Papers by Cíntia Engel

Ilha - Revista de Antropologia, 2023
Comprimidos para o alívio de dores. Ampolas com anestésico para possibilitar cirurgias longas e i... more Comprimidos para o alívio de dores. Ampolas com anestésico para possibilitar cirurgias longas e invasivas. Pomadas para tratar queimaduras. Cremes de uso tópico para crescer cabelos e pelos faciais. Antiácidos efervescentes providenciais para ajudar na digestão de alimentos. Quimioterápicos cuja promessa de cura pode vir acompanhada de dolorosos efeitos colaterais. Substâncias de uso crônico para regular, controlar ou compensar acometimentos fisiológicos e psíquicos. Moduladores de alterações desejadas de estados físico-mentais. Produtos que vendem “qualidade de vida”. Objetos de ações coletivas de luta por acesso. Alvos de políticas de controle estatal para coibir usos “irracionais” ou que causam “dependência”. Tecnologias cuja ausência ou escassez adjetiva doenças como “órfãs” ou “negligenciadas”. Símbolos acabados de práticas técnico-científicas. Agregadores de monumentais investimentos privados multinacionais. Pomos de controvérsias estrategicamente forjadas para intensificar crises sanitárias, científicas e políticas. Os medicamentos são uma constante das relações sociais contemporâneas e têm configurado um incandescente campo de pesquisas etnográficas.

Culture, Medicine, and Psychiatry, 2022
It is commonplace to state that dementia is a complex condition. Such complexity involves the lim... more It is commonplace to state that dementia is a complex condition. Such complexity involves the limits between pathological and normal aging, diagnosis with no simple organic causation, and the use of psychiatric medication that does not cure but generates hope to alleviate symptoms such as forgetfulness and delirium. Based on an ethnography of one year and a half (2017–2018) in a Brazilian metropolis, within a Public Geriatric center and the households of three families, I argue that dementia, more than a complex condition, is a generator of drug complexity. Following Stefan Ecks' reflections on multimorbidity and polyiatrogenesis and Karen Barad's understanding of intra-action, I discuss the polypharmacy present in most cases of dementia that I have known. Considering the complicated relations of medications with themselves and with time and places, I conclude that dementia should be seen a polypharmaceutical phenomenon.
Ageing Masculinities, Alzheimer’s and Dementia Narratives, 2022

Revista Coletiva, 2021
Revista de divulgação científica coletiva.org Tenho pesquisado junto de famílias e profissionais ... more Revista de divulgação científica coletiva.org Tenho pesquisado junto de famílias e profissionais de saúde do Distrito Federal e entorno sobre demências e cuidado. Uma das coisas que aprendi é que um cuidado intenso como o de uma demência, que envolve a lida com medicamentos, o acesso constante a instituições de saúde, um cotidiano marcado por surpresas e mudanças nas relações com o corpo, casa e lembranças, conta com uma série de personagens e tecnologias. E, arrisco dizer, os medicamentos estão no centro dessas tecnologiassendo usados com diferentes objetivos. Representam uma das principais estratégias para lidar com alguns dos esgarçamentos do cotidiano e do cuidado, seja ele feito por parentes ou por profissionais pagos. Vou contar um pequeno fragmento de uma situação. Acredito que ela possa expressar algo desses cotidianos. Conheci uma cuidadora que vou chamar aqui de Mara. Era uma profissional de cuidado com muita experiência. Estava no final dos quarenta, formada como técnica de enfermagem e com curso de cuidadora de idosos. Uma mulher negra, de pele clara, baixa, mãe de dois filhos adolescentes. Morava com eles e com sua mãe, que estava vivendo com uma demência. Já havia trabalhado para hospitais, empresas de cuidado domiciliar e, quando a conheci, havia sido contratada em regime de carteira assinada como cuidadora de uma senhora diagnosticada com Doença de Alzheimer -vamos chamá-la de Celita. Celita, por vezes, ficava um tanto incomodada com o cuidado, com o fato de ter uma cuidadora, que tem a língua portuguesa como língua materna. Ela era estrangeira, uma mulher branca e nascida na Europa. Veio para o Brasil, na velhice, porque tinha parentes aqui. Esse incômodo que ela tinha era lido como agitação pelos profissionais e, frequentemente, ela era medicada com um antipsicótico para "acalmar" esses sintomas e, assim, "facilitar" o cuidado. Mara era quem manejava os medicamentos no dia a dia e ia até as consultas em que os médicos prescreviam as receitas. O marido de Celita era seu cuidador, mas andava muito adoecido, o que colocava em Mara uma responsabilidade de cuidado ainda maior do que havia inicialmente previsto.
CTS em foco - Boletim Esocite, 2021
CTS em foco n ú m e r o 0 3 a b r -j u n 2 0 2 1 i s s n 2 6 7 5 -9 7 6 4 boletim EXPEDIENTE DO B... more CTS em foco n ú m e r o 0 3 a b r -j u n 2 0 2 1 i s s n 2 6 7 5 -9 7 6 4 boletim EXPEDIENTE DO BOLETIM coordenação geral Daniela Alves (UFV) coordenação temática Rosana Castro (UERJ) conselho editorial Fabrício Neves (UnB) Guilherme Sá (UnB) Ivan da Costa Marques (UFRJ) Lorena Fleury (UFRGS) Marko Monteiro (Unicamp) Noela Invernizzi (UFPR) Wilson Pedro (UFSCAR) Débora Allebrandt (UFAL) Ana Lucia Lage (UFBA) comitê editorial Daniela Alves (UFV) Maíra Baumgarten (FURG) Thales de Andrade (UFSCAR) Daniele Martins (UFRJ) apoio técnico

R@U - Revista de Antropologia da UFSCAR, 2021
Ambas decidimos voltar aos nossos campos etnográficos – a feitura de parentesco em aldeias Terena... more Ambas decidimos voltar aos nossos campos etnográficos – a feitura de parentesco em aldeias Terena no pantanal sul-mato-grossense e as reorganizações familiares para o cuidado da demência em Brasília – não para ir além, mas para tentar de novo, experimentar e escrever sobre algo que facilmente escapa: os diversos tempos e cadências do cotidiano, do ócio àquilo que soa invisível. Buscamos, assim, trazer efeitos do sensível e produzir efeitos pela grafia, tentando levar em conta que “a linguagem jamais é a simples vestimenta de um pensamento que conhece a si mesmo com toda a clareza” (Merleau-Ponty 2012: 12). Isso possui implicações múltiplas e imprevistas, sendo a principal delas a construção de textos-tentativas, permeáveis na medida em que não contenham todas as possibilidades de perguntas e respostas e exijam de si serem reescritos, e, portanto, transformarem-se em outra coisa, para continuarem engajados com seus efeitos.
Políticas da Pandemia - imuê, 2020
Como lidar com vírus e suas doenças em meio a relações intensas de cuidado? Essa é a questão que ... more Como lidar com vírus e suas doenças em meio a relações intensas de cuidado? Essa é a questão que me orienta. Trago experiências de cuidado das demências para pensar sobre a crise desencadeada pelo coronavírus SARS-CoV-2 e sobre as expectativas públicas de cuidado e prevenção. A partir dessa experiência, debato especificamente as formas de dividir, separar e categorizar um coletivo por meio do termo grupos de risco. E, especialmente, sobre as consequências desse exercício para as estratégias de cuidado.
ACENO, 2020
Durante uma consulta em um ambulatório da demência do Distrito Federal, presenciei certa disputa ... more Durante uma consulta em um ambulatório da demência do Distrito Federal, presenciei certa disputa que me fez atentar para a centralidade das práticas alimentares para a Doença de Alzheimer. A partir de desdobramentos dessa consulta e posteriores entrevistas e observações realizadas entre 2016 e 2018 – ao longo de uma pesquisa etnográfica sobre as terapias da Doença de Alzheimer –, reflito sobre
disputas e testagens de alimentos como tipo de terapia; as quais, concluo, fazem parte central nas produções de distintas versões acerca do que é a doença e do que é saúde e corpo nesse contexto.
BIB, 2019
O artigo dialoga com etnografias e estudos qualitativos sobre o fenômeno das demências. Dada a ce... more O artigo dialoga com etnografias e estudos qualitativos sobre o fenômeno das demências. Dada a centralidade que o
termo doença de Alzheimer angariou nesse campo, retoma sua história, as contínuas e atuais controvérsias a respeito
da doença, bem como os tratamentos e modos de cuidar, estudar e se relacionar com pessoas com demência. O campo
das demências tem questionado conceitos e abordagens metodológicas das ciências sociais, e transformado modos de
cuidar, tratar e medicar a velhice ao redor do mundo, contudo ainda é pouco conhecido no Brasil e são raras as revisões
de literatura que sistematizem o que foi produzido e apontem agendas de pesquisa contemporâneas.

O trabalho tem o objetivo de adensar etnograficamente o que se
entende por sofrimento quando se f... more O trabalho tem o objetivo de adensar etnograficamente o que se
entende por sofrimento quando se fala em Alzheimer e como esse
é tratado e cuidado. Para tanto, discute-se três temas principais: o
tortuoso diagnóstico, o itinerário de cuidado cotidiano confinado às
relações familiares e a difícil partilha das experiências de morte e
mortificações. A reflexão se dá a partir do encontro entre sujeitos
esquecidos, familiares e profissionais de saúde de um serviço especializado no Brasil. A metodologia é a pesquisa etnográfica, são
comparados os dados de dois momentos de um trabalho de campo
no Centro de Referência para portadores da doença de Alzheimer
do Hospital Universitário de Brasília. O primeiro momento ocorreu em
2012 nos espaços de grupos terapêuticos para pessoas diagnosticadas
e suas cuidadoras e teve duração de seis meses; o segundo
ocorreu entre setembro de 2016 a junho de 2017 e centrou-se em
consultas médicas de avaliação e acompanhamento e prontuários.
Entre os resultados, busca-se dar carne a experiências de cuidadoras
e pessoas com Alzheimer, apostando no potencial de contrastá-las
a uma narrativa hegemônica e suas decorrentes propostas terapêuticas.
A principal conclusão do trabalho é a de que tratar o Alzheimer
é cuidar, ou ao menos depende do cuidado; e que legislações eprescrições de formas e modos de cuidar entram em conflito, por
vezes, com possibilidades, demandas de auxílio, a complexidade
e isolamento do cuidado cotidiano. Intenta-se, assim, uma reflexão
sobre o paradigma terapêutico brasileiro a partir do conceito de
partilha do sofrimento, cunhado por Donna Haraway.

Em 2012, acompanhei etnograficamente grupos terapêuticos para pessoas com Alzheimer e para cuidad... more Em 2012, acompanhei etnograficamente grupos terapêuticos para pessoas com Alzheimer e para cuidadoras e cuidadores familiares em um serviço oferecido pelo Hospital Universitário de Brasília. Fui a campo para compreender o que acontecia com sujeitos e ouvir suas narrativas sobre os dilemas da doença, mas acabei por me envolver com relações, substâncias e trocas que desestabilizaram algumas noções que carregava acerca de sujeitos, corpos, cérebro, organismos e mundos. Este artigo é uma tentativa de, a partir dos sintomas, reclames e modos de se comunicar criados, discutir algumas dessas noções e suas instabilidades. Inicio com uma perspectiva sobre o que seria a constituição de subjetividades encarnadas. Percebo, contudo, que algumas coisas deixam de ser ditas e que pensar em como corpo se organiza em subjetividade e se engaja no mundo abre outros caminhos. Tento debater com a ideia de um organismo que possui um funcionamento normal necessário para estar no mundo, olhando para as
desorganizações desse funcionamento, o que me faz também pensar em substâncias, agenciamentos, vontades e engajamento do corpo para além do normal. Passo, então, a tensionar essas outras existências e mundos compartilhados a partir de corpos que convivem, criam e resistem a técnicas de estabilizações; faço isso dando espaço para as várias disputas envolvidas nesse processo. Em resposta ao cérebro e suas funções corretas, argumento em torno de substâncias em relação.

Essa dissertação aborda o fenômeno da demência e, especificamente, as interações subjetivas de cu... more Essa dissertação aborda o fenômeno da demência e, especificamente, as interações subjetivas de cuidado entre cuidadoras/es familiares e membros da família que foram diagnosticados com a Doença de Alzheimer. O objetivo maior do trabalho é descrever a experiência dos sujeitos que fizeram parte da pesquisa e elaborar algumas análises interpretativas acerca da trajetória desses com a doença e/ou com o cuidado.
A pesquisa que embasa a escrita foi realizada por meio de observações e vivências com famílias que freqüentaram o Centro de Medicina do Idoso (CMI) do Hospital Universitário de Brasília (HUB) no primeiro semestre de 2012. Essa instituição, além de elaborar o diagnóstico dos sujeitos, oferece tratamentos por meio de grupos terapêuticos e de memória, orientados tanto para cuidadoras/es como para pessoas com Alzheimer.
Com o objetivo de narrar a experiência dos sujeitos com a doença e com o cuidado, essa dissertação aborda, inicialmente, a composição complexa e escorregadia do que vem a ser o diagnóstico da provável demência causada pela Doença de Alzheimer, o itinerário de ação necessário para acessá-lo e como esse é recebido pelos sujeitos. Em seguida, discute os itinerários de cuidado adotados pelas famílias com a mediação do CMI, e que estão inseridas em um contexto mais amplo – e desigual em relação ao gênero – de divisão de cuidados no Brasil. Então, parte para descrições e interpretações acerca do que se optou por chamar de “dilemas perceptivos” enfrentados por aqueles que experimentam uma condição de demência, tanto no que se refere às desorientações de memória e raciocínio, como em relação às destrezas cotidianas com o próprio corpo. Tendo desenvolvido acerca das particularidades perceptivas dos sujeitos com demência, propõe-se uma análise das relações intersubjetivas de cuidado, perpetradas no exercício constante da/o cuidadora em estabelecer alteridades perceptivas para compreender as demandas do outro e atendê-las. Ao final, essa dissertação discorre acerca da morte com demência, sendo essa entendida como uma experiência de morte específica.

RESUMO O envelhecimento populacional traz a tona preocupações em relação à saúde pública, princip... more RESUMO O envelhecimento populacional traz a tona preocupações em relação à saúde pública, principalmente no que se refere ao cuidado de pessoas com doenças crônicas e com dificuldades em relação à própria autonomia. O objetivo deste artigo é discutir estratégias de cuidado doméstico e institucional. Este trabalho foi elaborado a partir das informações e dados produzidos pela pesquisa Envelhecimento de mulheres: práticas institucionais de violência e abandono-EVA, realizada no DF e em Goiânia em mais de 25 Instituições de Longa Permanência para idosos/as. Para a reflexão deste artigo, adiciono também considerações de minha pesquisa de mestrado sobre o apoio prestado no ambiente familiar às pessoas acometidas pelo mal de Alzheimer. ABSTRACT Population aging brings up concerns about public health, particularly with regard to the care of people with chronic diseases and difficulties in relation to their own autonomy. The aim of this paper is to discuss strategies for familiar and institutional care. This work was prepared from information and data produced by research The aging of women: institutional practices of violence and abandonment – EVA, held in Brasília and Goiânia in more than 25 Long Term Institutions for elderly. In concern to the discussion of this

Nos últimos anos, o termo cultura do estupro ganhou visibilidade a partir da ampla divulgação pel... more Nos últimos anos, o termo cultura do estupro ganhou visibilidade a partir da ampla divulgação pela mídia de diferentes casos de abuso. Parece sempre urgente para mulheres formular argumentos/vídeos/textos que comuniquem por que e como é grave viver o tempo inteiro com o medo e o perigo de ser potencialmente violada. A perenidade dos abusos é conhecida, contudo, observa-se uma disputa de narrativas cada vez que um caso desses vem a público. A partir de fatos vividos e narrados, o texto articula argumentos e referências para discutir: i) pedagogias do desejo que se atualizam no sentido de produzir e reproduzir a cultura do estupro; ii) o que se passou a categorizar como crime de estupro; iii) de que forma a culpabilização de certas masculinidades desvia o debate sobre a amplitude da circulação da cultura do estupro; iv) as consequências subjetivas de sujeitos feitos objetos; e v) como o Estado brasileiro tem legislado e julgado casos de estupro. Finalmente, atenta-se para as articulações e os agenciamentos da cultura do estupro em atuais disputas político-ideológicas no Brasil.

A organização social do trabalho doméstico e de cuidado: considerações sobre gênero e raça The so... more A organização social do trabalho doméstico e de cuidado: considerações sobre gênero e raça The social organization of care and domestic work: considerations on gender and race Resumo Este artigo tem por intento observar como a raça, enquanto categoria social, constitui-se como eixo articulador da organização social do trabalho doméstico e de cuidado no Brasil. Iniciamos o texto com a retomada de discussões sobre a Divisão Sexual do Trabalho, tendo em conta a produção dos estudos feministas e de gênero que se ocupam da temática. Dando prosseguimento, procuramos apreender a associação simbólica das mulheres negras ao servir e ao cuidar em uma narrativa largamente aceita sobre a identidade nacional. Adiante, fazemos uma apresentação de dados sobre a associação das mulheres negras ao trabalho doméstico. Finalmente, nos debruçamos sobre reflexões, conexões e caminhos interpretativos possíveis. Abstract This article aims to observe race – understood as a social category – as an axes along of which domestic labor and the work of care are structured in Brazil. First, we resume the recent debate on Sexual Division of Labor, taking into account feminist and gender studies and propositions. Next, we seek to grasp the symbolic association of black women to servitude and care work in a widely accepted narrative about national identity. Following, we present data on the association of black women to domestic labor. Finally, we present some considerations, connections and possible interpretive paths.
Books by Cíntia Engel
O E-Book Antropologias, Saúde e contextos de crise, organizado por Rosana Castro, Cíntia Engel e ... more O E-Book Antropologias, Saúde e contextos de crise, organizado por Rosana Castro, Cíntia Engel e Raysa Martins, apresenta um copilado das principais discussões abordadas na II Reunião de Antropologia da Saúde, ocorrida nos dias 8, 9 e 10 de novembro de 2017.
O e-book é um passo para a verberação dos debates e questões levantadas no decorrer do evento, um importante registro que tem seu lançamento digital em março de 2018, com intuito de fomentar as discussões da temática ao redor do país.
Articles and book chapters by Cíntia Engel
ReVista - Harvard Review of Latin America, 2019
Book Reviews by Cíntia Engel
Novos Debates, 2021
DAS, Veena. Vida e palavras: a violência e sua descida ao ordinário. Tradução bruno Gambarotto. S... more DAS, Veena. Vida e palavras: a violência e sua descida ao ordinário. Tradução bruno Gambarotto. São Paulo: Editora Unifesp, 2020. 312p. "(...) um encontro com a dor não é uma transação simples ou que se resolva de uma vez só" (p.131)
Thesis Chapters by Cíntia Engel

Repositório UnB, 2020
O termo demências é utilizado para se referir a condições que afetam a memória, relações sociais ... more O termo demências é utilizado para se referir a condições que afetam a memória, relações sociais e percepção, elas são comumente associadas ao envelhecimento. A Doença de Alzheimer é tida como a principal doença que causa demências. Ao longo dos últimos cinquenta anos, tal doença tem conectado uma série de atores e tecnologias de cuidado de modos diversos e, por vezes, contraditórios. Essa tese trata das formas de nomear e de cuidar das demências, especialmente da Doença de Alzheimer, em diálogo com instituições biomédicas e suas tecnologias. A narrativa é levada, em um primeiro momento, a partir de um centro de medicina público e multidisciplinar, especializado em geriatria e gerontologia, que atua no Distrito Federal e Entorno (DFE). Pelas suas práticas de diagnóstico, cuidado e atenção aos medicamentos e às relações amplas com a doença, desenvolve-se um debate acerca das divergências históricas no diagnóstico e cuidado das demências. Investiga-se, ainda, a quantidade e complexidade medicamentosa no cuidado das demências no contexto pesquisado, traduzida pelo termo interações medicamentosas. Em um segundo momento, a narrativa se desloca a partir de três casas localizadas em diferentes regiões do DFE, as quais se relacionam com o centro pesquisado e com outras instâncias e instituições da saúde públicas e privadas. Junto das lidas diárias e circulações em busca de cuidado das demências, são discutidas as variedades de categorização de sintomas dependendo das instituições e profissionais de saúde consultados, as dificuldades cotidianas para se fazer uma rotina, as vinculações do cuidado de uma doença e do uso de medicamentos com a cidade e os lugares; além dos muitos desafios que ameaçam fragmentar o cotidiano. Por fim, essas duas posições em campo são comparadas e debate-se como o cuidado das demências pode ser compreendido a partir do termo partilha, tanto no sentido do compartilhamento de sentidos, afetos e cotidianos, como na divisão – muitas vezes desigual – de sensibilidades, recursos e afetos políticos.
Uploads
Papers by Cíntia Engel
disputas e testagens de alimentos como tipo de terapia; as quais, concluo, fazem parte central nas produções de distintas versões acerca do que é a doença e do que é saúde e corpo nesse contexto.
termo doença de Alzheimer angariou nesse campo, retoma sua história, as contínuas e atuais controvérsias a respeito
da doença, bem como os tratamentos e modos de cuidar, estudar e se relacionar com pessoas com demência. O campo
das demências tem questionado conceitos e abordagens metodológicas das ciências sociais, e transformado modos de
cuidar, tratar e medicar a velhice ao redor do mundo, contudo ainda é pouco conhecido no Brasil e são raras as revisões
de literatura que sistematizem o que foi produzido e apontem agendas de pesquisa contemporâneas.
entende por sofrimento quando se fala em Alzheimer e como esse
é tratado e cuidado. Para tanto, discute-se três temas principais: o
tortuoso diagnóstico, o itinerário de cuidado cotidiano confinado às
relações familiares e a difícil partilha das experiências de morte e
mortificações. A reflexão se dá a partir do encontro entre sujeitos
esquecidos, familiares e profissionais de saúde de um serviço especializado no Brasil. A metodologia é a pesquisa etnográfica, são
comparados os dados de dois momentos de um trabalho de campo
no Centro de Referência para portadores da doença de Alzheimer
do Hospital Universitário de Brasília. O primeiro momento ocorreu em
2012 nos espaços de grupos terapêuticos para pessoas diagnosticadas
e suas cuidadoras e teve duração de seis meses; o segundo
ocorreu entre setembro de 2016 a junho de 2017 e centrou-se em
consultas médicas de avaliação e acompanhamento e prontuários.
Entre os resultados, busca-se dar carne a experiências de cuidadoras
e pessoas com Alzheimer, apostando no potencial de contrastá-las
a uma narrativa hegemônica e suas decorrentes propostas terapêuticas.
A principal conclusão do trabalho é a de que tratar o Alzheimer
é cuidar, ou ao menos depende do cuidado; e que legislações eprescrições de formas e modos de cuidar entram em conflito, por
vezes, com possibilidades, demandas de auxílio, a complexidade
e isolamento do cuidado cotidiano. Intenta-se, assim, uma reflexão
sobre o paradigma terapêutico brasileiro a partir do conceito de
partilha do sofrimento, cunhado por Donna Haraway.
desorganizações desse funcionamento, o que me faz também pensar em substâncias, agenciamentos, vontades e engajamento do corpo para além do normal. Passo, então, a tensionar essas outras existências e mundos compartilhados a partir de corpos que convivem, criam e resistem a técnicas de estabilizações; faço isso dando espaço para as várias disputas envolvidas nesse processo. Em resposta ao cérebro e suas funções corretas, argumento em torno de substâncias em relação.
A pesquisa que embasa a escrita foi realizada por meio de observações e vivências com famílias que freqüentaram o Centro de Medicina do Idoso (CMI) do Hospital Universitário de Brasília (HUB) no primeiro semestre de 2012. Essa instituição, além de elaborar o diagnóstico dos sujeitos, oferece tratamentos por meio de grupos terapêuticos e de memória, orientados tanto para cuidadoras/es como para pessoas com Alzheimer.
Com o objetivo de narrar a experiência dos sujeitos com a doença e com o cuidado, essa dissertação aborda, inicialmente, a composição complexa e escorregadia do que vem a ser o diagnóstico da provável demência causada pela Doença de Alzheimer, o itinerário de ação necessário para acessá-lo e como esse é recebido pelos sujeitos. Em seguida, discute os itinerários de cuidado adotados pelas famílias com a mediação do CMI, e que estão inseridas em um contexto mais amplo – e desigual em relação ao gênero – de divisão de cuidados no Brasil. Então, parte para descrições e interpretações acerca do que se optou por chamar de “dilemas perceptivos” enfrentados por aqueles que experimentam uma condição de demência, tanto no que se refere às desorientações de memória e raciocínio, como em relação às destrezas cotidianas com o próprio corpo. Tendo desenvolvido acerca das particularidades perceptivas dos sujeitos com demência, propõe-se uma análise das relações intersubjetivas de cuidado, perpetradas no exercício constante da/o cuidadora em estabelecer alteridades perceptivas para compreender as demandas do outro e atendê-las. Ao final, essa dissertação discorre acerca da morte com demência, sendo essa entendida como uma experiência de morte específica.
Books by Cíntia Engel
O e-book é um passo para a verberação dos debates e questões levantadas no decorrer do evento, um importante registro que tem seu lançamento digital em março de 2018, com intuito de fomentar as discussões da temática ao redor do país.
Articles and book chapters by Cíntia Engel
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Book Reviews by Cíntia Engel
Thesis Chapters by Cíntia Engel
disputas e testagens de alimentos como tipo de terapia; as quais, concluo, fazem parte central nas produções de distintas versões acerca do que é a doença e do que é saúde e corpo nesse contexto.
termo doença de Alzheimer angariou nesse campo, retoma sua história, as contínuas e atuais controvérsias a respeito
da doença, bem como os tratamentos e modos de cuidar, estudar e se relacionar com pessoas com demência. O campo
das demências tem questionado conceitos e abordagens metodológicas das ciências sociais, e transformado modos de
cuidar, tratar e medicar a velhice ao redor do mundo, contudo ainda é pouco conhecido no Brasil e são raras as revisões
de literatura que sistematizem o que foi produzido e apontem agendas de pesquisa contemporâneas.
entende por sofrimento quando se fala em Alzheimer e como esse
é tratado e cuidado. Para tanto, discute-se três temas principais: o
tortuoso diagnóstico, o itinerário de cuidado cotidiano confinado às
relações familiares e a difícil partilha das experiências de morte e
mortificações. A reflexão se dá a partir do encontro entre sujeitos
esquecidos, familiares e profissionais de saúde de um serviço especializado no Brasil. A metodologia é a pesquisa etnográfica, são
comparados os dados de dois momentos de um trabalho de campo
no Centro de Referência para portadores da doença de Alzheimer
do Hospital Universitário de Brasília. O primeiro momento ocorreu em
2012 nos espaços de grupos terapêuticos para pessoas diagnosticadas
e suas cuidadoras e teve duração de seis meses; o segundo
ocorreu entre setembro de 2016 a junho de 2017 e centrou-se em
consultas médicas de avaliação e acompanhamento e prontuários.
Entre os resultados, busca-se dar carne a experiências de cuidadoras
e pessoas com Alzheimer, apostando no potencial de contrastá-las
a uma narrativa hegemônica e suas decorrentes propostas terapêuticas.
A principal conclusão do trabalho é a de que tratar o Alzheimer
é cuidar, ou ao menos depende do cuidado; e que legislações eprescrições de formas e modos de cuidar entram em conflito, por
vezes, com possibilidades, demandas de auxílio, a complexidade
e isolamento do cuidado cotidiano. Intenta-se, assim, uma reflexão
sobre o paradigma terapêutico brasileiro a partir do conceito de
partilha do sofrimento, cunhado por Donna Haraway.
desorganizações desse funcionamento, o que me faz também pensar em substâncias, agenciamentos, vontades e engajamento do corpo para além do normal. Passo, então, a tensionar essas outras existências e mundos compartilhados a partir de corpos que convivem, criam e resistem a técnicas de estabilizações; faço isso dando espaço para as várias disputas envolvidas nesse processo. Em resposta ao cérebro e suas funções corretas, argumento em torno de substâncias em relação.
A pesquisa que embasa a escrita foi realizada por meio de observações e vivências com famílias que freqüentaram o Centro de Medicina do Idoso (CMI) do Hospital Universitário de Brasília (HUB) no primeiro semestre de 2012. Essa instituição, além de elaborar o diagnóstico dos sujeitos, oferece tratamentos por meio de grupos terapêuticos e de memória, orientados tanto para cuidadoras/es como para pessoas com Alzheimer.
Com o objetivo de narrar a experiência dos sujeitos com a doença e com o cuidado, essa dissertação aborda, inicialmente, a composição complexa e escorregadia do que vem a ser o diagnóstico da provável demência causada pela Doença de Alzheimer, o itinerário de ação necessário para acessá-lo e como esse é recebido pelos sujeitos. Em seguida, discute os itinerários de cuidado adotados pelas famílias com a mediação do CMI, e que estão inseridas em um contexto mais amplo – e desigual em relação ao gênero – de divisão de cuidados no Brasil. Então, parte para descrições e interpretações acerca do que se optou por chamar de “dilemas perceptivos” enfrentados por aqueles que experimentam uma condição de demência, tanto no que se refere às desorientações de memória e raciocínio, como em relação às destrezas cotidianas com o próprio corpo. Tendo desenvolvido acerca das particularidades perceptivas dos sujeitos com demência, propõe-se uma análise das relações intersubjetivas de cuidado, perpetradas no exercício constante da/o cuidadora em estabelecer alteridades perceptivas para compreender as demandas do outro e atendê-las. Ao final, essa dissertação discorre acerca da morte com demência, sendo essa entendida como uma experiência de morte específica.
O e-book é um passo para a verberação dos debates e questões levantadas no decorrer do evento, um importante registro que tem seu lançamento digital em março de 2018, com intuito de fomentar as discussões da temática ao redor do país.
https://revista.drclas.harvard.edu/book/leibing-change-title?fbclid=IwAR2d-iYb9rThSUpk1L6AYYgkw-f8wxcF64gVGIV3cBEUjqdV4BI8JHxuL38