Conference Presentations by Revista Odara

Odara revista de arte e literatura , 2017
Propõe-se aqui considerar que em Junta-cadáveres e Pantaleão e as
visitadoras as políticas do seg... more Propõe-se aqui considerar que em Junta-cadáveres e Pantaleão e as
visitadoras as políticas do segredo se fazem ao menos em parte de encenações do privado, do íntimo, do confidencial, que têm caráter performativo, e não substantivo. No primeiro caso, as cartas "anônimas" cumprem o que delas se espera, ou seja, “endireitam o céu”: contribuem para o encerramento das atividades da casa azul. No caso de Pantaleão, a ordem imposta pelo alto comando e seu empenho no sentido da discrição não bastarão para manter secretas as visitadoras. E, com o “segredo”, compromete-se também o sucesso da empreitada e a reputação do Exército. O mecanismo de ocultação é frágil. Por último, em O veneno da madrugada, a política do segredo se constrói
por meio de uma encenação da publicação de informações supostamente confidenciais; o resultado é não somente o restabelecimento do estado de instabilidade, conflito e violência, como também a apropriação de bens alheios por parte do alcaide, que como o povoado e o(s) autor(es) dos pasquins, não tem nome próprio.
Fora do espaço literário, vazamentos encenados também servem como
recurso político: "Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo. Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a necessidade da minha lealdade. Tenho-a revelado ao longo deste cinco anos" (Temer, 2015). Tal suposta correspondência privada se constrói em parte sobre estratégias gramaticais que promovem a vitimização, afirmam ou valorizam a lealdade inexistente e negam a "suposta conspiração". Com o emprego da voz passiva, por exemplo, Temer em diversos trechos coloca a si mesmo e seu partido como sujeitos que são na verdade os pacientes (vítimas) da ação expressa pelo verbo. Usa o futuro do pretérito como suporte para a afirmação de sua lealdade, mencionando o que deveria ter feito, mas não fez em nome dela. Ele também usa verbos performáticos, que se caracterizam pela coincidência entre o falar e o fazer (Austin, 1990), orações com verbos impessoais e a alternância entre a primeira do singular e a do plural. Fala do governo como quem não pertence a ele.
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visitadoras as políticas do segredo se fazem ao menos em parte de encenações do privado, do íntimo, do confidencial, que têm caráter performativo, e não substantivo. No primeiro caso, as cartas "anônimas" cumprem o que delas se espera, ou seja, “endireitam o céu”: contribuem para o encerramento das atividades da casa azul. No caso de Pantaleão, a ordem imposta pelo alto comando e seu empenho no sentido da discrição não bastarão para manter secretas as visitadoras. E, com o “segredo”, compromete-se também o sucesso da empreitada e a reputação do Exército. O mecanismo de ocultação é frágil. Por último, em O veneno da madrugada, a política do segredo se constrói
por meio de uma encenação da publicação de informações supostamente confidenciais; o resultado é não somente o restabelecimento do estado de instabilidade, conflito e violência, como também a apropriação de bens alheios por parte do alcaide, que como o povoado e o(s) autor(es) dos pasquins, não tem nome próprio.
Fora do espaço literário, vazamentos encenados também servem como
recurso político: "Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo. Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a necessidade da minha lealdade. Tenho-a revelado ao longo deste cinco anos" (Temer, 2015). Tal suposta correspondência privada se constrói em parte sobre estratégias gramaticais que promovem a vitimização, afirmam ou valorizam a lealdade inexistente e negam a "suposta conspiração". Com o emprego da voz passiva, por exemplo, Temer em diversos trechos coloca a si mesmo e seu partido como sujeitos que são na verdade os pacientes (vítimas) da ação expressa pelo verbo. Usa o futuro do pretérito como suporte para a afirmação de sua lealdade, mencionando o que deveria ter feito, mas não fez em nome dela. Ele também usa verbos performáticos, que se caracterizam pela coincidência entre o falar e o fazer (Austin, 1990), orações com verbos impessoais e a alternância entre a primeira do singular e a do plural. Fala do governo como quem não pertence a ele.
visitadoras as políticas do segredo se fazem ao menos em parte de encenações do privado, do íntimo, do confidencial, que têm caráter performativo, e não substantivo. No primeiro caso, as cartas "anônimas" cumprem o que delas se espera, ou seja, “endireitam o céu”: contribuem para o encerramento das atividades da casa azul. No caso de Pantaleão, a ordem imposta pelo alto comando e seu empenho no sentido da discrição não bastarão para manter secretas as visitadoras. E, com o “segredo”, compromete-se também o sucesso da empreitada e a reputação do Exército. O mecanismo de ocultação é frágil. Por último, em O veneno da madrugada, a política do segredo se constrói
por meio de uma encenação da publicação de informações supostamente confidenciais; o resultado é não somente o restabelecimento do estado de instabilidade, conflito e violência, como também a apropriação de bens alheios por parte do alcaide, que como o povoado e o(s) autor(es) dos pasquins, não tem nome próprio.
Fora do espaço literário, vazamentos encenados também servem como
recurso político: "Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo. Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a necessidade da minha lealdade. Tenho-a revelado ao longo deste cinco anos" (Temer, 2015). Tal suposta correspondência privada se constrói em parte sobre estratégias gramaticais que promovem a vitimização, afirmam ou valorizam a lealdade inexistente e negam a "suposta conspiração". Com o emprego da voz passiva, por exemplo, Temer em diversos trechos coloca a si mesmo e seu partido como sujeitos que são na verdade os pacientes (vítimas) da ação expressa pelo verbo. Usa o futuro do pretérito como suporte para a afirmação de sua lealdade, mencionando o que deveria ter feito, mas não fez em nome dela. Ele também usa verbos performáticos, que se caracterizam pela coincidência entre o falar e o fazer (Austin, 1990), orações com verbos impessoais e a alternância entre a primeira do singular e a do plural. Fala do governo como quem não pertence a ele.