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Artigos no Jornal de Sintra by Miguel Boim
Jornal de Sintra - Lendas e Factos Lendários de Sintra, 2021
Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, no ... more Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, no livro "Sintra Lendária -Histórias e Lendas do Monte da Lua", que também se encontra à venda no Jornal de Sintra. N aquilo que nós somos, na forma mais instintiva como nos damos, nos hábitos que socialmente criamos e que se encon-

Jornal de Sintra - Lendas e Factos Lendários de Sintra, 2021
Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, no ... more Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, no livro "Sintra Lendária -Histórias e Lendas do Monte da Lua", que também se encontra à venda no Jornal de Sintra. N Três Meses de Amor (1.º Mês) o passado, durante alguns séculos, homens e mulheres que sulcavam os mares levando e trazendo memórias, corriam ao mesmo tempo solo seguro e carrasco que aguardava ceifar suas vidas. Quantos não ansiavam ver de novo os seres humanos que amavam? Quantos não partiram carregando consigo as memórias daquilo que com esses viveram? Memórias de vidas, vidas pontilhadas por Sintra como testemunha, lembranças recordadas entre amantes no querer selar o contínuo do amor. É o que sente nas palavras de José Inácio de Andrade, numa carta escrita pela sua mão à sua esposa no ano de 1815, quando a caminho da Índia se encontrava: [na distância já] Assomava ao longe a escarpada serra de Cintra, cantada pelo insigne Camões, onde se acham variados primores da natureza enriquecida pela arte. Vales cultivados e cortados de regatos, fontes, cascatas e palácios magníficos. Imagina a sensação dolorosa que sofri com a triste lembrança do mar dilatado que tenho de sulcar, antes de tornar a beber contigo a puríssima água da Fonte dos Amores. A tinta deitada no papel por José Inácio de Andrade queria fazer, aos olhos de sua esposa, às suas mãos que seguravam a carta, relembrar aqueles momentos em que ambos, na intimidade da sua convivência, tinham vivenciado inocentes sentimentos de quem ama, testemunhados pela Fonte dos Amores, a qual, na face Norte da Serra, tantos outros sentimentos e amores testemunhou. A Fonte dos Amores foi, durante muito tempo, exemplo da natureza a testemunhar laços entre amantes. Não teve associadas as lendas de que se em dia tal, à hora tal, se se fizesse tal coisa na fonte, era garantido o casamento, tal como foi crença em relação a outras fontes existentes na Serra, como a Fonte dos Noivados, na Eugaria. A Fonte dos Amores conheceu muitas pessoas que deixaram a sua marca na História, as suas memórias na escrita -com letras de uma tinta ardente, pela paixão de seu sentir -, que deixaram a Sintra de um tempo distante em que amantes viviam paixões sem rede, por a descoberta do outro ser um constante desafio, quer na lentidão dos preceitos sociais, quer no vagaroso da comunicação de então, ou dos meios dessa. Ficaram-nos os passos dados no escuro da noite no Caminho da Fonte dos Amores, estando esse a cintilar com milhares de pirilampos que alumiavam não só o caminho, não só o coração, mas igualmente as ideias para a ficção baseada no que então se vivia. Coisa que também aconteceu quando Eça de Queirós revia infindavelmente a sua Magnum Opus, Os Maias, antes de na década de 1890 passar férias em diversos anos a poucos metros do Caminho da Fonte dos Amores, com Emília, a mulher da sua vida, que lhe deu a tão necessária estabilidade que todos em nossas vidas procuramos.

Jornal de Sintra - Lendas e Factos Lendários de Sintra, 2021
Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, no ... more Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, no livro "Sintra Lendária -Histórias e Lendas do Monte da Lua", que também se encontra à venda no Jornal de Sintra. Q João Manuel e os Cornos de Cabra uem foi João Manuel? Quantos Joões Manuel não existiram? Este era especial, e, aliás, até mesmo o uso de Dom por parte deste era especial. Mas não no sentido que intuitivamente lhe reconhece, não advindo de um título da alta nobreza (Duque, Marquês, Conde, Visconde, Barão, Senhor), nem advindo de mercê própria (Dom poderia ser concedido à parte de título nobiliárquico). O que o tornou especial -para além do seu enquadramento familiar -, é que foi na sua sucessão, no herdar deste Dom específico, que se geraram as tragédias em que também o Alcaide-mor de Sintra esteve envolvido, ficando na terra do Norte de África, tendo antes, durante a batalha, ficado com uma flecha atravessada no rosto enquanto lutava como bravo leão. As tragédias que também originaram a aparição do coroado, avistado em vários lugares, mas avistando-se mais concretamente a esperança de por entre nevoeiro reaparecer, trazendo um novo mundo ao interior ou ao espírito de Portugal. Mas para este fim, quanto a mim, é necessário que cada um de nós saia primeiramente da névoa em que se encontra, mostrando um novo mundo a si próprio. Voltando a D. João Manuel: o seu Gravura do Príncipe D. João Manuel, feita entre os anos de 1550 e 1554, actualmente no RijksMuseum (Amesterdão). Desenho do Mosteiro da Pena (no local do actual Palácio da Pena), feito na primeira década de 1500. Nestes anos começava a ser explícita a associação da lua à Serra de Sintra -consumada então pela escrita com "C" (Cintra) em vez de "S" -, e no século XVIII os viajantes estrangeiros escreviam -erradamente -nas suas publicações que no local onde se encontrava o Mosteiro da Pena tinha existido há muitos séculos atrás um "templo da lua". Como se constata, promontório Luna é facilmente associado à Serra de Sintra e às extremidades dessa que tocam o oceano. Um Sátiro (ou Fauno), na publicação de Hieronymus Osius Fabulae Aesopi, ano de 1564. Gravura representando orlos (o bocal é a extremidade à esquerda), de uma obra literária publicada em 1532.
Jornal de Sintra - Lendas e Factos Lendários de Sintra, 2020

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Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, no ... more Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, no livro "Sintra Lendária -Histórias e Lendas do Monte da Lua", que também se encontra à venda no Jornal de Sintra. N Livros Lendários (2.ª parte) a 1ª parte falei-vos do Livro da Montaria no qual conseguimos sentir muito de uma Serra de Sintra do passado, principalmente através da enorme sensibilidade que o Rei D. João I teve para com o movimento da natureza que aos outros, através desse livro, queria passar. E, nestes meus artigos, se o óbvio de Sintra não está presente é porque fica muito mais enraizado aquilo que é passado em sentimentos e na verdadeira compreensão do coração, do que na defesa de conhecimento por parte do próprio autor ao escudar-se em datas, referências, diz-que-disse, e outros mais adereços, esquecendo o que realmente importa: o peito de quem estas palavras lê.
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Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, no ... more Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, no livro "Sintra Lendária -Histórias e Lendas do Monte da Lua", que também se encontra à venda no Jornal de Sintra. É Livros Lendários (1.ª parte) nas páginas escritas por outros que conseguimos encontrar, muitas vezes, recantos que são casas únicas para a nossa alma des-losos e excêntricos das grandes séries e filmes de hoje, numa brincadeira em que tudo é novo, não tem desgaste, modos, maneiras de outros tempos, e parece ter sido tudo feito numa fábrica por serem cópias tão exactas umas das outras. No passado existiu, como é óbvio, produção em série, mas cada cópia não era exacta.
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Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, no ... more Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, no livro "Sintra Lendária -Histórias e Lendas do Monte da Lua", que também se encontra à venda no Jornal de Sintra. N A Estação de Sintra e... (2.ª parte) a 1.ª parte do artigo A Estação de Sintra e... falei de como o caminho de Lisboa a Sintra era feito no século XIX. Do ambiente desse, daquilo que se observava, de como as diligências (carruagens puxadas a cavalo) saíam da Rua do Ouro, na Baixa, em direção a Sintra, de como surgiu o termo BUS que utilizamos nos dias de hoje, e até como funcionava um comboio monocarril -num único carril, ao invés dos dois carris que vemos hoje em comboios, metro e eléctricosque saía da zona próxima a onde hoje temos a estação de comboios de Entrecampos.
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C Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, n... more C Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, no livro "Sintra Lendária -Histórias e Lendas do Monte da Lua", que também se encontra à venda no Jornal de Sintra.

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O Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, n... more O Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, no livro "Sintra Lendária -Histórias e Lendas do Monte da Lua", que também se encontra à venda no Jornal de Sintra. A Estação de Sintra e... (1.ª parte) elixir da vida é para nós hoje algo garantido. Basta-nos chegar junto de uma torneira, abri-A Rainha D. Amélia, tendo a seu lado o Rei da Saxónia, e em frente (e de costas para nós) o General von Altrock. 11 de Março de 1907. Arquivo Pessoal do Autor. A locomotiva conhecida como "O Rápido", a sair do túnel (existindo na época apenas um) do Monte Estefânia no ano de 1900. Arquivo Pessoal do Autor. Gravura da Estação de comboios de Sintra no ano de 1888, um ano depois das locomotivas da Companhia Real terem entrado em funcionamento em direcção a Sintra. O edifício mais próximo da nossa perspectiva já não existe com a configuração que na imagem se vê. Arquivo Pessoal do Autor.
Jornal de Sintra - Lendas e Factos Lendários de Sintra, 2019

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Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, no ... more Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, no livro "Sintra Lendária -Histórias e Lendas do Monte da Lua", que também se encontra à venda no Jornal de Sintra. R Isolados na Serra (2.ª parte) epare: ainda estamos no Outono e o frio que nos acossa faz-nos somente pensar em encontrarmos um recanto quente. E isso tendo todas as roupas tecnologicamente avançadas que hoje temos. Em casa -nas casas portuguesas, que são ambivalentemente más para Inverno e Verão -aqueles que têm aquecedores ligam-nos, aqueles que têm lareiras acendem-nas, mas tudo isso é apenas como uma rala esfera luminosa da fraca luz de uma vela numa imensidão escura. O tempo que as casas levam a aquecer é longo, e o tempo que levam a que o quente se dissipe é curto. Tenho estado só a falar dos nossos dias, sim. Mas olhemos agora para trás de nós, lá ao fundo na distância.

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Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, no ... more Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, no livro "Sintra Lendária -Histórias e Lendas do Monte da Lua", que também se encontra à venda no Jornal de Sintra. S Isolados na Serra (1.ª parte) omos inevitavelmente levados pela natureza. Não apenas de forma metafórica. Somos literalmente levados pela natureza quando em cinzas ou em terra nos tornamos. Mas enquanto tal não acontece, deixamo-nos levar por ela em sonhos, fantasias, refúgios onde a nossa imaginação respira quando realizamos as grandes evasões das prisões onde o dia-a-dia nos agrilhoa. Fugimos rumo a à natureza -ou os mais sãos assim o fazem -e aí, rodeados por tudo que o mundo nos deu e nos dá, sentimos o ar que nos dias que passam não percebemos respirar. E sonhamos. Para uns, esses sonhos são despojados de riquezas, sendo quase sonhos austeros; para outros são sonhos repletos dos maiores confortos onde ali, na natureza, se magica um secreto início o qual, sem ninguém saber, nos levará a sorrir, tendo no bolso a memória do ritual quase cabalístico que tudo que em sonho e entre risadas viveremos, começou. Mas tudo isso não passam de devaneios modernos. Devaneios de quem vive aprisionado com correntes invisíveis. Ocorre-me a expressão "aprisionado em seu tempo"; mas em qualquer tempo cada homem vive a esse aprisionado. Se contudo compararmos com o passado, perceberemos que há séculos tão distantes como os pergaminhos desfeitos iludem a nossa imaginação, o homem procurava coisas diferentes das que hoje procuramos, e que passavam sobretudo pela sua entrega a Deus, pelo seu encontro com Deus, apenas e tão só -tal como nós hoje -para se sentir bem. E não só procurava coisas que para a maior parte dos comuns hoje são diferentes, como procurava o seu ninho na natureza. Mais lhe direi: procurava a fuga à confusão citadina. E perguntar-me-á: mas que confusão, se hoje é que vivemos confusão a sério? Como em tudo na vida, a relatividade está presente. E se é verdade que um homem do passado não aguentaria o que hoje vivemos, Fragmento de gravura de Domingos Schioppetta, do final da década de 1820. No topo dos cumes vêem-se o Castelo dos Mouros e o Mosteiro da Pena. Entre os dois, um vale -que para nós, não se encontra na gravura visível -que tinha a meio algumas ermidas que acolheram ermitões. O Bestiário de Aberdeen referia que para o caso de algum lobo alguma vez roubar a voz a um homem simplesmente ao olhálo nos olhos, a única forma de recuperá-la, de quebrar o encantamento, era o homem despir-se e bater com duas pedras uma na outra. Iluminura daquele que é conhecido como Bestiário de Rochester (Londres, British Library), elaborado entre os anos de 1230 e os anos de 1300, quando já muitos eremitas e ermitões tinham olhado lobos nos olhos aqui na Serra. Gravura do ano de 1838 da autoria de Manuel Maria Bordallo Pinheiro, representando a entrada principal no Mosteiro da Pena, onde antes se encontrava a ermida de Santa Maria da Pena, e onde hoje temos o Palácio da Pena. Um gaiteiro do século XVI, espírito da época e contrastante com quem do mundo se tentava isolar. Gravura presente na Copilaçam de Todalas Obras de Gil Vicente (...) Vam Emmendadas Polo Sancto Officio, edição de 1586. Biblioteca Nacional de Portugal. também dificilmente um homem séculos antes de 1800, ou de 1500, ou de 1300, suportaria o que os homens em seu tempo viveram. Nos anos de 1800 a confusão em Lisboa era tremenda. E se calhar até peguei num exemplo não tão funcional, pois duvido que a maior parte dos hoje aqui presentes aguentasse os cães, os cadáveres a arder, as ruas imundas com pó, as dormidas em bons hotéis com o acordar de um corpo todo mordido por insectos, entre tantos outros desconfortos desses anos de 1800. Desgraçado. Diz um periódico de Sintra (Portugal) que foi há dias apresentado na autoridade local daquela povoação um súbdito espanhol que, atacado de uma singular monomania religiosa, divagava pela Serra de Sintra, tendo construído uma cova para a noite; comia somente castanhas cozidas e dormia em cima de umas ramas de pinheiro. Ainda o Parque da Pena não estava plantado, ainda nem sequer existia a Rampa da Pena, podíamos ler em castelhano a notícia que aqui transcrevi (ressurgida nos dias de hoje no Sintra Lendária). Para os espanhóis deve ter sido curioso saber que um seu patrício -nesses anos de 1800 -se tentou isolar do mundo, com aquela sua monomania religiosa e divagando pela Serra de

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Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, no ... more Muito mais haveria por dizer, mas poderá encontrar mais informações, vivências e referências, no livro "Sintra Lendária -Histórias e Lendas do Monte da Lua", que também se encontra à venda no Jornal de Sintra. P O amante mais rico essoalmente, causa-me impressão a forma como andamos desencontrados, desfasados uns dos outros. Claro que muitas pessoas poderão perguntar-se como assim pode ser se, tirando uma ou outra nuance de personalidade, as coisas são tão simples. Certamente que essas pessoas sempre procuraram a conformidade da vida e não a exuberância do amor. Em qualquer tipo de amor. Mas, aqui e para o que interessa, a exuberância no amor a que nos dias de hoje muitos chamam de amor romântico. Se olharmos para os dias de hoje (normalmente escrevo frases semelhantes a esta evocando o passado, mas esta refere-se mesmo ao presente) com toda a informação que temos, percebemos que existe exuberância e existe excentricidade. E, se olharmos para alguns dos dias do passado (agora sim, já o habitual) percorreremos fronteiras longínquas da excentricidade (fronteiras, as quais ficam nas antípodas daquelas que separam a excentricidade com a normalidade). Caso esteja a relacionar excentricidade com algum tipo de fetiche, é normal que assim pense. Mas não é o caso. Excentricidade social. Aquela que faz com que surjam vários caminhos que fogem do socialmente aceite e assumam formas bizarras... As quais, se tocarem as pessoas certas e num determinado volume, fá-las serem socialmente aceites. Nos anos de 1700 e principalmente em Itália ("principalmente" apenas, não exclusivamente em Itália) existia a figura -e presença -do cicisbeo, o qual acompanhava certo tipo de senhoras. O Marquês de Boissy, segundo marido de uma senhora chamada Teresa Guiccioli (mais conhecida pelo seu título: Condessa Guiccioli) gabava-se da sua mulher ter tido George Byron (o "nosso" Lord Byron) como seu cicisbeo. Numa carta escrita em Ravena (Itália) em Março de 1821, Byron refere que irá pedir a James Holmes (um hábil pintor de miniaturas inglês da época) que vá até Ravena naquela Primavera para pintar o retrato da Condessa G.. Nessa carta traça traços do perfil de G.: Madame G. é também muito bonita (...) completamente loira e bela -muito incomum em Itália; não uma beleza inglesa mas mais uma beleza sueca ou norueguesa. A sua figura, em especial o peito, é invulgarmente bom. Mas há mais acerca deste relacionamento: Byron rabiscou na última página de um exemplar do livro Corinne algumas palavras que podem causar surpresa. Minha querida Teresa, li este livro no teu jardim; meu amor, estavas ausente, de outra forma não o teria lido. É um dos teus livros favoritos e a autora é uma amiga minha. Não entenderás estas palavras em inglês, nem outros as compreenderão -essa sendo a razão de não as ter escrito em italiano. Mas reconhecerás a letra daquele que apaixonadamente te amou, e adivinharás que, com um livro que era teu, aquele só conseguia pensar em amor. (...) ...e há dois fora de um convento. Desejaria, com todo o meu coração, que te tivesses lá mantido -ou que, pelo menos, eu nunca te tivesse conhecido na tua condição de casada. Mas agora é tarde demais. Eu amo-te e tu amas-me -ou, pelo menos, tu assim o dizes, tu assim ages, o que no fim é uma consolação. Agora poderá estar a achar que não deverá ter percebido bem alguma parte. Teresa Guiccioli era casada? Mas como mantinha então uma relação com o poeta que nos legou das mais fogosas palavras sobre Sintra, em inglês escritas? Como atrás o mencionei, o segundo marido de Teresa gabava-se de Byron ter sido cicisbeo de Teresa. E o cicisbeo era um homem ou um rapaz que, com o consentimento do marido de uma senhora, era o amante dessa. É claro que as coisas eram mais complexas e elaboradas do que aquilo que se pode escrever apenas em duas linhas, mas basicamente tinha que ver com uma mudança de mentalidades e com a preocupação com as aparências (claro, sempre e sempre, as aparências...), principalmente no que dizia respeito ao acompanhar as modas. E as modas foram mudando assim como as mentalidades. E a meio do século XIX era já notável a mudança que tinha ocorrido no espaço de um século. Do século XIX temos inúmeros exemplos. No início da década de 50, de 1850, vivia em Lisboa um casal de namorados. Isto, à época, não implicava viver na mesma casa. Ele vivia com os pais, ela vivia com as duas filhas. Ela tinha 17 ou 18 anos, tele tinha pouco mais de 20. Uma vez, Henrique vem até Sintra e, não tendo voltado como prometido, envia apenas um bilhete a Josefina, dizendo que estava tudo bem. Josefina, acredita saber o que acontecera e resolve aparecer no Hotel Victor, pagando a dívida que Henrique tinha contraído no casino ilegal que ali funcionava. Como é que ela conseguiu o dinheiro para pagar a dívida de Henrique? Foi simples, bastou vender todo o recheio da casa. Como bem deverá calcular, quem leve um registo de vida baseado em atitudes como a que lhe contei, é capaz de não ter uma faceta financeira da vida que seja muito salutar. Mas há sempre solução para tudo! Quando Josefina soube que o senhor Manuel -conhecido de seu pai -tinha chegado do Brasil, pressentiu também que a sua situação se podia alterar. O problema foi que o senhor Manuel não apreciou muito a figura Henrique. E, passados alguns tempos, Henrique acabou mesmo por falecer. Adoentado. Ficou assim o caminho aberto para o senhor Manuel. Provavelmente não para o que está a pensar. Primei-ramente porque o senhor Manuel era um velho como eu, na casa dos quarentas -que era como eram realmente assim vistas as pessoas com esta idade. Segundo, porque tira muito mais dividendos quem possa aproveitar várias coisas que uma mesma situação possa dar. O senhor Manuel pagou uma série de dívidas que Josefina tinha, além de ter começado a pagar uma espécie de mesada. O dinheiro que Josefina recebia não lhe chegava até ao fim do mês. No entanto, se não gastasse dinheiro absolutamente nenhum, ao fim de cada oito meses conseguia comprar um Mosteiro da Pena (onde temos nos dias de hoje o Palácio da Pena). O Mosteiro foi assim tão barato? Não. O deboche é que era grande. Era comum no século XIX homens que tinham muito poder económico e que já estavam "velhos" (volto a frisar: casa dos quarentas), agraciarem com dinheiro e presentes raparigas jovens que fossem muito vistosas, para que estas estivessem sempre próximas daqueles e aparecessem com aqueles em sociedade. Uma forma paga de mostrar uma virilidade postiça. E, claro, quando isso assim se passava com raparigas que tinham pouco tino e controle, o desvario -além de ser completo -estava sempre a leválas a venderem tudo o que tinham antes do final do mês, para comprarem novamente quando começasse o novo mês. Existe ainda mais uma história relacionando o senhor Manuel com Josefina e também com Sintra, mas Jovens senhoras a passear próximo do local onde hoje temos a parte final da estação de comboios de Sintra. Década de 1860. Figuras na Penha Verde nos anos de 1700, por Pierre Lélu. Rijksmuseum, Amsterdão. Senhores, senhoras e oficiais, junto ao muro da Quinta da Regaleira. O sítio onde se encontram os sentados, é onde hoje se situa a entrada Este ("entrada de baixo") da Quinta da Regaleira. Final da década de 1820, por Domingos Schioppetta. Senhoras numa varanda do Palácio de Monserrate, já no início do século XX. essa ficará para outro dia. E, também, outros casos de cortesãs (como estas raparigas são conhecidas na História nos dias de hoje) com situações rocambolescas vividas em Sintra. E até casos do que tinha tudo para ser uma cortesã -apesar de trocar correspondência com Karl Marx e das sessões espíritas -mas que acabou por ser apenas uma esposa, como num dos casos de Monserrate. Qual o amante mais rico? O que se aproveita da situação? A que recebe um contínuo fluxo de paixão? O que paga tudo para ser o que não é? A que pacientemente a tudo cede? O mais bravio e pobre, que nada mais tem para oferecer senão a exuberância do seu coração? Creio que será uma dúvida que se manterá enquanto o ser humano existir, pois enquanto alguns vivem com um sentir fixo, outros aproveitam aquilo que o momento tem para dar. E as copas de Sintra estão constantemente a albergar uns e outros.

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