Book Chapters by João Carlos Carvalhaes Monteiro
10 anos de Porto Maravilha: do projeto de renovação à construção de um novo espaço de exclusão, 2019
Capítulo do livro:
BROUDEHOUX, A.M.; MENDES, M. (Org). 10 anos de Porto Maravilha: do projeto d... more Capítulo do livro:
BROUDEHOUX, A.M.; MENDES, M. (Org). 10 anos de Porto Maravilha: do projeto de renovação à construção de um novo espaço de exclusão. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2019, 380 p.
Planejamento Territorial: reflexões críticas e perspectivas, 2021
Capítulo do livro:
LIMONAD, Ester; MONTEIRO, João; MANSILLA, Pablo (Orgs.). Planejamento Territo... more Capítulo do livro:
LIMONAD, Ester; MONTEIRO, João; MANSILLA, Pablo (Orgs.). Planejamento Territorial: reflexões críticas e perspectivas. São Paulo: Max Limonad, 2021.

O direito à cidade na França e no Brasil: uma nova agenda urbana?, 2018
O trabalho apresenta resultados iniciais de uma pesquisa em curso a respeito da mobilização da no... more O trabalho apresenta resultados iniciais de uma pesquisa em curso a respeito da mobilização da noção de mistura social no âmbito das estratégias discursivas de dois grandes projetos urbanos em áreas centrais no Brasil: a operação urbana consorciada Porto Maravilha, na antiga zona portuária do Rio de Janeiro, e a parceria público-privada de habitação de interesse social da área central de São Paulo. Propomos considerar a internalização do ideário de mistura social em grandes projetos urbanos em áreas centrais no Brasil como parte da atualização das narrativas dominantes de agentes públicos e privados interessados na revalorização das áreas centrais e na reinserção desses subespaços nos circuitos imobiliários hegemônicos. Por meio de revisão bibliográfica da literatura internacional sobre o tema, de análise de documentos oficiais e de artigos de imprensa, e de entrevistas com agentes envolvidos nos projetos citados, o texto busca demonstrar os fundamentos e as implicações do emprego da noção de mistura social em grandes projetos urbanos no país.
Books by João Carlos Carvalhaes Monteiro
Consequência, 2022
Giannella, L., & Monteiro, J. (Orgs.). Zona portuária do Rio de Janeiro: múltiplos olhares sobre ... more Giannella, L., & Monteiro, J. (Orgs.). Zona portuária do Rio de Janeiro: múltiplos olhares sobre um espaço em mutação. Rio de Janeiro: Consequência, 2022.
ISBN: 978-65-87145-45-7
LIMONAD, Ester; MONTEIRO, João; MANSILLA, Pablo (Orgs.). Planejamento Territorial: reflexões crít... more LIMONAD, Ester; MONTEIRO, João; MANSILLA, Pablo (Orgs.). Planejamento Territorial: reflexões críticas e práticas alternativas. São Paulo: Max Limonad, 2021.
LIMONAD, Ester; MONTEIRO, João; MANSILLA, Pablo (Orgs.). Planejamento Territorial: reflexões crít... more LIMONAD, Ester; MONTEIRO, João; MANSILLA, Pablo (Orgs.). Planejamento Territorial: reflexões críticas e perspectivas. São Paulo: Max Limonad, 2021.
Papers by João Carlos Carvalhaes Monteiro
Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, 2023
O artigo apresenta uma avaliação do processo de turistificação da zona portuária do Ri... more O artigo apresenta uma avaliação do processo de turistificação da zona portuária do Rio de Janeiro conduzido pelo projeto Porto Maravilha. Com base em uma análise dos impactos da atividade turística na produção do espaço e na dinâmica socioeconômica da área, discutem-se as relações entre turismo e regeneração urbana mediante a abordagem de temas como a mobilização da cultura para fins de revalorização simbólica e o intuito de dinamização econômica local. O resultado da pesquisa demonstra os descaminhos e a incompletude da tentativa de inserção da zona portuária do Rio de Janeiro no circuito de turismo internacional uma década após o lançamento do projeto Porto Maravilha.

Cadernos Metrópole, 2015
O artigo tem por objetivo contribuir para o debate acadêmico em torno da incorporação do componen... more O artigo tem por objetivo contribuir para o debate acadêmico em torno da incorporação do componente habitacional nas recentes experiências de revalorização de áreas urbanas centrais brasileiras. São apresentadas as conclusões obtidas a partir de uma pesquisa sobre a produção habitacional de interesse social na área central do Rio de Janeiro. As reflexões expostas são apoiadas numa análise do Programa Novas Alternativas, criado em 1996 pelo poder público municipal com o objetivo declarado de fomentar a produção habitacional nos bairros centrais da capital fluminense. Realizamos uma revisão das publicações institucionais da prefeitura sobre o tema e entrevistas com o quadro técnico do programa. Através desses elementos buscamos desvendar os componentes discursivos que embasam as ações do poder público municipal carioca em sua prática de fomento à produção habitacional.

Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, 2017
Rio de Janeiro's former port has undergone an intense process of transformation driven by investo... more Rio de Janeiro's former port has undergone an intense process of transformation driven by investor expectations and real estate profitability objectives. However, in this depressed area, long marked by various territorial stigmas, the rise in land value largely depends upon symbolic revaluation. One of the main objectives of the large-scale urban redevelopment project known as Porto Maravilha is to reverse existing perceptions of the port area, moving away from representations as an abandoned, decadent, dangerous space, towards a more positive image as a showcase for Rio de Janeiro and a new gateway to the city. This article describes the triple process through which this reversal is achieved: territorial stigmatization, symbolic re-signification and planned repopulation. It documents various strategies used by project proponents to radically transform the symbolic, material and social make-up of the area in order to promote its revaluation. It also aims to document diverse modes of resistance developed by local population groups to denounce the invisibility, silencing and symbolic erasure they have suffered, showing, in the process, that in Porto Maravilha, culture serves both as an instrument of gentrification and as a tool of resistance.

Revista e-metropolis, 2012
O artigo busca discutir algumas das políticas sociais que estão sendo implementadas no interior d... more O artigo busca discutir algumas das políticas sociais que estão sendo implementadas no interior do perímetro do Projeto Porto Maravilha. Lançado em 2009, este grande projeto urbano pretende transformar a antiga zona portuária da cidade do Rio de Janeiro, criando um ambiente favorável ao capital imobiliário. Pretendemos desvelar algumas das questões que estão sendo frequentemente ofuscadas por uma propaganda poderosa que pretende construir uma ideia positiva sobre o projeto. Para tanto, dividimos o artigo em três partes: na primeira delas apresentaremos a conjuntura política e as mudanças na gestão urbana em torno do Projeto Porto Maravilha. Em seguida, discutiremos como a questão habitacional é tratada nos sucessivos projetos idealizados para este espaço. Por fim, analisamos os impasses atuais que os moradores de baixa renda enfrentam para conquistar o direito de permanecerem no local.
Site web du Réseau Villes Régions Monde, Dec 16, 2016

Revista e-metropolis, 2019
Na madrugada do dia 1º de maio de 2018, o desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, no cent... more Na madrugada do dia 1º de maio de 2018, o desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, no centro de São Paulo, causou perplexidade. O incêndio no imóvel ocupado por quase duzentas famílias sem teto foi causado por um curto circuito no precário sistema elétrico do edifício – sete pessoas morreram, e centenas ficaram desabrigadas na tragédia. As imagens da torre de vidro de 24 andares sumindo em meio a uma bola de fogo correram o mundo e provocaram um debate sobre as péssimas condições de moradia no centro da cidade mais rica do Brasil.
Um ano depois do desabamento, a imprensa fluminense passou a noticiar com certa regularidade as condições de precariedade e insalubridade à quais os moradores do edifício Amaral Peixoto 327, no centro de Niterói, estavam submetidos. Conhecida como “prédio da Caixa”, a construção de onze andares e quase quatrocentos apartamentos está localizada em uma das principais avenidas da cidade. Em março, o fornecimento de água e luz foi suspenso pelas concessionárias responsáveis pelos serviços, e um laudo do Corpo de Bombeiros apontou que o prédio corria risco de incêndio. Problemas estruturais, acúmulo de lixo, infestação de pragas e denúncias de uso de alguns apartamentos por traficantes e usuários de drogas completavam o cenário de desolação.
Sem condições de habitabilidade e na iminência de uma tragédia, o Ministério Público do Rio de Janeiro obteve em abril a interdição do prédio por meio de uma ação civil pública. Menos de dois meses depois, a determinação judicial foi executada, e aqueles que ainda resistiam à desocupação foram retirados à força pela polícia. Após a ação de despejo, a portaria do imóvel foi concretada, e desde então uma viatura da Polícia Militar vigia o edifício 24 horas por dia. A ordem judicial estabeleceu que os 1.500 desalojados fossem incluídos em programas de aluguel social, mas meses depois muitos moradores ainda não dispunham do benefício a que têm direito.

Revista Política e Planejamento Regional, 2018
O presente texto pretende ser, sem grandes ambições, um tipo de "prestação de contas" das ativida... more O presente texto pretende ser, sem grandes ambições, um tipo de "prestação de contas" das atividades desenvolvidas pela Revista Política e Planejamento Regional (RPPR) nos seus quatro primeiros anos de existência. Lançada em 2014, a revista está voltada para temáticas como política, planejamento e desenvolvimento regionais a partir de uma perspectiva crítica e com destaque para as dimensões política e social. Foi criada em uma conjuntura particular, quando as desigualdades sociais e regionais no país ocupavam um lugar de destaque na agenda política e também acadêmica. Diante das recentes transformações no país e no exterior, é pertinente um exercício de avaliação das atividades editoriais da RPPR que ajudem a identificar o "lugar" da revista neste universo científico da área de Planejamento Regional, bem como refletir sobre possibilidades de reformulação. Espera-se que esta avaliação sirva também para debater sobre a necessidade de continuar o esforço de insistir na problematização, na reflexão, na identificação de potencialidades e desafios e na mobilização em torno das questões das desigualdades sociais e regionais no país.
Conference Presentations by João Carlos Carvalhaes Monteiro

Anais do XVIII Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional, 2019
Atores públicos e privados vêm utilizando a noção de mistura social como estratégia de legitimaçã... more Atores públicos e privados vêm utilizando a noção de mistura social como estratégia de legitimação de grandes projetos urbanos nas áreas centrais de Rio de Janeiro e de São Paulo. Parte da literatura internacional sobre o tema ressalta que projetos filiados à mistura social frequentemente encobrem tentativas de revalorização de bairros ocupados por populações de baixa renda. Partimos dessa crítica para analisar as estratégias discursivas da operação urbana consorciada Porto Maravilha (zona portuária do Rio de Janeiro) e da parceria público-privada de habitação de interesse social (centro de São Paulo). O trabalho aponta a sofisticação das estratégias de legitimação desses projetos em relação à geração anterior de propostas de intervenção. Defendemos que a mistura social fornece elementos relacionados ao léxico progressista da diversidade aos esses projetos, ao mesmo tempo em que essas intervenções tendem a ampliar os usos corporativos do território das áreas centrais do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Anais do XII Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (ENANPEGE), 2017
O trabalho tem por objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa acerca dos processos de esti... more O trabalho tem por objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa acerca dos processos de estigmatização territorial em contextos de revalorização urbana, revelando os mecanismos de difusão e silenciamento de discursos e representações sobre o espaço que garantem legitimidade para que intervenções urbanas sejam realizadas. A partir do estudo de caso da área central do Rio de Janeiro, busca-se analisar como a estigmatização territorial é acionada para atender às demandas de atores movidos pela produção de espaços hegemônicos de acumulação. Ao fim, reflete-se sobre o efeito contraditório desse processo: a dificuldade de reverter as representações negativas consolidadas há décadas e que funcionam como um freio à revalorização fundiária e à dinamização econômica pretendidas.

Annals 2017 Congress of the Latin American Studies Association, 2017
Estigmatização territorial e limites para a revalorização urbana: o caso da zona portuária do Rio... more Estigmatização territorial e limites para a revalorização urbana: o caso da zona portuária do Rio de Janeiro João Carlos Carvalhaes dos Santos Monteiro Doutorando em Estudos Urbanos, Université du Québec à Montréal L'activité politique est celle qui déplace un corps du lieu qui lui était assigné ou change la destination d'un lieu ; elle fait voir ce qui n'avait pas lieu d'être vu, fait entendre un discours là où seul le bruit avait son lieu, fait entendre comme discours ce qui n'était entendu que comme bruit. Jacques Rancière, La Mésentente : Politique et Philosophie, 1995 Na Rua Sacadura Cabral, os antigos casarões transformados em bares e boates atraem uma clientela de jovens brancos de classe média que dificilmente seriam vistos naquela área da cidade uma década atrás. O som de música eletrônica escapa dos velhos edifícios misturando-se com o ritmo das rodas de samba formadas a poucos metros dali, no Largo da Prainha e na Pedra do Sal. A circulação constante de carros da Uber, o vai e vem de transeuntes e a presença de vendedores ambulantes de água e cerveja atestam que aquele se tornou um novo point da cidade. Na manhã seguinte, a baixa circulação de carros encoraja algumas crianças negras a improvisarem uma partida de futebol no meio da rua. Num dos becos do entorno, uma moradora estende roupas nas janelas de um cortiço arruinado enquanto outra esvazia uma sacola de latas de alumínio recolhidas na noite anterior e que serão destinadas à venda para reciclagem. Em torno de um

Anais do XVII Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional, 2017
Since 2009, Rio de Janeiro’s old port area has undergone an intense transformation process driven... more Since 2009, Rio de Janeiro’s old port area has undergone an intense transformation process driven by the needs and expectations of real estate interests. In this large-scale urban redevelopment project, known as Porto Maravilha, land revaluation relies upon the symbolic revaluation of the area, long marked by a negative territorial stigma. One of the main objectives of Porto Maravilha is to reverse existing perceptions of the port area, moving away from current representations as an abandoned, decadent, dangerous space, towards a more positive image as the new gateway to the city of Rio de Janeiro. This is acheived by replacing the poor and black population, recognized for its strong activism and rich cultural practices, by a white, cosmopolitan and elitist population. Our analysis rests upon the three notions of territorial stigmatization, symbolic resignification and planned repopulation and demonstrates some of the strategies used by project proponents to radically transform the symbolic, material and social make-up of the area in order to promote its revaluation. We conclude with a discussion of the modes of resistance developed by local population groups to denounce the invisibility, silencing and symbolic erasure they have suffered, showing, in the process, that in Porto Maravilha, culture serves both as an instrument of gentrification and as a tool of resistance.

Anais do XIII Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional, 2009
O trabalho, em andamento, busca realizar uma leitura crítica sobre os projetos urbanos elaborados... more O trabalho, em andamento, busca realizar uma leitura crítica sobre os projetos urbanos elaborados pela prefeitura da cidade do Rio de Janeiro para a sua área central a partir dos anos 1990. Analisa-se o discurso do novo paradigma do planejamento urbano orientado pela criação de políticas públicas baseadas no empreendedorismo e na criação dos espaços de memória da cidade, identificando o contexto de seu surgimento e os atores responsáveis pela sua difusão em escala planetária. Selecionamos alguns dos projetos realizados pelo poder público municipal que exemplificam a aplicação destes instrumentos no espaço urbano carioca, ressaltando a importância da área central da cidade como espaço privilegiado para a materialização destes projetos. Ao final, tratamos das implicações sociais deste novo modelo de planejamento urbano e suas repercussões para o futuro da cidade e de seus cidadãos.

Anais do XIV Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional, 2011
O presente artigo busca analisar o Programa Novas Alternativas (PNA), implementado pelaPrefeitura... more O presente artigo busca analisar o Programa Novas Alternativas (PNA), implementado pelaPrefeitura da Cidade do Rio de Janeiro com o objetivo de fomentar a criação de unidades habitacionais na área central do município. Criado em meados dos anos 1990, suas ações promovem a construção de unidades habitacionais na área central da cidade, seguindo uma tendência mundial de readensamento populacional de centros urbanos. O artigo buscou refletir criticamente sobre as ações do programa. A partir da coleta de dados, entrevistas com os técnicos responsáveis e com os moradores contemplados pelas unidades habitacionais produzidas, apontamos os impactos que as intervenções realizadas pelo programa trouxeram para o espaço urbano da área central carioca, bem como para as populações envolvidas em sua realização. Questionamos o modelo de produção habitacional desenvolvida pelo Programa Novas Alternativas, apontando suas conseqüências para as famílias alvo das ações. Concluímos que a lógica inerente ao Programa Novas Alternativas é baseada na exclusão doacesso à moradia às populações de baixa renda e suas ações estão ancoradas num ideário classista sobre a zona central do Rio de Janeiro.
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Book Chapters by João Carlos Carvalhaes Monteiro
BROUDEHOUX, A.M.; MENDES, M. (Org). 10 anos de Porto Maravilha: do projeto de renovação à construção de um novo espaço de exclusão. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2019, 380 p.
LIMONAD, Ester; MONTEIRO, João; MANSILLA, Pablo (Orgs.). Planejamento Territorial: reflexões críticas e perspectivas. São Paulo: Max Limonad, 2021.
Books by João Carlos Carvalhaes Monteiro
ISBN: 978-65-87145-45-7
Papers by João Carlos Carvalhaes Monteiro
Um ano depois do desabamento, a imprensa fluminense passou a noticiar com certa regularidade as condições de precariedade e insalubridade à quais os moradores do edifício Amaral Peixoto 327, no centro de Niterói, estavam submetidos. Conhecida como “prédio da Caixa”, a construção de onze andares e quase quatrocentos apartamentos está localizada em uma das principais avenidas da cidade. Em março, o fornecimento de água e luz foi suspenso pelas concessionárias responsáveis pelos serviços, e um laudo do Corpo de Bombeiros apontou que o prédio corria risco de incêndio. Problemas estruturais, acúmulo de lixo, infestação de pragas e denúncias de uso de alguns apartamentos por traficantes e usuários de drogas completavam o cenário de desolação.
Sem condições de habitabilidade e na iminência de uma tragédia, o Ministério Público do Rio de Janeiro obteve em abril a interdição do prédio por meio de uma ação civil pública. Menos de dois meses depois, a determinação judicial foi executada, e aqueles que ainda resistiam à desocupação foram retirados à força pela polícia. Após a ação de despejo, a portaria do imóvel foi concretada, e desde então uma viatura da Polícia Militar vigia o edifício 24 horas por dia. A ordem judicial estabeleceu que os 1.500 desalojados fossem incluídos em programas de aluguel social, mas meses depois muitos moradores ainda não dispunham do benefício a que têm direito.
Conference Presentations by João Carlos Carvalhaes Monteiro
BROUDEHOUX, A.M.; MENDES, M. (Org). 10 anos de Porto Maravilha: do projeto de renovação à construção de um novo espaço de exclusão. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2019, 380 p.
LIMONAD, Ester; MONTEIRO, João; MANSILLA, Pablo (Orgs.). Planejamento Territorial: reflexões críticas e perspectivas. São Paulo: Max Limonad, 2021.
ISBN: 978-65-87145-45-7
Um ano depois do desabamento, a imprensa fluminense passou a noticiar com certa regularidade as condições de precariedade e insalubridade à quais os moradores do edifício Amaral Peixoto 327, no centro de Niterói, estavam submetidos. Conhecida como “prédio da Caixa”, a construção de onze andares e quase quatrocentos apartamentos está localizada em uma das principais avenidas da cidade. Em março, o fornecimento de água e luz foi suspenso pelas concessionárias responsáveis pelos serviços, e um laudo do Corpo de Bombeiros apontou que o prédio corria risco de incêndio. Problemas estruturais, acúmulo de lixo, infestação de pragas e denúncias de uso de alguns apartamentos por traficantes e usuários de drogas completavam o cenário de desolação.
Sem condições de habitabilidade e na iminência de uma tragédia, o Ministério Público do Rio de Janeiro obteve em abril a interdição do prédio por meio de uma ação civil pública. Menos de dois meses depois, a determinação judicial foi executada, e aqueles que ainda resistiam à desocupação foram retirados à força pela polícia. Após a ação de despejo, a portaria do imóvel foi concretada, e desde então uma viatura da Polícia Militar vigia o edifício 24 horas por dia. A ordem judicial estabeleceu que os 1.500 desalojados fossem incluídos em programas de aluguel social, mas meses depois muitos moradores ainda não dispunham do benefício a que têm direito.
Na imprensa, a troca de um “indicado de Maluf por professor da USP” numa pasta estratégica como a da Habitação foi descrita como a substituição de um secretário “mais afinado com o setor da construção” por um arquiteto “mais afinado com os movimentos”. De fato, a trajetória acadêmica e a atividade de militância do novo secretário estavam intimamente relacionadas aos movimentos de luta pela reforma urbana e pela moradia digna, afinidade que se traduziu numa mudança significativa das ações e na organização da secretaria no último ano da gestão Haddad.
Nesta entrevista realizada em maio, Whitaker nos relata sua experiência como secretário e expõe os desafios da gestão da cidade mais populosa do hemisfério sul. Conversamos sobre os avanços e retrocessos da política urbana brasileira nas últimas décadas e instigamos o entrevistado a discorrer sobre temas caros à agenda urbana nacional, tais como a atuação do Ministério das Cidades e os quase vinte anos de criação do Estatuto da Cidade. O programa federal Minha Casa Minha Vida ocupou a atenção de boa parte da entrevista, já que Whitaker é autor de livro e artigos sobre este que foi o mais importante investimento no setor de habitação no Brasil. Ao final da entrevista resgatamos o debate sobre a moradia na área central de São Paulo e a opinião do autor sobre o potencial das parcerias público-privadas na provisão habitacional de interesse social.
Doutora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, com uma tese sobre as relações entre a política habitacional e a questão fundiária no Brasil e em São Paulo, a pesquisadora criticou o modelo dominante de intervenção em áreas centrais no país e a ausência de políticas e instrumentos adequados ao equacionamento da habitação popular nos centros das cidades brasileiras.
A entrevista está dividida em três seções temáticas. A primeira, “Habitação em áreas centrais”, explora as origens e a evolução do debate sobre as políticas habitacionais em São Paulo e a influência que tiveram na escala nacional. A pesquisadora ressalta o papel dos movimentos sociais na defesa da reforma de edifícios ociosos para habitação de interesse social e a importância da circulação internacional de ideias, que permitiu desenhar instrumentos urbanísticos inovadores na cidade. Na seção “A experiência do Programa Morar no Centro”, a entrevistada narra o desenvolvimento de um dos mais importantes programas habitacionais em áreas centrais elaborados no país, destacando as negociações com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, financiador do projeto. Por fim, a seção “Transformações recentes do centro de São Paulo” explora as dinâmicas imobiliárias e populacionais da área na última década, e analisa as parcerias público-privadas como o novo modelo privilegiado de implementação de programas habitacionais na área central, apontando as consequências desse cenário e a falta de soluções aparentes no curto prazo.
Esperamos que os aspectos discutidos na entrevista contribuam para uma reflexão sobre os caminhos necessários para evitar novas situações trágicas, as quais um grande contingente de pessoas está cotidianamente submetido, e avançar na implementação de políticas que possam garantir o direito à moradia dos grupos populares nas áreas centrais de São Paulo e de outras metrópoles brasileiras.
En partant de ces constats, nous proposons une réflexion critique de cette adoption en analysant les travaux scientifiques publiés à propos des transformations de quartiers centraux des métropoles brésiliennes. Est-ce que le terme « gentrification » est le plus approprié pour décrire ces transformations? À partir d’une révision bibliographique, nous discutons de cette problématique, en nous appuyant sur l'idée que cet événement global se métamorphose en fonction des spécificités nationales et des caractéristiques locales. Ainsi, c’est envisageable de tenir compte que les processus couramment décrits à partir du concept de gentrification doivent nécessairement être plus hétérogènes dans la mesure où sa diffusion devienne globale et qu’une appropriation plus complexe du terme est indispensable en fonction des particularités sociales, économiques et culturelles de chaque métropole.
Cette problématique est cependant insuffisamment présente dans la plupart des publications analysées, qui ont tendance à intégrer le concept sans remettre en cause ses fondements et son opérabilité. Pour ces raisons, nous sommes persuadés que l’internalisation du concept de gentrification en Amérique latine exige des médiations conceptuelles et théoriques plus sophistiquées, afin de permettre des analyses cohérentes de la dynamique de la production de l’espace urbain des métropoles de la région. La littérature scientifique internationale sur le sujet est principalement composée par des travaux qui traitent de l'urbanisation des pays centraux et, par conséquent, elle a tendance à négliger des questionnements primordiaux pour l'application du concept dans des cas spécifiques des pays périphériques. Elle soulève de ce fait des réflexions sur l’utilisation du concept en Amérique latine, afin de contribuer au débat théorique et conceptuel sur les transformations des quartiers centraux des villes latino-américaines.
As representações a respeito do abandono e da degradação das áreas centrais vem sendo progressivamente substituídas por outras que exaltam as potencialidades de intervenções que promovam o resgate da urbanidade e o fortalecimento das relações cotidianas de sociabilidade. Em oposição à racionalidade modernista de produção do espaço urbano que, associada ao ideário rodoviarista, implodiu as áreas centrais das principais metrópoles brasileiras, as novas concepções e práticas do planejamento supostamente incorporam a preocupação com a diversidade e a convivência, valorizando elementos antes relegados, como a dinamização dos espaços públicos e o readensamento urbano. A ideia de mistura social se destaca nessa discussão e se alinha aos valores da nova agenda urbana em constituição, inspirada pelos ideais do direito à cidade.
Nesse contexto de mudança de sentido atribuído às áreas centrais, inúmeros planos, programas e projetos vêm sendo apresentados por prefeituras, governos estaduais e a esfera federal, com o intuito declarado de reverter o que se convencionou chamar de “crise”. Em documentos oficiais e declarações de gestores públicos e promotores imobiliários, ações associadas à mistura social são recorrentemente citadas como elementos fundamentais para promover as transformações pretendidas para essas áreas. Nas narrativas hegemônicas, os centros são abordados negativamente em função da população de baixa renda que abrigam e a atração de novos residentes de estratos sociais mais elevados surge como objetivo deliberado, mesmo que não manifesto, das propostas de intervenção urbana.
Tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, as narrativas usuais sobre os bairros centrais estigmatizam os intensos usos populares que caracterizam essas áreas. O caráter popular do centro não é visto a partir da sua diversidade constitutiva em termos sociais, econômicos e culturais mas, ao contrário, como uma homogeneidade que impede os esforços de expansão de novas frentes imobiliárias. Nessa conjuntura, a mobilização da mistura social se torna efetiva para a legitimação de projetos urbanos que têm como traço distintivo a própria negação da diversidade social.
Em ambos os casos, iniciativas recentes de produção de habitação de interesse social incorporaram a noção de mistura social em suas estratégias discursivas. Na capital fluminense, o projeto Porto Maravilha recorre constantemente a essa ideia na formulação de suas ações, como por exemplo na flexibilização de normas urbanísticas e nos incentivos oferecidos aos promotores imobiliários interessados na construção de imóveis para classes média e alta. Em São Paulo, a parceria público-privada de Habitação de Interesse Social da agência Casa Paulista também se sustenta no princípio de que é preciso trazer moradores de classe média para dinamizar os bairros centrais, produzindo moradias para demandas não prioritárias do ponto de vista do déficit habitacional da cidade.
Apresentaremos os resultados de uma pesquisa comparativa em curso, baseada na análise de documentos oficiais e entrevistas realizadas com agentes envolvidos com os projetos, bem como de fontes secundárias, como artigos de imprensa. Partimos da hipótese de que, no Rio de Janeiro e em São Paulo, a internalização da noção de mistura social nos projetos citados faz parte da atualização das estratégias discursivas de agentes públicos e privados interessados na expansão de fronteiras urbanas especulativas nas áreas centrais, consideradas passíveis de reincorporação aos circuitos imobiliários hegemônicos. Demonstraremos que, subjugadas a lógicas corporativas de produção do espaço urbano atreladas, em primeiro lugar, à rentabilidade de investidores, essas intervenções vão de encontro aos fundamentos da cidade como direito, fortalecendo o caráter privatista da política urbana brasileira. Nesse contexto, o discurso da mistura social funciona em um duplo sentido: confere aceitabilidade social a grandes projetos urbanos que podem desencadear processos de gentrificação e legitima a transferência de fundos públicos para projetos imobiliários destinados às classes de mais alta renda.