Papers by Jesiel Oliveira

Pandemias e Utopias: agendas políticas e possibilidades emergentes, 2021
Atendendo à chamada temática desta XXI edição da Escola
Doutoral Fábrica de Ideias, “Pandemias e ... more Atendendo à chamada temática desta XXI edição da Escola
Doutoral Fábrica de Ideias, “Pandemias e Utopias”, pretendo traçar balizas
teóricas para articular os aparatos da violência racista ao que podemos
chamar de dimensões necropolíticas do contexto da epidemia de COVID-19. Meu foco se dirige a paralelismos estruturais entre os dispositivos
simbólicos que regulam relações sociais tanto à violência epidêmica quanto às brutalidades racistas perpetradas no Brasil. Acredito que outro nível de aprofundamento para esse problema pode ser alcançado quando nos apropriamos da noção de necropolítica de maneira menos instrumental, e assim restrita à descrição de tecnologias estatais da morte, buscando antes empreender uma perspectiva de leitura que visa discutir figuras e paradigmas duma certa “cultura racializada da morte”; um certo campo de formas e economias simbólicas derivadas de concepções e valores acerca do sentido da morte para identidades individuais e coletivas. O que está em causa é ampliar nossa percepção e compreensão da capilaridade com que o Necropoder se institui, formando sensibilidades e racionalizações pragmáticas acerca da onipresença espiralar da violência enquanto mediação social "régia", conforme o modelo crítico delineado por Frantz Fanon para o estudo das sociedades coloniais e suas configurações pós-independentistas.
Ana Rita SANTIAGO; Denize de Almeida RIBEIRO et al (orgs.). Tranças e redes: tessituras sobre África e Brasil., 2014
O artigo analisa exemplares da poesia negra brasileira buscando pôr em evidência concepções não-a... more O artigo analisa exemplares da poesia negra brasileira buscando pôr em evidência concepções não-assimilacionistas sobre a construção de uma cultura universal. Lidos de acordo com a perspectiva desconstrutora proposta pela estética negritudinista, os textos selecionados sugerem percursos alternativos para os intercâmbios e composições entre povos brancos e negros, ressignificando o patrimônio étnico africano como fonte dinamizadora para uma nova imaginação cultural. (p.116-132)

De um lado humanos, do outro, humanos Todos armados então são desumanos Falam que a briga não nos... more De um lado humanos, do outro, humanos Todos armados então são desumanos Falam que a briga não nos leva a nada O mar não tem cabelo, quem se afoga nada Não dá pra exigir de quem não come nada Aqui o seu diploma não vale de nada Nós não somos nada Nós não temos nada Branco camarada, largue a espada [MV BILL, "Uma declaração de guerra"] Aceitando-se como colonizador, o colonialista aceita igualmente, mesmo que tenha decidido ignorá-lo, o que este papel implica de condenável, aos olhos dos outros e aos seus. Esta decisão não lhe concede de forma alguma uma feliz e de-finitiva tranqüilidade de espírito. Pelo contrário, o esforço que fará para superar esta ambiguidade fornecer-nos-á uma das chaves da sua compreensão. [Albert MEMMI, Retrato do colonizado precedido do retrato do colonizador] Seja a nível pedagógico ou vivencial, a leitura brasileira das literaturas africanas em língua portuguesa gera um trabalho de reflexão e de tradução de valores culturais cujos resultados se mostram dos mais produtivos, quando se busca ampliar nossa compreen-são acerca do peso exercido pela experiência colonial na definição de estruturas nacio-nais como a miscigenação, bem como de traços culturais característicos como a plasti-cidade, a malandragem e o racismo dissimulado. Nos textos africanos, discursos e sujei-tos se inscrevem de acordo com regras de significação que podem deslocar ou reverter os efeitos normatizadores da razão e do texto ocidental e colonial. O estudo das narrati-vas da "África Portuguesa" mostra-se, assim, especialmente útil para releituras diferen-ciais dos imaginários sincréticos gerados pelas transculturações afro-luso-brasileiras, 1 Universidade Federal de Sergipe, professor-adjunto. 526 Anais do XXII Congresso Internacional da ABRAPLIP
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... Jesiel Ferreira de Oliveira Filho* ... Força que pode ser considerada análoga àquele excesso... more ... Jesiel Ferreira de Oliveira Filho* ... Força que pode ser considerada análoga àquele excesso de natureza sexual, ou à hybris (ARAÚJO, 1994, p. 59), que para o antropólogo Ricardo Benzaquem Araújo aciona o sincretismo senhorial descrito por Gilberto Freyre, ea partir do ...

RESUMO: Conforme é tematizado em A geração da utopia, a construção nacional angolana, desde as lu... more RESUMO: Conforme é tematizado em A geração da utopia, a construção nacional angolana, desde as lutas independentistas, foi fortemente afetada por divergências entre mulatos e negros, entre "civilizados" e "nativos", divergências que, ressignificando as hierarquias raciais do colo-nialismo, refletiam perspectivas distintas quanto ao peso dos referentes africanos na definição dos projetos identitários que visam emancipar a nação. No Brasil, tal como pode ser lido em Tenda dos milagres, essa emancipação é concebida como a confrontação das instituições euro-cêntricas através de um saber/poder popular capaz de mobilizar uma africanidade renegada, fragmentada ou marginalizada pela mestiçagem branqueadora. Cruzando dialogicamente os projetos identitários traçados pelos protagonistas dessas duas obras, este artigo pretende colocar em evidência alguns desafios persistentes para a luta anti-racista nas sociedades pós-coloniais lusófonas. Geralmente pensada como uma forma de superação dos binarismos cromático-raciais, a mestiçagem tende antes a produzir culturas, sentidos e sujeitos sobrecarrega-dos de duplicidades. A mestiçagem potencializa o questionamento dos critérios de re-produção e de homogeneização dos modelos identitários, embora também possa definir hierarquicamente as composições legítimas e as misturas aceitáveis. Quando erigida em valor nacional, conforme ocorre no Brasil, a mestiçagem sugere uma disposição natural para a conciliação dos diferendos e para a facilitação das alianças, disposição que, no entanto, pode também configurar-se através de formas de diluição e de recalque da di-versidade efetiva que entretece a nação, obliterando a pluralidade tanto das demandas quanto dos projetos político-culturais capazes de atendê-las. No agitado debate em torno da adoção de ações afirmativas no Brasil, destaca-damente das cotas universitárias raciais, a posição identitária dos sujeitos mestiços, de-signados oficialmente como "pardos", é alvo de abordagens divergentes, sendo este grupo ora agregado aos negros, considerando-se as semelhanças sócio-econômicas, ora deles demarcados, ao levar-se em conta a assimilação ostensiva, por indivíduos e estra

Dentre tais característicos é que se salienta, como forma ou estilo de organização social, o sist... more Dentre tais característicos é que se salienta, como forma ou estilo de organização social, o sistema patriarcal: o de dominação da família, da economia e da cultura pelo homem às vezes sádico no exercício do poder ou do mando, embora o poder ou o domínio ele o exerça menos como indivíduo ou como sexo representante do poderio familiar. (Gilberto Freyre, Sobrados e mucambos) Se a separação, o tempo e a distância do ponto de origem ou do centro da soberania complicam o simbolismo da reprodução étnica e nacional, as ansiedades em relacão às fronteiras e aos limites da semelhança têm levado as pessoas a buscar segurança e antídotos às suas ansiedades na santificacão da diferença corporificada. Os racismos que codificaram a biologia em termos culturais têm sido facilmente introduzidos com novas variantes que circunscrevem o corpo numa ordem disciplinar e codificam a particularidade cultural em práticas corporais. As diferenças de gênero se tornam extremamente importantes nesta operação anti-política, porque elas são o signo mais proeminente da irresistível hierarquia natural que deve ser restabelecida no centro da vida diária. As forças nada sagradas da bio-política nacionalista interferem nos corpos das mulheres, encarregados da reprodução da diferença étnica absoluta e da continuação das linhagens de sangue específicas. A integridade da raça ou da nação portanto emerge como a integridade da masculinidade. Na verdade, ela só pode ser uma nação coesa se a versão correta da hierarquia de gênero for instituída e

De um lado humanos, do outro, humanos Todos armados então são desumanos Falam que a briga não nos... more De um lado humanos, do outro, humanos Todos armados então são desumanos Falam que a briga não nos leva a nada O mar não tem cabelo, quem se afoga nada Não dá pra exigir de quem não come nada Aqui o seu diploma não vale de nada Nós não somos nada Nós não temos nada Branco camarada, largue a espada [MV BILL, "Uma declaração de guerra"] Aceitando-se como colonizador, o colonialista aceita igualmente, mesmo que tenha decidido ignorá-lo, o que este papel implica de condenável, aos olhos dos outros e aos seus. Esta decisão não lhe concede de forma alguma uma feliz e de-finitiva tranqüilidade de espírito. Pelo contrário, o esforço que fará para superar esta ambiguidade fornecer-nos-á uma das chaves da sua compreensão. [Albert MEMMI, Retrato do colonizado precedido do retrato do colonizador] Seja a nível pedagógico ou vivencial, a leitura brasileira das literaturas africanas em língua portuguesa gera um trabalho de reflexão e de tradução de valores culturais cujos resultados se mostram dos mais produtivos, quando se busca ampliar nossa compreen-são acerca do peso exercido pela experiência colonial na definição de estruturas nacio-nais como a miscigenação, bem como de traços culturais característicos como a plasti-cidade, a malandragem e o racismo dissimulado. Nos textos africanos, discursos e sujei-tos se inscrevem de acordo com regras de significação que podem deslocar ou reverter os efeitos normatizadores da razão e do texto ocidental e colonial. O estudo das narrati-vas da "África Portuguesa" mostra-se, assim, especialmente útil para releituras diferen-ciais dos imaginários sincréticos gerados pelas transculturações afro-luso-brasileiras, 1 Universidade Federal de Sergipe, professor-adjunto. 526 Anais do XXII Congresso Internacional da ABRAPLIP

RESUMO: Estudo crítico-genealógico de um romance angolano no qual se encontram reconstruídos fi c... more RESUMO: Estudo crítico-genealógico de um romance angolano no qual se encontram reconstruídos fi ccionalmente agentes, contextos e discursos constitutivos do patriarcalismo escravocrata afro-luso-brasileiro. O estudo coloca em evidência articulações estratégicas entre mecanismos de racialização e de exploração sexual dos sujeitos, conjugação que potencializa a manutenção das hierarquias escravagistas nas sociedades mestiças pela instituição de uma predatória "economia política da sexualidade". Palavras-chave: Literatura angolana. Mestiçagem. Sexualidade. Escravidão. Crítica pós-colonial. O português, segundo [Gilberto] Freyre, seria um intoxicado sexual. No ambiente da escravidão e da subordinação física e brutal de outros seres humanos, encontrou cenário perfeito para expressão dessa sua característica peculiar. A sexualidade exercida e representada em contextos de desigualdade e assimetria parece ser assim o operador da miscigenação predatória e o elo de ligação entre os diferentes extratos sociais que se reproduzem como diferentes através do exercício direto do desejo e do controle branco sobre o corpo do Outro e sua simbolização. Não seria, nesse sentido, extraordinária a hipótese de que a escravidão, ela mesma, teria um componente voluptuoso, além daquele propriamente econômico ou cultural, e essa parece ser a mensagem mais ou menos implícita em Freyre. Ter um escravo ou escrava, como um objeto perfeito, pleno e legalmente caracterizado, um objeto, é bem verdade, muito especial, na medida em que é um ser humano, pareceria o paroxismo da objetivação carnal. Não parece casual a conjunção de instâncias diversas de articulação e produção do poder com privilégios sexuais e intercursos raciais biológicos. Teríamos, parafraseando [Marshall] Sahlins, uma economia política da sexualidade? Osmundo Pinho Embora geralmente dividida em campos disciplinares autônomos, a refl exão acerca das categorias sexuais e raciais não deve perder de vista os fatores históricos que convergem para a produção do caráter eminentemente corpóreo e confl ituosamente libidinal das identifi cações raciais. Convergências das quais se desdobram as formas de narcisismo, de fetichismo e de exploração sexual mediadas pelas simbologias da "raça". O estudo crítico das interconjugações entre racismo e sexismo-tema que se mostra cada vez mais relevante para a construção de propostas e de alianças político-identitárias emancipadoras-remete a uma problematização dos fundamentos das regras discriminatórias instituídas pelos poderes falocráticos e eurocêntricos que confi guraram colonialmente o mundo moderno. Poderes que se amalgamam à formação histórica do Brasil na sequência da implantação, desde o início da colonização portuguesa do território, de um sistema econômico escravagista integrado nos fl uxos do capitalismo global emergente, mas gerenciado localmente por um modelo peculiar de patriarcalismo. A compreensão dos mecanismos característicos

18 a 22 de julho de 2011 UFPR-Curitiba, Brasil Faces e contrafaces do "civilizador erótico": colo... more 18 a 22 de julho de 2011 UFPR-Curitiba, Brasil Faces e contrafaces do "civilizador erótico": colonialidade, sexualidade e transculturação em Yaka, de Pepetela, e em A república dos sonhos, de Nélida Piñon Prof. Dr. Jesiel Ferreira de Oliveira Filho i (UFS) Resumo: Ao refletir sobre os resultados histórico-culturais da miscigenação brasileira, o antropólogo Osmundo Pinho propõe considerarmos a existência de uma "economia política da raça e do gênero" operada através de uma formação discursiva na qual se entrelaçam "discursos sobre raça, cultura e sexualidade". Explorando a transversalidade dessa formação e seu valor estratégico para a interpretação dos impasses nas sociedades mestiças lusófonas, a comunicação pretende analisar imagens literárias selecionadas entre as obras indicadas, tendo em vista realizar, no âmbito de um trabalho comparativo entre representações angolanas e brasileiras, uma caracterização contrastiva de processos de construção identitária do sujeito masculino branco nesses distintos e análogos contextos mestiços. A interpretação desses processos focalizará os efeitos de deslocamento e reversão exercidos pelos valores africanos sobre esses sujeitos. Palavras-chave: literatura comparada em língua portuguesa, sexualidade, mestiçagem, africanidade 1 Introdução Como da Europa do Renascimento nos viera o colono primitivo, individualista e anárquico, ávido de gozo e vida livre-veio-nos, em seguida, o português da governança e da fradaria. Foi o colonizador. Foi o nosso antepassado europeu. Ao primeiro contacto com o ambiente físico e social do seu exílio, novas influências, das mais variadas espécies, dele se apoderariam e o transformariam num ente novo, nem igual nem diferente do que partira da mãe-pátria. Dominavam-no dois sentimentos tirânicos: sensualismo e paixão do ouro. A história do Brasil é o desenvolvimento desordenado dessas obsessões subjugando o espírito e o corpo de suas vítimas. (Paulo PRADO, Retrato do Brasil) A operação comparativa remete à construção de um certo tipo de alteridade, a qual condiciona a análise de um objeto ao sistema de relações, ou de reflexos, que ele pode instaurar quando emparelhado a outro objeto. Para além das perspectivas tradicionais do espelhamento e do contraste, da repetição e do desvio, as relações comparativas podem ser estabelecidas a partir de um princípio de articulação dialógica que emparelhe os objetos de maneira a constituir "lugares híbridos de sentido" (BHABHA, 1998, p.229), conforme sugere Homi Bhabha ao propor aplicações para a teoria da diferença cultural baseadas na concepção do ato tradutório formulada por Walter Benjamin. Abrangendo diversos processos de apropriação, deformação e recriação de valores que permeiam a construção da ordem e da verdade, bem como da negação de ambas, nas sociedades marcadas pelas transculturações coloniais, a noção de hibridismo remete a formas complexas de acomodação e conflito entre referentes culturais, formas que se materializam como enunciados, instituições e sujeitos sobrecarregados de indefinições e ambiguidades, ou mobilizados por "forças e fixações deslizantes" (BHABHA, 1998, p.162). Convertido num operador comparativista, a leitura de hibridismos proposta neste artigo pretende colocar em evidência formas diferenciais de
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Doutoral Fábrica de Ideias, “Pandemias e Utopias”, pretendo traçar balizas
teóricas para articular os aparatos da violência racista ao que podemos
chamar de dimensões necropolíticas do contexto da epidemia de COVID-19. Meu foco se dirige a paralelismos estruturais entre os dispositivos
simbólicos que regulam relações sociais tanto à violência epidêmica quanto às brutalidades racistas perpetradas no Brasil. Acredito que outro nível de aprofundamento para esse problema pode ser alcançado quando nos apropriamos da noção de necropolítica de maneira menos instrumental, e assim restrita à descrição de tecnologias estatais da morte, buscando antes empreender uma perspectiva de leitura que visa discutir figuras e paradigmas duma certa “cultura racializada da morte”; um certo campo de formas e economias simbólicas derivadas de concepções e valores acerca do sentido da morte para identidades individuais e coletivas. O que está em causa é ampliar nossa percepção e compreensão da capilaridade com que o Necropoder se institui, formando sensibilidades e racionalizações pragmáticas acerca da onipresença espiralar da violência enquanto mediação social "régia", conforme o modelo crítico delineado por Frantz Fanon para o estudo das sociedades coloniais e suas configurações pós-independentistas.
Doutoral Fábrica de Ideias, “Pandemias e Utopias”, pretendo traçar balizas
teóricas para articular os aparatos da violência racista ao que podemos
chamar de dimensões necropolíticas do contexto da epidemia de COVID-19. Meu foco se dirige a paralelismos estruturais entre os dispositivos
simbólicos que regulam relações sociais tanto à violência epidêmica quanto às brutalidades racistas perpetradas no Brasil. Acredito que outro nível de aprofundamento para esse problema pode ser alcançado quando nos apropriamos da noção de necropolítica de maneira menos instrumental, e assim restrita à descrição de tecnologias estatais da morte, buscando antes empreender uma perspectiva de leitura que visa discutir figuras e paradigmas duma certa “cultura racializada da morte”; um certo campo de formas e economias simbólicas derivadas de concepções e valores acerca do sentido da morte para identidades individuais e coletivas. O que está em causa é ampliar nossa percepção e compreensão da capilaridade com que o Necropoder se institui, formando sensibilidades e racionalizações pragmáticas acerca da onipresença espiralar da violência enquanto mediação social "régia", conforme o modelo crítico delineado por Frantz Fanon para o estudo das sociedades coloniais e suas configurações pós-independentistas.