Artigos by Diego Warmling

Ekstasis: Revista de filosofia, 2025
Entre proximidades e entrelaçamentos teóricos, problematizaremos a condição da mulher a partir da... more Entre proximidades e entrelaçamentos teóricos, problematizaremos a condição da mulher a partir das críticas e elogios à psicanálise que Merleau-Ponty e Beauvoir fazem pensar. Concomitantemente existencial, psíquica, corpórea e sexual, se a mulher é vista como o símbolo de uma diferença que só devém como sujeita se compreendida através do script e das cifras masculinas, reconheceremos que a psicanálise contribui quando sugere que nossos dramas decorrem do inconsciente e das pulsões, através de sujeitificações que colocam em xeque a noção de Eu. Contudo, masculinista e falogocêntrico, tal saber malogra ao passar por alto os motivos das mulheres serem caricaturadas como o segundo sexo, um corpo-sujeito tornado Outro. Do que se depreende acerca da condição da mulher, mostraremos que as críticas de Merleau-Ponty e Beauvoir à psicanálise se fazem entrelaçáveis na medida em que reconhecem a pertinência e os limites desse modelo teórico, mas sem deixar de fazer pensar o sujeito que nos tornamos a cada ato. Apesar das diferenças quanto aos seus objetos, Beauvoir e Merleau-Ponty dão a entender que tudo que somos, só o somos e podemos ser se compreendidos como ambíguos, intencionais, espontâneos, "furados", impessoais e, por isso, transitivos, não-naturais e em devir.

GRIOT: Revista de filosofia, 2025
Seja em função do semiótico para criticar a psicanálise, seja para incorporar o abjeto entre suas... more Seja em função do semiótico para criticar a psicanálise, seja para incorporar o abjeto entre suas problematizações, seja para evidenciar suas ambiguidades, é fato que Judith Butler (re)mobiliza amplamente as noções e críticas deixadas por Julia Kristeva. A começar na sua tese sobre Hegel, ela encontra nesta autora ferramentas úteis para problematizar os modos como certos sujeitos são execrados da mesma maneira que execramos os nossos excessos. Apoiados na sua leitura de Kristeva, veremos que Butler edifica crítica ao semiótico e sua teoria da abjeção, entendendo esta como paradigmática à problematização da performatividade dos corpos-gêneros. Haja vista que os atos de gênero não necessariamente obedecem às leis que os interpelam, é (re)mobilizando Kristeva desde uma perspectiva queer-feminista que Butler faz pensar na potencialidade de, nos termos do poder, não tratarmos como ilegítimas, invivíveis e patologizáveis a priori uma parcela significativa das formas de corpo-generificação. Através de uma leitura queer-feminista do semiótico e da abjeção kristevianos, este artigo procura analisar um dos passos pelos quais Judith Butler faz pensar quão "furadas" são as expectativas de coerência, fixidez e estabilidade identitárias.

A obra butleriana é amplamente influenciada pela psicanálise. Não obstante, não é sem críticas qu... more A obra butleriana é amplamente influenciada pela psicanálise. Não obstante, não é sem críticas que se dá essa relação, especialmente quando problematizada a partir das teorias de gênero. Como leitora de Freud e Lacan, Judith Butler se empenha em indagar muitas das bases da teoria psicanalítica. Nisto, não só a universalidade do complexo de Édipo, mas a primazia e a inflexibilidade do falo são duramente criticadas. Diante da leitura que Butler faz de Lacan, problematizaremos o papel da diferença sexual e da inflexibilidade do falo para a crítica à heteronormatividade presente na teoria psicanalítica. Proporemos uma reflexão sobre a lei simbólica em Lacan, enxergando aí fortes vinculações à matriz heterossexual de desejo e ao binarismo de gênero, o que leva à segmentação das diferentes formas de parentesco em inteligíveis e não-inteligíveis. Palavras-chave: Diferença Sexual. Falo. Lei Simbólica. Complexo de Édipo.

Das tópicas pulsionais, interrogaremos o rudimento do feminino em Freud. Acentuaremos que o austr... more Das tópicas pulsionais, interrogaremos o rudimento do feminino em Freud. Acentuaremos que o austríaco foi capaz de reconhecer seus descaminhos e propor uma via interpretativa que, não-toda, aponta à sexualidade não-fálicafeminina. Balizados pelas problematizações dos Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade (1905), da Introdução ao Narcisismo (1914) e pelos empreendimentos entorno do apoio vital da sexualidade, indagaremos um horizonte capaz de restituir a ambivalência psicanalítica. Com as predileções anaclíticas, entenderemos que Freud amplia a sexualidade para pensar o feminino como via de contato com o anobjetala indeterminabilidade passiva de nossos atos. Inicialmente, veremos como, na primeira tópica, o autor passa por alto a descrição do feminino ao circunscrever a unificação das pulsões sob a primazia de representantes fálicos. Disto, advogaremos que, alicerçado pelo conceito de Anlehnung (apoio/anáclise), Freud revê seus pressupostos e enxerga no feminino um horizonte tácito aos investimentos substitutivos. Vital, este rudimento indicarnos-á um mais-além de gozo que escapa a quaisquer cristalizações do saber.
O inconsciente foi a maior contribuição freudiana e passou por reformulações. Da primeira até a s... more O inconsciente foi a maior contribuição freudiana e passou por reformulações. Da primeira até a segunda tópica, Freud teorizou a respeito de um Eu inconsciente e nada soberano. Nos interessa nesse artigo mostrar como Freud estabelece uma crítica às teorias consciencialistas e qual o caminho percorrido para encontrar um outro caráter para o Eu. Para tanto, mobilizaremos sua teoria do desejo, sendo esta a principal responsável pelo funcionamento do psiquismo. Suporemos que o inconsciente freudiano introduz para a humanidade um modo de lidar com as faltas que, além de não extirpáveis, nos descentram a todo momento.
Da crítica butleriana ao pensamento de Wittig, indagaremos caminhos para a desconstrução das norm... more Da crítica butleriana ao pensamento de Wittig, indagaremos caminhos para a desconstrução das normas de gênero associadas ao pensamento hétero. Para viabilizar o entendimento de que sexo e gênero não são categorias fixas, notaremos quão recorrentes são os estudos de Wittig para as teorias feministas e de gênero contemporâneas, especialmente no que tange sua crítica à psicanálise, aos binarismos sexuais e ao regime heterocentrado do patriarcado. Criticando-a por meio de Butler, advogaremos que é possível fazer com que as leis se voltem contra elas mesmas, de modo a provocar uma sobrecarga nos sistemas de poder.

Resumo: Defenderemos que Foucault e suas críticas à psicanálise servem aos estudos queer quando, ... more Resumo: Defenderemos que Foucault e suas críticas à psicanálise servem aos estudos queer quando, diante da dimensão produtiva do poder, interrogam os saberes pertinentes aos corpossujeitos e suas sexualidades. Foucault faz problematizar o que quer que apareça na forma da fixidez, da norma ou, ainda, como mais fundamental, originário e a priori ao sujeito em seus devires. Suas análises são base aos desenvolvimentos queer pois, assim como estes, apontam para Isso: essa "coisa estranha", esse "não-lugar", esse "estar-entre", essa "diferença tática", cuja característica é perturbar a estabilidade e a presunção de naturalidade das identidades hegemônicas. Se emaranhadas em noções foucaultianas, as questões queer suscitam um processo de autocrítica pelo qual dá-se a possibilidade de afirmarmos a instabilidade, a ambiguidade e a indeterminação de todas as identidades, de todas formas da sexualidade, dos prazeres, assim como todas modalidades de corpo-sujeitificação/generificação. Não por completo, mas muito à luz do que Foucault e suas leituras da psicanálise fazem pensar, veremos que as teorizações queer reivindicam a afirmação de um espaço sempre transitivo, marginal e subversivo, cuja meta não unívoca é não se presumir a priori como modelo universal e endossável na e pela norma.
Para Freud, a mulher é fortemente influenciada pelo complexo de Édipo negativo, sendo destinada a... more Para Freud, a mulher é fortemente influenciada pelo complexo de Édipo negativo, sendo destinada a viver a condição passiva da sexualidade, assim, ele não só não encoraja a autonomia feminina, como descreve a feminilidade tendo por base o modelo masculino. Destarte, a crítica de Beauvoir à psicanálise parte da ideia de que a possibilidade de algo como um destino feminino não existe. A filósofa afirma que a condição de imanência à qual as mulheres se encontram em nossa sociedade, está pautada na socialização à qual são submetidas, privando-as da transcendência. Partindo da leitura da obra de Beauvoir, buscamos compreender melhor a situação das mulheres considerando seus contextos históricos, a fim de reivindicar suas possibilidades ontológicas da liberdade, problematizando o lugar que lhes é imposto pela cultura e reforçado pela supervalorização masculina da psicanálise freudiana.

Das querelas de Sartre e Merleau-Ponty, delimitaremos a nadificação ontológica, contrastando-a ao... more Das querelas de Sartre e Merleau-Ponty, delimitaremos a nadificação ontológica, contrastando-a ao projeto de uma consciência encarnada que não só atualiza a distinção entre "em-si" e "para-si", mas encontra na percepção uma via pela qual as atitudes deliberativas são codependentes. Posto o problema da intencionalidade, para Sartre a consciência, além de suscitar um acesso ao Ser (ontologia), só pode ser o que é enquanto for consciência livre e posicional de algo. Vazia, ela é o "para-si" que, perante a realidade objetiva, possui um poder nulificante. Diante do Ser, ela é o Nada: o não-ser, o vazio, a liberdade que surge da negação do em-si quando, por atos interrogativos, transforma seu agir mundano em escolha existencial. Assim, ontologicamente falando, a consciência tanto dá significação ao ser enquanto objeto, quanto tende a tornar-se o único princípio constituinte do mundo; ideia esta que Merleau-Ponty atualiza. Com efeito, visto que o corpo é veículo de ser-no-mundo, em Merleau-Ponty o homem não é nem coisa, nem consciência puros. Aquém da dualidade do "em-si" e do "para-si", delimita-se aqui a soberania da consciência sartriana para, disto, indicar um horizonte pelo qual os posicionamentos téticos expressam engajamentos de ser coabitados por outrem. Sensível entre sensíveis, o homem não é pura negatividade, mas dimensão que, encarnada, não se distancia de si para dizer sobre si ou projetar-se entre as coisas. Portanto, enquanto Sartre nos condena à vacuidade da consciência, Merleau-Ponty o atualiza, sugerindo: se, fenomenologicamente, Sartre suscita o inacabamento necessário à existência humana, metafisicamente, toma a mundaneidade como resultado de um ato deliberativo. Alegando que a consciência encarnada está sempre em situação, Merleau-Ponty assegura que somos concomitantemente autônomos e determinados, visto que nossa conduta só existe pelos olhos de outrem.

Partindo da segunda tópica freudiana, assinalaremos a ação triunfante de Thanatos através da repe... more Partindo da segunda tópica freudiana, assinalaremos a ação triunfante de Thanatos através da repetição, da morte e da agressividade pulsionais. Falaremos do novo dualismo pulsional, reconhecendo na morte um impulso silencioso que, contrariando Eros, atua como fundo nãofigurável, dispersivo e estruturante do psiquismo. Se outrora Freud pautou-se pela conservação da vida, é atentando ao problema da repetição que dá lugar ao vazio e ao caos pulsionais, teorizando sobre o impulso ao estado de não-vida: a pulsão de morte. Sendo a meta não-prognosticável dos nossos investimentos, esta é a dimensão da teoria freudiana que nos faz querer-morrer e que, no âmbito do mal-estar na cultura, personifica a potência agressiva, pela qual assumimos, diante de Eros, o total triunfo de Thanatos. Como potência de transvaloração, defenderemos que Thanatos presentifica o limite do discurso falado e dos saberes instituídos por Eros, pela civilização e pela lógica determinista dos prazeres.

Entre Beauvoir e Butler, questionaremos se o tornar-se mulher instaura a distinção entre sexo e g... more Entre Beauvoir e Butler, questionaremos se o tornar-se mulher instaura a distinção entre sexo e gênero, convertendose num modo de aculturação que, aquém dos diferenciais anatômicos, designa uma performance em transformação. De Beauvoir, veremos: situada, a subjetividade se estabelece entre a civilização e as relações intercorpóreas. Assinalando a mulher como o segundo sexo, Beauvoir ratifica a ambiguidade como fator humano, tecendo reflexões à liberdade, opressão, reconhecimento e condição feminina. Disto, é interpelando Beauvoir que Butler interroga os gêneros. Rastreando no tornar-se mulher o uso incipiente do gênero, Butler sugere revisões às noções fenomenológicas de sujeito, corporeidade, situação e diferença sexual. Fomenta uma concepção performática onde o gênero é um constante devir. Descreve como se constituem os gêneros, considerando que não existem gêneros ideais. Assim, tornar-se gênero significa que, enquanto corpo, o dramatizamos e estilizamos. Crítica, esta performance personifica um modo de agir onde repetição, inovação, necessidade e contingência são ressignificáveis.

O inconsciente, a grande descoberta freudiana, foi o responsável por toda a composição da teoria ... more O inconsciente, a grande descoberta freudiana, foi o responsável por toda a composição da teoria psicanalítica. Como toda teoria, passou por adaptações de acordo com as descobertas de Freud, que se via na necessidade de reestabelecer as regras e os meios de funcionamento do aparelho psíquico. Através das antinomias pulsionais, das topologias relativas ao inconsciente e, em particular, da melancolia como pivô entre tópicas, mostraremos como Freud possibilita pensar não só as consequências da perda objetal, mas como esta influencia na composição do Eu. Elegendo-a como fundamental à instauração da segunda tópica, advogaremos que é a partir da melancolia que Freud nos permite compreender o Eu como descentrado e despossuído por uma “cena outra” que o coloca numa situação perpetuamente deficitária. Do advento da segunda tópica, defenderemos que Freud foi capaz de desvelar um Eu que é, também, inconsciente.

Partindo de O Mal-Estar na Civilização (1930), advogaremos que, se não há nada na cultura que não... more Partindo de O Mal-Estar na Civilização (1930), advogaremos que, se não há nada na cultura que não garanta nossa ruina, nosso destino reside num indefinível e persistente mal-estar. Problematizando incógnitas como a felicidade, a inibição pulsional, a destrutividade como variante da pulsão de morte, o sentimento de culpa, a hegemonia do Super-Eu e o triunfo de Thanatos, veremos que Freud não vislumbra possibilidades de anular a situação de desamparo em que nos encontramos. Sendo a agressividade uma de nossas fontes propulsoras, acentuaremos não só o desejo de extermínio de tudo e todos, mas o quanto a cultura leva-nos a renunciar da satisfação ao propor uma seguridade que jamais garantirá. Da falta de comunhão entre indivíduo e sociedade, a ação de Thanatos revela que a civilização está minada por dentro. Portanto, veremos que o mal-estar é um fator inerente à civilização, sendo ilustrativo do atual destino da subjetividade.

Dos textos entre guerras, advogaremos que as análises de Ernst Junger acerca da Gestalt do trabal... more Dos textos entre guerras, advogaremos que as análises de Ernst Junger acerca da Gestalt do trabalhador apontam para uma nova ordem planetária. Junger exalta o domínio de um novo Tipo humano, expresso no trabalhador, responsável pela mobilização técnica total. Enquanto via de enfrentamento ao niilismo e planificação do mundo mediante a superação da burguesia, o trabalhador surge como uma forma de poder impessoal, sobre o qual repousa destino da Terra, e pelo qual dá-se não só o esvaziamento ativo dos valores da velha ordem, mas a possibilidade de um mundo mais elementar, onde não há um só átomo alheio ao trabalho. Mobilizando todas as forças da cadeia produtiva, o trabalhador surge como fruto e agente configurador da totalidade do trabalho. Na contramão do estado de comodidades propagandeados pela burguesia, ele é capaz de originar uma nova forma de exercer o poder, por mais perigosa e dolorosa que seja.

The present work aims to discuss the theoretical bases of the interlocutions between ... more The present work aims to discuss the theoretical bases of the interlocutions between Sartre, Politzer and classical psychoanalysis. We will present the key concepts to understand what existential psychoanalysis, in its proximity to the politzerian project of a concrete psychology, aims at structuring the psyche. In order to understand how the notion of the concrete enters Sartre's theory of phenomenological consciousness, we will question the influences of Politzer's thought on the project of an existentialpsychoanalysis. Through the rupture with unconsciousness and the replacement of the unconscious by the pre-reflective scope of the subjects, we will understand that the agent knows about the action, but has no knowledge of himself as an agent. From what is dramatized by the concreteness of the subject in the first person, we will infer: if there are no forces that are antagonistic to it, then consciousness is whole, spontaneous, concrete and absolutely free.

Das tensões entre neurociências e psicanálise, interrogaremos a leitura de Malabou sobre Freud, f... more Das tensões entre neurociências e psicanálise, interrogaremos a leitura de Malabou sobre Freud, feita através da plasticidade. Veremos que o inconsciente freudiano assinala um sujeito habitado pela consciência de seu descentramento. Apesar de Freud romper com muitos paradigmas, a leitura de Malabou indica que certos traumas podem resultar em alterações irreversíveis à subjetividade. Inserida na temporalidade, a plasticidade aponta ao problema do sofrimento psíquico, aplicável ao diagnóstico da atualidade. Reconfigurando a psicanálise à luz dos novos feridos e da crise ecológica, veremos como o humano é um acidente incontornável, e que encontra na plasticidade maneiras de receder, enformar, explodir e transformar as coisas, conferindo-lhes novas dimensões. Articulando na materialidade do cérebro modos de enfrentamento ao capitalismo, Malabou encontra na plasticidade uma nova relação com a negatividade. Redimensionando os projetos humanistas, ela ensina como é possível dizer se é o cérebro que resiste, explode, não quer ou não pode fazer mais.
Este artículo analiza la noción de malestar resultante de los impases de tensión entre el individ... more Este artículo analiza la noción de malestar resultante de los impases de tensión entre el individuo y la cultura, de acuerdo con los resultados obtenidos por las reflexiones psicoanalíticas de Freud. A pesar de ciertos momentos de su trabajo, es posible visualizar una cierta posibilidad de emancipación del sujeto a través de la reflexión o el análisis clínico en sí mismo, el psicoanalista no deja de notar una cierta entropía presente no solo en el ser humano, sino en cada ser vivo. Es un movimiento dentro del propio organismo que conduce a su agotamiento, encontrando su propósito en declive.

Dos desdobramentos freudianos acerca da civilização, questionaremos como, diante da eminencia de ... more Dos desdobramentos freudianos acerca da civilização, questionaremos como, diante da eminencia de um futuro trágico, a indagação de formas alternativas de gozo pode originar uma sociedade menos hostil. Partindo de noções como pulsão de morte, agressividade e Super-Eu, veremos que a racionalização dos afetos não reclama nossa destrutividade. Da antinomia entre Eros e Thanatos, Freud conclama a independência das pulsões agressivas, alegando que a civilização é vivenciada como mal-estar. Assinalando como os desejos do outro estão implicados nos nossos, acentuaremos que a agressividade instaura o Super-Eu, cuja função é impor sobre o Eu a mesma hostilidade que este satisfaria nos outros. Exercendo autoridade interna, o Super-Eu atravessa a subjetividade, indicando que não há nada que não garanta nossa própria catástrofe. Mas se a civilização está edificada sobre o resto da liberdade individual, então talvez a responsabilização pelo desejo permita pensar novas formas de subjetivação e, quiçá, numa sociedade menos hostil

Das leituras de Merleau-Ponty sobre Husserl, este artigo discute como a fenomenologia transcenden... more Das leituras de Merleau-Ponty sobre Husserl, este artigo discute como a fenomenologia transcendental põe-se fora da empiria ao desvelar a consciência como domínio apodítico e defender a formulação de condições universais para qualquer experiência concreta. Sendo impossível abandonar o primado do corpo, Merleau-Ponty alerta para a inviabilidade de retirarmo-nos totalmente dos envolvimentos mundanos, entendendo que a filosofia transcendental precisa saber seus limites e não abandonar seu caráter de incompletude. O francês remaneja as teses husserlianas e redefine as noções de consciência e representação sem, todavia, suprimir a experiência da encarnação. Admitindo uma promiscuidade entre o empírico e o ideal, é a partir do corpo que encontraremos esta inserção primordial pela qual estamos envolvidos com o transcendental. Será no paradoxo do corpo enquanto consciência e experiência integrativa do homem no movimento do ser-no-mundo que compreenderemos as intenções racionais e vitais.

Entre Merleau-Ponty e Butler, avaliaremos quão produtivas são as derivações da fenomenologia às p... more Entre Merleau-Ponty e Butler, avaliaremos quão produtivas são as derivações da fenomenologia às performances de gênero. De Merleau-Ponty, se o corpo é veículo das vivências pessoais, é pela sexualidade que somos coabitados por outrem. A sexualidade está pressuposta em todas as atmosferas da vida. Contudo, diz Butler, Merleau-Ponty reedita a hipótese de uma essência heteronormativa, não-corporificada e fundante do comportamento. Pautado pela diferença sexual, Merleau-Ponty olvida o quanto as construções de gêneros estão apoiadas no fato de que os corpos se enformam às situações civilizacionais. Trata-se, então, de interpelar a enformação do corpo em gêneros normativos... É preciso que ampliemos a perspectivas sobre como os corpos dramatizam os signos culturais. Só assim vislumbraremos os gêneros como atos intencionais, performáticos e não-referenciais. Tais performances dão lugar à uma ótica onde as identidades alternativas assumem um papel crítico diante das sanções masculinistas.
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