Epistemologia, Lógica e Linguagem, Olga Pombo, Ana Pato e Juan Redmond (eds.), Lisboa, CFCUL, 2019
De 29 a 31 de Outubro de 2012 realizou-se na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa o Si... more De 29 a 31 de Outubro de 2012 realizou-se na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa o Simpósio Internacional de Epistemologia, Lógica e Linguagem. O evento foi organizado pelo Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa (CFCUL) e pelo Grupo de Lógica, Lenguaje e Información (GILLIUS) da Universidade de Sevilha no contexto do projecto internacional "Knowledge Dynamics in the Field of Social Sciences: Abduction, Intuition and Invention" - Acções Integradas Luso-Espanholas.
Cumprindo o dever de divulgação e promoção da investigação que se realiza no CFCUL, o volume que agora se publica reúne 12 artigos de entre as 39 comunicações apresentadas no Simpósio.
Esses estudos ocupam-se de temas diversos no âmbito geral da filosofia da ciência. É, contudo, possível assinalar alguns cruzamentos temáticos, nomeadamente em torno da filosofia da física e da matemática, da teoria dos modelos, das questões da crença e da lógica, sobretudo abdutiva.
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Papers by Ana Pato
*Jornada de Homenagem a Vasco de Magalhães-Vilhena: Historiador Social e das Ideias
Consequently, it is the objective reality, in its unity and as a contradictory totality, that is removed from the theory. The scientific theory gives up the search for the internal connection of phenomena and its task becomes the mere ordination of such phenomena.
The repression of the internal contradiction of reality has a second consequence in Bohr’s thought: objectivity becomes internal to language and it is considered under the figure of intersubjectivity. In fact, Bohr, by putting the correlation between object and measuring instrument (by making the phenomenon dependent of the experience, of the human practice) as the instance in which knowledge is founded, is denying the possibility that there is a content of human representations that does not depend on the subject, i.e. is denying the possibility of objectivity.
These are the general guidelines on which I will argue.
...
O desenvolvimento da ciência no século XX colocou aos físicos novos desafios. As ondas revelavam um comportamento corpuscular e as partículas comportamento ondulatório. Mas nunca simultaneamente. Essa dificuldade levou Bohr a adoptar o princípio da complementaridade, figura através da qual a contradição entre onda e corpúsculo se vê fixada. A oposição entre onda e corpúsculo é, assim, absolutizada. Penso que foi a não consideração da dialéctica que impediu Bohr de avançar no sentido da resolução daquela contradição objectiva que ameaçava reflectir-se na teoria.
Como consequência, é a realidade objectiva, na sua unidade e enquanto totalidade contraditória, que se vê despedida da teoria. A teoria científica desiste de procurar a conexão interna dos fenómenos e a sua tarefa passa a ser a mera ordenação daqueles fenómenos.
Este recalcamento da contradição interna da realidade tem uma segunda consequência em Bohr: a objectividade passa a ser interna à linguagem e passa a ser pensada sob a figura da intersubjectividade. De facto, Bohr, ao colocar a correlação entre objecto e instrumento de medida (ao fazer depender o fenómeno da experiência, da prática humana) como a instância em que o conhecimento se funda, está a negar a possibilidade de que haja um conteúdo das representações humanas que não dependa do sujeito, isto é, está a negar a possibilidade da objectividade.
Estas são as linhas gerais do que procurarei argumentar.
Books by Ana Pato
O confronto entre estas duas linhas filosóficas fundamentais, o materialismo e o idealismo, permaneceu ao longo dos tempos. Para compreender as formas que esse confronto assume na ciência actual, estudar Materialismo e Empiriocriticismo é da maior relevância.
Nesta obra, procura-se mostrar que a interpretação ortodoxa da mecânica quântica – tomada a partir dos textos de Bohr – está profundamente marcada por tendências agnósticas e idealistas. Em particular, conclui-se que Bohr antepõe, como condição de possibilidade, uma correlação entre objecto e instrumento de medida que é, no fundo – para além de um limite epistemológico inultrapassável –, a negação da independência ontológica do ser face à prática (do ente quântico face à experiência): trata-se de um “idealismo da práxis”. Bohr não pôde resolver o problema central da mecânica quântica, o dualismo onda-corpúsculo, porque não considerou dialecticamente a unidade e a contradição do ser, acabando por “desmaterializar” a teoria, negando assim a teoria científica como reflexo aproximadamente verdadeiro da realidade objectiva.
// Dissertação de Mestrado em História e Filosofia das Ciências, 2012, Universidade de Lisboa, Secção Autónoma de História e Filosofia das Ciências. Orientação: professora doutora Olga Pombo.
Cumprindo o dever de divulgação e promoção da investigação que se realiza no CFCUL, o volume que agora se publica reúne 12 artigos de entre as 39 comunicações apresentadas no Simpósio.
Esses estudos ocupam-se de temas diversos no âmbito geral da filosofia da ciência. É, contudo, possível assinalar alguns cruzamentos temáticos, nomeadamente em torno da filosofia da física e da matemática, da teoria dos modelos, das questões da crença e da lógica, sobretudo abdutiva.
*Jornada de Homenagem a Vasco de Magalhães-Vilhena: Historiador Social e das Ideias
Consequently, it is the objective reality, in its unity and as a contradictory totality, that is removed from the theory. The scientific theory gives up the search for the internal connection of phenomena and its task becomes the mere ordination of such phenomena.
The repression of the internal contradiction of reality has a second consequence in Bohr’s thought: objectivity becomes internal to language and it is considered under the figure of intersubjectivity. In fact, Bohr, by putting the correlation between object and measuring instrument (by making the phenomenon dependent of the experience, of the human practice) as the instance in which knowledge is founded, is denying the possibility that there is a content of human representations that does not depend on the subject, i.e. is denying the possibility of objectivity.
These are the general guidelines on which I will argue.
...
O desenvolvimento da ciência no século XX colocou aos físicos novos desafios. As ondas revelavam um comportamento corpuscular e as partículas comportamento ondulatório. Mas nunca simultaneamente. Essa dificuldade levou Bohr a adoptar o princípio da complementaridade, figura através da qual a contradição entre onda e corpúsculo se vê fixada. A oposição entre onda e corpúsculo é, assim, absolutizada. Penso que foi a não consideração da dialéctica que impediu Bohr de avançar no sentido da resolução daquela contradição objectiva que ameaçava reflectir-se na teoria.
Como consequência, é a realidade objectiva, na sua unidade e enquanto totalidade contraditória, que se vê despedida da teoria. A teoria científica desiste de procurar a conexão interna dos fenómenos e a sua tarefa passa a ser a mera ordenação daqueles fenómenos.
Este recalcamento da contradição interna da realidade tem uma segunda consequência em Bohr: a objectividade passa a ser interna à linguagem e passa a ser pensada sob a figura da intersubjectividade. De facto, Bohr, ao colocar a correlação entre objecto e instrumento de medida (ao fazer depender o fenómeno da experiência, da prática humana) como a instância em que o conhecimento se funda, está a negar a possibilidade de que haja um conteúdo das representações humanas que não dependa do sujeito, isto é, está a negar a possibilidade da objectividade.
Estas são as linhas gerais do que procurarei argumentar.
O confronto entre estas duas linhas filosóficas fundamentais, o materialismo e o idealismo, permaneceu ao longo dos tempos. Para compreender as formas que esse confronto assume na ciência actual, estudar Materialismo e Empiriocriticismo é da maior relevância.
Nesta obra, procura-se mostrar que a interpretação ortodoxa da mecânica quântica – tomada a partir dos textos de Bohr – está profundamente marcada por tendências agnósticas e idealistas. Em particular, conclui-se que Bohr antepõe, como condição de possibilidade, uma correlação entre objecto e instrumento de medida que é, no fundo – para além de um limite epistemológico inultrapassável –, a negação da independência ontológica do ser face à prática (do ente quântico face à experiência): trata-se de um “idealismo da práxis”. Bohr não pôde resolver o problema central da mecânica quântica, o dualismo onda-corpúsculo, porque não considerou dialecticamente a unidade e a contradição do ser, acabando por “desmaterializar” a teoria, negando assim a teoria científica como reflexo aproximadamente verdadeiro da realidade objectiva.
// Dissertação de Mestrado em História e Filosofia das Ciências, 2012, Universidade de Lisboa, Secção Autónoma de História e Filosofia das Ciências. Orientação: professora doutora Olga Pombo.
Cumprindo o dever de divulgação e promoção da investigação que se realiza no CFCUL, o volume que agora se publica reúne 12 artigos de entre as 39 comunicações apresentadas no Simpósio.
Esses estudos ocupam-se de temas diversos no âmbito geral da filosofia da ciência. É, contudo, possível assinalar alguns cruzamentos temáticos, nomeadamente em torno da filosofia da física e da matemática, da teoria dos modelos, das questões da crença e da lógica, sobretudo abdutiva.