Papers by Danielle Magalhães

Revista Criação & Crítica
Ao longo da tradição ocidental, a “estranheza” foi, desde Chklóvski e do formalismo russo até Der... more Ao longo da tradição ocidental, a “estranheza” foi, desde Chklóvski e do formalismo russo até Derrida, uma das caracterizações de literatura. Em Demorar, o filósofo diz que “literatura” é um nome e que pertence a uma língua: “Literatura é uma palavra latina”. Mas esse pertencimento é problematizado. Se, para os formalistas e herdeiros do formalismo, o “estranhamento”, como modalizador para pensar a literatura, esteve a serviço de uma autonomia, a pergunta que Derrida nos move a fazer é “existe alguma coisa não europeia nessa estranha instituição chamada literatura?”. Com as recentes noções de “heteronomia”, de Florencia Garramuño, e de “pós-autonomia”, de Josefina Ludmer, a estranheza se passa por uma latinidade que não assegura uma autonomia. Interrogando, ainda, o que é estranho à latinidade, o termo “oralitura”, de Leda Maria Martins, tensiona outros modos de nomear. O objetivo deste ensaio é pensar como esse vínculo entre literatura e latinidade, pelo operador da estranheza, rel...
Texto Poético
Este ensaio propõe uma leitura filosófica do corte do verso a partir de articulações que entrelaç... more Este ensaio propõe uma leitura filosófica do corte do verso a partir de articulações que entrelaçam, sobretudo, a leitura de Giorgio Agamben sobre os institutos poéticos (como o enjambement e a cesura) em Ideia da Prosa, e a leitura de Jacques Derrida sobre o “estilo esporante” de Nietzsche em Esporas. Essa aproximação é feita pelo que essas leituras permitem pensar a quebra do verso como um “lance” ou um ‘passo feminino’ que transtorna a identidade e abala os pressupostos metafísicos. Essa abordagem se vincula, ainda, pelo princípio de desencaixe, de interrupção e de suspensão, presente na compreensão mallarmeana do verso como um “lance” (coup) enquanto um ponto de crise por onde, no entanto, se faz possível golpear (coup) a verdade, jogar, gozar e pensar.

Derrida começa Espectros de Marx (1994) dizendo “é preciso aprender a viver com os fantasmas”. O ... more Derrida começa Espectros de Marx (1994) dizendo “é preciso aprender a viver com os fantasmas”. O poeta Alberto Pucheu (Mais cotidiano que o cotidiano, 2013) começa um poema com o verso “é preciso aprender a ficar submerso”. O que há em comum nesses manifestos? O que diferencia o imperativo da lei do poder e o imperativo da lei do filósofo e do poeta? Se “naufrágio” é uma palavra que vem sendo recorrentemente encontrada na poesia brasileira contemporânea mais recente, se repetimos de cor o verso “é preciso aprender a ficar submerso”, se vivemos no limite, se a política chegou ao limite, se a política perdeu todos os limites, se chegamos a um limite em que não sabemos o que é política, se não estamos conseguindo viver senão transbordados ou transbordando, se a lei do poema se confunde com a ordem do filósofo que disse “é preciso aprender a viver” (DERRIDA, 1994), se hoje obedecemos à lei do fantasma, isto é, a de sermos tão somente sobreviventes (DERRIDA, Força de Lei, 2010), se toda ...

outra travessia, 2022
Poema, diálogo, ensaio, enumerações, ou nada disso: talvez Che cos’è la poesia? seja mesmo uma “c... more Poema, diálogo, ensaio, enumerações, ou nada disso: talvez Che cos’è la poesia? seja mesmo uma “coisa”, aquilo que escapa à representação. Na rasura da poesia, a escrita do poema, na rasura da ontologia, a escrita da coisa, na rasura do ser, a escrita do animal. Para duas enumerações econômicas, quatro parágrafos. No dobro, muitas dobras, para além dessas duas proposições, desses dois algarismos, dessas duas palavras, “de cor” (par coeur). Em uma economia da memória, uma economia libidinal, uma teoria sobre a poesia, um pensamento filosófico, uma ética, o incalculável. Se a metafísica ocidental tradicionalmente separou cérebro e coração, filosofia e poesia, incorpóreo e corpóreo, Derrida os articula neste ensaio e nos faz pensar que é através de um saber “de cor” que a experiência poemática pode ser pensada como uma travessia em que se lança e é lançado, a um só tempo, a uma exposição ao amor e à catástrofe.

RESUMO: Este artigo pretende contribuir na ampliacao das perspectivas acerca de novas formas de p... more RESUMO: Este artigo pretende contribuir na ampliacao das perspectivas acerca de novas formas de pensar a dimensao politica na poesia brasileira contemporânea. Serao analisados aspectos dos livros Um teste de resistores , de Marilia Garcia, e Rebotalho , de Mase Lemos, visando propor outra qualificacao do politico para esta poesia a partir do conceito de gesto de Giorgio Agamben (2007). Ao contrario de ver uma “crise” na poesia ou de defini-la como “pos-utopica”, buscamos compreende-la como um gesto. Sendo aquilo que, do corpo, aponta para fora do corpo, gesto e um puro dar passagem, e o que provoca, convoca e se apresenta no fora e de fora. Em Resistencia da poesia , Nancy ja teria dito que a resistencia da poesia nao esta em algo que a defina a partir da nocao de “proprio”, mas que talvez seja a “impropriedade substancial, aquilo que faz propriamente a poesia” (NANCY, 2005). Contrariamente a visao pessimista de parte da citica atual que nao ve um potencial politico na poesia recen...

O amor e crer em um lance, crer nisso que e impossivel de definir porque acontece em uma visada, ... more O amor e crer em um lance, crer nisso que e impossivel de definir porque acontece em uma visada, em uma miragem, porque ele nos assalta e nos vemos sobressaltados. Acreditar no amor significa acreditar nesse lance singular, portanto, na impossibilidade de defini-lo. Na poesia, o verso e um lance. Na filosofia, Derrida (Cartao-Postal) diz: “o verso de tudo que eu escrevo”, frase que eu leio em sentido ambiguo. Em “Ideia da Prosa”, Agamben diz que o verso esboca um passo de prosa, lancando-se para ela, mas mantendo sua versatilidade, nao se realizando na prosa, mantendo-se como verso. Podemos ler o verso na hesitacao daquilo que se volta para frente, olhando, porem, para tras, e assim podemos lembrar do Anjo da Historia de Benjamin, cujo corpo e impelido para frente, com os olhos, porem, presos a avalanche de catastrofe que chega a galope e se amontoa atras. Poderiamos entao pensar em um entrelacamento entre uma teoria da historia, uma teoria do verso (isso que e sempre inclinado para...
Revista Estudos Feministas, 2021
Resumo: A partir da leitura de alguns poemas de poetas brasileiras contemporâneas, neste artigo, ... more Resumo: A partir da leitura de alguns poemas de poetas brasileiras contemporâneas, neste artigo, proponho uma rasura da noção de “segredo”, com base no texto “A literatura no segredo”, de Jacques Derrida (2013), pensando a “fofoca” (gossip), teorizada por Silvia Federici (2017; 2019a) em Calibã e a bruxa e em A história oculta da fofoca, como uma reescrita da história hegemônica, colonial e patriarcal.
Alea: Estudos Neolatinos, 2020
Resumo A partir de uma abordagem pelo desencaixe, pela disjunção, pela desarticulação, ou, ainda,... more Resumo A partir de uma abordagem pelo desencaixe, pela disjunção, pela desarticulação, ou, ainda, pela suspensão, pela interrupção, por um ponto de crise, propõe-se articular princípios em comum que comparecem em teorias sobre o amor, sobre o tempo e sobre o verso. É possível associar a leitura do verso como um “lance”, desde Um Lance de Dados de Mallarmé, à leitura que Jacques Lacan faz do amor em Encore? Poderíamos ler o salto do verso como o anjo da história de Benjamin, que é impelido para frente, mas se volta para trás encarando fixamente a catástrofe? Ir ao verso é ir ao tempo em sua crise, em sua fratura, em sua disjunção, tal como pensaram Agamben, Benjamin, Derrida? Essas são as direções pelas quais este artigo propõe ler, no gesto disjuntivo do verso, erotismo e luto, amor e catástrofe.
REVISTA ESCRITA, 2017
Resumo O objetivo deste artigo é pensar a poesia como meio a partir de deslocamentos dispersivos ... more Resumo O objetivo deste artigo é pensar a poesia como meio a partir de deslocamentos dispersivos de um teste de resistores. Mostrando-se mais como ferramenta do que como obra, este teste não se encerra em si, e leva a crer que resistência pode ser menos uma questão de pertencimento e mais um lugar que gesta possibilidades.

Revista Da Abpn, Jun 28, 2012
The paper discusses issues regarding the education of race and ethnic relations in the context of... more The paper discusses issues regarding the education of race and ethnic relations in the context of initialThe paper discusses issues regarding the education of race and ethnic relations in the context of initialteacher’s education, specifically History teachers; thus, considering teaching the focus of this research. Thetext brings a group of academic activities related to teaching, research and extension courses, developed in apublic university, considering the importance of the teacher’s qualification for the teaching of African-Brazilianand African History and Culture, according to guidelines contained in various documents produced from thecontext of Law 10.639/2003. The present paper also explores a number of accounts by teachers, and defendsthat effective dialogue with school culture and its curriculum is a key element of the endeavor to guarantee the permanence of an anti-racist perspective in the Brazilian school of Basic Education, a factor that interferes directly in building a more just and equal society for White and African-Brazilian people.
Fórum de Literatura Brasileira Contemporânea, 2018
Este ensaio salienta o caráter precário e fugidio de certos temas da poesia de Annita Costa Maluf... more Este ensaio salienta o caráter precário e fugidio de certos temas da poesia de Annita Costa Malufe para se permitir um tateio de que resulta um texto perpassado pela imanência, no qual o imponderável alforria e areja. Em pauta, entram poemas de quatro livros da autora paulistana, esmiuçados por meio de imersões em versos dos quais a analista parece emergir ainda mais dada ao risco. A estimular a aposta no potencial da deriva e, ao mesmo tempo, oferecer algum substrato, encontra-se uma bibliografia marcadamente filosófica, em que se distinguem desde Karl Marx até Gilles Deleuze.
Eutomia, 2020
Uma das tendências da poesia brasileira contemporânea é a grande presença de poetas mulheres e um... more Uma das tendências da poesia brasileira contemporânea é a grande presença de poetas mulheres e um dos pontos em comum que une parte dessa produção escrita por mulheres é a condição precária que se determina em vários fatores, como o gênero e a pobreza, por exemplo. Muitas poetas expõem a misoginia, o machismo, o feminicídio, o racismo, a normatividade de gênero e a pobreza em uma abordagem que entrelaça amor e política. Afinando-se com a noção de “precariedade” de Judith Butler, esse artigo pretende mostrar algumas condições de precariedade que fazem dessas poetas uma comunidade pautada no dano, aproximando-se em uma luta lá onde elas aparentemente não se aproximariam. Serão abordadas as poetas Tatiana Nascimento e Tatiana Pequeno.
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