Books by Ronald Raminelli

SYLLABUS, 2022
Drawing on Brazilian and Cuban novels and memoirs, this course intends to analyze how blacks and ... more Drawing on Brazilian and Cuban novels and memoirs, this course intends to analyze how blacks and mulattos were inserted in nation-making projects in both countries. The course will focus on debates on slavery in Cuba and Brazil between the 1790s and 1870s. It will be divided into two parts. First, we will analyze the memoirs and speeches of ideologues from the two nations and examine the portrayal of racial diversity and the idea of nation/identity in nineteenth-century. The second part of the course will focus on black and mulatto characters in nineteenth-century novels. Whether male or female, Brazilian or Cuban, all these black and mulatto characters share certain similarities. In general, the literati discussed in the literature are white men. To counterpoise this, the course draws on the Cuban writer Gertrudis Gomez and the black Brazilian writer Maria Firmina dos Reis.
reseña de María del Mar FeLiceS De La Fuente in: Revista Complutense deHistoria de América, 41:... more reseña de María del Mar FeLiceS De La Fuente in: Revista Complutense deHistoria de América, 41: 302-7, 2015.

O livro Imagens da colonização trata das representações do índio, escritas e gráficas, entre os s... more O livro Imagens da colonização trata das representações do índio, escritas e gráficas, entre os séculos XVI e XVII. Aí, procurei analisar não somente as imagens dos tupis e “tapuios”, mas também de diferentes etnias radicadas na América espanhola. Fossem gravuras francesas, holandesas, italianas alemães ou inglesas, os cânones artísticos e teológicos pouco diferiam no momento de descrever os povos do Novo Mundo. Sem sombra de dúvidas, as “representações coletivas” europeias da reforma e contra-reforma determinaram as narrativas e as figurações. Nas imagens sobre os americanos encontram-se a tradição escolástica, as disputas religiosas entre católicos e protestantes, a caça às bruxas e os dilemas provocados pela conquista.
As crônicas e as descrições de viagens fizeram tábula rasa da tradição ameríndia, anularam as suas especificidades. Todos eram índios e isso bastava para os religiosos, artistas e viajantes europeus. Aliás, a tradição europeia buscou no passado remoto argumentos para consolidar a dominação e a desigualdade entre os cristãos e ameríndios. Sua superioridade respaldava a conquista, a colonização e a catequese. Em contrapartida, os nativos eram seres degenerados: desconheciam a palavra revelada do senhor, o valor do ouro, da prata e do trabalho. Viviam na indolência e precisavam dos controles impostos pelos homens brancos. Empregado como ideologia da conquista, o barbarismo aristotélicos legitimava a guerra justa, a escravidão, porque os nativos eram incapazes de entender os ensinamentos divinos e de receber a conversão. Portanto, eram criaturas de Deus, forjados para servir aos cristãos, usando a sua força bruta em favor dos empreendimentos coloniais.
Para além de identificar um substrato cultural comum, o livro traça um contraponto entre as imagens produzidas pelos jesuítas e pelos demais colonizadores. Os inacianos estavam imbuídos de livrar os índios da escravidão, pois o cativeiro os afastava da conversão e da vida cristã. A defesa da Companhia de Jesus impunha abandono da antigas tradições locais, da nudez, poligamia e canibalismo.
De todo modo, o esforço dos padres não inviabilizou o emprego dos nativos como força motriz dos primeiros estabelecimentos coloniais, nas lavouras, na expansão das áreas coloniais, nas guerras contra as tribos que enfrentavam os portugueses. Embora fossem livres, nas propriedades jesuíticas, os braços não raro eram indígenas. Por vezes, os religiosos pouco diferiam dos seculares quando representavam os nativos como bárbaros, embora os jesuítas considerassem que a conversão era mecanismo seguro para os livrar do barbarismo.
Em suma, afirmo que os colonizadores buscavam respaldo para impedir a inserção dos índios na cristandade, pois eram seres brutos e incapazes de se tornar católicos. Para tanto reforçavam a necessidade escravizá-los, enquanto os sacerdotes procuravam representá-los como gentios, cristãos em potencial, pois, do contrário, a catequese estava ameaçada.
Escravistas ou não, os projetos coloniais pretendiam inserir os povos indígenas no mundo mercantilista. Os braços nativos contribuíram com a expansão das áreas coloniais e comércio entre o Brasil e a metrópole. Os índios viabilizavam então a força motriz capaz de implementar fortificações, vilas, igrejas, engenhos e plantações. A conquista não se reduziu ao âmbito econômico, pois os moradores e os viajantes conduziram os habitantes do Novo Mundo para dentro da cultura da Europa ocidental. Os ameríndios perderem paulatinamente a autonomia própria das comunidades distantes do velho continente e ganharam feições e atributos há muito presentes no imaginário cristão. Os índios foram denominados de gentio, bárbaros, selvagens e antropófagos. A partir dessas nomeações, os colonizadores pretendiam ressaltar o primitivismo dos nativos e sua incapacidade de gerir a própria vida. O abandono dos “costumes abomináveis” justificava a intervenção na América, consolidava a conquista e a colonização europeias.
A maior contribuição do livro estava, porém, no capítulo terceiro: “Mulheres canibais”. Aí realizei comparação entre texto e imagem que me permitiu delimitar um tema de pesquisa original. Oriundas dos relatos de viagens, as descrições sobre os costumes indígenas apontavam para a intensa participação dos homens nas guerras e nas cerimônias de canibalismo. Diferentemente do texto, nas imagens, as mulheres se tornaram protagonistas. A literatura quinhentista e mesmo os estudos da antropologia estruturalista defendiam a participação feminina nos rituais com funções específicas.
No entanto, nas representações visuais, a ênfase nas mulheres canibais e a escassa participação dos guerreiros estava vinculada à misoginia, não raro presente nos escritos e gravuras quinhentistas protestantes. Aliás, percebi que a misoginia aumentou a participação feminina nos rituais macabros representados nas gravuras. A ênfase deve ser interpretada como parte da tradição luterana e da influência do Malleus maleficarum sobre o pensamento europeu do norte da Europa, origem de boa parte das gravuras dedicadas às mulheres canibais. Em diversas imagens constatei semelhanças entre as mulheres canibais e as feiticeiras europeias. Elas possuíam comportamentos e formas físicas semelhantes às enviadas do demônio.
Como mencionei, os predomínio das mulheres nos rituais de canibalismo não possui, porém, sustentação empírica, exceto nas gravuras de Theodor de Bry. Os relatos quinhentistas e seiscentistas restringiam bastante sua participação nos banquetes canibalescos. Os estudiosos dos tupis defendem a participação de jovens e mulheres na ingestão de carne humana, sobretudo as entranhas cozidas em forma de mingau. Em contrapartida, os guerreiros costumavam ingerir os músculos assados no moquém. Em suma, a participação feminina era restrita enquanto os homens protagonizavam os relatos dedicados ao canibalismo tupi.
Vale ainda mencionar a participação das velhas índias nos rituais representados em gravuras. Aí, elas comem carne humana e sugam a gordura. Segundo os relatos, Deus as castigou, pois perderam a juventude por causa de seus desregramentos, pelo gosto bizarro de ingerir e se deliciar com a carne humana. Suas peles enrugadas e cabelos muito ralos as tornam encarnação do vício, aliadas e privilegiadas de Satã. Com características demoníacas, as velhas retratadas do Theodor de Bry também estão em um desenho que ilustra o livro de John Nieuhof. A cena se passa em uma floresta, onde um nativo atira uma fecha contra uma ave. No pano de fundo, porém, duas mulheres comem braços humanos e estão próximas a vários vestígios do canibalismo: crânio descarnado, ossos humanos, restos de animais e outros objetos de difícil identificação. Por certo a gravura em questão se inspirou na obra de Hans Baldung Grien, o famoso pintor quinhentista das bruxas.

Existiram nobres no Brasil Colônia? No Antigo Regime, a nobreza era uma categoria muito heterogên... more Existiram nobres no Brasil Colônia? No Antigo Regime, a nobreza era uma categoria muito heterogênea. Variava entre titulada, fidalga e política. Os dois primeiros se destacavam pelo sangue nobre de seus antepassados enquanto a nobreza política era uma criação do rei, ou seja, eram plebeus que o monarca tornava nobres. No passado, os senhores de engenho e os capitães eram por certo poderosas lideranças de homens livres de diferentes estratos sociais. Por vezes, ditavam as suas leis, comandavam tropas armadas e contrariavam os interesses das autoridades lisboetas. Atuavam como nobres, mas nem sempre exerciam essa honra juridicamente, nem sempre eram reconhecidos pelo rei como nobres. .
Nos manuscritos não raro encontram-se distintivos sociais como “dom”, “nobreza da terra” e “principais famílias da capitania”. Eram verdadeiros “títulos brasílicos de nobreza”, embora não passassem de reverências locais, honrarias não respaldadas pela coroa. Os poderosos nem sempre apresentavam as condições necessárias para receber do monarca o foro de fidalgo, título de cavaleiro e de comendador das Ordens Militares, mecanismos legais de ascensão à baixa e média nobreza. Mesmo pejando em nome do rei, parte da elite colonial possuía sangue mestiço ou cristão-novo (de origem judaica) e estava impedida de receber as benesses régias.
Ao longo de todo livro, mas sobretudo na primeira parte, os mecanismos de enobrecimentos do Brasil colonial são comparados aos da América Espanhola. Lá existiam muitos membros da alta nobreza, pois os ricos podiam comprar títulos de conde e marquês. Tal ascensão social era impossível para os vassalos portugueses. Embora não fosse possível a compra, em momentos de guerra e carência de braços armados, sobretudo no século XVII, a coroa lusitana concedeu uma dezena de títulos de cavaleiro a caciques indígenas. Prometeu outros tantos a negros e mulatos que raramente tornavam-se nobres devido à cor da pele e à origem cativa. O racismo impedia que valorosos guerreiros ingressassem na nobreza colonial. De todo modo, mesmo brancos e puro de sangue, os nobres da América jamais desfrutavam do mesmos privilégios, honras e estabilidade da nobreza europeia.
Ronald Raminelli, professor da UFF, pesquisador da Faperj e CNPq (Bolsista de produtividade IB). Autor de Imagens da Colonização (1996), Viagens Ultramarinas (2008) e A era das conquistas (2013). Publicou dezenas de artigos em periódicos e livros no Brasil, Portugal, Espanha, França, México, Colômbia e Argentina. É membro da Companhia das Índias e Red Columnaria desde 2010.
“É com enorme satisfação, portanto, que apresento o novo livro de Ronald Raminelli, talvez o seu melhor livro, ouso dizer, resultado de longas pesquisas no país e no exterior. Obra de historiador consolidado. Contribuição inestimável à historiografia, sobretudo em assunto crucial do tempo presente: a questão das mestiçagens, raciais e culturais”. Trecho do prefácio de Ronaldo Vainfas.

Ao conhecer a história do Brasil encontramos temas no mínimo intrigantes. Se hoje os continentes ... more Ao conhecer a história do Brasil encontramos temas no mínimo intrigantes. Se hoje os continentes estão unificados por um veloz sistema de comunicação, no passado as notícias corriam em um ritmo lento, dos pés descalços e dos ventos que sopravam nas velas. Como se integravam, então, colônias e metrópoles dos impérios coloniais na época moderna? Quais seriam as motivações para os súditos portugueses, radicados em vilas do Pará, Mato Grosso, Angola e Goa, prestarem lealdade a um rei residente em Lisboa? Este livro pretende responder a estas e outras questões e analisar os laços entre o rei e seus vassalos. Para melhor conhecer o governo a distância, a pesquisa buscou explorar não apenas a administração formal conduzida por vice-reis, governadores e magistrados, mas, sobretudo, o desempenho de uma elite ilustrada, filha das luzes, que viajava a paragens remotas, representava o rei e escrevia a Lisboa para inventariar o império, seus povos, riquezas e fronteiras.
Na segunda metade do setecentos, um número crescente de jovens deixou a Universidade de Coimbra para exercer cargos no ultramar. Oriundos, em grande parte, das Minas Gerais e da Bahia, os bacharéis luso-brasileiros realizavam viagens ultramarinas como agentes da monarquia portuguesa. Do reino partiram para Angola, Moçambique, Goa, Cabo Verde, Pará, Bahia e Rio de Janeiro. Atuavam como cientistas (naturalistas) e inventariavam as potencialidades econômicas do império colonial. Em troca, contavam com as honras e os privilégios, concedidos como remuneração dos serviços prestados ao monarca. Se inicialmente eram cientistas, depois de beneficiados com cargos, títulos e demais mercês régias, tornaram-se burocratas e abandonaram, paulatinamente, suas investigações.
Como naturalistas atuavam filósofos e magistrados. Os primeiros, em grande parte, caíram em desgraça, perseguidos como sediciosos ou vítimas do ostracismo. Em 1808, quando Lisboa deixou de atuar como centro do império colonial, os magistrados-naturalistas desempenharam cargos de confiança junto ao Príncipe Regente no Rio de Janeiro. Escreveram sobre economia e defenderam, até o último momento, a união entre Portugal e Brasil.
Recorrendo aos naturalistas, o livro, em suma, investiga a integração entre centro e periferias, metrópole e colônias, Portugal e suas conquistas, com ênfase no Brasil. Contribui para o debate em torno da ciência em Portugal e seus empregos no ultramar. Destaca-se ainda a gênese de um pensamento luso-brasileiro, dedicado à economia política e à antropologia.
Ronald Raminelli
Professor associado do departamento de História da Universidade Federal Fluminense. Doutor em História pela Universidade de São Paulo com estágio de pós-doutorado na EHESS-Paris. A pesquisa que originou o livro foi financiada pelo CNPq, Faperj, Capes, CNCDP/Portugal e DAAD/Alemanha.

Quando se fala em conquista da América se pensa nos massacres promovidos pelos invasores. Seriam ... more Quando se fala em conquista da América se pensa nos massacres promovidos pelos invasores. Seriam mesmo os espanhóis vitoriosos? No século XVI, os tesouros americanos estavam sob o comando dos "vencedores", mas o novo território pertencia ao rei e não se tornou propriedade dos conquistadores. Com a prata, a Coroa expandiu a burocracia, presenteou os aliados e armou tropas para aniquilar seus opositores no Novo Mundo.
A era das conquistas trata da formação do maior império colonial na América, o espanhol. Entre os ameríndios, uns resistiram e outros participaram das invasões, mas aos poucos foram submetidos. Embora lutassem pelo rei, os espanhóis ficaram descontentes com seus ganhos e se rebelaram contra a Coroa. Suas vitórias não foram duradouras, logo se enquadraram ou foram aniquilados pelas tropas do rei. Quem se sagraria vitorioso desta epopeia? Este livro reúne argumentos e fatos capazes de modificar a visão simplista e parcial sobre a conquista da América.
Na orelha do seu livro, o senhor fala de “visão simplista e parcial sobre a conquista da América”. A que o senhor se refere e a que atribui esse simplismo analítico?
Considero uma análise simplista aquela que pretende explicar o passado a partir de uma única perspectiva. Por muito tempo, a conquista da América resumia-se aos ataques militares contra os índios indefesos e à hecatombe provocada pelas epidemias. Pretendia-se não somente culpar os espanhóis pelo massacre indígena, mas também demonstrar que os índios eram “raça inferior”, incapazes de reação. Em seguida, influenciados pelos marxistas, os historiadores pretenderam comprovar que os índios resistiram aos espanhóis e, aos poucos, deixaram de ser vítimas e receberam contornos de heróis. De fato, fossem vítimas ou heróis da resistência, os índios tiveram participação na conquista, lutaram contra as milícias espanholas, mas também colaboraram com os invasores para massacrar as populações locais. Sem os índios, os espanhóis teriam muitas dificuldades para conquistar a América. Em pesquisas recentes, descobriu-se que os espanhóis empregaram soldados negros em embates, sobretudo no assalto a Tenochtitlan (posteriormente Cidade do México). Enfim, hoje os historiadores entendem que as rivalidades entre as comunidades americanas favoreceram os espanhóis. Eles incentivaram os indígenas a aniquilar seus rivais, mas, em outras ocasiões, os espanhóis foram usados pelos índios para submeter seus oponentes. Aliás, dependendo do espaço, ao invés de conquista seria melhor empregar conquistas, pois algumas populações resistiram ou ficaram esquecidas por séculos. Assim, não se pode conceber a conquista como o duelo entre o bem e o mal, entre índios e espanhóis, tampouco que os combates fiquem restritos às primeiras décadas do século XVI, mas concluir que foi processo de longa duração e que os conquistadores não eram somente os espanhóis. Em vários episódios, os índios e os negros também se sagraram vitoriosos.
Como o senhor avalia os estudos mais recentes sobre os impérios numa perspectiva comparada?
A perspectiva comparada é um método muito eficaz contra os historiadores nacionalistas e regionalistas que pretendem sacralizar personagens e singularizar eventos da sua história. Com alguma defasagem temporal, existem elementos que se repetem na história da América Latina. Neste grande território, as estruturais sociais, as formas de dominação e os vínculos com a metrópole guardam muitas semelhanças. Assim, conhecer o que se passou no Peru ou no México pode lançar luzes sobre o passado colonial do Brasil. Essas regiões estavam conectadas, pois dividiam a mesma cultura política e religiosa. Por isso defendo que o diálogo com os historiadores da América hispânica é fundamental para aperfeiçoar a nossa própria pesquisa histórica e nossas conclusões sobre o passado colonial.
Qual o impacto da colonização espanhola na América?
Seria muito maniqueísta afirmar que os espanhóis criaram um potente sistema de exploração do povos indígenas. De fato eles recorreram às tradições locais, às formas de dominação que já existiam antes da conquista. Não inventaram a mita, os espanhóis aperfeiçoaram e perpetuaram os mecanismos incas que obrigaram os índios a trabalhar. Nas ilhas do Caribe, onde as populações foram dizimadas pelas epidemias e pelo excesso de trabalho, os espanhóis e os crioulos (mestiços ou brancos nascidos na América) introduziram o trabalho escravo africano. O mesmo procedimento ocorreu em regiões tropicais, onde não havia braços para cultivar a cana-de-açúcar e o tabaco. Os africanos alteraram bastante o perfil populacional da América. O vazio populacional e a expansão agrícola para exportação incentivaram a difusão da abominável escravidão. Ao meu ver, o grande impacto da colonização da América foi a introdução do escravismo, as demais formas de exploração do trabalho existiam antes da invasão espanhola.
Monarcas, vassalos e governo a distância, 2008
Elites & Nobilities in America by Ronald Raminelli

ALTA NOBREZA E OS LIMITES DA SOBERANIA RÉGIA NA NOVA ESPANHA E BRASIL, SÉCULOS XVI E XVII, 2023
This paper has drawn on Laura Benton's concept of quasi-sovereignty to analyze how the Spanish an... more This paper has drawn on Laura Benton's concept of quasi-sovereignty to analyze how the Spanish and Portuguese monarchies, between the sixteenth and seventeenth centuries, employed similar strategies to neutralize the high nobility rooted in the New World. The monarchs granted privileges but also created mechanisms to erode the autonomy the nobles enjoyed overseas. This article has drawn on a vast literature to inventory not only the different royal controls but also the strategies employed by the nobles to react against the loss of their estates and political ownership. The comparison between the life path of Portuguese and Spanish nobles allowed us to identify how control over the nobility involved different instances of imperial and local administration. The biography of these nobles also demonstrates the pressure of distinct social groups against the nobles and their privileges. The dispute between the imperial government, the local government, the nobles, and social groups demonstrate the weakness of royal sovereignty overseas.

Anos 90, Porto Alegre, v. 28 – e2021007 - 2021, 2021
From a historiographical and comparative perspective, the article analyzes the Borbonic and Pomba... more From a historiographical and comparative perspective, the article analyzes the Borbonic and Pombaline reforms. These interventions originated from disputes between European monarchies and altered the pact between the kings and their overseas subjects. They also provoked revolts led by different sectors of society, but these reactions differed widely in the Americas. Reforms and revolts have raised economic and political pressures overseas and made social conflicts clearer. Previously little used, the term "colony” has become fundamental to understand the links between monarchies and overseas possessions. In addition to producing raw materials on a large scale, the colonies stood out for their miscegenation and racial conflicts.
Em perspectiva historiográfica e comparativa, o artigo analisa as reformas borbônicas e pombalinas. Essas intervenções se originaram das disputas entre as monarquias europeias e alteraram o pacto entre os reis e seus súbitos ultramarinos. Provocaram ainda revoltas comandadas por diversos setores da sociedade, mas essas reações diferiram bastante nas Américas. Reformas e revoltas elevaram as pressões econômicas e políticas no ultramar e tornaram mais nítidos os conflitos sociais. Antes pouco empregado, o termo “colônia” tornou-se mais usual e fundamental para entender os vínculos entre as monarquias e as possessões ultramarinas. Além de produzir em larga escala matérias-primas, as colônias destacaram-se pela mestiçagem e conflitos raciais.

Varia Historia, 2021
Th is article analyzes debates about slavery in Cuba and Brazil, between the 1790s and 1840s. In ... more Th is article analyzes debates about slavery in Cuba and Brazil, between the 1790s and 1840s. In diff erent contexts, the reformers were divided between slaveholders and abolitionists and discussed the insertion of Afro-descendants in the mentioned societies. Th e former defended not only slavery but the insertion of free slaves, blacks and mulattos as part of the heterogeneous Brazilian and Cuban population. However, abolitionists considered the mixture of races to be an obstacle to the formation of the nation or the origin of social integration diffi culties. Unlike slaveholders, they defended the homogeneity of the population, repudiated the disproportionate increase of "internal enemies", and encouraged European immigration. Th e "racialization" of the project for the nation was a trend more evident in Portuguese and Brazilian writings before the 1830s. In Cuba, the debate became more intense when the reformers detected an increase in the black and mulatto population in the decade of 1830s.

Nuevo Mundo Mundos Nuevos, 2020
In the second half of the 18th century, to strengthen their sovereignty over the overseas territo... more In the second half of the 18th century, to strengthen their sovereignty over the overseas territories, the principal European monarchies intervened in the colonial economy and administration. The reforms of empires, also called Borbonic, Pombaline and British, aimed mainly to reduce the autonomy of colonial elites, especially in the administration and economy. Although the empires were so different, the comparison shows that the process of a political centralization of monarchies, or rather, the alteration of corporate or composite monarchies, was taking place almost simultaneously. Its interventionist policies broke the pacts that involved the sovereign and his overseas subjects. Between 1760 and 1790, in the different empires, the subjects rebelled against the metropolises to push back the reforms. The revolts in the British
colonies resulted in independence, while in Brazil the revolutionary situation promoted a new plan for the reconstruction of Portuguese sovereignty over the colony.
URL : http://journals.openedition.org/nuevomundo/82701
Latin American History Oxford Research Encyclopedias, 2019
Color and race are important references for assessing the privileges and barriers that sustained ... more Color and race are important references for assessing the privileges and barriers that sustained or impeded the social ascension of New Christians, Africans, Indians, and mestiços in the Portuguese world. Questions of race and color had profound links with the Catholic faith and with social exclusion, especially of Afro-descendants. The ideas of race and racism are not static, but were forged over time. Initially, they were strongly influenced by Catholicism and later were incorporated into the scientific knowledge of the 18th and 19th centuries. Therefore, the terms “race” and “racism,” based on 19th-century biological determinism, are not suitable for discussing social relations in the 17th and 18th centuries.

Hispanic American Historical Review (2017) 97 (4): 728-730, 2017
Nobrezas do Novo Mundo (The nobility of the New World) represents a welcome addition to the growi... more Nobrezas do Novo Mundo (The nobility of the New World) represents a welcome addition to the growing literature on the social dynamics of colonial Latin America, particularly Brazil. By combining discussions of race and nobility, Ronald Raminelli brings his audience beyond narratives of Brazilian colonial society dichotomized into black and white, master and slave. He unveils race as a multivalent concept in colonial Brazil—one that did not preclude the entrance of blacks and Indians into the lower nobility. Raminelli recognizes, however, the perils that accompanied African, Indian, Jewish, and Islamic lineages in the Luso-Atlantic, and he deftly navigates the paradoxes inherent in bestowing privileges of nobility on blacks and Indians.
Raminelli divides Nobrezas into two parts, with the first part mapping out the structures of nobility in South America and the second part analyzing black and Indian nobility. He delineates four major...
O artigo analisa a formação da nobreza colonial a partir de provimentos régios, das concessões do... more O artigo analisa a formação da nobreza colonial a partir de provimentos régios, das concessões dos foros de fidalgo, títulos de cavaleiro das ordens militares e dos brasões de armas. Essas mercês, porém, não originaram a nobreza de sangue, pois raras famílias tiveram condições de manter as honras e os privilégios da nobreza por longo tempo. No ultramar a “nobreza da terra” não se apoiava nos títulos, mas no patrimônio, no controle de postos da administração local, e, sobretudo, de patentes militares. Recorrendo à base documental e à historiografia, o artigo pretende comprovar que os títulos não eram a condição sine quo non para ascensão social na sociedade colonial. Em geral, somente ao final de sua trajetória de sucesso os súditos ultramarinos pleiteavam e recebiam as honrarias da monarquia.
This article analyzes the limits of royal sovereignty in Paraíba do Sul through conflicts between... more This article analyzes the limits of royal sovereignty in Paraíba do Sul through conflicts between the donatory captaincy and the governor of Rio de Janeiro. In 1674, the Portuguese monarchy granted it to the House of Asseca, but the territory was abandoned and subject to the occupations of religious orders, captains, and cattle ranchers. Years later , viscount Asseca retook control, but faced strong opposition from the governor who had annexed it illegally to the captaincy of Rio de Janeiro. In this conflict, rivals were not always guided by the dictates of the Crown. The abuses and conflicts of jurisdiction, intensified between 1727 and 1730, demonstrated the limits of royal sovereignty on the borders of the Empire. Also highlighted in the paper are the differences between royal interventions and the particular interests of the authorities supported by the monarchy.
O artigo analisa os limites da soberania régia sobre a capitania da Paraíba do Sul a partir dos c... more O artigo analisa os limites da soberania régia sobre a capitania da Paraíba do Sul a partir dos conflitos entre o donatário da capitania e o governador do Rio de Janeiro. Em 1674, a monarquia portuguesa a concedeu à Casa Asseca, mas o território ficou abandonado e sujeito às ocupações das ordens religiosas e dos criadores de gado. Anos depois, o visconde de Asseca retomou o controle, mas enfrentou forte oposição do governador que a tinha ilegalmente como capitania anexa ao Rio de Janeiro. No embate, nem sempre os opositores se guiaram pelos ditames do poder real. Intensificados entre 1727 e 1730, os abusos e conflitos de jurisdição demonstravam os limites da soberania régia nos confins do Império. O trabalho ainda destaca as diferenças entre as intervenções régias e os interesses particulares das autoridades providas pela monarquia.
Entre 1750 e 1807, 259 súditos ultramarinos da monarquia portuguesa recorreram àjustificação de ... more Entre 1750 e 1807, 259 súditos ultramarinos da monarquia portuguesa recorreram àjustificação de nobreza para receber brasões de armas. Ao analisar o acervo, o artigo empregou o método quantitativo para traçar o perfil social sobretudo das elites luso-brasileiras e assim constatou que os oficiais das tropas auxiliares e das ordenanças era a categoria social mais predominante. O estudo ainda detectou que as antigas elites eram pouco representativas na Bahia e Rio de Janeiro e muito presentes em Pernambuco e Maranhão.
Between 1750 and 1807, 259 overseas subjects of the Portuguese monarchy used the justi ca- tion o... more Between 1750 and 1807, 259 overseas subjects of the Portuguese monarchy used the justi ca- tion of nobility process to receive coats of arms. This article uses quantitative methods to ana- lyze their petitions and trace their social pro le, especially of the Luso-Brazilian elites, noting that the new elites, particularly the o cers of the militia, were the predominant social cat- egory. The study also found that the old elites were hardly representative in Bahia and Rio de Janeiro and very present in Pernambuco and Maranhao.
Inicialmente, o artigo compara as ideias de sangue, heredi-
tariedade e raça nos tratados de nobr... more Inicialmente, o artigo compara as ideias de sangue, heredi-
tariedade e raça nos tratados de nobreza. O cotejo pretende destacar
suas variações semânticas entre os séculos XVI e XVII em Portugal.
Em seguida analisa a trajetória administrativa e o testamento de André
Vidal de Negreiros que não reconheceu os filhos bastardos. À revelia do
pai, o mulato Matias Vidal de Negreiros tornou-se, com a graça do rei,
nobre e administrador da fortuna paterna. Assim, a trajetória de Matias
demonstra como os serviços prestados à monarquia e a nobreza paterna
permitiram que seu filho bastardo e mulato se tornasse nobre. Embora
rico e fidalgo, devido à cor e à bastardia, ele enfrentou forte oposição
dos governadores e não se integrou efetivamente à “nobreza da terra”
de Pernambuco e Paraíba. Para fazer valer seus privilégios no ultramar,
Matias recorreu em vão às autoridades de Lisboa.
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Books by Ronald Raminelli
As crônicas e as descrições de viagens fizeram tábula rasa da tradição ameríndia, anularam as suas especificidades. Todos eram índios e isso bastava para os religiosos, artistas e viajantes europeus. Aliás, a tradição europeia buscou no passado remoto argumentos para consolidar a dominação e a desigualdade entre os cristãos e ameríndios. Sua superioridade respaldava a conquista, a colonização e a catequese. Em contrapartida, os nativos eram seres degenerados: desconheciam a palavra revelada do senhor, o valor do ouro, da prata e do trabalho. Viviam na indolência e precisavam dos controles impostos pelos homens brancos. Empregado como ideologia da conquista, o barbarismo aristotélicos legitimava a guerra justa, a escravidão, porque os nativos eram incapazes de entender os ensinamentos divinos e de receber a conversão. Portanto, eram criaturas de Deus, forjados para servir aos cristãos, usando a sua força bruta em favor dos empreendimentos coloniais.
Para além de identificar um substrato cultural comum, o livro traça um contraponto entre as imagens produzidas pelos jesuítas e pelos demais colonizadores. Os inacianos estavam imbuídos de livrar os índios da escravidão, pois o cativeiro os afastava da conversão e da vida cristã. A defesa da Companhia de Jesus impunha abandono da antigas tradições locais, da nudez, poligamia e canibalismo.
De todo modo, o esforço dos padres não inviabilizou o emprego dos nativos como força motriz dos primeiros estabelecimentos coloniais, nas lavouras, na expansão das áreas coloniais, nas guerras contra as tribos que enfrentavam os portugueses. Embora fossem livres, nas propriedades jesuíticas, os braços não raro eram indígenas. Por vezes, os religiosos pouco diferiam dos seculares quando representavam os nativos como bárbaros, embora os jesuítas considerassem que a conversão era mecanismo seguro para os livrar do barbarismo.
Em suma, afirmo que os colonizadores buscavam respaldo para impedir a inserção dos índios na cristandade, pois eram seres brutos e incapazes de se tornar católicos. Para tanto reforçavam a necessidade escravizá-los, enquanto os sacerdotes procuravam representá-los como gentios, cristãos em potencial, pois, do contrário, a catequese estava ameaçada.
Escravistas ou não, os projetos coloniais pretendiam inserir os povos indígenas no mundo mercantilista. Os braços nativos contribuíram com a expansão das áreas coloniais e comércio entre o Brasil e a metrópole. Os índios viabilizavam então a força motriz capaz de implementar fortificações, vilas, igrejas, engenhos e plantações. A conquista não se reduziu ao âmbito econômico, pois os moradores e os viajantes conduziram os habitantes do Novo Mundo para dentro da cultura da Europa ocidental. Os ameríndios perderem paulatinamente a autonomia própria das comunidades distantes do velho continente e ganharam feições e atributos há muito presentes no imaginário cristão. Os índios foram denominados de gentio, bárbaros, selvagens e antropófagos. A partir dessas nomeações, os colonizadores pretendiam ressaltar o primitivismo dos nativos e sua incapacidade de gerir a própria vida. O abandono dos “costumes abomináveis” justificava a intervenção na América, consolidava a conquista e a colonização europeias.
A maior contribuição do livro estava, porém, no capítulo terceiro: “Mulheres canibais”. Aí realizei comparação entre texto e imagem que me permitiu delimitar um tema de pesquisa original. Oriundas dos relatos de viagens, as descrições sobre os costumes indígenas apontavam para a intensa participação dos homens nas guerras e nas cerimônias de canibalismo. Diferentemente do texto, nas imagens, as mulheres se tornaram protagonistas. A literatura quinhentista e mesmo os estudos da antropologia estruturalista defendiam a participação feminina nos rituais com funções específicas.
No entanto, nas representações visuais, a ênfase nas mulheres canibais e a escassa participação dos guerreiros estava vinculada à misoginia, não raro presente nos escritos e gravuras quinhentistas protestantes. Aliás, percebi que a misoginia aumentou a participação feminina nos rituais macabros representados nas gravuras. A ênfase deve ser interpretada como parte da tradição luterana e da influência do Malleus maleficarum sobre o pensamento europeu do norte da Europa, origem de boa parte das gravuras dedicadas às mulheres canibais. Em diversas imagens constatei semelhanças entre as mulheres canibais e as feiticeiras europeias. Elas possuíam comportamentos e formas físicas semelhantes às enviadas do demônio.
Como mencionei, os predomínio das mulheres nos rituais de canibalismo não possui, porém, sustentação empírica, exceto nas gravuras de Theodor de Bry. Os relatos quinhentistas e seiscentistas restringiam bastante sua participação nos banquetes canibalescos. Os estudiosos dos tupis defendem a participação de jovens e mulheres na ingestão de carne humana, sobretudo as entranhas cozidas em forma de mingau. Em contrapartida, os guerreiros costumavam ingerir os músculos assados no moquém. Em suma, a participação feminina era restrita enquanto os homens protagonizavam os relatos dedicados ao canibalismo tupi.
Vale ainda mencionar a participação das velhas índias nos rituais representados em gravuras. Aí, elas comem carne humana e sugam a gordura. Segundo os relatos, Deus as castigou, pois perderam a juventude por causa de seus desregramentos, pelo gosto bizarro de ingerir e se deliciar com a carne humana. Suas peles enrugadas e cabelos muito ralos as tornam encarnação do vício, aliadas e privilegiadas de Satã. Com características demoníacas, as velhas retratadas do Theodor de Bry também estão em um desenho que ilustra o livro de John Nieuhof. A cena se passa em uma floresta, onde um nativo atira uma fecha contra uma ave. No pano de fundo, porém, duas mulheres comem braços humanos e estão próximas a vários vestígios do canibalismo: crânio descarnado, ossos humanos, restos de animais e outros objetos de difícil identificação. Por certo a gravura em questão se inspirou na obra de Hans Baldung Grien, o famoso pintor quinhentista das bruxas.
Nos manuscritos não raro encontram-se distintivos sociais como “dom”, “nobreza da terra” e “principais famílias da capitania”. Eram verdadeiros “títulos brasílicos de nobreza”, embora não passassem de reverências locais, honrarias não respaldadas pela coroa. Os poderosos nem sempre apresentavam as condições necessárias para receber do monarca o foro de fidalgo, título de cavaleiro e de comendador das Ordens Militares, mecanismos legais de ascensão à baixa e média nobreza. Mesmo pejando em nome do rei, parte da elite colonial possuía sangue mestiço ou cristão-novo (de origem judaica) e estava impedida de receber as benesses régias.
Ao longo de todo livro, mas sobretudo na primeira parte, os mecanismos de enobrecimentos do Brasil colonial são comparados aos da América Espanhola. Lá existiam muitos membros da alta nobreza, pois os ricos podiam comprar títulos de conde e marquês. Tal ascensão social era impossível para os vassalos portugueses. Embora não fosse possível a compra, em momentos de guerra e carência de braços armados, sobretudo no século XVII, a coroa lusitana concedeu uma dezena de títulos de cavaleiro a caciques indígenas. Prometeu outros tantos a negros e mulatos que raramente tornavam-se nobres devido à cor da pele e à origem cativa. O racismo impedia que valorosos guerreiros ingressassem na nobreza colonial. De todo modo, mesmo brancos e puro de sangue, os nobres da América jamais desfrutavam do mesmos privilégios, honras e estabilidade da nobreza europeia.
Ronald Raminelli, professor da UFF, pesquisador da Faperj e CNPq (Bolsista de produtividade IB). Autor de Imagens da Colonização (1996), Viagens Ultramarinas (2008) e A era das conquistas (2013). Publicou dezenas de artigos em periódicos e livros no Brasil, Portugal, Espanha, França, México, Colômbia e Argentina. É membro da Companhia das Índias e Red Columnaria desde 2010.
“É com enorme satisfação, portanto, que apresento o novo livro de Ronald Raminelli, talvez o seu melhor livro, ouso dizer, resultado de longas pesquisas no país e no exterior. Obra de historiador consolidado. Contribuição inestimável à historiografia, sobretudo em assunto crucial do tempo presente: a questão das mestiçagens, raciais e culturais”. Trecho do prefácio de Ronaldo Vainfas.
Na segunda metade do setecentos, um número crescente de jovens deixou a Universidade de Coimbra para exercer cargos no ultramar. Oriundos, em grande parte, das Minas Gerais e da Bahia, os bacharéis luso-brasileiros realizavam viagens ultramarinas como agentes da monarquia portuguesa. Do reino partiram para Angola, Moçambique, Goa, Cabo Verde, Pará, Bahia e Rio de Janeiro. Atuavam como cientistas (naturalistas) e inventariavam as potencialidades econômicas do império colonial. Em troca, contavam com as honras e os privilégios, concedidos como remuneração dos serviços prestados ao monarca. Se inicialmente eram cientistas, depois de beneficiados com cargos, títulos e demais mercês régias, tornaram-se burocratas e abandonaram, paulatinamente, suas investigações.
Como naturalistas atuavam filósofos e magistrados. Os primeiros, em grande parte, caíram em desgraça, perseguidos como sediciosos ou vítimas do ostracismo. Em 1808, quando Lisboa deixou de atuar como centro do império colonial, os magistrados-naturalistas desempenharam cargos de confiança junto ao Príncipe Regente no Rio de Janeiro. Escreveram sobre economia e defenderam, até o último momento, a união entre Portugal e Brasil.
Recorrendo aos naturalistas, o livro, em suma, investiga a integração entre centro e periferias, metrópole e colônias, Portugal e suas conquistas, com ênfase no Brasil. Contribui para o debate em torno da ciência em Portugal e seus empregos no ultramar. Destaca-se ainda a gênese de um pensamento luso-brasileiro, dedicado à economia política e à antropologia.
Ronald Raminelli
Professor associado do departamento de História da Universidade Federal Fluminense. Doutor em História pela Universidade de São Paulo com estágio de pós-doutorado na EHESS-Paris. A pesquisa que originou o livro foi financiada pelo CNPq, Faperj, Capes, CNCDP/Portugal e DAAD/Alemanha.
A era das conquistas trata da formação do maior império colonial na América, o espanhol. Entre os ameríndios, uns resistiram e outros participaram das invasões, mas aos poucos foram submetidos. Embora lutassem pelo rei, os espanhóis ficaram descontentes com seus ganhos e se rebelaram contra a Coroa. Suas vitórias não foram duradouras, logo se enquadraram ou foram aniquilados pelas tropas do rei. Quem se sagraria vitorioso desta epopeia? Este livro reúne argumentos e fatos capazes de modificar a visão simplista e parcial sobre a conquista da América.
Na orelha do seu livro, o senhor fala de “visão simplista e parcial sobre a conquista da América”. A que o senhor se refere e a que atribui esse simplismo analítico?
Considero uma análise simplista aquela que pretende explicar o passado a partir de uma única perspectiva. Por muito tempo, a conquista da América resumia-se aos ataques militares contra os índios indefesos e à hecatombe provocada pelas epidemias. Pretendia-se não somente culpar os espanhóis pelo massacre indígena, mas também demonstrar que os índios eram “raça inferior”, incapazes de reação. Em seguida, influenciados pelos marxistas, os historiadores pretenderam comprovar que os índios resistiram aos espanhóis e, aos poucos, deixaram de ser vítimas e receberam contornos de heróis. De fato, fossem vítimas ou heróis da resistência, os índios tiveram participação na conquista, lutaram contra as milícias espanholas, mas também colaboraram com os invasores para massacrar as populações locais. Sem os índios, os espanhóis teriam muitas dificuldades para conquistar a América. Em pesquisas recentes, descobriu-se que os espanhóis empregaram soldados negros em embates, sobretudo no assalto a Tenochtitlan (posteriormente Cidade do México). Enfim, hoje os historiadores entendem que as rivalidades entre as comunidades americanas favoreceram os espanhóis. Eles incentivaram os indígenas a aniquilar seus rivais, mas, em outras ocasiões, os espanhóis foram usados pelos índios para submeter seus oponentes. Aliás, dependendo do espaço, ao invés de conquista seria melhor empregar conquistas, pois algumas populações resistiram ou ficaram esquecidas por séculos. Assim, não se pode conceber a conquista como o duelo entre o bem e o mal, entre índios e espanhóis, tampouco que os combates fiquem restritos às primeiras décadas do século XVI, mas concluir que foi processo de longa duração e que os conquistadores não eram somente os espanhóis. Em vários episódios, os índios e os negros também se sagraram vitoriosos.
Como o senhor avalia os estudos mais recentes sobre os impérios numa perspectiva comparada?
A perspectiva comparada é um método muito eficaz contra os historiadores nacionalistas e regionalistas que pretendem sacralizar personagens e singularizar eventos da sua história. Com alguma defasagem temporal, existem elementos que se repetem na história da América Latina. Neste grande território, as estruturais sociais, as formas de dominação e os vínculos com a metrópole guardam muitas semelhanças. Assim, conhecer o que se passou no Peru ou no México pode lançar luzes sobre o passado colonial do Brasil. Essas regiões estavam conectadas, pois dividiam a mesma cultura política e religiosa. Por isso defendo que o diálogo com os historiadores da América hispânica é fundamental para aperfeiçoar a nossa própria pesquisa histórica e nossas conclusões sobre o passado colonial.
Qual o impacto da colonização espanhola na América?
Seria muito maniqueísta afirmar que os espanhóis criaram um potente sistema de exploração do povos indígenas. De fato eles recorreram às tradições locais, às formas de dominação que já existiam antes da conquista. Não inventaram a mita, os espanhóis aperfeiçoaram e perpetuaram os mecanismos incas que obrigaram os índios a trabalhar. Nas ilhas do Caribe, onde as populações foram dizimadas pelas epidemias e pelo excesso de trabalho, os espanhóis e os crioulos (mestiços ou brancos nascidos na América) introduziram o trabalho escravo africano. O mesmo procedimento ocorreu em regiões tropicais, onde não havia braços para cultivar a cana-de-açúcar e o tabaco. Os africanos alteraram bastante o perfil populacional da América. O vazio populacional e a expansão agrícola para exportação incentivaram a difusão da abominável escravidão. Ao meu ver, o grande impacto da colonização da América foi a introdução do escravismo, as demais formas de exploração do trabalho existiam antes da invasão espanhola.
Elites & Nobilities in America by Ronald Raminelli
Em perspectiva historiográfica e comparativa, o artigo analisa as reformas borbônicas e pombalinas. Essas intervenções se originaram das disputas entre as monarquias europeias e alteraram o pacto entre os reis e seus súbitos ultramarinos. Provocaram ainda revoltas comandadas por diversos setores da sociedade, mas essas reações diferiram bastante nas Américas. Reformas e revoltas elevaram as pressões econômicas e políticas no ultramar e tornaram mais nítidos os conflitos sociais. Antes pouco empregado, o termo “colônia” tornou-se mais usual e fundamental para entender os vínculos entre as monarquias e as possessões ultramarinas. Além de produzir em larga escala matérias-primas, as colônias destacaram-se pela mestiçagem e conflitos raciais.
colonies resulted in independence, while in Brazil the revolutionary situation promoted a new plan for the reconstruction of Portuguese sovereignty over the colony.
URL : http://journals.openedition.org/nuevomundo/82701
Raminelli divides Nobrezas into two parts, with the first part mapping out the structures of nobility in South America and the second part analyzing black and Indian nobility. He delineates four major...
tariedade e raça nos tratados de nobreza. O cotejo pretende destacar
suas variações semânticas entre os séculos XVI e XVII em Portugal.
Em seguida analisa a trajetória administrativa e o testamento de André
Vidal de Negreiros que não reconheceu os filhos bastardos. À revelia do
pai, o mulato Matias Vidal de Negreiros tornou-se, com a graça do rei,
nobre e administrador da fortuna paterna. Assim, a trajetória de Matias
demonstra como os serviços prestados à monarquia e a nobreza paterna
permitiram que seu filho bastardo e mulato se tornasse nobre. Embora
rico e fidalgo, devido à cor e à bastardia, ele enfrentou forte oposição
dos governadores e não se integrou efetivamente à “nobreza da terra”
de Pernambuco e Paraíba. Para fazer valer seus privilégios no ultramar,
Matias recorreu em vão às autoridades de Lisboa.
As crônicas e as descrições de viagens fizeram tábula rasa da tradição ameríndia, anularam as suas especificidades. Todos eram índios e isso bastava para os religiosos, artistas e viajantes europeus. Aliás, a tradição europeia buscou no passado remoto argumentos para consolidar a dominação e a desigualdade entre os cristãos e ameríndios. Sua superioridade respaldava a conquista, a colonização e a catequese. Em contrapartida, os nativos eram seres degenerados: desconheciam a palavra revelada do senhor, o valor do ouro, da prata e do trabalho. Viviam na indolência e precisavam dos controles impostos pelos homens brancos. Empregado como ideologia da conquista, o barbarismo aristotélicos legitimava a guerra justa, a escravidão, porque os nativos eram incapazes de entender os ensinamentos divinos e de receber a conversão. Portanto, eram criaturas de Deus, forjados para servir aos cristãos, usando a sua força bruta em favor dos empreendimentos coloniais.
Para além de identificar um substrato cultural comum, o livro traça um contraponto entre as imagens produzidas pelos jesuítas e pelos demais colonizadores. Os inacianos estavam imbuídos de livrar os índios da escravidão, pois o cativeiro os afastava da conversão e da vida cristã. A defesa da Companhia de Jesus impunha abandono da antigas tradições locais, da nudez, poligamia e canibalismo.
De todo modo, o esforço dos padres não inviabilizou o emprego dos nativos como força motriz dos primeiros estabelecimentos coloniais, nas lavouras, na expansão das áreas coloniais, nas guerras contra as tribos que enfrentavam os portugueses. Embora fossem livres, nas propriedades jesuíticas, os braços não raro eram indígenas. Por vezes, os religiosos pouco diferiam dos seculares quando representavam os nativos como bárbaros, embora os jesuítas considerassem que a conversão era mecanismo seguro para os livrar do barbarismo.
Em suma, afirmo que os colonizadores buscavam respaldo para impedir a inserção dos índios na cristandade, pois eram seres brutos e incapazes de se tornar católicos. Para tanto reforçavam a necessidade escravizá-los, enquanto os sacerdotes procuravam representá-los como gentios, cristãos em potencial, pois, do contrário, a catequese estava ameaçada.
Escravistas ou não, os projetos coloniais pretendiam inserir os povos indígenas no mundo mercantilista. Os braços nativos contribuíram com a expansão das áreas coloniais e comércio entre o Brasil e a metrópole. Os índios viabilizavam então a força motriz capaz de implementar fortificações, vilas, igrejas, engenhos e plantações. A conquista não se reduziu ao âmbito econômico, pois os moradores e os viajantes conduziram os habitantes do Novo Mundo para dentro da cultura da Europa ocidental. Os ameríndios perderem paulatinamente a autonomia própria das comunidades distantes do velho continente e ganharam feições e atributos há muito presentes no imaginário cristão. Os índios foram denominados de gentio, bárbaros, selvagens e antropófagos. A partir dessas nomeações, os colonizadores pretendiam ressaltar o primitivismo dos nativos e sua incapacidade de gerir a própria vida. O abandono dos “costumes abomináveis” justificava a intervenção na América, consolidava a conquista e a colonização europeias.
A maior contribuição do livro estava, porém, no capítulo terceiro: “Mulheres canibais”. Aí realizei comparação entre texto e imagem que me permitiu delimitar um tema de pesquisa original. Oriundas dos relatos de viagens, as descrições sobre os costumes indígenas apontavam para a intensa participação dos homens nas guerras e nas cerimônias de canibalismo. Diferentemente do texto, nas imagens, as mulheres se tornaram protagonistas. A literatura quinhentista e mesmo os estudos da antropologia estruturalista defendiam a participação feminina nos rituais com funções específicas.
No entanto, nas representações visuais, a ênfase nas mulheres canibais e a escassa participação dos guerreiros estava vinculada à misoginia, não raro presente nos escritos e gravuras quinhentistas protestantes. Aliás, percebi que a misoginia aumentou a participação feminina nos rituais macabros representados nas gravuras. A ênfase deve ser interpretada como parte da tradição luterana e da influência do Malleus maleficarum sobre o pensamento europeu do norte da Europa, origem de boa parte das gravuras dedicadas às mulheres canibais. Em diversas imagens constatei semelhanças entre as mulheres canibais e as feiticeiras europeias. Elas possuíam comportamentos e formas físicas semelhantes às enviadas do demônio.
Como mencionei, os predomínio das mulheres nos rituais de canibalismo não possui, porém, sustentação empírica, exceto nas gravuras de Theodor de Bry. Os relatos quinhentistas e seiscentistas restringiam bastante sua participação nos banquetes canibalescos. Os estudiosos dos tupis defendem a participação de jovens e mulheres na ingestão de carne humana, sobretudo as entranhas cozidas em forma de mingau. Em contrapartida, os guerreiros costumavam ingerir os músculos assados no moquém. Em suma, a participação feminina era restrita enquanto os homens protagonizavam os relatos dedicados ao canibalismo tupi.
Vale ainda mencionar a participação das velhas índias nos rituais representados em gravuras. Aí, elas comem carne humana e sugam a gordura. Segundo os relatos, Deus as castigou, pois perderam a juventude por causa de seus desregramentos, pelo gosto bizarro de ingerir e se deliciar com a carne humana. Suas peles enrugadas e cabelos muito ralos as tornam encarnação do vício, aliadas e privilegiadas de Satã. Com características demoníacas, as velhas retratadas do Theodor de Bry também estão em um desenho que ilustra o livro de John Nieuhof. A cena se passa em uma floresta, onde um nativo atira uma fecha contra uma ave. No pano de fundo, porém, duas mulheres comem braços humanos e estão próximas a vários vestígios do canibalismo: crânio descarnado, ossos humanos, restos de animais e outros objetos de difícil identificação. Por certo a gravura em questão se inspirou na obra de Hans Baldung Grien, o famoso pintor quinhentista das bruxas.
Nos manuscritos não raro encontram-se distintivos sociais como “dom”, “nobreza da terra” e “principais famílias da capitania”. Eram verdadeiros “títulos brasílicos de nobreza”, embora não passassem de reverências locais, honrarias não respaldadas pela coroa. Os poderosos nem sempre apresentavam as condições necessárias para receber do monarca o foro de fidalgo, título de cavaleiro e de comendador das Ordens Militares, mecanismos legais de ascensão à baixa e média nobreza. Mesmo pejando em nome do rei, parte da elite colonial possuía sangue mestiço ou cristão-novo (de origem judaica) e estava impedida de receber as benesses régias.
Ao longo de todo livro, mas sobretudo na primeira parte, os mecanismos de enobrecimentos do Brasil colonial são comparados aos da América Espanhola. Lá existiam muitos membros da alta nobreza, pois os ricos podiam comprar títulos de conde e marquês. Tal ascensão social era impossível para os vassalos portugueses. Embora não fosse possível a compra, em momentos de guerra e carência de braços armados, sobretudo no século XVII, a coroa lusitana concedeu uma dezena de títulos de cavaleiro a caciques indígenas. Prometeu outros tantos a negros e mulatos que raramente tornavam-se nobres devido à cor da pele e à origem cativa. O racismo impedia que valorosos guerreiros ingressassem na nobreza colonial. De todo modo, mesmo brancos e puro de sangue, os nobres da América jamais desfrutavam do mesmos privilégios, honras e estabilidade da nobreza europeia.
Ronald Raminelli, professor da UFF, pesquisador da Faperj e CNPq (Bolsista de produtividade IB). Autor de Imagens da Colonização (1996), Viagens Ultramarinas (2008) e A era das conquistas (2013). Publicou dezenas de artigos em periódicos e livros no Brasil, Portugal, Espanha, França, México, Colômbia e Argentina. É membro da Companhia das Índias e Red Columnaria desde 2010.
“É com enorme satisfação, portanto, que apresento o novo livro de Ronald Raminelli, talvez o seu melhor livro, ouso dizer, resultado de longas pesquisas no país e no exterior. Obra de historiador consolidado. Contribuição inestimável à historiografia, sobretudo em assunto crucial do tempo presente: a questão das mestiçagens, raciais e culturais”. Trecho do prefácio de Ronaldo Vainfas.
Na segunda metade do setecentos, um número crescente de jovens deixou a Universidade de Coimbra para exercer cargos no ultramar. Oriundos, em grande parte, das Minas Gerais e da Bahia, os bacharéis luso-brasileiros realizavam viagens ultramarinas como agentes da monarquia portuguesa. Do reino partiram para Angola, Moçambique, Goa, Cabo Verde, Pará, Bahia e Rio de Janeiro. Atuavam como cientistas (naturalistas) e inventariavam as potencialidades econômicas do império colonial. Em troca, contavam com as honras e os privilégios, concedidos como remuneração dos serviços prestados ao monarca. Se inicialmente eram cientistas, depois de beneficiados com cargos, títulos e demais mercês régias, tornaram-se burocratas e abandonaram, paulatinamente, suas investigações.
Como naturalistas atuavam filósofos e magistrados. Os primeiros, em grande parte, caíram em desgraça, perseguidos como sediciosos ou vítimas do ostracismo. Em 1808, quando Lisboa deixou de atuar como centro do império colonial, os magistrados-naturalistas desempenharam cargos de confiança junto ao Príncipe Regente no Rio de Janeiro. Escreveram sobre economia e defenderam, até o último momento, a união entre Portugal e Brasil.
Recorrendo aos naturalistas, o livro, em suma, investiga a integração entre centro e periferias, metrópole e colônias, Portugal e suas conquistas, com ênfase no Brasil. Contribui para o debate em torno da ciência em Portugal e seus empregos no ultramar. Destaca-se ainda a gênese de um pensamento luso-brasileiro, dedicado à economia política e à antropologia.
Ronald Raminelli
Professor associado do departamento de História da Universidade Federal Fluminense. Doutor em História pela Universidade de São Paulo com estágio de pós-doutorado na EHESS-Paris. A pesquisa que originou o livro foi financiada pelo CNPq, Faperj, Capes, CNCDP/Portugal e DAAD/Alemanha.
A era das conquistas trata da formação do maior império colonial na América, o espanhol. Entre os ameríndios, uns resistiram e outros participaram das invasões, mas aos poucos foram submetidos. Embora lutassem pelo rei, os espanhóis ficaram descontentes com seus ganhos e se rebelaram contra a Coroa. Suas vitórias não foram duradouras, logo se enquadraram ou foram aniquilados pelas tropas do rei. Quem se sagraria vitorioso desta epopeia? Este livro reúne argumentos e fatos capazes de modificar a visão simplista e parcial sobre a conquista da América.
Na orelha do seu livro, o senhor fala de “visão simplista e parcial sobre a conquista da América”. A que o senhor se refere e a que atribui esse simplismo analítico?
Considero uma análise simplista aquela que pretende explicar o passado a partir de uma única perspectiva. Por muito tempo, a conquista da América resumia-se aos ataques militares contra os índios indefesos e à hecatombe provocada pelas epidemias. Pretendia-se não somente culpar os espanhóis pelo massacre indígena, mas também demonstrar que os índios eram “raça inferior”, incapazes de reação. Em seguida, influenciados pelos marxistas, os historiadores pretenderam comprovar que os índios resistiram aos espanhóis e, aos poucos, deixaram de ser vítimas e receberam contornos de heróis. De fato, fossem vítimas ou heróis da resistência, os índios tiveram participação na conquista, lutaram contra as milícias espanholas, mas também colaboraram com os invasores para massacrar as populações locais. Sem os índios, os espanhóis teriam muitas dificuldades para conquistar a América. Em pesquisas recentes, descobriu-se que os espanhóis empregaram soldados negros em embates, sobretudo no assalto a Tenochtitlan (posteriormente Cidade do México). Enfim, hoje os historiadores entendem que as rivalidades entre as comunidades americanas favoreceram os espanhóis. Eles incentivaram os indígenas a aniquilar seus rivais, mas, em outras ocasiões, os espanhóis foram usados pelos índios para submeter seus oponentes. Aliás, dependendo do espaço, ao invés de conquista seria melhor empregar conquistas, pois algumas populações resistiram ou ficaram esquecidas por séculos. Assim, não se pode conceber a conquista como o duelo entre o bem e o mal, entre índios e espanhóis, tampouco que os combates fiquem restritos às primeiras décadas do século XVI, mas concluir que foi processo de longa duração e que os conquistadores não eram somente os espanhóis. Em vários episódios, os índios e os negros também se sagraram vitoriosos.
Como o senhor avalia os estudos mais recentes sobre os impérios numa perspectiva comparada?
A perspectiva comparada é um método muito eficaz contra os historiadores nacionalistas e regionalistas que pretendem sacralizar personagens e singularizar eventos da sua história. Com alguma defasagem temporal, existem elementos que se repetem na história da América Latina. Neste grande território, as estruturais sociais, as formas de dominação e os vínculos com a metrópole guardam muitas semelhanças. Assim, conhecer o que se passou no Peru ou no México pode lançar luzes sobre o passado colonial do Brasil. Essas regiões estavam conectadas, pois dividiam a mesma cultura política e religiosa. Por isso defendo que o diálogo com os historiadores da América hispânica é fundamental para aperfeiçoar a nossa própria pesquisa histórica e nossas conclusões sobre o passado colonial.
Qual o impacto da colonização espanhola na América?
Seria muito maniqueísta afirmar que os espanhóis criaram um potente sistema de exploração do povos indígenas. De fato eles recorreram às tradições locais, às formas de dominação que já existiam antes da conquista. Não inventaram a mita, os espanhóis aperfeiçoaram e perpetuaram os mecanismos incas que obrigaram os índios a trabalhar. Nas ilhas do Caribe, onde as populações foram dizimadas pelas epidemias e pelo excesso de trabalho, os espanhóis e os crioulos (mestiços ou brancos nascidos na América) introduziram o trabalho escravo africano. O mesmo procedimento ocorreu em regiões tropicais, onde não havia braços para cultivar a cana-de-açúcar e o tabaco. Os africanos alteraram bastante o perfil populacional da América. O vazio populacional e a expansão agrícola para exportação incentivaram a difusão da abominável escravidão. Ao meu ver, o grande impacto da colonização da América foi a introdução do escravismo, as demais formas de exploração do trabalho existiam antes da invasão espanhola.
Em perspectiva historiográfica e comparativa, o artigo analisa as reformas borbônicas e pombalinas. Essas intervenções se originaram das disputas entre as monarquias europeias e alteraram o pacto entre os reis e seus súbitos ultramarinos. Provocaram ainda revoltas comandadas por diversos setores da sociedade, mas essas reações diferiram bastante nas Américas. Reformas e revoltas elevaram as pressões econômicas e políticas no ultramar e tornaram mais nítidos os conflitos sociais. Antes pouco empregado, o termo “colônia” tornou-se mais usual e fundamental para entender os vínculos entre as monarquias e as possessões ultramarinas. Além de produzir em larga escala matérias-primas, as colônias destacaram-se pela mestiçagem e conflitos raciais.
colonies resulted in independence, while in Brazil the revolutionary situation promoted a new plan for the reconstruction of Portuguese sovereignty over the colony.
URL : http://journals.openedition.org/nuevomundo/82701
Raminelli divides Nobrezas into two parts, with the first part mapping out the structures of nobility in South America and the second part analyzing black and Indian nobility. He delineates four major...
tariedade e raça nos tratados de nobreza. O cotejo pretende destacar
suas variações semânticas entre os séculos XVI e XVII em Portugal.
Em seguida analisa a trajetória administrativa e o testamento de André
Vidal de Negreiros que não reconheceu os filhos bastardos. À revelia do
pai, o mulato Matias Vidal de Negreiros tornou-se, com a graça do rei,
nobre e administrador da fortuna paterna. Assim, a trajetória de Matias
demonstra como os serviços prestados à monarquia e a nobreza paterna
permitiram que seu filho bastardo e mulato se tornasse nobre. Embora
rico e fidalgo, devido à cor e à bastardia, ele enfrentou forte oposição
dos governadores e não se integrou efetivamente à “nobreza da terra”
de Pernambuco e Paraíba. Para fazer valer seus privilégios no ultramar,
Matias recorreu em vão às autoridades de Lisboa.
Key words
Monarchy – local power – municipalities – colony-‐‑metropolis
Keywords : blacks, hierarchy, 18th century, Brazil, slavery, social conflicts Licence portant sur le document : © Tous droits réservés
Keywords
Nobility - wealth - Iberian societies - traders.
Esta análise comparada da penetração portuguesa no Congo, Brasil e Japão tornou possível especular sobre as estratégias de conversão dos missionários. Onde havia sociedade fortemente hirarquizada, os missionários recorreram às chefias, cristianizando-as antes de atuar nos setores subalternos. Aí as estruturas sociais auxiliavam na propagação da fé. Entre os tupinambás, com chefias instáveis, o alvo do proselitismo cristão era a comunidade, a base da pirâmide social.
The article analyses the pictures of Indians (
tapuias
) produced by the Philosophical Journey (1783-1792) of the naturalist
Alexandre Rodrigues Ferreira, based on 18
th
century theories that promoted taxonomies and hierarchized the humankind
according to technical progress. The paper develops initially a historiographical evaluation on studies devoted to Linnaeus,
Buffon and Robertson. Then, it analyses how these theorists were fundamental to the composition of the pictures. Habits,
the environment and contacts with Portuguese and Spanish people were used to explain, according to Ferreira, the existence
of several different nations. Amazonian peoples constituted a single race, but were in different stages of human evolution.
Keywords:
Colonial Amazon. Travellers. Taxonomy. Race. Pro
Albert Eckhout's Tupi and Tapuia couples synthesize a considerable amount of ethnographic information, which is not always coherent nor always shared by related Dutch texts. At hand of the artist, the bodies, deformations, dress, weapons and acessories become polysemic. The more distant from the painter's cultural universe, the richer in meaming. The cannibal habitus underlines how diverse are the cultures, and stimulates curiosity for listing diferences.
came from settlers and Portuguese-born subjects living in Brazil. The Portuguese-Brazilian
perspective was linked to both training at the University of Coimbra and to lived experience
in Portuguese America. To think of empire was to examine the centrality of Lisbon and Brazil
and to evaluate the links between the kingdom, the Brazilian lands and other possessions in
Africa. Gradually, for those who were depicted in illustrations, Brazil became a center for
Portuguese domains in Angola and Mozambique. In fact, long before the arrival of the
Portuguese court, America had already gained centrality in the visual and written production
of His Majesty’s subjects.
Keywords:
Portuguese Enlightenment, colonization, Overseas Empire.
A definição de viagem no período colonial é tema pouco debatido na historiografia. Esse artigo pretende explorar o assunto partindo do princípio de que as viagens promoviam inventários: inventários do espaço, dos costumes e da natureza. Essa tipologia permite explorar as jornadas tanto como parte do processo de conquista e colonização, quanto como fruto da consolidação dos paradigmas científicos.
Palavras-chave: viagens, inventários, colonização.
ABSTRACT
In history, the definition of journey is not enough explored. This article intends to debate the theme based on the fact that the journeys promoted inventories: the inventory of space, customs and nature. The typology explores the journeys as an element of conquest and colonization that varied, according to the scientific advances.
Key-words:journey, inventory, colonization.
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