Papers by Monalisa Carrilho

Dia primeiro de maio de 1954. Camus está na Grécia e escreve em seu caderno: "Bem cedo pela manhã... more Dia primeiro de maio de 1954. Camus está na Grécia e escreve em seu caderno: "Bem cedo pela manhã, saída para a Argólida. Costa do golfo coríntio. Um a luz dançante, aérea, contente, inunda o golfo e as ilhas ao largo. Paramos um momento na borda da falésia, e toda a imensidão do mar diante de nós, presenteada numa única curva onde nós bebemos a luz e o ar com grandes goles. Após uma hora de estrada eu estou literalmente inebriado de luz, com a cabeça cheia de cacos e gritos silenciosos, e, no meio do coração, uma alegria enorme, um riso interminável, riso do conhecimento; depois disso qualquer coisa pode acontecer e tudo é permitido (Carnets 3, p. 162-163)." O júbilo do conhecimento, o silêncio e o riso, o mar e a luz, foi exatamente essa a atmosfera que me envolveu ao começar esse trabalho. O impacto de releitura de Camus me atingiu como um soco, quando abri ao acaso meu exemplar adolescente do Círculo do Livro, "Núpcias, O Verão" e me deparei com frases como "o espet|culo de uma beleza onde, apesar de tudo, morrem os homens (p.48). Ou "que harmonia mais legítima pode unir o homem à vida do que a dupla consciência de seu desejo de duração e de seu destino de morte?". Isso e tanto mais. Confesso que tive dificuldade de aportar no capítulo acadêmico sobre a gnose que tinha escolhido por ser tão acadêmico, técnico, quase árido não se tratasse de Camus. A sorte foi a Gnose. Lembrei do belíssimo ensaio de Jacques Lacarrière sobre os Gnósticos e também reli. O que vou tentar dividir com vocês agora é o resultado do prazer dessas releituras. O meu fio de Ariadne foram as ressonâncias que iam surgindo entre Camus e os Gnósticos, bem além da monografia.
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