de Ensaio sobre a cegueira (1995), de José Saramago, a partir do estudo de William Spindler (1993) sobre o realismo mágico, uma vez que sugere uma nova perspectiva para as impressões desse romance. Esta análise tem como objetivo constatar que o romance pode ser investigado a partir do realismo mágico metafísico, proeminente na literatura contemporânea. Trata-se, nesse caso, de uma inversão do que seria um realismo mágico mais "tradicional"; isto é, a atmosfera do absurdo se instala por meio da sobrenaturalização do real e essas narrativas induzem no leitor um senso de irrealidade pela técnica do Verfremdung, aproximando-se do fantástico estranho, proposto por Todorov (2003) e do fantástico contemporâneo, proposto por Sartre (1968), visto que uma cena familiar é tida como algo novo e desconhecido. Esse tipo de narrativa incita na mente do leitor a impressão de que ele é confrontado com uma alegoria ou metáfora de algo que permanece desconhecido. Assim, parece pertinente estabelecer correspondência de Ensaio sobre a cegueira com o realismo mágico metafísico, considerando-se a composição da atmosfera que justifica a análise do romance, e os elementos que traçam essa narrativa sob a esfera insólita circunscrita a partir do procedimento em questão. Palavras-chave: José Saramago; Realismo mágico metafísico; Ensaio sobre a cegueira ABSTRACT: This article proposes a reading of Ensaio sobre a cegueira (1995), by José Saramago, through the lens of William Spindler's study on magical realism (1993), since it suggests a new perspective for the impressions contained in that novel. This analysis aims to show that Saramago's novel may be considered as an example of metaphysical magical realism, an important feature of contemporary literature. This type inverts what we could call "traditional" magical realism; that is, the atmosphere of the absurd is created by the supernaturalization of reality, and such narratives induce in the reader a sense of unreality through the technique of Verfremdung, approaching the strange fantastic proposed by , and the contemporary fantastic proposed by Sartre (1968), since a familiar scene is portrayed as something new and unknown. This kind of narrative creates, in the reader's mind, the impression that he is being confronted with an allegory or a metaphor of something that remains unknown. In that sense, it seems pertinent to establish a correspondence between Ensaio sobre a cegueira and the metaphysical magical realism, taking into account the composition of the atmosphere that justifies the analysis of the novel and the elements that concern the outlandish sphere.
RESUMO: Com base na figura de Jesus, propomos analisar três personagens -Deus, Diabo e Jesus -em ... more RESUMO: Com base na figura de Jesus, propomos analisar três personagens -Deus, Diabo e Jesus -em O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991), de José Saramago, com o objetivo de apontar a representação de uma curiosa "trindade" estabelecida na obra à medida que o narrador -fio condutor de nossa análise -vai revelando a relação configurada entre Deus e o Diabo num jogo bem articulado, cuja peça principal é Jesus.
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relacionados com o insólito ficcional presentes nos romances do autor português. Nossa proposta para este artigo tem como meta inicial oferecer a análise do conto “Centauro”, presente em Objecto quase (1978), evidenciando que a estruturação dos elementos
representativos do insólito – no presente caso, o mito e o maravilhoso –, fundada no imaginário como aparência de realidade, a reconduz a um mundo alternativo a partir da
efabulação pautada na oralidade. A constatação de tais elementos, já nas origens da ficção saramaguiana, confirma uma prefiguração dos gêneros que se manifestarão sob novas abordagens em sua produção posterior.
finalidade inserir a leitura de As intermitências da morte (2005), de José Saramago,
na perspectiva do realismo mágico, procedimento literário que teve
sua maior expressão com o boom da literatura hispano-americana na década
de 1960, mas que ressurge na literatura contemporânea sob um novo
olhar. Tendo como foco principal da análise a protagonista do romance, ou
seja, a morte, analisaremos aqui como se dá sua transfiguração no processo
ficcional. Como fundamento teórico, no que diz respeito ao realismo mágico,
atemo-nos, sobretudo, aos estudos de William Spindler (1993). Em
relação à interpretação mitológica, utilizamos estudos de Junito de Souza
Brandão (1998), entre outros.
relacionados com o insólito ficcional presentes nos romances do autor português. Nossa proposta para este artigo tem como meta inicial oferecer a análise do conto “Centauro”, presente em Objecto quase (1978), evidenciando que a estruturação dos elementos
representativos do insólito – no presente caso, o mito e o maravilhoso –, fundada no imaginário como aparência de realidade, a reconduz a um mundo alternativo a partir da
efabulação pautada na oralidade. A constatação de tais elementos, já nas origens da ficção saramaguiana, confirma uma prefiguração dos gêneros que se manifestarão sob novas abordagens em sua produção posterior.
finalidade inserir a leitura de As intermitências da morte (2005), de José Saramago,
na perspectiva do realismo mágico, procedimento literário que teve
sua maior expressão com o boom da literatura hispano-americana na década
de 1960, mas que ressurge na literatura contemporânea sob um novo
olhar. Tendo como foco principal da análise a protagonista do romance, ou
seja, a morte, analisaremos aqui como se dá sua transfiguração no processo
ficcional. Como fundamento teórico, no que diz respeito ao realismo mágico,
atemo-nos, sobretudo, aos estudos de William Spindler (1993). Em
relação à interpretação mitológica, utilizamos estudos de Junito de Souza
Brandão (1998), entre outros.