Ciências Biológicas

Os quintais urbanos representam espaços de grande interesse para o estudo etnoecológico dos aspectos culturais da biodiversidade. Quintais e hortas comunitárias fornecem diversos serviços ecossistêmicos tais como o aumento da permeabilidade dos solos, fornecimento de alimentos, plantas medicinais e manutenção dos saberes ecológicos tradicionais. Ecologicamente, os quintais podem ser compreendidos como ilhas e investigados a partir de abordagens biogeográficas.

Se pudéssemos explicitar as raízes do problema ambiental desse século a um ser que reside em outro planeta, seria inevitável passar pela urbanização. Na cidade habita o maior número de pessoas, parte delas resiste semeando teimosamente a vida em meio ao concreto. Tais atores guardam na memória, uma forma especial de interagir com essa natureza urbana, trazendo no balaio e chegando à cidade um pedacinho da roça, a tradicionalidade rural. O modelo capitalista de desenvolvimento evidencia sintomas de esfacelamento da sociobiodiversidade, tendo como fator principal a ferida no ecossistema de todo o planeta e a hegemonia da ciência moderna em chancelar o que é um conhecimento válido. Em face dessa degradação socioambiental a empreitada de construir uma Ecologia de Saberes é uma alternativa que preenche o abismo criado entre ciência e senso comum. Nesse sentido, munido de uma Etnoecolgia Abrangente que pode ser entendida como um campo híbrido, que estabelece uma interface entre saber científico e popular sobre a socialização nos quintais urbanos, busca-se compreender o papel dos quintais enquanto espaços de aprendizagem na construção e transformação do saber ecológico. Para tanto, segui um itinerário metodológico que contempla instrumentos da etnociência e uma abordagem qualitativa da “história de vida” como ferramenta para um diálogo pluricultural. Foram realizadas 10 entrevistas com interlocutores em dois bairros – Jardim Rosário e Jaçanã - da cidade de Ibirité/MG. A hipótese é que com modos diversos de urbanização tenham-se modos dissonantes de inserção da biodiversidade nas relações sociais. Os resultados demonstram a riqueza de saberes ambientais em áreas urbanas, revelando que mesmo onde o estágio de dominação da natureza tenha chegado ao limite, à cultura humana resiste e guarda na memória uma miríade de saberes ecológicos tradicionais. Os saberes no espaço dos quintais são aprendidos a partir das conexões entre ser humano/vegetal, ser humano/animal, ser humano/mineral ser humano/ ser humano. Nessa reinvenção da vida sobre o concreto a circulação dos saberes nesses ecossistemas urbanos assumem uma diversidade de atores em uma constante elaboração. Em meio aos impactos causados pela expansão urbana e para além deles os quintais apresentam-se como patrimônios bioculturais.

Palavras Chave: Etnoecologia Urbana, Sociobiodiversidade Urbana, Agricultura Urbana.

Resumo: Desde 2016 vem sendo realizada uma pesquisa-ação com um grupo de jovens do Assentamento Primeiro de Junho-Tumiritinga/MG. Neste trabalho, nosso objetivo é compreender as relações entre as histórias de vida desse grupo de jovens e a memória biocultural, observando de que forma essas relações fortalecem ou não o vínculo com o território. Percebemos que a memória biocultural atua como um fio condutor na construção das leituras de mundo, na percepção dos jovens sobre seu território e em sua decisão de permanecer ou sair do campo. Nesse sentido, a pesquisa identificou como a Agroecologia e a Educação do Campo, na medida em que valorizam os saberes locais, fortalecem a territorialidade camponesa e influenciam nos projetos de vida da juventude. Palavras-Chave: memória biocultural; juventude; agroecologia. Abstract: Since 2016 it has been developed a " pesquisa-ação " with a group of young people from Assentamento Primeiro de Junho (Tumiritinga/MG). In this paper our aim is to understand the relationships between the life stories of local youth and biocultural memory, trying to identify how this relationships strengths or not their links with the territory. We realized that biocultural memory acts like a conductor line in the construction of their comprehension of the world, in the perception of their territory and in their decision of leaving or staying in their Assentamento. So, we identified how Agroecology and " Educação do Campo " , while they value local knowledge, influence youth life projects and contribute to become peasant territory stronger.

This article aims to demonstrate that memory, knowledge and the practices that people develop are key concepts to understand agrobiodiversity in urban gardens. Through the thematic oral history and careful notes in field journals, 10 residents in Ibirité, Metropolitan Region of Belo Horizonte –Minas Gerais (MG), Brazil– were interviewed. In addition to the ecosystem services provided by urban gardens, the research detected material and symbolic elements that indicate that people's feelings and beliefs are fundamental to the configuration of gardens in urban areas. The discussion started in this work, comprehends the borders between the countryside and city more fluidly. The oral stories told by the interviewees revealed knowledge, feelings and practices applied in urban areas but coming from a rural tradition. Another pertinent factor recorded was the role of symbolic exchanges in the maintenance of agrobiodiversity in urban gardens.
KEY WORDS: biocultural memory; socio-urban biodiversity; life trajectories.

iv AGRADECIMENTOS Primeiramente, gostaria de agradecer à minha amiga, namorada, esposa, Tati Ane por sempre confiar e apoiar minhas escolhas e por seu amor acima de tudo. Também agradeço minha filha Isabely por entender e ter suportado tão precocemente minha ausência estes anos, principalmente durante a fase de campo. Agradeço a meu pai Gil Ferraz por ter acreditado em meu futuro e contribuído para que eu me formasse o profissional que sou hoje. À minha mãe Rita por sempre acreditar em meus sonhos e por estar sempre ao meu lado em minhas decisões, sem você essa profissão nunca teria acontecido! À Dra. Karen Strier por ter me dado a oportunidade de trabalhar com os muriquis em Caratinga, pela confiança em meu trabalho e por sua orientação em todas as fases deste projeto. À Carla Possamai por todos os ensinamentos sobre os muriquis durante meu treinamento de campo, eles foram fundamentais. À minha Orientadora, Dra. Ita de Oliveira e Silva pela confiança em meu trabalho e por ter acreditado em meus propósitos, sua contribuição foi fundamental para concretização deste trabalho. Também agradeço ao professor Dr. Vanner Boere pela coorientação, e por toda contribuição em meu trabalho. Aos meus grandes amigos de longas datas Áquila Oliveira, Marcello Nery, Jaquelina Nunes e em especial Michel Faria pela carta de recomendação e apoio sempre. Fico feliz por ter compartilhado essa trajetória com vocês! Ao professor Dr. Fabiano R. de Melo todos os ensinamentos e por estar sempre presente em minha vida profissional e pessoal. Com você aprendi a acreditar e amar esta causa e principalmente, me tornar uma pessoa melhor. Aos meus queridos amigos Robson Hack, Samanta Rocha e Luisa Arnedo pela incrível experiência de vida que compartilhamos, por todos os ótimos momentos que passamos juntos, por tudo que pude aprender com vocês durante nossa moradia na Estação Biológica de Caratinga, ahh e viva o pão de leite! v Aos amigos Rodrigo Massara, Ana Maria Paschoal, Adriano Chiarello, Juliana Santos e Virgílio (in memoriam), suas visitas à Reserva tornavam o cansativo dia de campo mais alegre. À Sociedade para Preservação do Muriqui (Preserve Muriqui) e toda família Abdala, por todo apoio durante minha participação no Projeto Muriqui de Caratinga. Meus sinceros agradecimentos a todos os moradores da RPPN Feliciano Miguel Abdala e entorno, pelo agradável convívio durante a fase de campo. Em especial, agradeço à Vera e família, e Antônio Bragança pelo acolhimento e confiança. A duas figuras tão importantes para preservação dos muriquis, Jairo Roberto e amizade. Aos moradores do Vale do Jaó, Sr. Antônio Dona Conceição ó À minha família: meus avôs, Adylio, Conceição e Maria, meus tios Luis, Gilmar e Vera; meus primos Rafael, Tulio, Junior, Giselle, Danielle e famílias. Ao meu irmão Pedro Henrique e irmãos emprestados Diano e Luiz. Agradeço especialmente à minha cunhada Deisi por cuidar da minha família quando eu estive fora. Obrigado por toda ajuda nestes últimos anos. Aos amigos do mestrado: Lica, Fausto, Marquinhos e Mila por compartilharem este momento, ao Edil pela amizade e correções no texto, agradeço especialmente à Talitha, Alba e Mariane que dividiram comigo além de tudo as angústias e tensões de um mestrando. Ao professor José Henrique Schoereder incríveis aulas de Ecologia. Ao professor Leonardo Behring pela ajuda com as análises estatísticas. Agradeço ao Professor Dr. Robert J. Young pelo aceite em participar da banca de avaliação desta dissertação. Por fim, agradeço a Deus por ter colocado todas essas pessoas especiais em meu caminho. Obrigado! vi

Os muriquis têm hábitos diurnos e arborícolas, podendo deslocar-se rapidamente pela mata devido a adaptações morfológicas tais como a cauda preênsil, braços longos e mãos em forma de ganchos. O modo principal de locomoção é por meio da semi-braquiação, característico da subfamília Atelinae. O objetivo deste trabalho foi descrever as formas de locomoção utilizadas pelos muriquis-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) em três dos quatro grupos de muriquis (Jaó, Matão 2 e Nadir) que permanecem na RPPN Feliciano Miguel Abdala, Caratinga, Minas Gerais (19 50'S, 41 50'W). As observações sobre a forma de locomoção foram realizadas entre setembro de 2007 e julho de 2008, com registros instantâneos a cada 60 segundos ao longo de dez minutos por animal focal. Amostras foram encerradas e excluídas da análise caso o indivíduo focal permanecesse fora de vista por mais de 2 minutos. Para análise dos dados utilizamos apenas os cem primeiros focais dos quatro meses iniciais do estudo (setembro ...