
Andréa Lobo
Doutora em Antropologia Social
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Papers by Andréa Lobo
Abstract Ipea is an institution that has the mission to carry out research on governmental actions (public policies, planning and development). However, this vocation for research as a function of the state has generated many tensions, among which one stands out: ‘we exist: what are we for?’ in a clear allusion to a Caetano Veloso’s song. Called by them as an identity crisis of the “ipeanos”, this tension generated interest in discussing the existence of a shared institutional ethos and, consequently, of carrying out an ethnography of the institution. This article thus outlines the configuration of the values in dispute within the institution, allowing us to apprehend Ipea as an institution that, due to its characteristics, produces more complex effects in state processes. In addition, we discuss the very notion of ‘institutional ethos’. The article is therefore an effort to contribute to the understanding of this specific ethnographic universe, but also to raise appropriate questions to think about the relations between research and government activities in shaping a public institution. Key words: IPEA, state, institution, ethnography, ethos.
um sentido de pertencimento a lugares ou grupos, concretos ou imaginados,
por meio de redes de comunicação. O foco recai nos fluxos de coisas em redes
transnacionais formadas por migrantes cabo-verdianos e seus parentes que ficaram
no país. Trata-se de uma rede intensa e diversificada que envolve relações de
parentesco num contexto de distância física prolongada, tanto no espaço quanto no
tempo. Os fluxos em questão consolidam laços sociais, culturais e familiares entre
estes emigrantes e suas comunidades de origem, num complexo sistema de trocas e
circulação de presentes, dinheiro e informações que mobilizam aqueles que partiram
e aqueles que ficaram. O argumento se baseia num diálogo entre os dados etnográficos
e estudos que exploram os fluxos transnacionais de pessoas, capital e bens.
crioula de Cabo Verde não é um dado pré-definido, as relações de parentesco
não são irrevogáveis e sem necessidade de reiteração. As relações familiares
são analisadas como construção, um projeto que é fruto de negociação
constante entre os membros. O argumento central é o de que, em Cabo
Verde, as relações familiares se caracterizam por um comprometimento
mútuo, contatos sociais regulares e um fluxo intra e inter-doméstico de
benefícios materiais e não-materiais. Tais requisitos são fundamentais para a
construção do sentimento de proximidade e atuam para fortalecer laços préexistentes,
de parentesco.
não são novidades para a antropologia, seja em abordagens clássicas,
que focam a estrutura institucional dos sistemas de parentesco, seja em análises
contemporâneas, que inserem a questão no contexto das relações construídas
pela prática cotidiana. No caso de Cabo Verde, para entender o lugar
central da mulher e da relação entre mulheres para a reprodução das relações
familiares, não se pode negligenciar o papel das avós. Argumentando neste
sentido, o artigo busca demonstrar como a maternidade, tal como entendida
em Cabo Verde, não está restrita à figura da mãe, envolvendo outras mulheres
no compartilhamento de substâncias essenciais para o cotidiano – alimento,
cama, casa, bens e valores. Nesse contexto, emerge uma estratégia importante
e que faz da maternidade em Cabo Verde um caso particular: o fato de que
uma geração não é o bastante para a realização plena da maternidade, pois
esta requer o esforço coordenado de duas gerações de mulheres no interior da
estrutura familiar. Mãe e avó complementam-se na tarefa de cuidar e alimentar
as crianças e essa união dá o sentido local do que uma criança precisa para
estar feliz e amparada. Da mesma forma, exercer a maternidade nas duas fases
da vida significa o exercício pleno da maternidade para uma mulher. O artigo
desenvolve, portanto, o argumento de que ser mãe em Cabo Verde é um ciclo
que começa com o nascimento de um filho e só se encerra plenamente quando
a mulher se torna avó.
Abstract Ipea is an institution that has the mission to carry out research on governmental actions (public policies, planning and development). However, this vocation for research as a function of the state has generated many tensions, among which one stands out: ‘we exist: what are we for?’ in a clear allusion to a Caetano Veloso’s song. Called by them as an identity crisis of the “ipeanos”, this tension generated interest in discussing the existence of a shared institutional ethos and, consequently, of carrying out an ethnography of the institution. This article thus outlines the configuration of the values in dispute within the institution, allowing us to apprehend Ipea as an institution that, due to its characteristics, produces more complex effects in state processes. In addition, we discuss the very notion of ‘institutional ethos’. The article is therefore an effort to contribute to the understanding of this specific ethnographic universe, but also to raise appropriate questions to think about the relations between research and government activities in shaping a public institution. Key words: IPEA, state, institution, ethnography, ethos.
um sentido de pertencimento a lugares ou grupos, concretos ou imaginados,
por meio de redes de comunicação. O foco recai nos fluxos de coisas em redes
transnacionais formadas por migrantes cabo-verdianos e seus parentes que ficaram
no país. Trata-se de uma rede intensa e diversificada que envolve relações de
parentesco num contexto de distância física prolongada, tanto no espaço quanto no
tempo. Os fluxos em questão consolidam laços sociais, culturais e familiares entre
estes emigrantes e suas comunidades de origem, num complexo sistema de trocas e
circulação de presentes, dinheiro e informações que mobilizam aqueles que partiram
e aqueles que ficaram. O argumento se baseia num diálogo entre os dados etnográficos
e estudos que exploram os fluxos transnacionais de pessoas, capital e bens.
crioula de Cabo Verde não é um dado pré-definido, as relações de parentesco
não são irrevogáveis e sem necessidade de reiteração. As relações familiares
são analisadas como construção, um projeto que é fruto de negociação
constante entre os membros. O argumento central é o de que, em Cabo
Verde, as relações familiares se caracterizam por um comprometimento
mútuo, contatos sociais regulares e um fluxo intra e inter-doméstico de
benefícios materiais e não-materiais. Tais requisitos são fundamentais para a
construção do sentimento de proximidade e atuam para fortalecer laços préexistentes,
de parentesco.
não são novidades para a antropologia, seja em abordagens clássicas,
que focam a estrutura institucional dos sistemas de parentesco, seja em análises
contemporâneas, que inserem a questão no contexto das relações construídas
pela prática cotidiana. No caso de Cabo Verde, para entender o lugar
central da mulher e da relação entre mulheres para a reprodução das relações
familiares, não se pode negligenciar o papel das avós. Argumentando neste
sentido, o artigo busca demonstrar como a maternidade, tal como entendida
em Cabo Verde, não está restrita à figura da mãe, envolvendo outras mulheres
no compartilhamento de substâncias essenciais para o cotidiano – alimento,
cama, casa, bens e valores. Nesse contexto, emerge uma estratégia importante
e que faz da maternidade em Cabo Verde um caso particular: o fato de que
uma geração não é o bastante para a realização plena da maternidade, pois
esta requer o esforço coordenado de duas gerações de mulheres no interior da
estrutura familiar. Mãe e avó complementam-se na tarefa de cuidar e alimentar
as crianças e essa união dá o sentido local do que uma criança precisa para
estar feliz e amparada. Da mesma forma, exercer a maternidade nas duas fases
da vida significa o exercício pleno da maternidade para uma mulher. O artigo
desenvolve, portanto, o argumento de que ser mãe em Cabo Verde é um ciclo
que começa com o nascimento de um filho e só se encerra plenamente quando
a mulher se torna avó.