In: JUSTIÇA GLOBAL. Segurança, tráfico e milícias. 1. ed. Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Boll,, 2008. v. 1, p. 37-47., 2008
Este artigo tem por objetivo apresentar e discutir as percepções de lideranças de movimentos soci... more Este artigo tem por objetivo apresentar e discutir as percepções de lideranças de movimentos sociais de moradores de favelas, especificamente associações de moradores, a respeito de suas experiências à frente dessas organizações no contexto atual das favelas e da política no Rio de Janeiro. Os dados aqui apresentados foram recolhidos através do Projeto de Pesquisa “Rompendo o cerceamento da palavra: A voz dos favelados em busca do reconhecimento”, realizado pelo Instituto Brasileiro de Análises Socioeconômicas (IBASE), Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (IUPERJ), em parceria com a UERJ, UFRJ, UFF e UENF, e financiada pela Unesco e Faperj. No âmbito dessa pesquisa, além de dados coletados de outras formas, foram ouvidos 150 moradores de favelas, residentes em 45 favelas do Rio de Janeiro, que participaram de 15 grupos focais organizados no formato de “coletivos de confiança”. No modelo criado pela equipe de pesquisa para os “coletivos de confiança” buscou-se selecionar os participantes a partir de contatos anteriores com pesquisadores do grupo, de forma a garantir não apenas o anonimato nos depoimentos, mas também que a confiança “pré-existente” entre os presentes permitisse a abordagem livre de assuntos a propósito dos quais a maioria dos moradores de favela tem sua palavra cerceada, em função do medo de retaliações por parte de traficantes de drogas.
Para essa análise, nos debruçamos sobre o “coletivo de confiança” realizado com dirigentes de organizações de base, em sua maioria atuais ou ex-participantes de associações de moradores. Assim como para a realização dos outros grupos, foram convidados dirigentes que possuíam contanto pessoais com pesquisadores ligados ao grupo. Dos 12 participantes presentes, quatro estavam no momento atuando como presidentes de associações de moradores; dois eram vice-presidentes, um era dirigente de federação de associações, dois eram ex-dirigentes (e no momento atuavam em ONGs em suas favelas), um era diretor de associação, um não declarou seu cargo e outro não tinha função na associação e trabalhava como agente comunitário contratado pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Percebe-se pelo grupo formado uma amostra da diversidade possível de organização coletiva dentro das favelas, particularmente no que diz respeito à participação de ex-dirigentes de associações de moradores em organizações não-governamentais, atuando dentro das favelas em que dirigiram anteriormente associações de moradores.
Vale ressaltar, no entanto, que esse grupo possuiu uma dinâmica um pouco diferenciada da dos outros grupos realizados na pesquisa. Os participantes dirigem-se a dois interlocutores o tempo todo: aos pesquisadores e às outras lideranças que também estão presentes ao grupo focal. Dessa forma, os participantes buscam nas suas falas legitimarem-se como líderes de suas localidades, com a autoridade e legitimidade exigidas pelo cargo, num constante movimento de apresentação e de produção de si (Rocha, 2006).
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Para essa análise, nos debruçamos sobre o “coletivo de confiança” realizado com dirigentes de organizações de base, em sua maioria atuais ou ex-participantes de associações de moradores. Assim como para a realização dos outros grupos, foram convidados dirigentes que possuíam contanto pessoais com pesquisadores ligados ao grupo. Dos 12 participantes presentes, quatro estavam no momento atuando como presidentes de associações de moradores; dois eram vice-presidentes, um era dirigente de federação de associações, dois eram ex-dirigentes (e no momento atuavam em ONGs em suas favelas), um era diretor de associação, um não declarou seu cargo e outro não tinha função na associação e trabalhava como agente comunitário contratado pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Percebe-se pelo grupo formado uma amostra da diversidade possível de organização coletiva dentro das favelas, particularmente no que diz respeito à participação de ex-dirigentes de associações de moradores em organizações não-governamentais, atuando dentro das favelas em que dirigiram anteriormente associações de moradores.
Vale ressaltar, no entanto, que esse grupo possuiu uma dinâmica um pouco diferenciada da dos outros grupos realizados na pesquisa. Os participantes dirigem-se a dois interlocutores o tempo todo: aos pesquisadores e às outras lideranças que também estão presentes ao grupo focal. Dessa forma, os participantes buscam nas suas falas legitimarem-se como líderes de suas localidades, com a autoridade e legitimidade exigidas pelo cargo, num constante movimento de apresentação e de produção de si (Rocha, 2006).
Para essa análise, nos debruçamos sobre o “coletivo de confiança” realizado com dirigentes de organizações de base, em sua maioria atuais ou ex-participantes de associações de moradores. Assim como para a realização dos outros grupos, foram convidados dirigentes que possuíam contanto pessoais com pesquisadores ligados ao grupo. Dos 12 participantes presentes, quatro estavam no momento atuando como presidentes de associações de moradores; dois eram vice-presidentes, um era dirigente de federação de associações, dois eram ex-dirigentes (e no momento atuavam em ONGs em suas favelas), um era diretor de associação, um não declarou seu cargo e outro não tinha função na associação e trabalhava como agente comunitário contratado pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Percebe-se pelo grupo formado uma amostra da diversidade possível de organização coletiva dentro das favelas, particularmente no que diz respeito à participação de ex-dirigentes de associações de moradores em organizações não-governamentais, atuando dentro das favelas em que dirigiram anteriormente associações de moradores.
Vale ressaltar, no entanto, que esse grupo possuiu uma dinâmica um pouco diferenciada da dos outros grupos realizados na pesquisa. Os participantes dirigem-se a dois interlocutores o tempo todo: aos pesquisadores e às outras lideranças que também estão presentes ao grupo focal. Dessa forma, os participantes buscam nas suas falas legitimarem-se como líderes de suas localidades, com a autoridade e legitimidade exigidas pelo cargo, num constante movimento de apresentação e de produção de si (Rocha, 2006).
A etnografia dos "fóruns" e “reuniões” permitiu coletar dados sobre as estratégias discursivas empregadas pelos diversos atores citados e, a partir desse material, a investigação busca compreender quais são as possibilidades de produção da ‘crítica’ por parte dos moradores dessas localidades, destacando negociações, disputas e julgamentos realizados a respeito de tais reivindicações, de forma a compreender quais são os recursos validados ou deslegitimados nesses processos. Pretende ainda descrever como são executadas as operações de controle, cerceamento da voz e desqualificação moral dos atores sociais em quadro, tanto por parte da administração governamental quanto por parte dos próprios moradores de favelas. A partir dos apontamentos apresentados acima, analiso as dinâmicas de mediação em curso nas favelas cariocas, discutindo como poli- ciais, técnicos dos poderes públicos e moradores movimentam-se dentro de redes e espaços de mediação, e como a gestão dessa população está sendo realizada através de mecanismos aparentemente tão díspares quanto a participação, o empreendedorismo e a militarização.
A partir deste caso real do possível discuto as implicações dessa “tranquilidade” para a sociabilidade local, e particularmente para sua associação de moradores e para a organização não-governamental ali localizada. Argumento que a ausência de conflitos frequentes é uma importante dimensão na vida local, pois permite aos moradores não apenas a manutenção de sua “segurança ontológica” (Giddens, 1991), como também oferece à população local um importante recurso acionado nos processos de limpeza moral que executam. No entanto, afirmo que tal “tranquilidade” é acompanhada de um silenciamento por parte dos moradores e de suas organizações sobre suas rotinas e sobre os riscos por eles vivenciados. No caso de sua associação de moradores, tal silenciamento tem como consequência, entre outras, uma imobilidade no que diz respeito à mobilização para ações coletivas que demandem melhorias para a localidade. No caso da ONG local, o silenciamento se dá de outra forma; o trabalho executado está relacionado a representações sobre a criminalidade violenta e sobre a “vulnerabilidade” da juventude local frente a ela. Nesse sentido, os participantes da ONG possuem uma voz sobre a vida nesses territórios, mas que está “ajustada” ao enquadramento atual do “problema da favela”. Elevando a discussão a uma dimensão mais geral, analiso o “ajustamento” (Boltanski e Thévenot, 1991) de associações de moradores e organizações não-governamentais tanto aos novos parâmetros da atuação estatal nessas localidades quanto ao discurso mais recente sobre sociedade civil e movimentos sociais – que modelam esse atual “problema da favela”. Por fim, discuto qual a “voz possível” para moradores de favelas, dentro das condições dadas pelas representações coletivas existentes sobre eles e sobre o lugar que ocupam na dinâmica socioespacial da cidade.
Palavras-chave: criminalidade violenta, movimento social, favelas, ONGs, silenciamento.
No contexto apresentado acima, a questão da juventude moradora de fa- vela se apresentava em destaque. Considerados as maiores vítimas - e também algozes - da violência urbana no Rio de Janeiro1, os jovens (do sexo masculino, sobretudo) sempre foram objeto de atenção das políticas públicas para segurança no Rio de Janeiro, e no caso das UPPs não seria diferente.
Assim, considerando a implementação das UPPs, buscamos, neste capí- tulo, responder às seguintes questões: Qual a percepção entre os jovens das favelas “pacificadas” sobre as UPPs e a polícia de um modo mais geral? O que se modifica e o que permanece em termos da natureza das relações entre jo- vens e policiais? Quais os impactos desta nova proposta de policiamento para a vida cotidiana e a sociabilidade dos jovens moradores de favela?