Anais do VI Encontro Nacional de História da Geografia / IV Encontro Nacional de Geografia Histórica, realizado em outubro do ano passado, 2024
Este artigo apresenta uma análise das políticas escalares toponímicas, propondo uma ferramenta an... more Este artigo apresenta uma análise das políticas escalares toponímicas, propondo uma ferramenta analítica para o estudo das mudanças nos nomes dos lugares. A metodologia inclui uma revisão bibliográfica ampla e sistemática sobre a toponímia e a geografia, além de um estudo de caso empírico focado na cidade de Petrópolis (RJ). O referencial teórico baseia-se nos conceitos de escala, escalaridade e políticas escalares, destacando como a nomeação dos lugares reflete e molda identidades e narrativas espaciais. Os resultados mostram que a nomeação dos lugares é influenciada por contextos históricos e políticos específicos, com ações de nomeação, renomeação, apagamento e manutenção desempenhando papéis cruciais na construção e reconstrução das memórias urbanas. Em Petrópolis, observou-se como as mudanças toponímicas refletiram transições de poder e novas narrativas políticas ao longo do tempo. Conclui-se que as políticas escalares toponímicas são ferramentas analíticas eficazes para compreender a (re)produção do espaço urbano, revelando as relações de poder e disputas simbólicas presentes na configuração espacial das cidades.
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This article presents an analysis of toponymic scalar politics, proposing an analytical tool for studying changes in place names. The methodology includes a comprehensive and systematic literature review on toponymy and geography, as well as an empirical case study focused on the city of Petrópolis (RJ). The theoretical framework is based on the concepts of scale, scalarity, and scalar politics, highlighting how place naming reflects and shapes identities and spatial narratives. The results show that place naming is influenced by specific historical and political contexts, with actions of naming, renaming, erasure, and maintenance playing crucial roles in the construction and reconstruction of urban memories. In Petrópolis, it was observed how toponymic changes reflected power transitions and new political narratives over time. It is concluded that toponymic scalar politics are effective analytical tools for understanding the (re)production of urban space, revealing power relations and symbolic disputes present in the spatial configuration of cities.
A geografia ibero-americana no contexto contemporâneo: um balanço crítico, 2023
Partimos da compreensão de que a informalidade não é algo que está fora do Estado, pois integra s... more Partimos da compreensão de que a informalidade não é algo que está fora do Estado, pois integra suas práticas espaciais. Argumentamos que a informalidade urbana é um elemento central do regime urbano nos países do sul global, uma vez que sua flexibilidade é utilizada de forma calculada para garantir as condições e os objetivos do Estado no que tange ao planejamento e ao governo das cidades. Para isso, nos valemos de excertos da história da constituição da informalidade habitacional na cidade do Rio de Janeiro entre as décadas de 1930 e 1960. Após apresentar brevemente o debate sobre a informalidade urbana, o artigo debate o papel que a regulação do estatuto jurídico e das atividades político-econômicas internas das favelas cumpriu na garantia da continuidade e atualização de um regime urbano marcado pela instabilidade, precariedade, desigualdade e violência. Por fim: reafirmamos a informalidade urbana como um conjunto heterogêneo de práticas que existem no interior do Estado e que constituem lógicas de administração e produção do valor diferencial do espaço urbano; ressaltamos a importância que as ambiguidades e contradições normativas do Estado têm para o uso flexível da informalidade; e destacamos o papel do planejamento urbano nesse processo.
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Starting from the understanding that informality is not something external to the state, as it is part of its spatial practices, we argue that urban informality is a central element of the urban regime of the Global South, since its flexibility is used in a calculated way to guarantee the conditions and objectives of the state when it comes to planning and governing cities. To do this, we use excerpts from the history of the constitution of housing informality in the city of Rio de Janeiro between the 1930s and 1960s. After a brief presentation of the debate on urban informality, the article discusses the role that the regulation of the legal status and internal political-economic activities of favelas played in guaranteeing the continuity and updating of an urban regime characterized by instability, precariousness, inequality, and violence. Finally: we affirm urban informality as a heterogeneous set of practices that exist within the state and constitute logics of management and production of the differential value of urban space; we emphasize the importance that the normative ambiguities and contradictions of the state have for the flexible use of informality; and we highlight the role of urban planning in this process.
Passamos tempo na Geografia centrando o debate epistemológico na definição de seu objeto. Nos últ... more Passamos tempo na Geografia centrando o debate epistemológico na definição de seu objeto. Nos últimos anos, com um debate intenso sobre o sujeito, surge a necessidade de tematizarmos o corpo. Cabe-nos refletir se os problemas apontados nas abordagens objetificantes estão sendo evitados ao se trabalhar o corpo — especialmente a reificação e absolutização dos “objetos”. Não estaria o corpo sendo também objetificado? Aqui propomos uma aproximação teórico-filosófica entre o corpo e o debate sobre a escalaridade, suspeitando da construção do corpo a partir da dicotomia sujeito-objeto e formulando a proposição do corpo-escala. Após problematizar a constituição do corpo visto a partir das perspectivas externa e subepidérmica, ressaltamos as influências do racismo, do hetero-cispatriarcado e do capitalismo na espacialização dos corpos não-hegemônicos para, logo após, tratarmos do corpo-escala enquanto protagonista de espacialidades marginais. Por fim, tratamos dos desafios metodológicos que surgem da atenção à escalaridade do corpo.
El movimiento de los sem-teto brasileño es uno de los principales movimientos sociales urbanos co... more El movimiento de los sem-teto brasileño es uno de los principales movimientos sociales urbanos contemporáneos del país. Como en otros movimientos, la categoría lucha tiene centralidad en las elaboraciones discursivas que legitiman sus prácticas socio-espaciales. Este artículo empieza de la polisemia y metamorfosis de la categoría lucha para reflexionar acerca de las formas en que dicho activismo escalariza sus acciones. Primeramente son expuestas las comprensiones básicas sobre la escalaridad; luego se destacan dos aspectos del rol práctico-político de dicha categoría que apuntan a la emergencia de la lucha en cuanto categoría escalar que ofrece una de las referencias que explican el funcionamiento del mundo, motivan las acciones y confieren trascendencia a las prácticas socio-espaciales cotidianas de dichos sujetos; y finaliza destacando las características prácticas, duales (contigua y discontinua) y forzosamente políticas de las escalas geográficas.
RESUMEN: El movimiento de los sem-teto brasileño es uno de los principales movimientos sociales u... more RESUMEN: El movimiento de los sem-teto brasileño es uno de los principales movimientos sociales urbanos contemporáneos del país. Como en otros movimientos, la categoría lucha tiene centralidad en las elaboraciones discursivas que legitiman sus prácticas socio-espaciales. Este artículo empieza de la polisemia y metamorfosis de la categoría lucha para reflexionar acerca de las formas en que dicho activismo escalariza sus acciones. Primeramente son expuestas las comprensiones básicas sobre la escalaridad; luego se destacan dos aspectos del rol práctico-político de dicha categoría que apuntan a la emergencia de la lucha en cuanto categoría escalar que ofrece una de las referencias que explican el funcionamiento del mundo, motivan las acciones y confieren trascendencia a las prácticas socio-espaciales cotidianas de dichos sujetos; y finaliza destacando las características prácticas, duales (contigua y discontinua) y forzosamente políticas de las escalas geográficas.
ABSTRACT: The Brazilian sem-teto or homeless worker movement is one of the main contemporary social urban movements in Brazil. As in other movements, the category struggle is central in the discursive theorizations legitimating its socio-spatial practices. This article begins with the polysemy and the metamorphosis of the struggle category in order to reflect upon the expressions used by this activism to scalarize its actions. First, some basic notions on scalarity are presented; then, two aspects of the practice-political role in the scalarity category are highlighted. These aspects point to the emergence of this struggle as a scalar one. In turn, scalarity helps us to explain the workings of the world, the drivers of some actions, and the transcendence of daily socio-spatial practices by sem-teto activists. Finally, the practical, dual (contiguous and discontinuous), and necessarily political features of geographic scales are highlighted.
RESUMO: O “problema da escala” emerge na Geografia no momento em que a necessidade de organizar a... more RESUMO: O “problema da escala” emerge na Geografia no momento em que a necessidade de organizar as unidades espaciais possíveis de serem identificadas é ressaltada como uma preocupação metodológica, sendo assim explicitado e tratado no âmbito acadêmico da Geografia sobretudo a partir da década de 1950. A difusão de certos referenciais teórico -políticos nas pesquisas sócio-espaciais ocidentais possibilitou que a questão escalar fosse, nos anos seguintes, observada desde abordagens para as quais dividir e organizar o espaço não era uma questão meramente metodológica, mas também epistemológica, política e, portanto, diretamente ligada à prática e à ação social. Mas a proliferação de trabalhos sobre as escalas geográficas não ocorreu homogeneamente nos diferentes ambientes linguísticos da literatura especializada. No caso anglófono, por exemplo, foi a partir do final da década de 1980 que isso aconteceu. O objetivo deste artigo é caracterizar os principais eixos do debate sobre as escalas geográficas que se desenrolou entre aproximadamente a última década do século XX e a primeira década do século XXI nas pesquisas realizadas no ambiente da Geografia anglófona de forma a incrementar a pluralidade de questões que fertilizam as compreensões sobre a escala geográfica.
ABSTRACT: The “scale problem” emerges in Geography at the moment in which the need to organize the possibly identifiable spatial units is highlighted as a methodological concern. Thus, it became explicit and treated in this academic field, specially from the 1950s onward. In the following years the diffusion of other theoretical-political references in Western socio-spatial research allowed the scalar issue to be observed from approaches for which the act of divide and organize the space was not merely a methodological issue, but also an epistemological and political one ―and, therefore, scale was recognized as directly linked to the practice and social action. But the proliferation of works on geographical scales did not occur homogeneously in the different linguistic environments of the specialized literature. In the Anglophone case, for example, it was from the end of the 1980s that this happened. The aim of this article is to characterize the main axes of the debate on geographical scales that took place between approximately the last decade of the twentieth century and the first decade of the twenty-first century in the research carried out in the environment of Anglophone Geography in order to increase the plurality of issues that fertilize the understandings on geographical scale
RESUMEN: El “problema de la escala” surge en Geografía en el momento en que se pone de manifiesto la necesidad de organizar las unidades espaciales identificables como una preocupación metodológica. Así, el tema se vuelve explícito y tratado en este ámbito académico principalmente a partir de la década de 1950. La difusión de ciertas referencias teórico-políticas en las investigaciones socio-espaciales ocidentales permitió que la cuestión escalar fuera, en los años siguientes, observada desde enfoques para los que d ividir y organizar el espacio no era una cuestión meramente metodológica, sino también epistemológica y política ―y, por lo tanto, directamente vinculada a la práctica y a la acción social. Pero la proliferación de trabajos sobre escalas geográficas no se produjo de forma homogénea en los distintos ámbitos lingüísticos de la literatura especializada. En el caso anglófono, por ejemplo, eso ocurrió a partir de finales de lo s años ochenta. El objetivo de este artículo es caracterizar los principales ejes del debate sobre las escalas geográficas que tuvo lugar aproximadamente entre la última década del siglo XX y la primera del siglo XXI en las investigaciones realizadas en el entorno de la Geografía anglófona con el fin de aumentar la pluralidad de cuestiones que alimentan las reflexiones sobre la escala geográfica.
RESUMO: O texto consiste em um exercício metodológico experimental que visa lançar um olhar escal... more RESUMO: O texto consiste em um exercício metodológico experimental que visa lançar um olhar escalar introdutório sobre a pandemia de covid-19 a partir de reflexões sobre como as recomendações sanitárias de “isolamento social” influenciam na percepção do recorte espacial da casa enquanto uma escala geográfica significativa nestes nossos tempos pandêmicos, considerando,sobretudo,as desigualdades que condicionam a experiência dos sujeitos com tal escala.
ABSTRACT: This text consists of an experimental methodological exercise that aims to launch an introductory scalar look at the covid-19 pandemic by reflecting on how sanitary recommendations of "social isolation" influence the perception of the space of the house as a meaningful geographical scale in these pandemic times, considering above all the inequalities that impacts the experience of subjects with such scale.
RESUMEN: El texto consiste en un ejercicio metodológico experimental que tiene por objeto lanzar una mirada escalar introductoria a la pandemia de covid-19 utilizándose de reflexiones sobre cómo las recomendaciones sanitarias de "aislamiento social" influyen en la percepción del corte espacial de la casa como una escala geográfica significativa em nuestros tiempos pandémicos, considerando sobre todo las desigualdades que condicionan la experiencia de los sujetos con dicha escala.
Tlalli. Revista de Investigación en Geografía, 2019
RESUMEN: Este artículo tiene como propósito contribuir a la identificación de rasgos generales de... more RESUMEN: Este artículo tiene como propósito contribuir a la identificación de rasgos generales del debate conocido como el problema de la escala, difundido en la literatura geográfica anglosajona y recientemente debatido en la literatura en español y en portugués. De ese interés se despliega el objetivo de rescatar elementos presentes en obras centrales en la historia del pensamiento geográfico occidental en el período entre mediados del siglo xix y mediados del siglo xx , para analizar permanencias temáticas en el debate sobre la escalaridad. En diferentes momentos de la historia de las ideas geográficas, la diferenciación socioespacial y la articulación de dichas diferencias constituyen temas continuamente discutidos, ya que son centrales en los procesos de significación de la existencia y de la acción humana, afirmándose como parte constitutiva y constituyente de la producción del mundo. En la primera parte del artículo la atención está sobre la definición de las unidades espaciales, preocupación presente en la historia del pensamiento geográfico y corresponsable de ofrecer una perspectiva espacial acerca de las relaciones parte-todo. La segunda sección se enfoca en la articulación y organización de las unidades espaciales, presentada como elemento crucial en el surgimiento del problema de la escala una vez que cumple un importante papel en las reflexiones metodológicas sobre las agrupaciones espaciales y el uso de métodos estadísticos en las investigaciones socioespaciales donde surgen preocupaciones sobre las escalas geográficas. Estas dos etapas del texto están basadas metodológicamente en revisiones bibliográficas hechas en textos del período mencionado (cuando el material se encontraba accesible) y de comentarios y reflexiones de autores más recientes e influyentes en el debate contemporáneo acerca del concepto de escala geográfica. Al final, presentaré las principales conclusiones del artículo, destacaré su relevancia y, a partir de eso, indicaré cuestiones para futuras investigaciones.
ABSTRACT: The aim of this article is to contribute to identify some of the main characteristics of the debate around the scale problem, which is widespread in Anglo-Saxon geographical literature and, at different levels, also recently debated in Spanish and Portuguese literature. From this interest unfolds the pursued objective of rescuing some central elements considered important to analyze thematic persistence in the debate about scalarity from works accepted as central to the history of Western geographic thought in the period between the mid-nineteenth century and the mid-twentieth century. This concern is based on the recognition that at different moments in the history of geographical ideas the processes of socio-spatial differentiation were blended with the articulation of these differences and became topics continuously discussed in socio-spatial research. Such a fact highlights that these two are crucial aspects to the processes that make sense of human existence and action, consolidating itself as content and constituent of the world’s construction and reflection. The first part of the article focuses on the definition of spatial units, a concern that exists in the history of geographical thought and that is responsible for offering a spatial perspective on part-whole relationships. The second section focuses on the attempt to articulate and organize the spatial units, presented here as another crucial element in the emergence of the scale problem. Its relevance is emphasized because it plays an important role in the methodological reflections on spatial grouping and on statistical methods in socio-spatial investigations that marked the rise of concerns with geographical scales. These two stages of the text are methodologically based on bibliographical reviews of works from the period mentioned (when the material was accessible) and on comments on more recent authors considered influential in the contemporary debate about the concept of geographic scale. In the end, the main conclusions are presented, their relevance is underlined, and some questions for future research are suggested.
Metrópole e crise societária: resistir para existir, 2019
Nos estudos sobre movimentos sociais urbanos brasileiros é sabido que entre as décadas de 1960 e ... more Nos estudos sobre movimentos sociais urbanos brasileiros é sabido que entre as décadas de 1960 e 1980 espaços que antes eram foco de ativismos aparentemente dispersos ganharam relevância por se tornarem referências para mobilizações cuja influência no cenário político nacional crescia. Para além dos espaços diretamente ligados à esfera da produção econômica, também aqueles vinculados à reprodução social passavam a ser vistos como loci de atuação de ativismos sociais, o que ampliou os espaços de atuação dos movimentos sociais e incorporou outras dimensões da cotidianidade, influenciando as reflexões acadêmicas sobre eles. De acordo com algumas análises, tal mudança levou à proliferação de pesquisas empíricas em detrimento de reflexões teóricas durante a década de 1980, ao menos no âmbito das pesquisas brasileiras, salvo exceções 1 .
Contested Cities Working Paper Series, vol. IV-5B (Alternativas Urbanas), 2016
El presente artículo se propone avanzar y profundizar el trabajo comparativo sostenido entre las ... more El presente artículo se propone avanzar y profundizar el trabajo comparativo sostenido entre las experiencias reivindicativas de los habitantes de villas por el acceso a la vivienda en Buenos Aires y algunos casos del movimiento de los sem-teto en Brasil. En el marco de nuestras investigaciones recientes, hemos trabajado en las características de cada caso, analizando sus trayectorias, su compleja construcción de legitimidad y su relación siempre conflictiva con el Estado. Nos proponemos focalizar en este estudio comparado la judicialización como estrategia implementada por estos actores sociales para exigir su derecho a la vivienda. En particular, analizamos un fenómeno basado en la utilización de la vía judicial como herramienta de los sectores populares. Para ello, nos concentraremos en las experiencias de la Villa Rodrigo Bueno de Buenos Aires y de las ocupaciones Pinheirinho (de São José dos Campos) y Quilombo das Guerreiras (de Río de Janeiro), ya que ambos equipos nos encontramos no solo investigando, sino acompañando desde el activismo la lucha por el hábitat digno de algunos de estos territorios. A partir de datos cualitativos recogidos a través de trabajos de campo con perspectiva etnográfica, entrevistas, revisión de documentos y fuentes bibliográficas, reflexionamos acerca de algunos rasgos generales de la utilización estratégica de las vías judiciales por parte de estos grupos. Al final, esbozamos tres ejes de análisis que resultan transversales: en primer lugar, los usos que asume la Justicia en esas demandas sociales; en segundo término, las alianzas y las vinculaciones que tales grupos tejen con otros actores sociales; por último, algunos de los alcances y los límites que, de manera preliminar, nos parecen presentar la judicialización como estrategia de lucha por el acceso a la vivienda.
Contested Cities Working Paper Series, Serie V (Políticas y luchas por la vivienda), 2016
A questão da falta de moradias para a classe trabalhadora é pautada no Brasil desde o século XIX.... more A questão da falta de moradias para a classe trabalhadora é pautada no Brasil desde o século XIX. Foi no decorrer do século XX, no entanto, que a dinâmica político‐econômica do país consolidou alguns traços que atualmente ainda caracterizam as políticas habitacionais brasileiras, dentre eles: a predominância da produção habitacional privada, mesmo que acompanhada de subsídios estatais; o financiamento de longo prazo para os mais pobres, tornando solvável uma demanda antes incapaz de participar do mercado habitacional; a estratégia de disseminação da propriedade privada, inclusive nas camadas mais pobres da classe trabalhadora; e a política habitacional como estratégia anticíclica para a economia e como motor da industrialização. Esse processo, porém, não se deu tendo o Estado, os promotores imobiliários e os proprietários fundiários como únicos agentes a disputarem os rumos da produção de moradias populares. A mobilização popular também cumpriu papel decisivo nessas definições, sobretudo nas últimas décadas. Diante disso, almejamos neste artigo o objetivo de apresentar um quadro geral sobre a questão da moradia no Brasil, de forma a abarcar, por um lado, as iniciativas do Estado na promoção de moradias adequadas àquelas pessoas que não conseguem adquiri‐las pelo mercado imobiliário e as ferramentas legais que moldam ao longo dos anos o papel que o Estado cumpre nesse processo; por outro, também focaremos no percurso de construção da luta por moradia, que parte da organização de parcelas da população apresentando suas demandas e construindo suas alternativas específicas.
A diferenciação sócio-espacial, em conjunto com a articulação de tais diferenças, está no cerne d... more A diferenciação sócio-espacial, em conjunto com a articulação de tais diferenças, está no cerne dos processos de significação da existência e da ação humana, configurando-se como um dos eixos continuamente discutidos nas pesquisas sócio-espaciais. A organização do espaço em distintos “níveis de realidade”, que resulta em arranjos ou configurações escalares específicas, ajuda a conferir sentido a tais diferenças, motivo pelo qual ela é parte constitutiva e constituinte da produção do mundo e das reflexões sobre tal processo. A despeito de tais preocupações não serem recentes nesse campo de pesquisas, as escalas geográficas somente começam a surgir como foco de atenção nas pesquisas sócio-espaciais a partir das décadas de 1950 e 60, especialmente nas pesquisas sócio-espaciais anglófonas. Estas páginas têm como propósito buscar identificar traços gerais do debate conhecido como o problema da escala que, ao emergir, antecedeu a “explosão” de trabalhos sobre este conceito a partir da década de 1980, especialmente na literatura geográfica anglo-saxã. Com base sobretudo em revisões bibliográficas, o artigo é organizado de forma a tornar nítidos aspectos que, entre a virada do século XIX e meados do século XX, explicitam a presença de duas dimensões consideradas fundantes dos debates sobre a escalaridade: a divisão do espaço em recortes e a articulação de tais unidades espaciais. Por fim, as reflexões apontam para questionamentos sobre os motivos pelos quais a emergência das escalas geográficas como um problema formulado dessa maneira só ganhou destaque na história da Geografia em meados do século XX, indicando possíveis caminhos para investigações futuras.
Brazil experienced, in June of 2013, the largest popular demonstrations in its recent history —an... more Brazil experienced, in June of 2013, the largest popular demonstrations in its recent history —an event that has been called the June Journeys. In this paper, we briefly address briefly the processes of spatial diffusion and dispersion observed during these journeys. We then reflect on how these processes relate to a politics of identity, and the strategies used by protesters to differentiate themselves from other groups, and by the State to classify the protesters in order to guide the use of police repression. Identity can, therefore, group individuals around a common struggle using as reference the location of the demonstration as ‘spaces of identity reference’, but can also play an important role in the reproduction of dominant power relations by creating mechanisms with which to legitimate punitive action. The ‘vandal’ is, then, understood as the identity constructed to allow the transition from an indirect regulation to a mode of violent intervention. We conclude the paper by emphasising how both of these processes highlight the role of the politics of identity on this recent series of demonstrations in Brazil.
Nas últimas duas décadas, o debate teórico sobre as escalas geográficas cresceu no meio acadêmico... more Nas últimas duas décadas, o debate teórico sobre as escalas geográficas cresceu no meio acadêmico, especialmente no anglófono, mas sem grande interesse da geografia brasileira. Este artigo faz uma releitura de duas publicações nacionais das décadas de 1970 e 80 que abordaram o tema mas que são pouco lembradas, contrastando-as com alguns apontamentos de recentes produções de língua inglesa. A abordagem da história do pensamento geográfico de uma perspectiva escalar, a ênfase na coexistência das escalas em cada recorte do real e a visão das escalas geográficas como fruto de processos espaciais são algumas das contribuições originais dos dois trabalhos. Ao final, reforça-se a importância de se retomar e atualizar o debate teórico-conceitual sobre as escalas geográficas no país, visto serem elas elementos constitutivos do pensamento e da ação e, por isso, importantes e eficientes instrumentos de exercício de poder.
RESUMO
A proposta de autogestão pressupõe a igualdade de participação efetiva no exercício do pod... more RESUMO A proposta de autogestão pressupõe a igualdade de participação efetiva no exercício do poder, seja ele em sua dimensão formal ou informal. Seu caráter radicalmente democrático é afeito à heterogeneidade, que, por sua vez, pode levar à formação e consolidação de grupos de afinidade com perspectivas políticas diferentes. Nessa proposta, a igualdade de participação no poder faz com que cada pessoa tenha o mesmo peso nas deliberações, ganhando ênfase o processo de convencimento e de disputa por opiniões. No caso de nanoterritórios onde, em meio às interações pessoais, se faz presente o horizonte autogestionário, dinâmicas e práticas espaciais ligadas à constante e infindável construção desse regime político influenciam e são influenciadas diretamente pelas negociações feitas no dia a dia. Assim, as características da espacialidade cotidiana podem colaborar ou dificultar a elaboração de entendimentos nas interações. Neste artigo buscamos refletir sobre alguns aspectos dessa relação entre a espacialidade e as negociações cotidianas, tão importantes para processos de mobilização política coletiva de inspiração autogestionária. Para isso, lançamos o olhar sobre a Ocupação Chiquinha Gonzaga, ligada a uma parcela específica do movimento dos sem-teto carioca formada por ocupações da variante por coletivo, onde predominam as preocupações com o fomento de relações de poder internas com reduzidos traços de hierarquia. Através de uma pesquisa participante de caráter exploratório com as características de uma interação colaborativa (construída para além do período da pesquisa), pudemos observar elementos da espacialidade e das práticas espaciais cotidianas que indicam a elaboração coletiva de mecanismos próprios de negociação, tornando bastante específica a forma de autogestão em experiência nesse território. Dessa forma, foi possível também reforçarmos as indicações feitas por outros autores de que o pano de fundo político-filosófico aparentemente mais apropriado para a busca de um entendimento mútuo livre de coerções seja o projeto de uma sociedade basicamente autônoma.
ABSTRACT The proposal of self-management presumes equal and effective participation in the exercise of power, in its formal or informal dimension. Its radical democratic character allows the expression of heterogeneity and, with time, may lead to the formation and consolidation of affinities groups with different political perspectives. Considering this proposal, the equal participation in power gives to every person the same weight in the dynamics of the deliberations, emphasizing the process of persuasion and the dispute for opinions. In the case of nanoterritories where, among the personal interactions, the horizon of self-management horizon is present, dynamics and spatial practices related to the constant and endless process of construction of this political regime influence and are influenced directly by everyday negotiations. Thus, the characteristics of the spatiality of everyday life could collaborate or disturb the elaboration of understanding of these interactions. In this article, we reflect upon some aspects of the relation between the spatiality and the everyday negotiations, both of which are important elements for processes of collective political mobilization inspired by self-management. In order to do that, we considered the case of Ocupação Chiquinha Gonzaga, which is part of a specific portion of the sem-teto movement of Rio de Janeiro (ie. the collective variant of this movement) where concerns related of the promotion of horizontal power relations predominates. Within an exploratory participant research with characteristics of a collaborative interaction (nourished even beyond the research period), we observed elements of the spatiality and everyday spatial practices that indicate a collective construction of particular mechanisms of negotiation, making the self-management experience of this territory a very specific one. We also reinforce the indications made by other authors that the political-philosophical background apparently more appropriate for the pursuit of mutual understanding, free of all kind of coercions, may be the project of a basically autonomous society.
Working Paper Series Contested Cities (vol. IV), Jul 24, 2016
Diante do crescimento da importância do papel do movimento dos sem-teto no cenário da organização... more Diante do crescimento da importância do papel do movimento dos sem-teto no cenário da organização interna das cidades brasileiras (notadamente de suas metrópoles), o trabalho apresenta algumas táticas espaciais adotadas por esse movimento frente a duas das táticas espaciais utilizadas pelo capital imobiliário no espaço urbano: o investimento em novas áreas de expansão —notadamente na franja periurbana —e o reinvestimento em zonas de obsolescência — especialmente as localizadas próximas ao núcleo central das cidades. Para isso foi feito um estudo de caso auxiliado por um “caso de contraste”: o primeiro enfoca a espacialidade de quatro ocupações no centro da cidade do Rio de Janeiro; o segundo aborda algumas práticas espaciais do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) de São Paulo.
Anais do XVI Encontro Nacional de Geógrafos, Jul 23, 2010
Há uma grande diversidade no entendimento do que sejam os movimentos sociais e nas abordagens par... more Há uma grande diversidade no entendimento do que sejam os movimentos sociais e nas abordagens para analisá-los. Diante dessa diversidade, pesquisadores como Marcelo Lopes de Souza e Ana Clara Torres Ribeiro têm criticado, em vários trabalhos, a frequente falta de rigor na definição do conceito de movimentos sociais. O primeiro propõe, inclusive, uma definição que desenvolve, de maneira crítica, formulações de Alain Touraine e de Manuel Castells sobre o tema. Para Souza, seriam sobretudo os graus de ambição política, de mobilização e de organização que distinguiriam os movimentos sociais dos demais ativismos. Por sua vez, esses critérios também destacariam estes últimos da ampla gama de ações coletivas possíveis. Uma definição como essa exige, evidentemente, um bom exercício de abstração. Assim, para manter a sua força teórica, demanda também uma série de complementações conceituais e metodológicas de análise. À luz desta demanda, podemos destacar aqui dois elementos centrais na constituição dos movimentos sociais que são bastante conhecidos, mas muito frequentemente estudados de maneira dissociada, a saber: a sua ação e as suas estruturas (ou composições) organizativas. Para refletir sobre esses elementos, acreditamos que dois conceitos cunhados no âmbito da Antropologia Política, já na década de 1960, são particularmente apropriados. São eles os conceitos de campo político e arena. De maneira muito breve, podemos dizer que estes conceitos se aplicam a processos políticos cujo grau de estruturação é muito menor do que aqueles que envolvem, por exemplo, os partidos e o aparelho de Estado – o que não significa que instituições desse tipo estejam necessariamente excluídas de tais processos. Trata-se de processos políticos de grande fluidez, animados por diversos grupos e organizações que a eles se envolvem em diferentes graus e de distintas maneiras. Além disso, a própria ação dos seus atores (incluindo as suas práticas espaciais) é decisiva na sua configuração. Tal dinâmica parece-nos ser, justamente, a mais condizente com a dos movimentos sociais, seja se considerarmos a configuração das relações de poder que se estabelecem no interior de alguma experiência específica de um movimento social, seja tomando tal movimento como um todo – isto é, como um conjunto de organizações e indivíduos envolvidos mais ou menos diretamente em um processo político específico. A pertinência dos conceitos de campo político e arena para a análise dos movimentos sociais foi demonstrada de maneira muito contundente nos estudos pioneiros de Carlos Nelson Ferreira dos Santos sobre alguns importantes ativismos urbanos no Rio de Janeiro dos anos 60 e 70. Sua abordagem, apesar de possuir problemas – os quais serão comentados neste trabalho –, tem servido de inspiração a nós, e, anteriormente, a autores como o geógrafo João Vicente Lagüens (em uma dissertação sobre a constituição de sujeitos políticos no orçamento participativo de Porto Alegre). Feita esta breve introdução, podemos dizer que o objetivo do nosso artigo é apresentar ao leitor os conceitos de campo político e arena, mostrando como eles são úteis para uma compreensão adequada dos movimentos sociais e de várias práticas espaciais a eles vinculados. Teceremos, contudo, algumas críticas a respeito das formulações originais desses conceitos feitas por Marc Swartz, especialmente sobre o que nos parecem ser alguns resquícios funcionalistas dessas elaborações. Outras considerações críticas também serão direcionadas, posteriormente, à aplicação desses conceitos feita por Carlos Nelson Ferreira dos Santos. Além desta aproximação crítica, objetivamos realçar a importância das práticas espaciais para a composição dos campos políticos e das arenas dos movimentos sociais, bem como para as ações por eles protagonizadas e para a construção dos projetos políticos por eles almejados. Para reforçar a nossa argumentação, buscaremos demonstrar a aplicabilidade das mudanças que propomos aos conceitos em tela por meio de uma breve análise de um estudo de caso realizado junto a uma ocupação do movimento dos sem-teto, localizada no Centro do Rio de Janeiro, a Ocupação Chiquinha Gonzaga. Para a realização desse estudo de caso, valemo-nos da estratégia metodológica da pesquisa participante, viabilizada pela colaboração intensiva dos autores com a fração do movimento dos sem-teto da qual a ocupação faz parte. Nesta pesquisa, de cunho qualitativo, realizamos entrevistas formais semi-estruturadas, com diretriz, aplicadas seguindo uma divisão por quotas entre os moradores e ativistas dos diferentes campos e arenas da referida ocupação. Utilizamos sistematicamente também observações próximas àquelas de tipo etnográfico, com o registro das experiências presenciadas ao longo de nosso convívio junto à ocupação, através, principalmente, do uso de diários de campo. Como resultados da nossa pesquisa empírica e das reflexões teóricas que a acompanham – as quais têm como base um trabalho anteriormente realizado por um dos autores e uma pesquisa em fase de conclusão do outro –, acreditamos que: a) ela contribui para a refutação de certas definições que limitariam a ação dos movimentos sociais dentro de balizas analítica estreitas, como a de “ciclos de vida”; b) sugere a substituição do conceito funcionalista de “public goal” pelo conceito mais amplo de “projeto político” para a definição do elemento de convergência dos atores que animam os campos políticos de um movimento social; e, por fim c) ajuda a compreender melhor as relações entre as práticas espaciais e as disputas políticas de atores (indivíduos ou grupos) com opiniões e projetos políticos distintos – mesmo no interior de uma pequena fração de um movimento social específico. Com isso, esperamos colaborar com as concepções teóricas que sustentam não ser essa diversidade um sinal de fraqueza dos movimentos sociais, representando, pelo contrário, um dos seus elementos constitutivos, o qual, se bem encarado, fornece uma das bases para uma prática política cotidiana verdadeiramente democrática e plural.
Anais do XVI Encontro Nacional de Geógrafos, Jul 23, 2010
As pesquisas que enfocam os movimentos sociais sempre partiram de matrizes diversas para abordar ... more As pesquisas que enfocam os movimentos sociais sempre partiram de matrizes diversas para abordar esses tipos específicos de ação social. Na Europa, boa parte da literatura sobre o tema atenta especialmente para os movimentos ligados à esfera das relações de produção na sociedade capitalista (seja em suas experiências do início do século XX, seja em suas variações mais contemporâneas). Já no Brasil, não é difícil perceber como as referências por aqui também têm sido, justamente, esses tipos de movimentos sociais europeus. Em que pesem as diferenças sócio-espaciais e históricas desses contextos, o fato de as mais conhecidas experiências populares brasileiras se vincularem de forma especial à cotidianidade e à esfera das relações de reprodução social fez, durante um bom tempo, com que diversos pesquisadores do país as vissem como mobilizações pouco ambiciosas. Somente depois do surgimento e da ampliação mais recente da primeira e segunda geração dos novos movimentos sociais na América Latina é que outras leituras têm tomado maior espaço, como o aprofundamento das experiências de grandes e diferentes movimentos sociais indígenas (os aimaras andinos ou zapatistas mexicanos, por exemplo), o crescimento de movimentos urbanos (como os sem-teto, os sensibilizados pelas questões de mobilidade e transporte, os vitimados pela violência do Estado). Para além disso, salta aos olhos dos autores a importância que as demandas que envolvem os espaços privados têm desempenhado para os processos políticos coletivos desses movimentos sociais. A luta por moradia no campo e na cidade (bem como por condições de segurança, transporte, lazer e obtenção de renda) se associa às resistências fundamentais contra outros tipos de opressão (cultural, de gênero, etária, étnica, etc.) de forma a tornar estes espaços de enorme relevância para a compreensão sobre os movimentos sociais. Mais do que isso, tais espaços são inseridos em um contexto no qual diversas escalas de opressão e de resistência se entrecruzam, tornando as experiências ainda mais complexas. Ao mesmo tempo, tais experiências recentes de movimentos sociais latino-americanos se diferenciam também pelas novas maneiras com que organizam as relações de poder internas e as interações com outras organizações, lutas e movimentos. Nesse sentido, a dimensão do compartilhamento cotidiano se torna central para essas experiências, com os espaços privados desempenhando aparentemente papéis de referência. E é a esse respeito que o trabalho que se apresenta aqui tenta pensar. Seu objetivo é refletir sobre alguns aspectos gerais e introdutórios do papel que os espaços privados desempenham na espacialidade cotidiana de um dos principais movimentos sociais urbanos brasileiros na atualidade: o movimento dos sem-teto. Ele parte de três pesquisas individuais ainda em andamento junto às ocupações de uma fração específica desse movimento social, atuante na área central da cidade do Rio de Janeiro. Para tanto, o artigo foca em considerações sobre um território específico desse movimento, a Ocupação Quilombo das Guerreiras. A referida ocupação tem organizado a gestão dos seus espaços a partir de uma estrutura formal fortemente horizontalizada (ou seja, com reduzidíssimos traços de hierarquia), na qual os espaços deliberativos são abertos à participação de todos os moradores. Os espaços privados possuem, também, um papel político importante para o funcionamento da ocupação e de seu tipo de gestão. Em primeiro lugar, constituem a razão primeira da luta dos sem-teto – conquistar um espaço próprio para servir de moradia para cada indivíduo e, sendo o caso, para sua família. Dessa forma, a obtenção de uma moradia representa a possibilidade de melhor atender a suas necessidades urgentes e garantir um espaço seguro onde a privacidade da família seja respeitada. Contudo, a relação entre os espaços privados da ocupação estudada e seus moradores não corresponde a uma relação de propriedade, mas sim, de posse. O morador não pode vender ou alugar a sua unidade de moradia, pois ela pertence ao coletivo de moradores. Deste modo, os espaços privados não são completamente imunes às intervenções do coletivo – se raramente de maneira direta, tais intervenções podem acabar ocorrendo de forma indireta. Os moradores da ocupação acabam por formar redes sociais que permeiam a unidade doméstica – redes de relações informais intersubjetivas – que serão criadas e fortificadas nos espaços coletivos. Metodologicamente, buscando um plano de amostragem não-probabilístico do tipo “bola de neve”, a pesquisa (de cunho qualitativo) se vale de entrevistas formais semi-abertas e entrevistas informais com e sem diretriz. Também conta com os procedimentos de observação participante, acompanhada de registros sistemáticos em diários de campo. Trata-se de uma abordagem bastante vinculada à interação colaborativa que tem-se estabelecido no decorrer dos últimos anos com as experiências dessa fração do movimento dos sem-teto. Através desses procedimentos metodológicos, o artigo aponta de forma introdutória para duas interações que envolvem os espaços privados da ocupação estudada: (a) entendendo que as relações sociais que interagem com os diferentes espaços coletivos da ocupação fortificam ou enfraquecem tal rede de solidariedade, esta aparenta contribuir para uma maior abertura dos espaços privados ao convívio coletivo; (b) alguns aspectos que sugerem a possível influência recíproca entre tal rede de solidariedade e o capital relacional de moradores(as), através da analise das condições e padrões de conduta que fazem parte do “regime de moralidades” demandado pelo “coletivo” e seus moradores. Espera-se, dessa forma, contribuir para a valorização da espacialidade cotidiana e do papel dos espaços privados nos estudos a respeito dos movimentos sociais, vendo tais características como fundamentais tanto para uma melhor elucidação desse tipo de ação social, quanto para uma maior capacidade de cooperação junto às experiências de mobilização popular.
Anais do VI Encontro Nacional de História da Geografia / IV Encontro Nacional de Geografia Histórica, realizado em outubro do ano passado, 2024
Este artigo apresenta uma análise das políticas escalares toponímicas, propondo uma ferramenta an... more Este artigo apresenta uma análise das políticas escalares toponímicas, propondo uma ferramenta analítica para o estudo das mudanças nos nomes dos lugares. A metodologia inclui uma revisão bibliográfica ampla e sistemática sobre a toponímia e a geografia, além de um estudo de caso empírico focado na cidade de Petrópolis (RJ). O referencial teórico baseia-se nos conceitos de escala, escalaridade e políticas escalares, destacando como a nomeação dos lugares reflete e molda identidades e narrativas espaciais. Os resultados mostram que a nomeação dos lugares é influenciada por contextos históricos e políticos específicos, com ações de nomeação, renomeação, apagamento e manutenção desempenhando papéis cruciais na construção e reconstrução das memórias urbanas. Em Petrópolis, observou-se como as mudanças toponímicas refletiram transições de poder e novas narrativas políticas ao longo do tempo. Conclui-se que as políticas escalares toponímicas são ferramentas analíticas eficazes para compreender a (re)produção do espaço urbano, revelando as relações de poder e disputas simbólicas presentes na configuração espacial das cidades.
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This article presents an analysis of toponymic scalar politics, proposing an analytical tool for studying changes in place names. The methodology includes a comprehensive and systematic literature review on toponymy and geography, as well as an empirical case study focused on the city of Petrópolis (RJ). The theoretical framework is based on the concepts of scale, scalarity, and scalar politics, highlighting how place naming reflects and shapes identities and spatial narratives. The results show that place naming is influenced by specific historical and political contexts, with actions of naming, renaming, erasure, and maintenance playing crucial roles in the construction and reconstruction of urban memories. In Petrópolis, it was observed how toponymic changes reflected power transitions and new political narratives over time. It is concluded that toponymic scalar politics are effective analytical tools for understanding the (re)production of urban space, revealing power relations and symbolic disputes present in the spatial configuration of cities.
A geografia ibero-americana no contexto contemporâneo: um balanço crítico, 2023
Partimos da compreensão de que a informalidade não é algo que está fora do Estado, pois integra s... more Partimos da compreensão de que a informalidade não é algo que está fora do Estado, pois integra suas práticas espaciais. Argumentamos que a informalidade urbana é um elemento central do regime urbano nos países do sul global, uma vez que sua flexibilidade é utilizada de forma calculada para garantir as condições e os objetivos do Estado no que tange ao planejamento e ao governo das cidades. Para isso, nos valemos de excertos da história da constituição da informalidade habitacional na cidade do Rio de Janeiro entre as décadas de 1930 e 1960. Após apresentar brevemente o debate sobre a informalidade urbana, o artigo debate o papel que a regulação do estatuto jurídico e das atividades político-econômicas internas das favelas cumpriu na garantia da continuidade e atualização de um regime urbano marcado pela instabilidade, precariedade, desigualdade e violência. Por fim: reafirmamos a informalidade urbana como um conjunto heterogêneo de práticas que existem no interior do Estado e que constituem lógicas de administração e produção do valor diferencial do espaço urbano; ressaltamos a importância que as ambiguidades e contradições normativas do Estado têm para o uso flexível da informalidade; e destacamos o papel do planejamento urbano nesse processo.
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Starting from the understanding that informality is not something external to the state, as it is part of its spatial practices, we argue that urban informality is a central element of the urban regime of the Global South, since its flexibility is used in a calculated way to guarantee the conditions and objectives of the state when it comes to planning and governing cities. To do this, we use excerpts from the history of the constitution of housing informality in the city of Rio de Janeiro between the 1930s and 1960s. After a brief presentation of the debate on urban informality, the article discusses the role that the regulation of the legal status and internal political-economic activities of favelas played in guaranteeing the continuity and updating of an urban regime characterized by instability, precariousness, inequality, and violence. Finally: we affirm urban informality as a heterogeneous set of practices that exist within the state and constitute logics of management and production of the differential value of urban space; we emphasize the importance that the normative ambiguities and contradictions of the state have for the flexible use of informality; and we highlight the role of urban planning in this process.
Passamos tempo na Geografia centrando o debate epistemológico na definição de seu objeto. Nos últ... more Passamos tempo na Geografia centrando o debate epistemológico na definição de seu objeto. Nos últimos anos, com um debate intenso sobre o sujeito, surge a necessidade de tematizarmos o corpo. Cabe-nos refletir se os problemas apontados nas abordagens objetificantes estão sendo evitados ao se trabalhar o corpo — especialmente a reificação e absolutização dos “objetos”. Não estaria o corpo sendo também objetificado? Aqui propomos uma aproximação teórico-filosófica entre o corpo e o debate sobre a escalaridade, suspeitando da construção do corpo a partir da dicotomia sujeito-objeto e formulando a proposição do corpo-escala. Após problematizar a constituição do corpo visto a partir das perspectivas externa e subepidérmica, ressaltamos as influências do racismo, do hetero-cispatriarcado e do capitalismo na espacialização dos corpos não-hegemônicos para, logo após, tratarmos do corpo-escala enquanto protagonista de espacialidades marginais. Por fim, tratamos dos desafios metodológicos que surgem da atenção à escalaridade do corpo.
El movimiento de los sem-teto brasileño es uno de los principales movimientos sociales urbanos co... more El movimiento de los sem-teto brasileño es uno de los principales movimientos sociales urbanos contemporáneos del país. Como en otros movimientos, la categoría lucha tiene centralidad en las elaboraciones discursivas que legitiman sus prácticas socio-espaciales. Este artículo empieza de la polisemia y metamorfosis de la categoría lucha para reflexionar acerca de las formas en que dicho activismo escalariza sus acciones. Primeramente son expuestas las comprensiones básicas sobre la escalaridad; luego se destacan dos aspectos del rol práctico-político de dicha categoría que apuntan a la emergencia de la lucha en cuanto categoría escalar que ofrece una de las referencias que explican el funcionamiento del mundo, motivan las acciones y confieren trascendencia a las prácticas socio-espaciales cotidianas de dichos sujetos; y finaliza destacando las características prácticas, duales (contigua y discontinua) y forzosamente políticas de las escalas geográficas.
RESUMEN: El movimiento de los sem-teto brasileño es uno de los principales movimientos sociales u... more RESUMEN: El movimiento de los sem-teto brasileño es uno de los principales movimientos sociales urbanos contemporáneos del país. Como en otros movimientos, la categoría lucha tiene centralidad en las elaboraciones discursivas que legitiman sus prácticas socio-espaciales. Este artículo empieza de la polisemia y metamorfosis de la categoría lucha para reflexionar acerca de las formas en que dicho activismo escalariza sus acciones. Primeramente son expuestas las comprensiones básicas sobre la escalaridad; luego se destacan dos aspectos del rol práctico-político de dicha categoría que apuntan a la emergencia de la lucha en cuanto categoría escalar que ofrece una de las referencias que explican el funcionamiento del mundo, motivan las acciones y confieren trascendencia a las prácticas socio-espaciales cotidianas de dichos sujetos; y finaliza destacando las características prácticas, duales (contigua y discontinua) y forzosamente políticas de las escalas geográficas.
ABSTRACT: The Brazilian sem-teto or homeless worker movement is one of the main contemporary social urban movements in Brazil. As in other movements, the category struggle is central in the discursive theorizations legitimating its socio-spatial practices. This article begins with the polysemy and the metamorphosis of the struggle category in order to reflect upon the expressions used by this activism to scalarize its actions. First, some basic notions on scalarity are presented; then, two aspects of the practice-political role in the scalarity category are highlighted. These aspects point to the emergence of this struggle as a scalar one. In turn, scalarity helps us to explain the workings of the world, the drivers of some actions, and the transcendence of daily socio-spatial practices by sem-teto activists. Finally, the practical, dual (contiguous and discontinuous), and necessarily political features of geographic scales are highlighted.
RESUMO: O “problema da escala” emerge na Geografia no momento em que a necessidade de organizar a... more RESUMO: O “problema da escala” emerge na Geografia no momento em que a necessidade de organizar as unidades espaciais possíveis de serem identificadas é ressaltada como uma preocupação metodológica, sendo assim explicitado e tratado no âmbito acadêmico da Geografia sobretudo a partir da década de 1950. A difusão de certos referenciais teórico -políticos nas pesquisas sócio-espaciais ocidentais possibilitou que a questão escalar fosse, nos anos seguintes, observada desde abordagens para as quais dividir e organizar o espaço não era uma questão meramente metodológica, mas também epistemológica, política e, portanto, diretamente ligada à prática e à ação social. Mas a proliferação de trabalhos sobre as escalas geográficas não ocorreu homogeneamente nos diferentes ambientes linguísticos da literatura especializada. No caso anglófono, por exemplo, foi a partir do final da década de 1980 que isso aconteceu. O objetivo deste artigo é caracterizar os principais eixos do debate sobre as escalas geográficas que se desenrolou entre aproximadamente a última década do século XX e a primeira década do século XXI nas pesquisas realizadas no ambiente da Geografia anglófona de forma a incrementar a pluralidade de questões que fertilizam as compreensões sobre a escala geográfica.
ABSTRACT: The “scale problem” emerges in Geography at the moment in which the need to organize the possibly identifiable spatial units is highlighted as a methodological concern. Thus, it became explicit and treated in this academic field, specially from the 1950s onward. In the following years the diffusion of other theoretical-political references in Western socio-spatial research allowed the scalar issue to be observed from approaches for which the act of divide and organize the space was not merely a methodological issue, but also an epistemological and political one ―and, therefore, scale was recognized as directly linked to the practice and social action. But the proliferation of works on geographical scales did not occur homogeneously in the different linguistic environments of the specialized literature. In the Anglophone case, for example, it was from the end of the 1980s that this happened. The aim of this article is to characterize the main axes of the debate on geographical scales that took place between approximately the last decade of the twentieth century and the first decade of the twenty-first century in the research carried out in the environment of Anglophone Geography in order to increase the plurality of issues that fertilize the understandings on geographical scale
RESUMEN: El “problema de la escala” surge en Geografía en el momento en que se pone de manifiesto la necesidad de organizar las unidades espaciales identificables como una preocupación metodológica. Así, el tema se vuelve explícito y tratado en este ámbito académico principalmente a partir de la década de 1950. La difusión de ciertas referencias teórico-políticas en las investigaciones socio-espaciales ocidentales permitió que la cuestión escalar fuera, en los años siguientes, observada desde enfoques para los que d ividir y organizar el espacio no era una cuestión meramente metodológica, sino también epistemológica y política ―y, por lo tanto, directamente vinculada a la práctica y a la acción social. Pero la proliferación de trabajos sobre escalas geográficas no se produjo de forma homogénea en los distintos ámbitos lingüísticos de la literatura especializada. En el caso anglófono, por ejemplo, eso ocurrió a partir de finales de lo s años ochenta. El objetivo de este artículo es caracterizar los principales ejes del debate sobre las escalas geográficas que tuvo lugar aproximadamente entre la última década del siglo XX y la primera del siglo XXI en las investigaciones realizadas en el entorno de la Geografía anglófona con el fin de aumentar la pluralidad de cuestiones que alimentan las reflexiones sobre la escala geográfica.
RESUMO: O texto consiste em um exercício metodológico experimental que visa lançar um olhar escal... more RESUMO: O texto consiste em um exercício metodológico experimental que visa lançar um olhar escalar introdutório sobre a pandemia de covid-19 a partir de reflexões sobre como as recomendações sanitárias de “isolamento social” influenciam na percepção do recorte espacial da casa enquanto uma escala geográfica significativa nestes nossos tempos pandêmicos, considerando,sobretudo,as desigualdades que condicionam a experiência dos sujeitos com tal escala.
ABSTRACT: This text consists of an experimental methodological exercise that aims to launch an introductory scalar look at the covid-19 pandemic by reflecting on how sanitary recommendations of "social isolation" influence the perception of the space of the house as a meaningful geographical scale in these pandemic times, considering above all the inequalities that impacts the experience of subjects with such scale.
RESUMEN: El texto consiste en un ejercicio metodológico experimental que tiene por objeto lanzar una mirada escalar introductoria a la pandemia de covid-19 utilizándose de reflexiones sobre cómo las recomendaciones sanitarias de "aislamiento social" influyen en la percepción del corte espacial de la casa como una escala geográfica significativa em nuestros tiempos pandémicos, considerando sobre todo las desigualdades que condicionan la experiencia de los sujetos con dicha escala.
Tlalli. Revista de Investigación en Geografía, 2019
RESUMEN: Este artículo tiene como propósito contribuir a la identificación de rasgos generales de... more RESUMEN: Este artículo tiene como propósito contribuir a la identificación de rasgos generales del debate conocido como el problema de la escala, difundido en la literatura geográfica anglosajona y recientemente debatido en la literatura en español y en portugués. De ese interés se despliega el objetivo de rescatar elementos presentes en obras centrales en la historia del pensamiento geográfico occidental en el período entre mediados del siglo xix y mediados del siglo xx , para analizar permanencias temáticas en el debate sobre la escalaridad. En diferentes momentos de la historia de las ideas geográficas, la diferenciación socioespacial y la articulación de dichas diferencias constituyen temas continuamente discutidos, ya que son centrales en los procesos de significación de la existencia y de la acción humana, afirmándose como parte constitutiva y constituyente de la producción del mundo. En la primera parte del artículo la atención está sobre la definición de las unidades espaciales, preocupación presente en la historia del pensamiento geográfico y corresponsable de ofrecer una perspectiva espacial acerca de las relaciones parte-todo. La segunda sección se enfoca en la articulación y organización de las unidades espaciales, presentada como elemento crucial en el surgimiento del problema de la escala una vez que cumple un importante papel en las reflexiones metodológicas sobre las agrupaciones espaciales y el uso de métodos estadísticos en las investigaciones socioespaciales donde surgen preocupaciones sobre las escalas geográficas. Estas dos etapas del texto están basadas metodológicamente en revisiones bibliográficas hechas en textos del período mencionado (cuando el material se encontraba accesible) y de comentarios y reflexiones de autores más recientes e influyentes en el debate contemporáneo acerca del concepto de escala geográfica. Al final, presentaré las principales conclusiones del artículo, destacaré su relevancia y, a partir de eso, indicaré cuestiones para futuras investigaciones.
ABSTRACT: The aim of this article is to contribute to identify some of the main characteristics of the debate around the scale problem, which is widespread in Anglo-Saxon geographical literature and, at different levels, also recently debated in Spanish and Portuguese literature. From this interest unfolds the pursued objective of rescuing some central elements considered important to analyze thematic persistence in the debate about scalarity from works accepted as central to the history of Western geographic thought in the period between the mid-nineteenth century and the mid-twentieth century. This concern is based on the recognition that at different moments in the history of geographical ideas the processes of socio-spatial differentiation were blended with the articulation of these differences and became topics continuously discussed in socio-spatial research. Such a fact highlights that these two are crucial aspects to the processes that make sense of human existence and action, consolidating itself as content and constituent of the world’s construction and reflection. The first part of the article focuses on the definition of spatial units, a concern that exists in the history of geographical thought and that is responsible for offering a spatial perspective on part-whole relationships. The second section focuses on the attempt to articulate and organize the spatial units, presented here as another crucial element in the emergence of the scale problem. Its relevance is emphasized because it plays an important role in the methodological reflections on spatial grouping and on statistical methods in socio-spatial investigations that marked the rise of concerns with geographical scales. These two stages of the text are methodologically based on bibliographical reviews of works from the period mentioned (when the material was accessible) and on comments on more recent authors considered influential in the contemporary debate about the concept of geographic scale. In the end, the main conclusions are presented, their relevance is underlined, and some questions for future research are suggested.
Metrópole e crise societária: resistir para existir, 2019
Nos estudos sobre movimentos sociais urbanos brasileiros é sabido que entre as décadas de 1960 e ... more Nos estudos sobre movimentos sociais urbanos brasileiros é sabido que entre as décadas de 1960 e 1980 espaços que antes eram foco de ativismos aparentemente dispersos ganharam relevância por se tornarem referências para mobilizações cuja influência no cenário político nacional crescia. Para além dos espaços diretamente ligados à esfera da produção econômica, também aqueles vinculados à reprodução social passavam a ser vistos como loci de atuação de ativismos sociais, o que ampliou os espaços de atuação dos movimentos sociais e incorporou outras dimensões da cotidianidade, influenciando as reflexões acadêmicas sobre eles. De acordo com algumas análises, tal mudança levou à proliferação de pesquisas empíricas em detrimento de reflexões teóricas durante a década de 1980, ao menos no âmbito das pesquisas brasileiras, salvo exceções 1 .
Contested Cities Working Paper Series, vol. IV-5B (Alternativas Urbanas), 2016
El presente artículo se propone avanzar y profundizar el trabajo comparativo sostenido entre las ... more El presente artículo se propone avanzar y profundizar el trabajo comparativo sostenido entre las experiencias reivindicativas de los habitantes de villas por el acceso a la vivienda en Buenos Aires y algunos casos del movimiento de los sem-teto en Brasil. En el marco de nuestras investigaciones recientes, hemos trabajado en las características de cada caso, analizando sus trayectorias, su compleja construcción de legitimidad y su relación siempre conflictiva con el Estado. Nos proponemos focalizar en este estudio comparado la judicialización como estrategia implementada por estos actores sociales para exigir su derecho a la vivienda. En particular, analizamos un fenómeno basado en la utilización de la vía judicial como herramienta de los sectores populares. Para ello, nos concentraremos en las experiencias de la Villa Rodrigo Bueno de Buenos Aires y de las ocupaciones Pinheirinho (de São José dos Campos) y Quilombo das Guerreiras (de Río de Janeiro), ya que ambos equipos nos encontramos no solo investigando, sino acompañando desde el activismo la lucha por el hábitat digno de algunos de estos territorios. A partir de datos cualitativos recogidos a través de trabajos de campo con perspectiva etnográfica, entrevistas, revisión de documentos y fuentes bibliográficas, reflexionamos acerca de algunos rasgos generales de la utilización estratégica de las vías judiciales por parte de estos grupos. Al final, esbozamos tres ejes de análisis que resultan transversales: en primer lugar, los usos que asume la Justicia en esas demandas sociales; en segundo término, las alianzas y las vinculaciones que tales grupos tejen con otros actores sociales; por último, algunos de los alcances y los límites que, de manera preliminar, nos parecen presentar la judicialización como estrategia de lucha por el acceso a la vivienda.
Contested Cities Working Paper Series, Serie V (Políticas y luchas por la vivienda), 2016
A questão da falta de moradias para a classe trabalhadora é pautada no Brasil desde o século XIX.... more A questão da falta de moradias para a classe trabalhadora é pautada no Brasil desde o século XIX. Foi no decorrer do século XX, no entanto, que a dinâmica político‐econômica do país consolidou alguns traços que atualmente ainda caracterizam as políticas habitacionais brasileiras, dentre eles: a predominância da produção habitacional privada, mesmo que acompanhada de subsídios estatais; o financiamento de longo prazo para os mais pobres, tornando solvável uma demanda antes incapaz de participar do mercado habitacional; a estratégia de disseminação da propriedade privada, inclusive nas camadas mais pobres da classe trabalhadora; e a política habitacional como estratégia anticíclica para a economia e como motor da industrialização. Esse processo, porém, não se deu tendo o Estado, os promotores imobiliários e os proprietários fundiários como únicos agentes a disputarem os rumos da produção de moradias populares. A mobilização popular também cumpriu papel decisivo nessas definições, sobretudo nas últimas décadas. Diante disso, almejamos neste artigo o objetivo de apresentar um quadro geral sobre a questão da moradia no Brasil, de forma a abarcar, por um lado, as iniciativas do Estado na promoção de moradias adequadas àquelas pessoas que não conseguem adquiri‐las pelo mercado imobiliário e as ferramentas legais que moldam ao longo dos anos o papel que o Estado cumpre nesse processo; por outro, também focaremos no percurso de construção da luta por moradia, que parte da organização de parcelas da população apresentando suas demandas e construindo suas alternativas específicas.
A diferenciação sócio-espacial, em conjunto com a articulação de tais diferenças, está no cerne d... more A diferenciação sócio-espacial, em conjunto com a articulação de tais diferenças, está no cerne dos processos de significação da existência e da ação humana, configurando-se como um dos eixos continuamente discutidos nas pesquisas sócio-espaciais. A organização do espaço em distintos “níveis de realidade”, que resulta em arranjos ou configurações escalares específicas, ajuda a conferir sentido a tais diferenças, motivo pelo qual ela é parte constitutiva e constituinte da produção do mundo e das reflexões sobre tal processo. A despeito de tais preocupações não serem recentes nesse campo de pesquisas, as escalas geográficas somente começam a surgir como foco de atenção nas pesquisas sócio-espaciais a partir das décadas de 1950 e 60, especialmente nas pesquisas sócio-espaciais anglófonas. Estas páginas têm como propósito buscar identificar traços gerais do debate conhecido como o problema da escala que, ao emergir, antecedeu a “explosão” de trabalhos sobre este conceito a partir da década de 1980, especialmente na literatura geográfica anglo-saxã. Com base sobretudo em revisões bibliográficas, o artigo é organizado de forma a tornar nítidos aspectos que, entre a virada do século XIX e meados do século XX, explicitam a presença de duas dimensões consideradas fundantes dos debates sobre a escalaridade: a divisão do espaço em recortes e a articulação de tais unidades espaciais. Por fim, as reflexões apontam para questionamentos sobre os motivos pelos quais a emergência das escalas geográficas como um problema formulado dessa maneira só ganhou destaque na história da Geografia em meados do século XX, indicando possíveis caminhos para investigações futuras.
Brazil experienced, in June of 2013, the largest popular demonstrations in its recent history —an... more Brazil experienced, in June of 2013, the largest popular demonstrations in its recent history —an event that has been called the June Journeys. In this paper, we briefly address briefly the processes of spatial diffusion and dispersion observed during these journeys. We then reflect on how these processes relate to a politics of identity, and the strategies used by protesters to differentiate themselves from other groups, and by the State to classify the protesters in order to guide the use of police repression. Identity can, therefore, group individuals around a common struggle using as reference the location of the demonstration as ‘spaces of identity reference’, but can also play an important role in the reproduction of dominant power relations by creating mechanisms with which to legitimate punitive action. The ‘vandal’ is, then, understood as the identity constructed to allow the transition from an indirect regulation to a mode of violent intervention. We conclude the paper by emphasising how both of these processes highlight the role of the politics of identity on this recent series of demonstrations in Brazil.
Nas últimas duas décadas, o debate teórico sobre as escalas geográficas cresceu no meio acadêmico... more Nas últimas duas décadas, o debate teórico sobre as escalas geográficas cresceu no meio acadêmico, especialmente no anglófono, mas sem grande interesse da geografia brasileira. Este artigo faz uma releitura de duas publicações nacionais das décadas de 1970 e 80 que abordaram o tema mas que são pouco lembradas, contrastando-as com alguns apontamentos de recentes produções de língua inglesa. A abordagem da história do pensamento geográfico de uma perspectiva escalar, a ênfase na coexistência das escalas em cada recorte do real e a visão das escalas geográficas como fruto de processos espaciais são algumas das contribuições originais dos dois trabalhos. Ao final, reforça-se a importância de se retomar e atualizar o debate teórico-conceitual sobre as escalas geográficas no país, visto serem elas elementos constitutivos do pensamento e da ação e, por isso, importantes e eficientes instrumentos de exercício de poder.
RESUMO
A proposta de autogestão pressupõe a igualdade de participação efetiva no exercício do pod... more RESUMO A proposta de autogestão pressupõe a igualdade de participação efetiva no exercício do poder, seja ele em sua dimensão formal ou informal. Seu caráter radicalmente democrático é afeito à heterogeneidade, que, por sua vez, pode levar à formação e consolidação de grupos de afinidade com perspectivas políticas diferentes. Nessa proposta, a igualdade de participação no poder faz com que cada pessoa tenha o mesmo peso nas deliberações, ganhando ênfase o processo de convencimento e de disputa por opiniões. No caso de nanoterritórios onde, em meio às interações pessoais, se faz presente o horizonte autogestionário, dinâmicas e práticas espaciais ligadas à constante e infindável construção desse regime político influenciam e são influenciadas diretamente pelas negociações feitas no dia a dia. Assim, as características da espacialidade cotidiana podem colaborar ou dificultar a elaboração de entendimentos nas interações. Neste artigo buscamos refletir sobre alguns aspectos dessa relação entre a espacialidade e as negociações cotidianas, tão importantes para processos de mobilização política coletiva de inspiração autogestionária. Para isso, lançamos o olhar sobre a Ocupação Chiquinha Gonzaga, ligada a uma parcela específica do movimento dos sem-teto carioca formada por ocupações da variante por coletivo, onde predominam as preocupações com o fomento de relações de poder internas com reduzidos traços de hierarquia. Através de uma pesquisa participante de caráter exploratório com as características de uma interação colaborativa (construída para além do período da pesquisa), pudemos observar elementos da espacialidade e das práticas espaciais cotidianas que indicam a elaboração coletiva de mecanismos próprios de negociação, tornando bastante específica a forma de autogestão em experiência nesse território. Dessa forma, foi possível também reforçarmos as indicações feitas por outros autores de que o pano de fundo político-filosófico aparentemente mais apropriado para a busca de um entendimento mútuo livre de coerções seja o projeto de uma sociedade basicamente autônoma.
ABSTRACT The proposal of self-management presumes equal and effective participation in the exercise of power, in its formal or informal dimension. Its radical democratic character allows the expression of heterogeneity and, with time, may lead to the formation and consolidation of affinities groups with different political perspectives. Considering this proposal, the equal participation in power gives to every person the same weight in the dynamics of the deliberations, emphasizing the process of persuasion and the dispute for opinions. In the case of nanoterritories where, among the personal interactions, the horizon of self-management horizon is present, dynamics and spatial practices related to the constant and endless process of construction of this political regime influence and are influenced directly by everyday negotiations. Thus, the characteristics of the spatiality of everyday life could collaborate or disturb the elaboration of understanding of these interactions. In this article, we reflect upon some aspects of the relation between the spatiality and the everyday negotiations, both of which are important elements for processes of collective political mobilization inspired by self-management. In order to do that, we considered the case of Ocupação Chiquinha Gonzaga, which is part of a specific portion of the sem-teto movement of Rio de Janeiro (ie. the collective variant of this movement) where concerns related of the promotion of horizontal power relations predominates. Within an exploratory participant research with characteristics of a collaborative interaction (nourished even beyond the research period), we observed elements of the spatiality and everyday spatial practices that indicate a collective construction of particular mechanisms of negotiation, making the self-management experience of this territory a very specific one. We also reinforce the indications made by other authors that the political-philosophical background apparently more appropriate for the pursuit of mutual understanding, free of all kind of coercions, may be the project of a basically autonomous society.
Working Paper Series Contested Cities (vol. IV), Jul 24, 2016
Diante do crescimento da importância do papel do movimento dos sem-teto no cenário da organização... more Diante do crescimento da importância do papel do movimento dos sem-teto no cenário da organização interna das cidades brasileiras (notadamente de suas metrópoles), o trabalho apresenta algumas táticas espaciais adotadas por esse movimento frente a duas das táticas espaciais utilizadas pelo capital imobiliário no espaço urbano: o investimento em novas áreas de expansão —notadamente na franja periurbana —e o reinvestimento em zonas de obsolescência — especialmente as localizadas próximas ao núcleo central das cidades. Para isso foi feito um estudo de caso auxiliado por um “caso de contraste”: o primeiro enfoca a espacialidade de quatro ocupações no centro da cidade do Rio de Janeiro; o segundo aborda algumas práticas espaciais do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) de São Paulo.
Anais do XVI Encontro Nacional de Geógrafos, Jul 23, 2010
Há uma grande diversidade no entendimento do que sejam os movimentos sociais e nas abordagens par... more Há uma grande diversidade no entendimento do que sejam os movimentos sociais e nas abordagens para analisá-los. Diante dessa diversidade, pesquisadores como Marcelo Lopes de Souza e Ana Clara Torres Ribeiro têm criticado, em vários trabalhos, a frequente falta de rigor na definição do conceito de movimentos sociais. O primeiro propõe, inclusive, uma definição que desenvolve, de maneira crítica, formulações de Alain Touraine e de Manuel Castells sobre o tema. Para Souza, seriam sobretudo os graus de ambição política, de mobilização e de organização que distinguiriam os movimentos sociais dos demais ativismos. Por sua vez, esses critérios também destacariam estes últimos da ampla gama de ações coletivas possíveis. Uma definição como essa exige, evidentemente, um bom exercício de abstração. Assim, para manter a sua força teórica, demanda também uma série de complementações conceituais e metodológicas de análise. À luz desta demanda, podemos destacar aqui dois elementos centrais na constituição dos movimentos sociais que são bastante conhecidos, mas muito frequentemente estudados de maneira dissociada, a saber: a sua ação e as suas estruturas (ou composições) organizativas. Para refletir sobre esses elementos, acreditamos que dois conceitos cunhados no âmbito da Antropologia Política, já na década de 1960, são particularmente apropriados. São eles os conceitos de campo político e arena. De maneira muito breve, podemos dizer que estes conceitos se aplicam a processos políticos cujo grau de estruturação é muito menor do que aqueles que envolvem, por exemplo, os partidos e o aparelho de Estado – o que não significa que instituições desse tipo estejam necessariamente excluídas de tais processos. Trata-se de processos políticos de grande fluidez, animados por diversos grupos e organizações que a eles se envolvem em diferentes graus e de distintas maneiras. Além disso, a própria ação dos seus atores (incluindo as suas práticas espaciais) é decisiva na sua configuração. Tal dinâmica parece-nos ser, justamente, a mais condizente com a dos movimentos sociais, seja se considerarmos a configuração das relações de poder que se estabelecem no interior de alguma experiência específica de um movimento social, seja tomando tal movimento como um todo – isto é, como um conjunto de organizações e indivíduos envolvidos mais ou menos diretamente em um processo político específico. A pertinência dos conceitos de campo político e arena para a análise dos movimentos sociais foi demonstrada de maneira muito contundente nos estudos pioneiros de Carlos Nelson Ferreira dos Santos sobre alguns importantes ativismos urbanos no Rio de Janeiro dos anos 60 e 70. Sua abordagem, apesar de possuir problemas – os quais serão comentados neste trabalho –, tem servido de inspiração a nós, e, anteriormente, a autores como o geógrafo João Vicente Lagüens (em uma dissertação sobre a constituição de sujeitos políticos no orçamento participativo de Porto Alegre). Feita esta breve introdução, podemos dizer que o objetivo do nosso artigo é apresentar ao leitor os conceitos de campo político e arena, mostrando como eles são úteis para uma compreensão adequada dos movimentos sociais e de várias práticas espaciais a eles vinculados. Teceremos, contudo, algumas críticas a respeito das formulações originais desses conceitos feitas por Marc Swartz, especialmente sobre o que nos parecem ser alguns resquícios funcionalistas dessas elaborações. Outras considerações críticas também serão direcionadas, posteriormente, à aplicação desses conceitos feita por Carlos Nelson Ferreira dos Santos. Além desta aproximação crítica, objetivamos realçar a importância das práticas espaciais para a composição dos campos políticos e das arenas dos movimentos sociais, bem como para as ações por eles protagonizadas e para a construção dos projetos políticos por eles almejados. Para reforçar a nossa argumentação, buscaremos demonstrar a aplicabilidade das mudanças que propomos aos conceitos em tela por meio de uma breve análise de um estudo de caso realizado junto a uma ocupação do movimento dos sem-teto, localizada no Centro do Rio de Janeiro, a Ocupação Chiquinha Gonzaga. Para a realização desse estudo de caso, valemo-nos da estratégia metodológica da pesquisa participante, viabilizada pela colaboração intensiva dos autores com a fração do movimento dos sem-teto da qual a ocupação faz parte. Nesta pesquisa, de cunho qualitativo, realizamos entrevistas formais semi-estruturadas, com diretriz, aplicadas seguindo uma divisão por quotas entre os moradores e ativistas dos diferentes campos e arenas da referida ocupação. Utilizamos sistematicamente também observações próximas àquelas de tipo etnográfico, com o registro das experiências presenciadas ao longo de nosso convívio junto à ocupação, através, principalmente, do uso de diários de campo. Como resultados da nossa pesquisa empírica e das reflexões teóricas que a acompanham – as quais têm como base um trabalho anteriormente realizado por um dos autores e uma pesquisa em fase de conclusão do outro –, acreditamos que: a) ela contribui para a refutação de certas definições que limitariam a ação dos movimentos sociais dentro de balizas analítica estreitas, como a de “ciclos de vida”; b) sugere a substituição do conceito funcionalista de “public goal” pelo conceito mais amplo de “projeto político” para a definição do elemento de convergência dos atores que animam os campos políticos de um movimento social; e, por fim c) ajuda a compreender melhor as relações entre as práticas espaciais e as disputas políticas de atores (indivíduos ou grupos) com opiniões e projetos políticos distintos – mesmo no interior de uma pequena fração de um movimento social específico. Com isso, esperamos colaborar com as concepções teóricas que sustentam não ser essa diversidade um sinal de fraqueza dos movimentos sociais, representando, pelo contrário, um dos seus elementos constitutivos, o qual, se bem encarado, fornece uma das bases para uma prática política cotidiana verdadeiramente democrática e plural.
Anais do XVI Encontro Nacional de Geógrafos, Jul 23, 2010
As pesquisas que enfocam os movimentos sociais sempre partiram de matrizes diversas para abordar ... more As pesquisas que enfocam os movimentos sociais sempre partiram de matrizes diversas para abordar esses tipos específicos de ação social. Na Europa, boa parte da literatura sobre o tema atenta especialmente para os movimentos ligados à esfera das relações de produção na sociedade capitalista (seja em suas experiências do início do século XX, seja em suas variações mais contemporâneas). Já no Brasil, não é difícil perceber como as referências por aqui também têm sido, justamente, esses tipos de movimentos sociais europeus. Em que pesem as diferenças sócio-espaciais e históricas desses contextos, o fato de as mais conhecidas experiências populares brasileiras se vincularem de forma especial à cotidianidade e à esfera das relações de reprodução social fez, durante um bom tempo, com que diversos pesquisadores do país as vissem como mobilizações pouco ambiciosas. Somente depois do surgimento e da ampliação mais recente da primeira e segunda geração dos novos movimentos sociais na América Latina é que outras leituras têm tomado maior espaço, como o aprofundamento das experiências de grandes e diferentes movimentos sociais indígenas (os aimaras andinos ou zapatistas mexicanos, por exemplo), o crescimento de movimentos urbanos (como os sem-teto, os sensibilizados pelas questões de mobilidade e transporte, os vitimados pela violência do Estado). Para além disso, salta aos olhos dos autores a importância que as demandas que envolvem os espaços privados têm desempenhado para os processos políticos coletivos desses movimentos sociais. A luta por moradia no campo e na cidade (bem como por condições de segurança, transporte, lazer e obtenção de renda) se associa às resistências fundamentais contra outros tipos de opressão (cultural, de gênero, etária, étnica, etc.) de forma a tornar estes espaços de enorme relevância para a compreensão sobre os movimentos sociais. Mais do que isso, tais espaços são inseridos em um contexto no qual diversas escalas de opressão e de resistência se entrecruzam, tornando as experiências ainda mais complexas. Ao mesmo tempo, tais experiências recentes de movimentos sociais latino-americanos se diferenciam também pelas novas maneiras com que organizam as relações de poder internas e as interações com outras organizações, lutas e movimentos. Nesse sentido, a dimensão do compartilhamento cotidiano se torna central para essas experiências, com os espaços privados desempenhando aparentemente papéis de referência. E é a esse respeito que o trabalho que se apresenta aqui tenta pensar. Seu objetivo é refletir sobre alguns aspectos gerais e introdutórios do papel que os espaços privados desempenham na espacialidade cotidiana de um dos principais movimentos sociais urbanos brasileiros na atualidade: o movimento dos sem-teto. Ele parte de três pesquisas individuais ainda em andamento junto às ocupações de uma fração específica desse movimento social, atuante na área central da cidade do Rio de Janeiro. Para tanto, o artigo foca em considerações sobre um território específico desse movimento, a Ocupação Quilombo das Guerreiras. A referida ocupação tem organizado a gestão dos seus espaços a partir de uma estrutura formal fortemente horizontalizada (ou seja, com reduzidíssimos traços de hierarquia), na qual os espaços deliberativos são abertos à participação de todos os moradores. Os espaços privados possuem, também, um papel político importante para o funcionamento da ocupação e de seu tipo de gestão. Em primeiro lugar, constituem a razão primeira da luta dos sem-teto – conquistar um espaço próprio para servir de moradia para cada indivíduo e, sendo o caso, para sua família. Dessa forma, a obtenção de uma moradia representa a possibilidade de melhor atender a suas necessidades urgentes e garantir um espaço seguro onde a privacidade da família seja respeitada. Contudo, a relação entre os espaços privados da ocupação estudada e seus moradores não corresponde a uma relação de propriedade, mas sim, de posse. O morador não pode vender ou alugar a sua unidade de moradia, pois ela pertence ao coletivo de moradores. Deste modo, os espaços privados não são completamente imunes às intervenções do coletivo – se raramente de maneira direta, tais intervenções podem acabar ocorrendo de forma indireta. Os moradores da ocupação acabam por formar redes sociais que permeiam a unidade doméstica – redes de relações informais intersubjetivas – que serão criadas e fortificadas nos espaços coletivos. Metodologicamente, buscando um plano de amostragem não-probabilístico do tipo “bola de neve”, a pesquisa (de cunho qualitativo) se vale de entrevistas formais semi-abertas e entrevistas informais com e sem diretriz. Também conta com os procedimentos de observação participante, acompanhada de registros sistemáticos em diários de campo. Trata-se de uma abordagem bastante vinculada à interação colaborativa que tem-se estabelecido no decorrer dos últimos anos com as experiências dessa fração do movimento dos sem-teto. Através desses procedimentos metodológicos, o artigo aponta de forma introdutória para duas interações que envolvem os espaços privados da ocupação estudada: (a) entendendo que as relações sociais que interagem com os diferentes espaços coletivos da ocupação fortificam ou enfraquecem tal rede de solidariedade, esta aparenta contribuir para uma maior abertura dos espaços privados ao convívio coletivo; (b) alguns aspectos que sugerem a possível influência recíproca entre tal rede de solidariedade e o capital relacional de moradores(as), através da analise das condições e padrões de conduta que fazem parte do “regime de moralidades” demandado pelo “coletivo” e seus moradores. Espera-se, dessa forma, contribuir para a valorização da espacialidade cotidiana e do papel dos espaços privados nos estudos a respeito dos movimentos sociais, vendo tais características como fundamentais tanto para uma melhor elucidação desse tipo de ação social, quanto para uma maior capacidade de cooperação junto às experiências de mobilização popular.
IIIª Jornadas Internacionales de Antropología del Conflicto Urbano, 2017
El movimiento de los sem-teto brasileño es una de las principales expresiones contemporáneas de l... more El movimiento de los sem-teto brasileño es una de las principales expresiones contemporáneas de los movimientos sociales urbanos del país, inspirando investigaciones sobre sus esfuerzos para intervenir sobre la producción del espacio urbano. Como en otros movimientos sociales, también ahí la categoría " lucha " surge con centralidad en medio a las elaboraciones discursivas que legitiman sus prácticas socio-espaciales. Ese rol es destacado cuando percibimos la importancia que tiene en esas colectividades la idea de que las " luchas " deberían siempre esforzarse para " ir más allá " de su pauta " específica " ; o cuando vemos el papel que el contacto con experiencias y espacios caracterizadores de la " lucha " de ciertos movimientos —la ocupación, la cooperativa, la manifestación de calle, el encuentro de formación, la huelga, las clases populares, etc.— desempeña en la trayectoria de sus integrantes. La " lucha " , así, compone el sentido de las razones que garantizan existencia al movimiento, de la " causa " que origina su movilización y que articula sus ideas y intereses principales. Este artículo reflexiona sobre como el contacto con el movimiento de los sem-teto influye en las formas como sus participantes confieren sentido a sus acciones al relacionar su día a día con otros espacios-tiempos. Dichos encuadramientos del cotidiano en contextos que los extrapolan actúan como matrices explicativas que explicitan las maneras como las personas perciben, codifican, significan y actúan sobre el mundo —y las convierten en parte fundamental de la escalaridad de sus acciones. La reincidencia de la categoría " lucha " en las narrativas diarias del movimiento la refuerza como categoría " buena para pensar ". Por consiguiente, estas páginas esbozan su desnaturalización y explicitan la disputa por la construcción cotidiana de sus sentidos con base en trabajos de campo y entrevistas posibilitadas por la convivencia de al menos siete años junto a ocupaciones de Río de Janeiro entre 2007 y 2014. Al atentar para las referencias espacio-temporales presentes en las comprensiones sobre esa categoría que coexisten en eses territorios, subrayo un proceso de dispersión, convergencia y difusión de los sentidos de la " lucha " con fuertes influencias e implicaciones espaciales y sobre el cual las organizaciones y activistas de dicho movimiento buscan incidir. Al final, afirmo la " lucha " como una categoría escalar que, mientras ofrece una de las referencias que explican el funcionamiento del mundo y motivan las acciones sobre él al articularlas espacio-temporalmente, también confiere trascendencia a las prácticas socio-espaciales cotidianas de los sujetos de ese movimiento social urbano.
Federal Fluminense. Coordenadora do MARGEAR-Grupo de Pesquisas e Extensão sobre Culturas, Polític... more Federal Fluminense. Coordenadora do MARGEAR-Grupo de Pesquisas e Extensão sobre Culturas, Políticas e Geografias Marginais. Foca seus trabalhos atualmente nos seguintes temas: epistemologia da Geografia, Filosofia e Geografia, Espacialidades periféricas. Endereço eletrônico para contato:
Relações entre espaço e poder se manifestam nos processos de produção do espaço, de sua organizaç... more Relações entre espaço e poder se manifestam nos processos de produção do espaço, de sua organização e dos usos do território, dentre outros, devendo ser problematizadas em todas as escalas e formas espaciais. As análises aqui presentes consideram diferentes contribuições e interpretações desses processos a partir de múltiplas abordagens do fazer geográfico, evidenciando a relevância deste campo do conhecimento. Portanto, torna-se crucial indagar sobre as formas como os interesses de classe e de grupos sociais hegemônicos, subalternizados e contra hegemônicos se convertem em ações e explicitam o conflito enquanto aspecto central no uso do território e na produção e apropriação do espaço. Se, por um lado, há agentes que dominam a organização e ordenamento do espaço – Estado e capital, grosso modo –, por outro, as dinâmicas no cotidiano dos territórios e lugares mundo afora demonstram que sua concretude também é influenciada pela sociedade como um todo, com as lutas e resistências das classes trabalhadoras, das periferias, dos povos e comunidades tradicionais e das populações em distintas perspectivas, considerando sempre suas determinações e intersecções dos mais variados marcadores sociais da diferença. Não é por acaso que se percebe a relação estreita de muitas das pesquisas aqui relatadas com processos de mobilização social, sublinhando o papel do engajamento e das atividades territorialmente referenciadas no âmbito do ensino, pesquisa e extensão na trajetória das autoras/es que contribuem para este volume. As pesquisas aqui reunidas também têm uma dimensão formativa, pois nos auxiliam a nos compreender no mundo e demonstram na prática que a construção de saberes geográficos também informam as posições que assumimos nele enquanto sujeitos individuais e coletivos, constituindo o que se entende como práxis. Reunimos aqui produções de docentes e discentes que compartilham essas preocupações no âmbito dos 12 anos de atividades de ensino, pesquisa e extensão da Linha de Pesquisa “Geografia e Relações de Poder” do Programa de Pós-graduação em Geografia da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – PPGGEO/FFP/UERJ. Esperamos que este volume demonstre parte da variedade de abordagens temáticas, metodológicas e teóricas que nos singularizam e que nos animam frente ao novo ciclo que se abre com a recente aprovação do curso de Doutorado em nosso programa, com início em 2025. Ao mesmo tempo, esperamos contribuir com reflexões capazes de oferecer horizontes de pesquisa que sigam auxiliando o ambiente acadêmico na compreensão dos conflituosos processos de produção do espaço e de usos do território, sobretudo das táticas e estratégias de ação social e territorialmente comprometidas com a transformação da realidade.
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Relations between space and power manifest in the processes of space production, its organisation, and the uses of territory, among others, and should be problematised at all spatial scales and forms. The analyses presented here consider different contributions and interpretations of these processes from multiple approaches to geographical practice, highlighting the relevance of this field of knowledge. Therefore, it becomes crucial to question the ways in which the interests of class and hegemonic, subordinated, and counter-hegemonic social groups are transformed into actions, making conflict a central aspect in the use of territory and in the production and appropriation of space. While on the one hand there are agents who dominate the organisation and ordering of space – the State and capital, broadly speaking – on the other hand, dynamics in the everyday life of territories and places around the world demonstrate that their concreteness is also influenced by society as a whole, with the struggles and resistances of the working classes, peripheral groups, traditional peoples and communities, and populations from various perspectives, always considering their determinations and intersections of the most diverse social markers of difference. It is no coincidence that many of the studies reported here are closely related to processes of social mobilisation, emphasising the role of engagement and territorially referenced activities within the realms of teaching, research, and extension in the trajectory of the authors who have contributed to this volume. The research compiled here also has a formative dimension, as it helps us to understand our place in the world and demonstrates in practice that the construction of geographical knowledge also informs the positions we adopt within it as individual and collective subjects, constituting what is understood as praxis. We bring together here the work of faculty and students who share these concerns within the scope of twelve years of teaching, research, and extension activities of the Research Line "Geography and Relations of Power" in the Postgraduate Programme in Geography at the Faculty of Teacher Education of the State University of Rio de Janeiro – PPGGEO/FFP/UERJ. We hope that this volume demonstrates part of the variety of thematic, methodological, and theoretical approaches that distinguish us and inspire us as we face the new cycle opened by the recent approval of the Doctoral course in our programme, starting in 2025. At the same time, we aim to contribute with reflections that offer research horizons capable of continuing to assist the academic environment in understanding the conflictual processes of space production and territory use, particularly the tactics and strategies of social action and territorial engagement committed to transforming reality.
Este livro assume que a dimensão escalar da espacialidade e, portanto, os recortes do espaço e as... more Este livro assume que a dimensão escalar da espacialidade e, portanto, os recortes do espaço e as formas de organização e integração dessas partes cumprem papel crucial nos mecanismos epistemológicos que criam e conectam as partes do espaço entre si, produzindo diferentes totalidades. Tal princípio escalar é identificado em diferentes momentos da história da geografia, a emergência do chamado “problema da escala” é contextualizada e alguns dos debates mais recentes sobre os assunto são sistematizados. A ênfase no caráter político das escalas geográficas estimula que as reflexões sobre esse caráter sejam feitas a partir de agentes sociais que constroem o espaço a partir de posições não hegemônicas ₋ como os movimentos sociais. É o movimento dos sem-teto brasileiro e o conteúdo escalar de suas práticas socioespaciais cotidianas que inspiram as reflexões aqui. A escalaridade ressalta a importância da dimensão espacial no processo de entendimento do mundo já existente e de criação de novos horizontes. Destaca também o necessário reconhecimento pleno do Outro nesse processo, incluindo as diferentes maneiras de dar sentido ao espaço, seus recortes e articulações. Manter a atenção sobre a escalaridade desde tal perspectiva ₋ construtivista e relacional ₋ e ao mesmo tempo considerar os aspectos políticos de suas dinâmicas mostra-se fundamental, portanto, para reflexões sobre as disputas ao redor da produção do espaço como um todo. As três teses que emergem neste livro explicitam a dimensão escalar como crucial à construção e, sobretudo, à instituição das maneiras como as diferentes partes do mundo são produzidas, são articuladas, conectadas e relacionadas, o que influencia as ações consideradas possíveis de serem realizadas sobre a realidade. Constata-se, assim, que os emaranhados que ligam as escalas geográficas à ação as transformam em importantes instrumentos de poder.
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This book assumes that the scalar dimension of spatiality, and therefore the delineations of space and the forms of organisation and integration of its parts, play a crucial role in the epistemological mechanisms that create and connect the parts of space to one another, producing different totalities. Such a scalar principle is identified at various moments in the history of geography; the emergence of the so-called "scale problem" is contextualised; and some of the more recent debates on the subject are systematised. Emphasis on the political nature of geographical scales encourages reflection on this aspect from the perspective of social agents who construct space from non-hegemonic positions – such as social movements. It is the sem-teto movement in Brazil and the scalar content of their everyday socio-spatial practices that inspire the reflections presented here. Scalarity underscores the importance of the spatial dimension in the process of understanding the existing world and in the creation of new horizons. It also highlights the necessity of the full recognition of the Other within this process, including the different ways of assigning meaning to space, its delineations, and articulations. Maintaining focus on scalarity from this perspective – constructivist and relational – while simultaneously considering the political aspects of its dynamics proves to be essential for reflections on the struggles surrounding the production of space as a whole. The three theses emerging in this book explicitly state that the scalar dimension is crucial to the construction and, above all, to the institution of the ways in which the different parts of the world are produced, articulated, connected, and related, which in turn influences the actions deemed possible to carry out upon reality. It is therefore established that the entanglements linking geographical scales to action transform them into important instruments of power.
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Papers by Matheus Grandi
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This article presents an analysis of toponymic scalar politics, proposing an analytical tool for studying changes in place names. The methodology includes a comprehensive and systematic literature review on toponymy and geography, as well as an empirical case study focused on the city of Petrópolis (RJ). The theoretical framework is based on the concepts of scale, scalarity, and scalar politics, highlighting how place naming reflects and shapes identities and spatial narratives. The results show that place naming is influenced by specific historical and political contexts, with actions of naming, renaming, erasure, and maintenance playing crucial roles in the construction and reconstruction of urban memories. In Petrópolis, it was observed how toponymic changes reflected power transitions and new political narratives over time. It is concluded that toponymic scalar politics are effective analytical tools for understanding the (re)production of urban space, revealing power relations and symbolic disputes present in the spatial configuration of cities.
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Starting from the understanding that informality is not something external to the state, as it is part of its spatial practices, we argue that urban informality is a central element of the urban regime of the Global South, since its flexibility is used in a calculated way to guarantee the conditions and objectives of the state when it comes to planning and governing cities. To do this, we use excerpts from the history of the constitution of housing informality in the city of Rio de Janeiro between the 1930s and 1960s. After a brief presentation of the debate on urban informality, the article discusses the role that the regulation of the legal status and internal political-economic activities of favelas played in guaranteeing the continuity and updating of an urban regime characterized by instability, precariousness, inequality, and violence. Finally: we affirm urban informality as a heterogeneous set of practices that exist within the state and constitute logics of management and production of the differential value of urban space; we emphasize the importance that the normative ambiguities and contradictions of the state have for the flexible use of informality; and we highlight the role of urban planning in this process.
ABSTRACT: The Brazilian sem-teto or homeless worker movement is one of the main contemporary social urban movements in Brazil. As in other movements, the category struggle is central in the discursive theorizations legitimating its socio-spatial practices. This article begins with the polysemy and the metamorphosis of the struggle category in order to reflect upon the expressions used by this activism to scalarize its actions. First, some basic notions on scalarity are presented; then, two aspects of the practice-political role in the scalarity category are highlighted. These aspects point to the emergence of this struggle as a scalar one. In turn, scalarity helps us to explain the workings of the world, the drivers of some actions, and the transcendence of daily socio-spatial practices by sem-teto activists. Finally, the practical, dual (contiguous and discontinuous), and necessarily political features of geographic scales are highlighted.
ABSTRACT: The “scale problem” emerges in Geography at the moment in which the need to organize the possibly identifiable spatial units is highlighted as a methodological concern. Thus, it became explicit and treated in this academic field, specially from the 1950s onward. In the following years the diffusion of other theoretical-political references in Western socio-spatial research allowed the scalar issue to be observed from approaches for which the act of divide and organize the space was not merely a methodological issue, but also an epistemological and political one ―and, therefore, scale was recognized as directly linked to the practice and social action. But the proliferation of works on geographical scales did not occur homogeneously in the different linguistic environments of the specialized literature. In the Anglophone case, for example, it was from the end of the 1980s that this happened. The aim of this article is to characterize the main axes of the debate on geographical scales that took place between approximately the last decade of the twentieth century and the first decade of the twenty-first century in the research carried out in the environment of Anglophone Geography in order to increase the plurality of issues that fertilize the understandings on geographical scale
RESUMEN: El “problema de la escala” surge en Geografía en el momento en que se pone de manifiesto la necesidad de organizar las unidades espaciales identificables como una preocupación metodológica. Así, el tema se vuelve explícito y tratado en este ámbito académico principalmente a partir de la década de 1950. La difusión de ciertas referencias teórico-políticas en las investigaciones socio-espaciales ocidentales permitió que la cuestión escalar fuera, en los años siguientes, observada desde enfoques para los que d ividir y organizar el espacio no era una cuestión meramente metodológica, sino también epistemológica y política ―y, por lo tanto, directamente vinculada a la práctica y a la acción social. Pero la proliferación de trabajos sobre escalas geográficas no se produjo de forma homogénea en los distintos ámbitos lingüísticos de la literatura especializada. En el caso anglófono, por ejemplo, eso ocurrió a partir de finales de lo s años ochenta. El objetivo de este artículo es caracterizar los principales ejes del debate sobre las escalas geográficas que tuvo lugar aproximadamente entre la última década del siglo XX y la primera del siglo XXI en las investigaciones realizadas en el entorno de la Geografía anglófona con el fin de aumentar la pluralidad de cuestiones que alimentan las reflexiones sobre la escala geográfica.
ABSTRACT: This text consists of an experimental methodological exercise that aims to launch an introductory scalar look at the covid-19 pandemic by reflecting on how sanitary recommendations of "social isolation" influence the perception of the space of the house as a meaningful geographical scale in these pandemic times, considering above all the inequalities that impacts the experience of subjects with such scale.
RESUMEN: El texto consiste en un ejercicio metodológico experimental que tiene por objeto lanzar una mirada escalar introductoria a la pandemia de covid-19 utilizándose de reflexiones sobre cómo las recomendaciones sanitarias de "aislamiento social" influyen en la percepción del corte espacial de la casa como una escala geográfica significativa em nuestros tiempos pandémicos, considerando sobre todo las desigualdades que condicionan la experiencia de los sujetos con dicha escala.
ABSTRACT: The aim of this article is to contribute to identify some of the main characteristics of the debate around the scale problem, which is widespread in Anglo-Saxon geographical literature and, at different levels, also recently debated in Spanish and Portuguese literature. From this interest unfolds the pursued objective of rescuing some central elements considered important to analyze thematic persistence in the debate about scalarity from works accepted as central to the history of Western geographic thought in the period between the mid-nineteenth century and the mid-twentieth century. This concern is based on the recognition that at different moments in the history of geographical ideas the processes of socio-spatial differentiation were blended with the articulation of these differences and became topics continuously discussed in socio-spatial research. Such a fact highlights that these two are crucial aspects to the processes that make sense of human existence and action, consolidating itself as content and constituent of the world’s construction and reflection. The first part of the article focuses on the definition of spatial units, a concern that exists in the history of geographical thought and that is responsible for offering a spatial perspective on part-whole relationships. The second section focuses on the attempt to articulate and organize the spatial units, presented here as another crucial element in the emergence of the scale problem. Its relevance is emphasized because it plays an important role in the methodological reflections on spatial grouping and on statistical methods in socio-spatial investigations that marked the rise of concerns with geographical scales. These two stages of the text are methodologically based on bibliographical reviews of works from the period mentioned (when the material was accessible) and on comments on more recent authors considered influential in the contemporary debate about the concept of geographic scale. In the end, the main conclusions are presented, their relevance is underlined, and some questions for future research are suggested.
A proposta de autogestão pressupõe a igualdade de participação efetiva no exercício do poder, seja ele em sua dimensão formal ou informal. Seu caráter radicalmente democrático é afeito à heterogeneidade, que, por sua vez, pode levar à formação e consolidação de grupos de afinidade com perspectivas políticas diferentes. Nessa proposta, a igualdade de participação no poder faz com que cada pessoa tenha o mesmo peso nas deliberações, ganhando ênfase o processo de convencimento e de disputa por opiniões. No caso de nanoterritórios onde, em meio às interações pessoais, se faz presente o horizonte autogestionário, dinâmicas e práticas espaciais ligadas à constante e infindável construção desse regime político influenciam e são influenciadas diretamente pelas negociações feitas no dia a dia. Assim, as características da espacialidade cotidiana podem colaborar ou dificultar a elaboração de entendimentos nas interações. Neste artigo buscamos refletir sobre alguns aspectos dessa relação entre a espacialidade e as negociações cotidianas, tão importantes para processos de mobilização política coletiva de inspiração autogestionária. Para isso, lançamos o olhar sobre a Ocupação Chiquinha Gonzaga, ligada a uma parcela específica do movimento dos sem-teto carioca formada por ocupações da variante por coletivo, onde predominam as preocupações com o fomento de relações de poder internas com reduzidos traços de hierarquia. Através de uma pesquisa participante de caráter exploratório com as características de uma interação colaborativa (construída para além do período da pesquisa), pudemos observar elementos da espacialidade e das práticas espaciais cotidianas que indicam a elaboração coletiva de mecanismos próprios de negociação, tornando bastante específica a forma de autogestão em experiência nesse território. Dessa forma, foi possível também reforçarmos as indicações feitas por outros autores de que o pano de fundo político-filosófico aparentemente mais apropriado para a busca de um entendimento mútuo livre de coerções seja o projeto de uma sociedade basicamente autônoma.
ABSTRACT
The proposal of self-management presumes equal and effective participation in the exercise of power, in its formal or informal dimension. Its radical democratic character allows the expression of heterogeneity and, with time, may lead to the formation and consolidation of affinities groups with different political perspectives. Considering this proposal, the equal participation in power gives to every person the same weight in the dynamics of the deliberations, emphasizing the process of persuasion and the dispute for opinions. In the case of nanoterritories where, among the personal interactions, the horizon of self-management horizon is present, dynamics and spatial practices related to the constant and endless process of construction of this political regime influence and are influenced directly by everyday negotiations. Thus, the characteristics of the spatiality of everyday life could collaborate or disturb the elaboration of understanding of these interactions. In this article, we reflect upon some aspects of the relation between the spatiality and the everyday negotiations, both of which are important elements for processes of collective political mobilization inspired by self-management. In order to do that, we considered the case of Ocupação Chiquinha Gonzaga, which is part of a specific portion of the sem-teto movement of Rio de Janeiro (ie. the collective variant of this movement) where concerns related of the promotion of horizontal power relations predominates. Within an exploratory participant research with characteristics of a collaborative interaction (nourished even beyond the research period), we observed elements of the spatiality and everyday spatial practices that indicate a collective construction of particular mechanisms of negotiation, making the self-management experience of this territory a very specific one. We also reinforce the indications made by other authors that the political-philosophical background apparently more appropriate for the pursuit of mutual understanding, free of all kind of coercions, may be the project of a basically autonomous society.
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This article presents an analysis of toponymic scalar politics, proposing an analytical tool for studying changes in place names. The methodology includes a comprehensive and systematic literature review on toponymy and geography, as well as an empirical case study focused on the city of Petrópolis (RJ). The theoretical framework is based on the concepts of scale, scalarity, and scalar politics, highlighting how place naming reflects and shapes identities and spatial narratives. The results show that place naming is influenced by specific historical and political contexts, with actions of naming, renaming, erasure, and maintenance playing crucial roles in the construction and reconstruction of urban memories. In Petrópolis, it was observed how toponymic changes reflected power transitions and new political narratives over time. It is concluded that toponymic scalar politics are effective analytical tools for understanding the (re)production of urban space, revealing power relations and symbolic disputes present in the spatial configuration of cities.
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Starting from the understanding that informality is not something external to the state, as it is part of its spatial practices, we argue that urban informality is a central element of the urban regime of the Global South, since its flexibility is used in a calculated way to guarantee the conditions and objectives of the state when it comes to planning and governing cities. To do this, we use excerpts from the history of the constitution of housing informality in the city of Rio de Janeiro between the 1930s and 1960s. After a brief presentation of the debate on urban informality, the article discusses the role that the regulation of the legal status and internal political-economic activities of favelas played in guaranteeing the continuity and updating of an urban regime characterized by instability, precariousness, inequality, and violence. Finally: we affirm urban informality as a heterogeneous set of practices that exist within the state and constitute logics of management and production of the differential value of urban space; we emphasize the importance that the normative ambiguities and contradictions of the state have for the flexible use of informality; and we highlight the role of urban planning in this process.
ABSTRACT: The Brazilian sem-teto or homeless worker movement is one of the main contemporary social urban movements in Brazil. As in other movements, the category struggle is central in the discursive theorizations legitimating its socio-spatial practices. This article begins with the polysemy and the metamorphosis of the struggle category in order to reflect upon the expressions used by this activism to scalarize its actions. First, some basic notions on scalarity are presented; then, two aspects of the practice-political role in the scalarity category are highlighted. These aspects point to the emergence of this struggle as a scalar one. In turn, scalarity helps us to explain the workings of the world, the drivers of some actions, and the transcendence of daily socio-spatial practices by sem-teto activists. Finally, the practical, dual (contiguous and discontinuous), and necessarily political features of geographic scales are highlighted.
ABSTRACT: The “scale problem” emerges in Geography at the moment in which the need to organize the possibly identifiable spatial units is highlighted as a methodological concern. Thus, it became explicit and treated in this academic field, specially from the 1950s onward. In the following years the diffusion of other theoretical-political references in Western socio-spatial research allowed the scalar issue to be observed from approaches for which the act of divide and organize the space was not merely a methodological issue, but also an epistemological and political one ―and, therefore, scale was recognized as directly linked to the practice and social action. But the proliferation of works on geographical scales did not occur homogeneously in the different linguistic environments of the specialized literature. In the Anglophone case, for example, it was from the end of the 1980s that this happened. The aim of this article is to characterize the main axes of the debate on geographical scales that took place between approximately the last decade of the twentieth century and the first decade of the twenty-first century in the research carried out in the environment of Anglophone Geography in order to increase the plurality of issues that fertilize the understandings on geographical scale
RESUMEN: El “problema de la escala” surge en Geografía en el momento en que se pone de manifiesto la necesidad de organizar las unidades espaciales identificables como una preocupación metodológica. Así, el tema se vuelve explícito y tratado en este ámbito académico principalmente a partir de la década de 1950. La difusión de ciertas referencias teórico-políticas en las investigaciones socio-espaciales ocidentales permitió que la cuestión escalar fuera, en los años siguientes, observada desde enfoques para los que d ividir y organizar el espacio no era una cuestión meramente metodológica, sino también epistemológica y política ―y, por lo tanto, directamente vinculada a la práctica y a la acción social. Pero la proliferación de trabajos sobre escalas geográficas no se produjo de forma homogénea en los distintos ámbitos lingüísticos de la literatura especializada. En el caso anglófono, por ejemplo, eso ocurrió a partir de finales de lo s años ochenta. El objetivo de este artículo es caracterizar los principales ejes del debate sobre las escalas geográficas que tuvo lugar aproximadamente entre la última década del siglo XX y la primera del siglo XXI en las investigaciones realizadas en el entorno de la Geografía anglófona con el fin de aumentar la pluralidad de cuestiones que alimentan las reflexiones sobre la escala geográfica.
ABSTRACT: This text consists of an experimental methodological exercise that aims to launch an introductory scalar look at the covid-19 pandemic by reflecting on how sanitary recommendations of "social isolation" influence the perception of the space of the house as a meaningful geographical scale in these pandemic times, considering above all the inequalities that impacts the experience of subjects with such scale.
RESUMEN: El texto consiste en un ejercicio metodológico experimental que tiene por objeto lanzar una mirada escalar introductoria a la pandemia de covid-19 utilizándose de reflexiones sobre cómo las recomendaciones sanitarias de "aislamiento social" influyen en la percepción del corte espacial de la casa como una escala geográfica significativa em nuestros tiempos pandémicos, considerando sobre todo las desigualdades que condicionan la experiencia de los sujetos con dicha escala.
ABSTRACT: The aim of this article is to contribute to identify some of the main characteristics of the debate around the scale problem, which is widespread in Anglo-Saxon geographical literature and, at different levels, also recently debated in Spanish and Portuguese literature. From this interest unfolds the pursued objective of rescuing some central elements considered important to analyze thematic persistence in the debate about scalarity from works accepted as central to the history of Western geographic thought in the period between the mid-nineteenth century and the mid-twentieth century. This concern is based on the recognition that at different moments in the history of geographical ideas the processes of socio-spatial differentiation were blended with the articulation of these differences and became topics continuously discussed in socio-spatial research. Such a fact highlights that these two are crucial aspects to the processes that make sense of human existence and action, consolidating itself as content and constituent of the world’s construction and reflection. The first part of the article focuses on the definition of spatial units, a concern that exists in the history of geographical thought and that is responsible for offering a spatial perspective on part-whole relationships. The second section focuses on the attempt to articulate and organize the spatial units, presented here as another crucial element in the emergence of the scale problem. Its relevance is emphasized because it plays an important role in the methodological reflections on spatial grouping and on statistical methods in socio-spatial investigations that marked the rise of concerns with geographical scales. These two stages of the text are methodologically based on bibliographical reviews of works from the period mentioned (when the material was accessible) and on comments on more recent authors considered influential in the contemporary debate about the concept of geographic scale. In the end, the main conclusions are presented, their relevance is underlined, and some questions for future research are suggested.
A proposta de autogestão pressupõe a igualdade de participação efetiva no exercício do poder, seja ele em sua dimensão formal ou informal. Seu caráter radicalmente democrático é afeito à heterogeneidade, que, por sua vez, pode levar à formação e consolidação de grupos de afinidade com perspectivas políticas diferentes. Nessa proposta, a igualdade de participação no poder faz com que cada pessoa tenha o mesmo peso nas deliberações, ganhando ênfase o processo de convencimento e de disputa por opiniões. No caso de nanoterritórios onde, em meio às interações pessoais, se faz presente o horizonte autogestionário, dinâmicas e práticas espaciais ligadas à constante e infindável construção desse regime político influenciam e são influenciadas diretamente pelas negociações feitas no dia a dia. Assim, as características da espacialidade cotidiana podem colaborar ou dificultar a elaboração de entendimentos nas interações. Neste artigo buscamos refletir sobre alguns aspectos dessa relação entre a espacialidade e as negociações cotidianas, tão importantes para processos de mobilização política coletiva de inspiração autogestionária. Para isso, lançamos o olhar sobre a Ocupação Chiquinha Gonzaga, ligada a uma parcela específica do movimento dos sem-teto carioca formada por ocupações da variante por coletivo, onde predominam as preocupações com o fomento de relações de poder internas com reduzidos traços de hierarquia. Através de uma pesquisa participante de caráter exploratório com as características de uma interação colaborativa (construída para além do período da pesquisa), pudemos observar elementos da espacialidade e das práticas espaciais cotidianas que indicam a elaboração coletiva de mecanismos próprios de negociação, tornando bastante específica a forma de autogestão em experiência nesse território. Dessa forma, foi possível também reforçarmos as indicações feitas por outros autores de que o pano de fundo político-filosófico aparentemente mais apropriado para a busca de um entendimento mútuo livre de coerções seja o projeto de uma sociedade basicamente autônoma.
ABSTRACT
The proposal of self-management presumes equal and effective participation in the exercise of power, in its formal or informal dimension. Its radical democratic character allows the expression of heterogeneity and, with time, may lead to the formation and consolidation of affinities groups with different political perspectives. Considering this proposal, the equal participation in power gives to every person the same weight in the dynamics of the deliberations, emphasizing the process of persuasion and the dispute for opinions. In the case of nanoterritories where, among the personal interactions, the horizon of self-management horizon is present, dynamics and spatial practices related to the constant and endless process of construction of this political regime influence and are influenced directly by everyday negotiations. Thus, the characteristics of the spatiality of everyday life could collaborate or disturb the elaboration of understanding of these interactions. In this article, we reflect upon some aspects of the relation between the spatiality and the everyday negotiations, both of which are important elements for processes of collective political mobilization inspired by self-management. In order to do that, we considered the case of Ocupação Chiquinha Gonzaga, which is part of a specific portion of the sem-teto movement of Rio de Janeiro (ie. the collective variant of this movement) where concerns related of the promotion of horizontal power relations predominates. Within an exploratory participant research with characteristics of a collaborative interaction (nourished even beyond the research period), we observed elements of the spatiality and everyday spatial practices that indicate a collective construction of particular mechanisms of negotiation, making the self-management experience of this territory a very specific one. We also reinforce the indications made by other authors that the political-philosophical background apparently more appropriate for the pursuit of mutual understanding, free of all kind of coercions, may be the project of a basically autonomous society.
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Relations between space and power manifest in the processes of space production, its organisation, and the uses of territory, among others, and should be problematised at all spatial scales and forms. The analyses presented here consider different contributions and interpretations of these processes from multiple approaches to geographical practice, highlighting the relevance of this field of knowledge. Therefore, it becomes crucial to question the ways in which the interests of class and hegemonic, subordinated, and counter-hegemonic social groups are transformed into actions, making conflict a central aspect in the use of territory and in the production and appropriation of space. While on the one hand there are agents who dominate the organisation and ordering of space – the State and capital, broadly speaking – on the other hand, dynamics in the everyday life of territories and places around the world demonstrate that their concreteness is also influenced by society as a whole, with the struggles and resistances of the working classes, peripheral groups, traditional peoples and communities, and populations from various perspectives, always considering their determinations and intersections of the most diverse social markers of difference. It is no coincidence that many of the studies reported here are closely related to processes of social mobilisation, emphasising the role of engagement and territorially referenced activities within the realms of teaching, research, and extension in the trajectory of the authors who have contributed to this volume. The research compiled here also has a formative dimension, as it helps us to understand our place in the world and demonstrates in practice that the construction of geographical knowledge also informs the positions we adopt within it as individual and collective subjects, constituting what is understood as praxis. We bring together here the work of faculty and students who share these concerns within the scope of twelve years of teaching, research, and extension activities of the Research Line "Geography and Relations of Power" in the Postgraduate Programme in Geography at the Faculty of Teacher Education of the State University of Rio de Janeiro – PPGGEO/FFP/UERJ. We hope that this volume demonstrates part of the variety of thematic, methodological, and theoretical approaches that distinguish us and inspire us as we face the new cycle opened by the recent approval of the Doctoral course in our programme, starting in 2025. At the same time, we aim to contribute with reflections that offer research horizons capable of continuing to assist the academic environment in understanding the conflictual processes of space production and territory use, particularly the tactics and strategies of social action and territorial engagement committed to transforming reality.
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This book assumes that the scalar dimension of spatiality, and therefore the delineations of space and the forms of organisation and integration of its parts, play a crucial role in the epistemological mechanisms that create and connect the parts of space to one another, producing different totalities. Such a scalar principle is identified at various moments in the history of geography; the emergence of the so-called "scale problem" is contextualised; and some of the more recent debates on the subject are systematised. Emphasis on the political nature of geographical scales encourages reflection on this aspect from the perspective of social agents who construct space from non-hegemonic positions – such as social movements. It is the sem-teto movement in Brazil and the scalar content of their everyday socio-spatial practices that inspire the reflections presented here. Scalarity underscores the importance of the spatial dimension in the process of understanding the existing world and in the creation of new horizons. It also highlights the necessity of the full recognition of the Other within this process, including the different ways of assigning meaning to space, its delineations, and articulations. Maintaining focus on scalarity from this perspective – constructivist and relational – while simultaneously considering the political aspects of its dynamics proves to be essential for reflections on the struggles surrounding the production of space as a whole. The three theses emerging in this book explicitly state that the scalar dimension is crucial to the construction and, above all, to the institution of the ways in which the different parts of the world are produced, articulated, connected, and related, which in turn influences the actions deemed possible to carry out upon reality. It is therefore established that the entanglements linking geographical scales to action transform them into important instruments of power.