Papers by José César Lira
RESUMO: Este ensaio busca fazer uma breve análise dos desdobramentos da Revolução Iraniana de 197... more RESUMO: Este ensaio busca fazer uma breve análise dos desdobramentos da Revolução Iraniana de 1979 para as Relações Internacionais igualmente enquanto disciplina e objeto, especialmente no que concerne à política externa iraniana "pós"-revolucionária, seus fundamentos basilares, as razões e o modo como impacta os sistemas regional e internacional, no sentido de demonstrar o caráter eminentemente subversivo deste evento para a realidade regional, bem como para as teorias e análises das Relações Internacionais.
Thesis Chapters by José César Lira

SANTOS FILHO, J. C. L., 2018
RESUMO
Esta pesquisa busca analisar como o estado de exceção se manifesta em Guantánamo, base nav... more RESUMO
Esta pesquisa busca analisar como o estado de exceção se manifesta em Guantánamo, base naval estadunidense que, desde 2002, tornou-se um campo de detenção aos alegados terroristas capturados na Guerra ao Terror. Ela busca entender se, e até que ponto, o detento de Guantánamo pode ser considerado homo sacer, e sua vida nua, segundo a teoria de Giorgio Agamben sobre o estado de exceção. Inicialmente, se busca compreender o que é o estado de exceção, qual a sua relação com a soberania, e o que liga vida, violência e lei no contexto do poder estatal, soberano. A pesquisa, então, busca traçar a específica rota, os dispositivos políticos, jurídicos, raciais, que foram instrumentalizados e permeiam a construção de Guantánamo como território estadunidense (em “solo cubano”) e que, também, estão diretamente ligados à construção desse espaço como espaço de exceção, que se concretiza nos anos 1990 e onde mais de cinquenta mil corpos negros foram detidos. O que se quer descobrir é como o legado dessa década influencia no “buraco negro legal”, como é comumente descrito, que permanece em vigor, na base, desde 2001. Então, a pesquisa se volta ao modo como a biopolítica incide sobre os detentos, sua relação com o Direito (estadunidense e internacional), e a relação deste para com os agentes e guardas que praticaram tortura. A hipótese que se defenderá é a de que, ao estudo de Guantánamo como espaço de exceção segundo a leitura agambeniana, é preciso adicionar os eixos colonial e racial, elementos estruturantes desse espaço e sem os quais não é possível pensar a performance da exceção na base. O que se conclui é que os detentos da Guerra ao Terror são um exemplo ideal de vida nua e de homo sacer, estando totalmente desligados das proteções jurídicas, e possivelmente mais próximos ao núcleo do biopoder do que quaisquer outros corpos sob jurisdição estatal desde os campos de extermínio nazistas. Além disso, que a criação de espaços de exceção, onde o ordenamento normal é suspenso, sempre carrega um potencial transbordante, imprevisível, cuja tendência é subverter a própria ordem. Finalmente, que o legado de exceção do qual Guantánamo faz parte permanece a assombrar a política contemporânea e a dar o tom de tratamento aos imigrantes, refugiados e aos corpos racializados que habitam as periferias.
ABSTRACT
This research seeks to analyse how the state of exception manifests in Guantánamo Naval Base, USA territory that, since 2002, has become a detention camp to alleged terrorists captured in the War on Terror. It will draw on how and to what extent the detainee at Guantánamo can be considered homo sacer, and their life “bare”, according to Giorgio Agamben’s theory on the state of exception. Initially, I put forward the issue of what is the state of exception, what is its relation to sovereignty, and what links life, violence and law in the context of sovereign, state power. I then attempt to trace the specific route, the political, juridical and racial machinery that has been instrumentalized towards the construction of Guantánamo as an US territory (in “Cuban soil”), and which are, likewise, directly linked to the construction of that space as a space of exception, which became fully active in the 1990s, where over fifty thousand black people have been detained. What I aim is to unveil how the legacy of that decade shapes the “legal black hole”, as it is understood in the prominent literature, which remains uninterruptedly active at the base since 2001. Following, I turn to how biopolitics performs over the detainees, their relation to (U.S. and International) Law, and its relation to agents and guards who have practiced torture in the detainees. The premise or thesis underlying this research is that, to the study of Guantánamo as a space of exception in Agamben’s theoretic scheme, one must add the colonial and racial axes, for they are the essential structuring elements without which it’s impossible to think of how exception has performed on that space. What I conclude is that the detainees from the War on Terror are the ideal example of Agamben’s bare life and homo sacer, being completely naked of juridical protections, and are possibly the closest to the nucleus of biopower than any other bodies under state jurisdiction since the nazi extermination camps; that the creation of spaces of exception, where normal order is suspended, carry a potential to overflow, which tends to subvert the order itself and which consequences are unforeseeable; finally, that the legacy of the exception from which Guantánamo is exemplary of still haunts contemporary politics and sets the tone to how immigrants, refugees and racialized bodies inhabiting city outskirts, are treated.
Uploads
Papers by José César Lira
Thesis Chapters by José César Lira
Esta pesquisa busca analisar como o estado de exceção se manifesta em Guantánamo, base naval estadunidense que, desde 2002, tornou-se um campo de detenção aos alegados terroristas capturados na Guerra ao Terror. Ela busca entender se, e até que ponto, o detento de Guantánamo pode ser considerado homo sacer, e sua vida nua, segundo a teoria de Giorgio Agamben sobre o estado de exceção. Inicialmente, se busca compreender o que é o estado de exceção, qual a sua relação com a soberania, e o que liga vida, violência e lei no contexto do poder estatal, soberano. A pesquisa, então, busca traçar a específica rota, os dispositivos políticos, jurídicos, raciais, que foram instrumentalizados e permeiam a construção de Guantánamo como território estadunidense (em “solo cubano”) e que, também, estão diretamente ligados à construção desse espaço como espaço de exceção, que se concretiza nos anos 1990 e onde mais de cinquenta mil corpos negros foram detidos. O que se quer descobrir é como o legado dessa década influencia no “buraco negro legal”, como é comumente descrito, que permanece em vigor, na base, desde 2001. Então, a pesquisa se volta ao modo como a biopolítica incide sobre os detentos, sua relação com o Direito (estadunidense e internacional), e a relação deste para com os agentes e guardas que praticaram tortura. A hipótese que se defenderá é a de que, ao estudo de Guantánamo como espaço de exceção segundo a leitura agambeniana, é preciso adicionar os eixos colonial e racial, elementos estruturantes desse espaço e sem os quais não é possível pensar a performance da exceção na base. O que se conclui é que os detentos da Guerra ao Terror são um exemplo ideal de vida nua e de homo sacer, estando totalmente desligados das proteções jurídicas, e possivelmente mais próximos ao núcleo do biopoder do que quaisquer outros corpos sob jurisdição estatal desde os campos de extermínio nazistas. Além disso, que a criação de espaços de exceção, onde o ordenamento normal é suspenso, sempre carrega um potencial transbordante, imprevisível, cuja tendência é subverter a própria ordem. Finalmente, que o legado de exceção do qual Guantánamo faz parte permanece a assombrar a política contemporânea e a dar o tom de tratamento aos imigrantes, refugiados e aos corpos racializados que habitam as periferias.
ABSTRACT
This research seeks to analyse how the state of exception manifests in Guantánamo Naval Base, USA territory that, since 2002, has become a detention camp to alleged terrorists captured in the War on Terror. It will draw on how and to what extent the detainee at Guantánamo can be considered homo sacer, and their life “bare”, according to Giorgio Agamben’s theory on the state of exception. Initially, I put forward the issue of what is the state of exception, what is its relation to sovereignty, and what links life, violence and law in the context of sovereign, state power. I then attempt to trace the specific route, the political, juridical and racial machinery that has been instrumentalized towards the construction of Guantánamo as an US territory (in “Cuban soil”), and which are, likewise, directly linked to the construction of that space as a space of exception, which became fully active in the 1990s, where over fifty thousand black people have been detained. What I aim is to unveil how the legacy of that decade shapes the “legal black hole”, as it is understood in the prominent literature, which remains uninterruptedly active at the base since 2001. Following, I turn to how biopolitics performs over the detainees, their relation to (U.S. and International) Law, and its relation to agents and guards who have practiced torture in the detainees. The premise or thesis underlying this research is that, to the study of Guantánamo as a space of exception in Agamben’s theoretic scheme, one must add the colonial and racial axes, for they are the essential structuring elements without which it’s impossible to think of how exception has performed on that space. What I conclude is that the detainees from the War on Terror are the ideal example of Agamben’s bare life and homo sacer, being completely naked of juridical protections, and are possibly the closest to the nucleus of biopower than any other bodies under state jurisdiction since the nazi extermination camps; that the creation of spaces of exception, where normal order is suspended, carry a potential to overflow, which tends to subvert the order itself and which consequences are unforeseeable; finally, that the legacy of the exception from which Guantánamo is exemplary of still haunts contemporary politics and sets the tone to how immigrants, refugees and racialized bodies inhabiting city outskirts, are treated.
Esta pesquisa busca analisar como o estado de exceção se manifesta em Guantánamo, base naval estadunidense que, desde 2002, tornou-se um campo de detenção aos alegados terroristas capturados na Guerra ao Terror. Ela busca entender se, e até que ponto, o detento de Guantánamo pode ser considerado homo sacer, e sua vida nua, segundo a teoria de Giorgio Agamben sobre o estado de exceção. Inicialmente, se busca compreender o que é o estado de exceção, qual a sua relação com a soberania, e o que liga vida, violência e lei no contexto do poder estatal, soberano. A pesquisa, então, busca traçar a específica rota, os dispositivos políticos, jurídicos, raciais, que foram instrumentalizados e permeiam a construção de Guantánamo como território estadunidense (em “solo cubano”) e que, também, estão diretamente ligados à construção desse espaço como espaço de exceção, que se concretiza nos anos 1990 e onde mais de cinquenta mil corpos negros foram detidos. O que se quer descobrir é como o legado dessa década influencia no “buraco negro legal”, como é comumente descrito, que permanece em vigor, na base, desde 2001. Então, a pesquisa se volta ao modo como a biopolítica incide sobre os detentos, sua relação com o Direito (estadunidense e internacional), e a relação deste para com os agentes e guardas que praticaram tortura. A hipótese que se defenderá é a de que, ao estudo de Guantánamo como espaço de exceção segundo a leitura agambeniana, é preciso adicionar os eixos colonial e racial, elementos estruturantes desse espaço e sem os quais não é possível pensar a performance da exceção na base. O que se conclui é que os detentos da Guerra ao Terror são um exemplo ideal de vida nua e de homo sacer, estando totalmente desligados das proteções jurídicas, e possivelmente mais próximos ao núcleo do biopoder do que quaisquer outros corpos sob jurisdição estatal desde os campos de extermínio nazistas. Além disso, que a criação de espaços de exceção, onde o ordenamento normal é suspenso, sempre carrega um potencial transbordante, imprevisível, cuja tendência é subverter a própria ordem. Finalmente, que o legado de exceção do qual Guantánamo faz parte permanece a assombrar a política contemporânea e a dar o tom de tratamento aos imigrantes, refugiados e aos corpos racializados que habitam as periferias.
ABSTRACT
This research seeks to analyse how the state of exception manifests in Guantánamo Naval Base, USA territory that, since 2002, has become a detention camp to alleged terrorists captured in the War on Terror. It will draw on how and to what extent the detainee at Guantánamo can be considered homo sacer, and their life “bare”, according to Giorgio Agamben’s theory on the state of exception. Initially, I put forward the issue of what is the state of exception, what is its relation to sovereignty, and what links life, violence and law in the context of sovereign, state power. I then attempt to trace the specific route, the political, juridical and racial machinery that has been instrumentalized towards the construction of Guantánamo as an US territory (in “Cuban soil”), and which are, likewise, directly linked to the construction of that space as a space of exception, which became fully active in the 1990s, where over fifty thousand black people have been detained. What I aim is to unveil how the legacy of that decade shapes the “legal black hole”, as it is understood in the prominent literature, which remains uninterruptedly active at the base since 2001. Following, I turn to how biopolitics performs over the detainees, their relation to (U.S. and International) Law, and its relation to agents and guards who have practiced torture in the detainees. The premise or thesis underlying this research is that, to the study of Guantánamo as a space of exception in Agamben’s theoretic scheme, one must add the colonial and racial axes, for they are the essential structuring elements without which it’s impossible to think of how exception has performed on that space. What I conclude is that the detainees from the War on Terror are the ideal example of Agamben’s bare life and homo sacer, being completely naked of juridical protections, and are possibly the closest to the nucleus of biopower than any other bodies under state jurisdiction since the nazi extermination camps; that the creation of spaces of exception, where normal order is suspended, carry a potential to overflow, which tends to subvert the order itself and which consequences are unforeseeable; finally, that the legacy of the exception from which Guantánamo is exemplary of still haunts contemporary politics and sets the tone to how immigrants, refugees and racialized bodies inhabiting city outskirts, are treated.