Teaching Documents (NON Profit) by Isadora Machado
In: Revista Ciências Sociais Hoje, Anpocs, 1984, p. 223-244. Numeração de páginas original à esqu... more In: Revista Ciências Sociais Hoje, Anpocs, 1984, p. 223-244. Numeração de páginas original à esquerda, na seqüência da digitação, sinalizada por linhas. Todas as palavras do texto sublinhadas estão assim no original, com exceção dos títulos de obras ou eventos, que foram alterados para itálico. As notas de rodapé explicativas foram inseridas pela digitadora. As notas de rodapé do original têm sua numeração marcada por parênteses e recuo de texto ao fim de sua página correspondente. 223 RACISMO E SEXISMO NA CULTURA BRASILEIRA 1 Lélia Gonzales
Conto de Carolina Maria de Jesus
Capítulo 1 do livro Linguagem, Escrita e Poder.

Há algo em comum entre as reações aos festejos dos 500 anos do Brasil, as manifestações de Seattl... more Há algo em comum entre as reações aos festejos dos 500 anos do Brasil, as manifestações de Seattle, Davos, Sydney, Montreal, Gênova, o Fórum Mundial de Porto Alegre e outros eventos contra o neoliberalismo, Banco Mundial, Alca e FMI: a voz e ação de minorias. Esta palavra tem como ponto de partida um sentido de inferioridade quantitativa, é o contrário de maioria. Trata-se de noção importantíssima para a clássica democracia representativa. Na democracia, diz-se, predomina a vontade da maioria. É verdade, mas é um argumento quantitativo. Qualitativamente, democracia é um regime de minorias, porque só no processo democrático a minoria pode se fazer ouvir. Minoria é, aqui, uma voz qualitativa. Eu disse primeiramente " voz ". É um significado subsumido, por exemplo, no modo como os alemães entendem maioridade e menoridade. Em Kant, maioridade é Mündigkeit, que implica literalmente a possibilidade de falar. Münd significa boca. Menoridade é Unmündigkeit, ou seja, a impossibilidade de falar. Menor é aquele que não tem acesso à fala plena, como o infans. Ora, a noção contemporânea de minoria-isto que aqui se constitui em questão-refere-se à possibilidade de terem voz ativa ou intervirem nas instâncias decisórias do Poder aqueles setores sociais ou frações de classe comprometidas com as diversas modalidades de luta assumidas pela questão social. Por isso, são considerados minorias os negros, os homossexuais, as mulheres, os povos indígenas, os ambientalistas, os antineoliberalistas, etc. O que move uma minoria é o impulso de transformação. É isso que Deleuze e Guattari inscrevem no conceito de " devir minoritário " , isto é, minoria não como um sujeito coletivo absolutamente idêntico a si mesmo e numericamente definido, mas como um fluxo de mudança que atravessa um grupo, na direção de uma subjetividade não capitalista. Este é na verdade um " lugar " de transformação e passagem, assim como o autor de uma obra é um " lugar " móvel de linguagem. Avancemos, pois, nessa direção e experimentemos o conceito de minoria como um lugar. O que é ser lugar? Diferentemente de espaço abstrato, lugar é localização de um corpo ou de um objeto, portanto é espaço ocupado. Assim, dizemos que território é o espaço afetado pela presença humana, portanto um lugar da ação humana. Mas essa localização não é necessariamente física, pode ser a propriedade comum de um conjunto de pontos geométricos de um plano ou do espaço. Aí, então, nossa referência não é mais topográfica, mas topológica-a lógica das articulações do lugar. Topologicamente, lugar é uma configuração de pontos ou de forças, é um campo de fluxos que polariza as diferenças e orienta as identificações. Lugar " minoritário " é um topos polarizador de turbulências, conflitos, fermentação social. O conceito de minoria é o de um lugar onde se animam os fluxos de transformação de uma identidade ou de uma relação de poder. Implica uma tomada de posição grupal no interior de uma dinâmica conflitual. Por isso, pode-se afirmar que o negro no Brasil é mais um lugar do que o indivíduo definido pura e simplesmente pela cor da pele. Minoria não é, portanto, uma fusão gregária mobilizadora, como a massa ou a multidão ou ainda um grupo, mas principalmente um dispositivo simbólico com uma intencionalidade ético-política dentro da luta contra-hegemônica. Um partido político, um sindicato não se entendem como minorias, ainda que sejam de oposição ao regime dominante, porque ocupam um lugar na ordem jurídico-social instituída.

Sobre o termo cisgênero, o equívoco da língua e o político na sigla LGBT Sobre O Termo Cisgênero,... more Sobre o termo cisgênero, o equívoco da língua e o político na sigla LGBT Sobre O Termo Cisgênero, O Equívoco Da Língua E O Político Na Sigla LGBT 28 de junho de 2014 Beatriz Escrevo este texto pensando o encontro que a defensoria pública realizou para falar sobre " identidades trans " , em que estavam presentes a psicóloga Bárbara Dalcanale Menêses e o assessor técnico do centro de referência LGBT, Márcio Régis Vacon como palestrantes. Ao se falar sobre transgeneridade, é urgente problematizarmos certas evidências de sentidos, na medida em que considero extremamente importante o não apagamento do político da questão transgênera. Aprendi com a análise de discurso fundada por Michel Pêcheux (AD) que a impressão que as palavras designam inequivocamente coisas e objetos no mundo se dá através de um efeito ideológico; também aprendi, contudo, que a ideologia funciona pela falha. Isso significa dizer, entre outras coisas, que o sentido, apesar de parecer evidente, pode ser sempre outro, a partir do momento em que a língua (para significar) necessita da inscrição da história, e com isso, os sentidos estão sempre já divididos pelas contradições das lutas de classes. Dizemos, portanto, que a linguagem não é transparente, já que ela não designa de forma unívoca; ela é, ao contrário, opaca. Para a AD, a falha da língua pela ideologia se denomina equívoco. A ideologia aqui é entendida como necessária para a relação do sujeito com os sentidos, se distanciando, portanto, de concepções de ideologia como " ocultação da verdade ". É a partir de uma formação discursiva que os sentidos vão ser mobilizados através de uma posição de sujeito (um exemplo clássico para entender isso sucintamente quando, a rede Globo, por exemplo, utiliza " invasão " enquanto que um blog de esquerda, para referenciar a
RESUMO: O objetivo central deste artigo é contribuir para o debate teórico-crítico sobre os Estud... more RESUMO: O objetivo central deste artigo é contribuir para o debate teórico-crítico sobre os Estudos da Subalternidade. Estudos esses que visam questionar o colonialismo teórico dos grandes centros e dar voz e lugar àqueles que são silenciados pelo poder hegemônico; tendo como pano de fundo a obra literária A hora da estrela da intelectual Clarice Lispector. ABSTRACT: The main objective of this work is to contribute to the theorical debate about the Subaltern Studies. These studies claim to question the theorical colonialism of the dominant countries and give place and voice to those people who are silenced by the hegemonic power; through the analyze of the book The hour of the star by the intellectual Clarice Lispector.
Autora: Stephanie RIbeiro
cap 1 e 2 de Mulheres Raça e Classe
Conference Presentations by Isadora Machado

Anais IIIJISE, 2021
Resumo: Com a ferramenta analítica da interseccionalidade (AKOTIRENE, 2019), questionamos a manei... more Resumo: Com a ferramenta analítica da interseccionalidade (AKOTIRENE, 2019), questionamos a maneira como grupos subalternizados são significados em dicionários gerais de Língua Portuguesa. Formulamos essa questão a partir do ponto de vista da História das Ideias Linguísticas e da Semântica do Acontecimento. As gramáticas e os dicionários foram ferramentas indispensáveis para o processo colonial na América Latina. Se os dicionários, tal como conhecemos hoje, foram criados no século XVI, ao mesmo tempo em que a colonização europeia nas Américas se desenvolvia, é válido perguntar: os sentidos coloniais seguem circulando em dicionários contemporâneos? Nossa investigação demonstra que sim, e diante dessa resposta buscamos estratégias pedagógicas centradas nos dicionários a fim de discutir temas relativos aos direitos humanos. Nesse trabalho, partilhamos uma sequência didática que temos desenvolvido em nossos cursos na Universidade Federal da Bahia (UFBa), cujos objetivos são: a) desconstruir a imagem de neutralidade e completude que os dicionários projetam; b) problematizar os sentidos coloniais de raça, identidade de gênero, sexualidade, gênero, classe, território etc. que circulam nos dicionários; c) reconstruir definições das palavras analisadas com xs estudantes; d) transvalorar os marcadores identitários escolhidos. Concluímos, inspirados pelo conceito de reescrituração em Guimarães (2009; 2018), sobre a possibilidade de um processo que chamamos de "reescrituras de si". Palavras-chave: modernidade colonial-capitalista, dicionários, história das ideias linguísticas, semântica do acontecimento.
Papers by Isadora Machado
Isadora Machado, 2022
Neste ensaio, gostaríamos de revisitar os porões das Ciências da Linguagem, a fim de compreender ... more Neste ensaio, gostaríamos de revisitar os porões das Ciências da Linguagem, a fim de compreender as condições de possibilidade do necrodiscurso policial que compareceu no assassinato de George Floyd. Demonstramos, nesse gesto interpretativo, que o racionalismo que funda a Linguística - a ideia de que nos diferenciamos dos animais por sermos dotados de lógos - se presentifica no momento em que os policiais de Minneapolis (MO-USA) asfixiam Floyd até a morte.

Línguas e Instrumentos Línguísticos
A partir dos estudos materialistas da linguagem, questionamos: é possível enunciar na América Lat... more A partir dos estudos materialistas da linguagem, questionamos: é possível enunciar na América Latina sem que os sentidos de nossos enunciados estejam construídos na/pela memória da colonização? Capitalismo e colonização, nesse contexto, se encontram no mesmo princípio histórico de modo dialético. Defendemos que a colonialidade emerge enquanto filosofia espontânea do capitalismo, assim como o colonialismo é condição de possibilidade (sobredeterminante) do capitalismo. Criticamos a abordagem da Modernidade em Kant e Foucault, e nos alinhamos ao pensamento decolonial latino-americano, para quem a Modernidade coincide com o início da exploração e colonização da América. Analisamos e deslocamos a importância que Sylvain Auroux atribui ao Renascimento para a gramatização. Demonstramos que a escrita da História das Ideias Linguísticas no Brasil compreende a colonização como ponto de inflexão para o conhecimento sobre a linguagem, o que nos leva a repensar a própria natureza dos instrumento...
Uploads
Teaching Documents (NON Profit) by Isadora Machado
Conference Presentations by Isadora Machado
Papers by Isadora Machado