Books by Celso R Braida

Apolodoro Virtual Edições, 2022
O livro é uma reflexão sobre as artes e as técnicas contemporâneas, com o propósito de repensar o... more O livro é uma reflexão sobre as artes e as técnicas contemporâneas, com o propósito de repensar os termos pelos quais elas são pensadas e apresentadas nos contextos filosóficos, tendo a arte da dança como o fio de prumo pelo qual as teorizações são avaliadas. A abordagem proposta é interagencial, performática e performativa, fundada no conceito de ação. Esta abordagem articula-se na tese de que o artístico está diretamente fundado na ação e na interagência. O que se visa assim é pensar as obras de arte não mais como objetos, mas antes como provocadores de ação e de interação que solicitam antes de tudo agentes ativos e cooperativos. A crítica principal às filosofias da arte, diz respeito à apreensão das obras de arte sob o conceito de objeto estético e objeto semântico pela qual o artístico é reduzido a uma propriedade ou relação de objetos e artefatos particulares estáticos e inativos. A tese positiva consiste em pensar as artes e as técnicas como modulações da agência com potencial de transformação ontológica. Artes e técnicas indicariam modos pelos quais o humano perfaz-se naquilo que ele é, ao se diferenciar em relação à natureza. Todas as artes e técnicas, cuja maestria exige a atenção a materiais e a regras, nos liberam da natureza e nos emancipam para a vida artefatual. A principal revisão teórica está na afirmação do pluralismo ontológico aplicada aos artefatos técnicos e artísticos, no sentido de que as artes e as técnicas pertencem a diversas categorias de ação e os artefatos técnicos e artísticos a diversas categorias ontológicas.
As obras de arte e de técnica não pertencem a uma única categoria e também não a uma única história. Tal como as línguas, há uma diversidade de artes e de técnicas e uma pluralidade de histórias e ramificações. Uma vez que as artes e as técnicas estão na base da instauração do mundo, o pluralismo ontológico incide sobre o próprio ser humano. As artes e as técnicas são formas de ação e de agenciamento; as obras são agentes desencadeadores de efeitos; as ações artísticas e técnicas são interagenciamentos performativos pelos quais mundos são instaurados nos quais os próprios agentes se constituem na sua forma de existência e modo de ser. Além de efeitos estéticos e semânticos, formais e materiais, as artes e as técnicas, enquanto atos e artefatos, instauram efeitos de realidade e assim têm eficácia antropológica e ontológica.

Os ensaios aqui reunidos estão orientados pela necessidade de eliminar da teoria hermenêutica qua... more Os ensaios aqui reunidos estão orientados pela necessidade de eliminar da teoria hermenêutica quaisquer resquícios idealistas e transcendentais, sob a suposição da historicidade e praticidade da experiência de sentido. O que é ensaiado reiteradamente é a dupla hipótese de que o conceito de sentido, do ter e do fazer sentido de algo, ato, objeto ou situação, funda-se primariamente no agir e não no sentir, e que esse conceito não implica que isso que faz e tem sentido seja já da ordem do linguístico e do sígnico. Para isso precisei afastar-me de algumas teses características da tradição filosófica hermenêutica, embora com esse afastamento eu quisesse, a contrario, reforçar e explicitar o caráter hermenêutico de nossas experiências e vivências. Com efeito, na lumeeira acesa por Schleiermacher e Dilthey, presumo a agência efetiva e a efetividade dos efeitos das coisas feitas como a única base da vigência e da experiência de sentido: o âmbito de sentido perfaz-se no campo de ação de agentes interativos e interagentes ativos situados.
Os textos aqui reunidos foram escritos para servirem de introdução aos estudos hermenêuticos para... more Os textos aqui reunidos foram escritos para servirem de introdução aos estudos hermenêuticos para um público amplo. A ideia diretriz foi a de apresentar os conceitos e teorias que estruturam o paradigma do pensamento hermenêutico a partir de experiências cotidianas e comuns. Nessa estratégia vai embutida a tese de que os termos teóricos são abstrações por sobre práticas e experiências concretas de indivíduos e comunidades. No caso dos termos hermenêuticos básicos, como “sentido”, “expressão”, “significação”, “interpretação” e “compreensão” isso é tanto evidente quanto problemático, pois torna-se difícil apreender os conceitos teóricos que essas palavras designam em cada teoria hermenêutica sem confundi-los com as noções não teóricas a elas associadas no seu emprego cotidiano e vivo da língua.

O propósito destes ensaios é apresentar a Filosofia da Linguagem a partir de perspectivas diverge... more O propósito destes ensaios é apresentar a Filosofia da Linguagem a partir de perspectivas divergentes, as quais apesar das diferenças têm em comum o fato de, primeiro, abandonarem as concepções modernas e tradicionais da linguagem como objeto, e, segundo, colocarem a linguagem como o lugar dos problemas e o meio pelo qual estes se resolvem: a abordagem hermenêutica, fundada por Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher (1768-1834), a abordagem lógico-semântica, inaugurada por Friedrich Ludwig Gottlob Frege (1848-1925), e a abordagem pragmática, introduzida por Charles Sanders Peirce (1839-1914) e desenvolvida por John L. Austin (1911-1960). Essas perspectivas teóricas, inauguradas no século XIX, justificam ainda hoje a necessidade e a prioridade da consideração e da análise da linguagem na atividade filosófica. Além disso, pretende-se apresentar teorias e modelos do significado linguístico, tendo como foco principal o problema da fixação do conteúdo semântico das expressões e o problema da equivalência semântica entre expressões diferentes. Essa abordagem da linguagem por meio do conceito de conteúdo semântico permitirá que se discuta de modo unificado os problemas das perspectivas apresentadas, sobretudo no que se refere às relações entre linguagem, ação, pensamento e mundo.

O conceito de objeto foi esvaziado pelas principais doutrinas filosóficas recentes sob a alegação... more O conceito de objeto foi esvaziado pelas principais doutrinas filosóficas recentes sob a alegação de que a consciência e ou a linguagem constituem a objetividade dos
objetos. A tese da relatividade ontológica, nas versões fenomenológicas e lógico-semânticas, tornou-se consensual e prédomina o pensamento filosófico e científico. Que esta predominância tenha de ser repensada poucos percebem, embora já se perceba que esse consenso está fundado em bases infundadas. Na origem desse esvaziamento está a eleição da análise da consciência e da linguagem, enquanto disciplina inaugural do pensamento, a partir da qual todos os conteúdos dignos de serem pensados deviam ser abordados, e a conseqüente eliminação de conceitos metafísicos tais como os de ser, substância, essência, etc., do discurso filosófico. Entretanto, com esse mesmo gesto também acreditou-se poder descartar os conceitos ontológicos de entidade, objeto, propriedade, relação, etc., enquanto relativos, por conseguinte, elimináveis. Todavia, a própria formulação da tese da relatividade ontológica supõe objetos e propriedades como relativos a algo e, nesse sentido, não pode ser usada para eliminar os conceitos ontológicos, sob pena de jogar este algo em relação a que tudo é relativo para o domínio do impensado e do não-relativo. Agora, se a noção de objeto ocupa nas filosofias metódicas pós-kantianas o lugar antes reservado à noção de ente (on, esse, seiende), uma teoria do objeto pode ser vista, então, como uma abertura ontológica. Abertura no sentido dos enxadristas, a saber, enquanto tomadas de decisões e ações iniciais.
Eu penso, a partir desse viés, que os textos aqui traduzidos, de Frege, Twardowski e Meinong, apresentam três aberturas de possíveis ontologias. E, assim como no Xadrez, embora uma abertura seja em larga medida decisiva para a partida, ela não
é suficiente para a finalização. Esses três exemplos de recomeços não-metafísicos em ontologia constituem ainda hoje desafios a serem realizados. Jogar em conformidade com suas decisões e regras, penso eu, ainda é interessante e frutífero. Russell, Whitehead, Wittgenstein, Carnap, Hartmann, Husserl,
Heidegger, Quine, entre outros, se apropriaram e usaram de modo particular essas aberturas, e ao menos três grandes movimentos filosóficos do século XX daí receberam influxos decisivos: a filosofia analítica da linguagem, a fenomenologia e
a escola polonesa.

The question investigated in this work is how to elucidate the semantic connection between the co... more The question investigated in this work is how to elucidate the semantic connection between the concepts of significance, truth and entity. The main objective is to explain and to fix the primary semantic notions, and its interconnections, involved in the description of the propositional semantic content. From the hypothesis of the complexity of the semantic nexus, it is showed the inadequacy and the one-sidedness of three classics strategies of explanation of the semantic content, namely, referentialism, inferentialism and deflacionism. It is proposed, then, a theory based on the distinction of different semantics functions, defined from the combination of the referential and the inferential remissions which make the significance of the expressions. This theory of semantic description is, in turn, applied in the elucidation of the relations between semantic notion and ontologic notion. The proposal is that these notion are complementary, in the sense that they are definable only concomitantly.
Philosophy of Arts by Celso R Braida

Atos e Artefatos, 2022
A pluralidade das artes hoje praticadas não se deixa reduzir a uma única forma de arte primitiva.... more A pluralidade das artes hoje praticadas não se deixa reduzir a uma única forma de arte primitiva. A pluralidade das obras de arte não se deixa reconduzir a uma única obra primitiva. Além disso, se as artes e as obras de arte são pensadas como modulações da agência e exercícios de liberdade, como é aqui proposto, modulações e exercícios sempre históricos, elas não se deixam remeter retroativamente a uma única proveniência, pois esta retroação tem sempre a estrutura de um enraizamento múltiplo. Se imaginarmos a totalidade das artes e das obras de arte como uma árvore espaçotemporal, esta seria uma planta rizofórica com uma pluralidade de raízes, troncos, galhos, folhas e flores. Mesmo que se admita que um dia os humanos atuais pertenceram e estiveram unidos numa única comunidade, ainda assim, tal como nas línguas, a plural diversidade não poderia ser eliminada. Se as línguas humanas são um sintoma da diferença que nos habita, aquela diferença que fez Gilgámesh dizer "como calar, como ficar eu em silêncio", as artes e as obras de arte são ainda mais o indício de uma diversidade incontornável.

O objetivo desse texto é uma reflexão sobre a base do fenômeno que tem sido apreendido como " fim... more O objetivo desse texto é uma reflexão sobre a base do fenômeno que tem sido apreendido como " fim da arte " e " fim da história da arte " por filósofos e historiadores. O pensamento principal sugerido e cifrado no título, a saber, que esse fenômeno pode ser pensado a partir da conexão direta dos conceitos de historicidade e artefactualidade, implica a recusa desses fins, tendo em vista que o fenômeno pode ser apreendido de modo mais frutífero e justo com os conceitos de transformação e refuncionalização. Os ditos fins da arte e da história da arte são pensáveis, primeiro, como uma transformação da arte (coisa) e da história (teoria), mas, segundo, e principalmente, como a transformação da função (esquema de agenciamento) da arte e da história da arte. Essa dúplice transformação só constitui um fim sob a pressuposição monológica de uma única coisa apreendida sob uma única teoria enquanto tendo uma única função. Essa pressuposição é, na verdade, uma falácia que consiste na sequência de três movimentos: um, a suposição de uma essência da arte e de uma lógica da história da arte; dois, a demonstração de que ambas não mais são encontráveis nos acontecimentos artísticos contemporâneos; três, a conclusão de que a arte acabou e que a história da arte não mais é possível.
Die Form ist flüssig, der "Sinn" ist es aber noch mehr.

A preeminência das interações linguísticas escritas na atual sociabilidade, sobretudo pelo uso de... more A preeminência das interações linguísticas escritas na atual sociabilidade, sobretudo pelo uso de dispositivos digitais e aparatos de mensagens digitalizadas para comunicação interpessoal, realiza de forma explícita a separação entre fala e escrita, e entre voz e mensagem. Embora esse seja um fenômeno antigo, já evidente com o surgimento das primeiras inscrições, se tornou pervasivo no contexto cultural contemporâneo, à medida que as intermediações linguísticas são potencializadas pelos sistemas digitais e ambientes virtuais; o próprio espaço social urbano está conformado pela linguagem escrita e sistemas gráficos. Esse fenômeno está na base da situação crítica da literatura contemporânea cujo norte é a exploração da letra para além de sua função conversacional, comunicativa e narrativa. A dissociação entre fala e escrita sugere a desmontagem do modelo do abecedário como tão somente um dispositivo de reprodução dos sons vocais. Se a linguagem escrita é hoje o próprio cerne das novas tecnologias e máquinas inteligentes, na qual tudo se deixa transcrever, a literatura mesma se encaminha para sua resolução como códice maquínico. Todavia, a principal transformação está na alteração da função e do papel da linguagem quando esta deixa de ser a emissão de um eu, ou a intermediação entre dois sujeitos, de modo que agora convivemos com emissões e mensagens que não são falas de alguém, embora exijam respostas e direcionem nossos pensamentos e ações.

O ato de dançar é um evento complexo, embora possa se realizar sem nenhum instrumento, signo ou s... more O ato de dançar é um evento complexo, embora possa se realizar sem nenhum instrumento, signo ou suporte. O corpo basta, se basta. Com efeito, o mais simples dos gestos, até mesmo a simples ação da inação, enquanto ato, implica já atitudes, posicionamentos, sensações, pensamentos e intenções. Enquanto ato, faz sentido; um sentido que sempre já é da ordem do feito e do fictício, pois não apenas está para além do dado natural, mas também é indicação de direção e aceno para outrem numa situação, e jamais apenas um evento causal. O ato de dançar, por conseguinte, é um ato de ficção de sentido. Todavia, como compreender o ficcional na dança quando ela se quer pura presença, corpo-movimento, ao diferir dos atos de representação, de simulação e sobretudo dos atos linguístico-discursivos? Seria a dança, então, não ficcional? A hipótese a ser sugerida, que a dança é arte conquanto seja ficcional, ampara-se no fato de que atribuímos agência e sentido a todo movimento e a todo ato, pois projetamos intenção, direção, e o vemos como atitude e ação proposital. Mas, sobretudo, o ficcional na dança constitui-se na própria execução do ato, pois tanto a execução quanto o ato são eventos cuja consistência emerge na sua efetividade apenas enquanto se realizam como algo feito por alguém, portanto como ação. Diz-se que na dança se trata do corpo e do movimento do corpo. Por isso, alguém poderia pensar que o ficcional está na coreografia e que a dança seria a pura presença real. Todavia, esse pensamento pressupõe que o corpo pode ser o que é sem o concurso do artifício e do coreográfico. Aqui, porém, vou resistir a essa ideia, insistindo que tanto na dança quanto na coreografia e, sobretudo, no corpo dançante, o que se dá são atos de ficção, ou seja, de artifício, que aí se trata daquilo que propriamente vem a ser apenas por meio de um perfazer cuja eficácia é ela mesma da ordem do que nem ocorre naturalmente nem existe por si e em si. Nesse sentido, o que quero pensar é a dança em sua condição artefactual, condição essa que nos constitui e atormenta, mas também nos libera e desassombra para outras possibilidades. Nos eventos contemporâneos de dança, sobretudo naqueles mais representativos do que é propriamente a arte de dançar hoje, a condição da presença efetiva está perpassada por mídias e mediações, o lugar mesmo está repleto de ausências cujas presenças virtuais são efetivas e atuantes, pois estar presente não implica não estar ausente ou não atuar noutro lugar. Dançar, todavia, resta como o que se faz aquém ou além das mídias
Ulisses Razzante Vaccari, Jan 14, 2019
variedade é uma característica que marca os rumos da estética. Sem a pretensão de esgotar suas c... more variedade é uma característica que marca os rumos da estética. Sem a pretensão de esgotar suas consequências e aplicações, este volume nos apresenta essa variedade de aplicações e transposições que nos permite apresentar uma mostra significativa e coesa dos estudos que relacionam a reflexão filosófica e as manifestações artísticas em terras brasileiras. A interdisciplinaridade aparente nos apresenta os próprios caminhos, à guisa de uma unidade dada a priori, de uma disciplina filosófica que, desde sua fundação no século XVIII, viu suas fronteiras e caracterizações se expandirem na direção das mais distintas caracterizações e apresentações de problemas que envolvem a arte e a filosofia. É como unidade na variedade que a estética se revela uma faceta importante da reflexão, e esse livro nos dá ainda mais uma prova disso.
Hermeneutics by Celso R Braida
Perspectiva Filosófica, 2024
As teses de Dilthey sobre a especificidade das ciências humanas permanecem fazendo efeitos e orie... more As teses de Dilthey sobre a especificidade das ciências humanas permanecem fazendo efeitos e orientando as questões metodológicas. Se o viés epistemológico, sobretudo nos aspectos historicistas e psicológicos, já não é aceitável, nem por isso a distinção entre explanar relações causais e materiais e compreender relações semânticas e sociais foi eliminada. A historicidade e a artefatualidade do ambiente humano, na sua pluralidade e diversidade, se impôs como fundamento incontornável. Embora se tenha avançado na naturalização do humano, os conceitos e princípios básicos das ciências humanas ainda são subsumidos nas categorias de sentido, significado, intencionalidade e propósito, as quais pressupõem a aplicação do conceito de agentes interativos e não de objetos passivos.

Os textos filosóficos são hoje traduzidos para diferentes línguas e oferecem dificuldades peculia... more Os textos filosóficos são hoje traduzidos para diferentes línguas e oferecem dificuldades peculiares, muitas vezes insuperáveis. Por isso, é comum encontrarmos nas traduções de obras filosóficas palavras e frases não traduzidas, por simplesmente não haver opção minimamente justificável. Na hermenêutica filosófica moderna, sintetizada como teoria por F. D. Schleiermacher (1977, 2000), encontra-se uma das primeiras tentativas de se pensar a especificidade da tradução de textos teóricos, filosóficos e científicos, embora ali essa especificidade tenha sido imediatamente diluída ao se fundir textos artísticos e literários com os teóricos, e então os diferenciando apenas em relação aos textos comerciais e técnicos (2010, p.45). Contudo, tornou-se clássica a distinção de Schleiermacher entre dois modos de traduzir, cuja racional está no complexo formado pelo autor, sua língua e seu texto, em relação ao leitor, sua língua e o texto produzido pelo tradutor, mas também em relação ao tradutor e seu conhecimento das duas línguas. A distinção está fundada na atitude do tradutor de optar por levar por meio da tradução, o leitor ao universo semântico do autor e da língua original, ou de trazer o autor e sua língua para o universo semântico do leitor e sua língua (2010, pp.57-58). A hipótese a ser aqui explorada é de que, no caso dos textos teórico-filosóficos, esse dilema reduplica-se, pois o tradutor tem de levar em consideração, além das diferenças dos universos semânticos, a diferença às vezes incomensurável também do ambiente teórico no qual o texto original foi escrito e aquele no qual a tradução será executada. Amparo-me para isso nas teorizações de Roman Ingarden (1991) e Jonathan Rée (2001), mas também na distinção feita por Schleiermacher entre língua e ciência (2000, pp.72-73). A sugestão é de que os termos e textos teórico-filosóficos são de difícil tradução em função de três aspectos da expressão linguística da atividade teórica: o uso não-convencional das palavras, o uso não-referencial da língua e a inovação conceitual.
Cadernos da Anpof - Fenomenologia e hermenêutica, 2019
A questão a ser abordada diz respeito ao conceito de sentido pressuposto nas práticas linguística... more A questão a ser abordada diz respeito ao conceito de sentido pressuposto nas práticas linguísticas e na interpretação hermenêutica, sobretudo no que se refere às fontes a partir das quais o sentido se constitui e se determina. Não está em questão o sentido interno aos jogos linguísticos e às interações intencionais, mas antes o fazer e o ter sentido desses jogos e interações. A hipótese é que os conceitos de ação e de engajamento cooperativo são suficientes para delinear as fundações a partir das quais o sentido configura-se e destaca-se a ponto de poder ser apreendido e expresso.

O problema abordado diz respeito ao entendimento dos conceitos de linguagem, gramática e sentido,... more O problema abordado diz respeito ao entendimento dos conceitos de linguagem, gramática e sentido, supostos no princípio da linguisticidade da experiência hermenêutica. O primado do efetivo significa que “linguagem”, “gramática” e “sentido” indicam a cada vez efetividades e não apenas possibilidades, segundo a formulação de Whitehead: “no actual entity, then no reason” (1978, p. 19). A sugestão metodológica, por con-
seguinte é que a passagem para a possibilidade, ou melhor, a passagem pela possibilidade, não seria legítima senão como raciocínio hipotético em hermenêutica. Os nexos de implicação, linguísticos e gramaticais, mo-
bilizados pelo raciocínio hermenêutico teriam de ser nexos efetivos entre efetividades. Desse modo, a finitude, ou seja, a incompletude da compreensão e da interpretação, portanto, da apreensão e da articulação de sentido, torna-se explícita, pois o plano da inteira possibilidade não é uma condição desde sempre já dada a priori, mas a cada vez emerge apenas sob o viés do efetivo e do efetivado.
The purpose of this paper is to discuss the methodological assumptions of philosophical hermeneut... more The purpose of this paper is to discuss the methodological assumptions of philosophical hermeneutics, based on the proposal of Paul Ricoeur to graft the hermeneutical problem in the phenomenological method, by considering the distinction between interpretation as suspicious and as recovery of meaning. My first objective is to propose that this distinction be thought as an opposition between two philosophical method which dispute about the meaning of human actions and expressions, a psycho-
genealogic, another phenomenological-hermeneutic; the second, to suggest that the phenomenological suspension is less fruitful than the genealogical suspicion for hermeneutics operation.
Uploads
Books by Celso R Braida
As obras de arte e de técnica não pertencem a uma única categoria e também não a uma única história. Tal como as línguas, há uma diversidade de artes e de técnicas e uma pluralidade de histórias e ramificações. Uma vez que as artes e as técnicas estão na base da instauração do mundo, o pluralismo ontológico incide sobre o próprio ser humano. As artes e as técnicas são formas de ação e de agenciamento; as obras são agentes desencadeadores de efeitos; as ações artísticas e técnicas são interagenciamentos performativos pelos quais mundos são instaurados nos quais os próprios agentes se constituem na sua forma de existência e modo de ser. Além de efeitos estéticos e semânticos, formais e materiais, as artes e as técnicas, enquanto atos e artefatos, instauram efeitos de realidade e assim têm eficácia antropológica e ontológica.
objetos. A tese da relatividade ontológica, nas versões fenomenológicas e lógico-semânticas, tornou-se consensual e prédomina o pensamento filosófico e científico. Que esta predominância tenha de ser repensada poucos percebem, embora já se perceba que esse consenso está fundado em bases infundadas. Na origem desse esvaziamento está a eleição da análise da consciência e da linguagem, enquanto disciplina inaugural do pensamento, a partir da qual todos os conteúdos dignos de serem pensados deviam ser abordados, e a conseqüente eliminação de conceitos metafísicos tais como os de ser, substância, essência, etc., do discurso filosófico. Entretanto, com esse mesmo gesto também acreditou-se poder descartar os conceitos ontológicos de entidade, objeto, propriedade, relação, etc., enquanto relativos, por conseguinte, elimináveis. Todavia, a própria formulação da tese da relatividade ontológica supõe objetos e propriedades como relativos a algo e, nesse sentido, não pode ser usada para eliminar os conceitos ontológicos, sob pena de jogar este algo em relação a que tudo é relativo para o domínio do impensado e do não-relativo. Agora, se a noção de objeto ocupa nas filosofias metódicas pós-kantianas o lugar antes reservado à noção de ente (on, esse, seiende), uma teoria do objeto pode ser vista, então, como uma abertura ontológica. Abertura no sentido dos enxadristas, a saber, enquanto tomadas de decisões e ações iniciais.
Eu penso, a partir desse viés, que os textos aqui traduzidos, de Frege, Twardowski e Meinong, apresentam três aberturas de possíveis ontologias. E, assim como no Xadrez, embora uma abertura seja em larga medida decisiva para a partida, ela não
é suficiente para a finalização. Esses três exemplos de recomeços não-metafísicos em ontologia constituem ainda hoje desafios a serem realizados. Jogar em conformidade com suas decisões e regras, penso eu, ainda é interessante e frutífero. Russell, Whitehead, Wittgenstein, Carnap, Hartmann, Husserl,
Heidegger, Quine, entre outros, se apropriaram e usaram de modo particular essas aberturas, e ao menos três grandes movimentos filosóficos do século XX daí receberam influxos decisivos: a filosofia analítica da linguagem, a fenomenologia e
a escola polonesa.
Philosophy of Arts by Celso R Braida
Hermeneutics by Celso R Braida
seguinte é que a passagem para a possibilidade, ou melhor, a passagem pela possibilidade, não seria legítima senão como raciocínio hipotético em hermenêutica. Os nexos de implicação, linguísticos e gramaticais, mo-
bilizados pelo raciocínio hermenêutico teriam de ser nexos efetivos entre efetividades. Desse modo, a finitude, ou seja, a incompletude da compreensão e da interpretação, portanto, da apreensão e da articulação de sentido, torna-se explícita, pois o plano da inteira possibilidade não é uma condição desde sempre já dada a priori, mas a cada vez emerge apenas sob o viés do efetivo e do efetivado.
genealogic, another phenomenological-hermeneutic; the second, to suggest that the phenomenological suspension is less fruitful than the genealogical suspicion for hermeneutics operation.
As obras de arte e de técnica não pertencem a uma única categoria e também não a uma única história. Tal como as línguas, há uma diversidade de artes e de técnicas e uma pluralidade de histórias e ramificações. Uma vez que as artes e as técnicas estão na base da instauração do mundo, o pluralismo ontológico incide sobre o próprio ser humano. As artes e as técnicas são formas de ação e de agenciamento; as obras são agentes desencadeadores de efeitos; as ações artísticas e técnicas são interagenciamentos performativos pelos quais mundos são instaurados nos quais os próprios agentes se constituem na sua forma de existência e modo de ser. Além de efeitos estéticos e semânticos, formais e materiais, as artes e as técnicas, enquanto atos e artefatos, instauram efeitos de realidade e assim têm eficácia antropológica e ontológica.
objetos. A tese da relatividade ontológica, nas versões fenomenológicas e lógico-semânticas, tornou-se consensual e prédomina o pensamento filosófico e científico. Que esta predominância tenha de ser repensada poucos percebem, embora já se perceba que esse consenso está fundado em bases infundadas. Na origem desse esvaziamento está a eleição da análise da consciência e da linguagem, enquanto disciplina inaugural do pensamento, a partir da qual todos os conteúdos dignos de serem pensados deviam ser abordados, e a conseqüente eliminação de conceitos metafísicos tais como os de ser, substância, essência, etc., do discurso filosófico. Entretanto, com esse mesmo gesto também acreditou-se poder descartar os conceitos ontológicos de entidade, objeto, propriedade, relação, etc., enquanto relativos, por conseguinte, elimináveis. Todavia, a própria formulação da tese da relatividade ontológica supõe objetos e propriedades como relativos a algo e, nesse sentido, não pode ser usada para eliminar os conceitos ontológicos, sob pena de jogar este algo em relação a que tudo é relativo para o domínio do impensado e do não-relativo. Agora, se a noção de objeto ocupa nas filosofias metódicas pós-kantianas o lugar antes reservado à noção de ente (on, esse, seiende), uma teoria do objeto pode ser vista, então, como uma abertura ontológica. Abertura no sentido dos enxadristas, a saber, enquanto tomadas de decisões e ações iniciais.
Eu penso, a partir desse viés, que os textos aqui traduzidos, de Frege, Twardowski e Meinong, apresentam três aberturas de possíveis ontologias. E, assim como no Xadrez, embora uma abertura seja em larga medida decisiva para a partida, ela não
é suficiente para a finalização. Esses três exemplos de recomeços não-metafísicos em ontologia constituem ainda hoje desafios a serem realizados. Jogar em conformidade com suas decisões e regras, penso eu, ainda é interessante e frutífero. Russell, Whitehead, Wittgenstein, Carnap, Hartmann, Husserl,
Heidegger, Quine, entre outros, se apropriaram e usaram de modo particular essas aberturas, e ao menos três grandes movimentos filosóficos do século XX daí receberam influxos decisivos: a filosofia analítica da linguagem, a fenomenologia e
a escola polonesa.
seguinte é que a passagem para a possibilidade, ou melhor, a passagem pela possibilidade, não seria legítima senão como raciocínio hipotético em hermenêutica. Os nexos de implicação, linguísticos e gramaticais, mo-
bilizados pelo raciocínio hermenêutico teriam de ser nexos efetivos entre efetividades. Desse modo, a finitude, ou seja, a incompletude da compreensão e da interpretação, portanto, da apreensão e da articulação de sentido, torna-se explícita, pois o plano da inteira possibilidade não é uma condição desde sempre já dada a priori, mas a cada vez emerge apenas sob o viés do efetivo e do efetivado.
genealogic, another phenomenological-hermeneutic; the second, to suggest that the phenomenological suspension is less fruitful than the genealogical suspicion for hermeneutics operation.
then by accident technique; and also not before needy and indeterminate and so technical, much less prior natural desire then technological error. The human brought up poetic and technologically and conform the world by the use of artifacts: his have world is always make up the world through fiction.