Papers by Luciano Barbosa Justino
O Eixo e a Roda, Aug 30, 2002
Texto Poético, May 30, 2024
DOAJ (DOAJ: Directory of Open Access Journals), 2011
All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons... more All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição-Uso Não Comercial-Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported.
Linguagem em (Dis)curso, 2003
This article discusses poetry from a mediatic perspective. In other words, it follows the histori... more This article discusses poetry from a mediatic perspective. In other words, it follows the historical course of poetry in the West, especially in Portuguese language, taking into account mainly its means of symbolic registration. The aim of this work is to pursue the political and cultural implications of the poet's role in different historical ruptures.
RESUMO: “ Os piores dias da minha vida foram todos” e um romance de Evandro Affonso Ferreira, cuj... more RESUMO: “ Os piores dias da minha vida foram todos” e um romance de Evandro Affonso Ferreira, cuja narradora personagem conta de um quarto de hospital suas imaginarias deambulacoes pela cidade de Sao Paulo. Nosso objetivo neste artigo e propor uma leitura da obra a partir de dois eixos norteadores: 1. analisar como o trabalho imaterial com a linguagem fundamenta romper a clausura da clinica ao tempo em que engendra uma producao nova de subjetividade; 2. demonstrar como o dialogo com a tradicao, sobretudo com o mito de Antigona, dialogo que chamaremos de barroco, encena uma experiencia limite e a um so tempo radicalmente contemporâneo quanto ancestral. PALAVRAS-CHAVE: Literatura brasileira contemporânea. Trabalho imaterial. Producao de subjetividade.
O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira, 2002
A proposta deste pequeno ensaio é estabelecer uma correlaçãoentre os poetas Carlos Drummond de An... more A proposta deste pequeno ensaio é estabelecer uma correlaçãoentre os poetas Carlos Drummond de Andrade e Augusto de Campos,tentando ligar uma tradição possível da poesia brasileira contemporânea,aberta por Drummond e radicalizada por Campos: a problematizaçãoda tradição subjetiva nacional, acentuando as identidades e diferençasentre estes dois poetas.
Gragoatá, 2007
This paper aims to investigate the "Literacy terrorism" in Ferréz's manifest-prefac... more This paper aims to investigate the "Literacy terrorism" in Ferréz's manifest-preface as the side literature related to a strong domain sense on the part of those who write from a certain position – the slum dweller in a big brazilian city who creates a new literature rule and sets a particular style to deal with the literacy tradicion.

APRESENTACAO LITERATURA BRASILEIRA DO NORDESTE Luciano Barbosa Justino (PPGLI/UEPB) O dossie da R... more APRESENTACAO LITERATURA BRASILEIRA DO NORDESTE Luciano Barbosa Justino (PPGLI/UEPB) O dossie da Revista Sociopoetica que o leitor tem em maos objetiva um olhar contemporâneo sobre o que no Programa de Pos-graduacao em Literatura e Interculturaldiade estamos chamando de Literatura Brasileira do Nordeste. Um olhar contemporâneo que pressupoe dois modos de ler e duas buscas pelos objetos que tem o nordeste como locus: pelo vies da producao mais recente e pela escolha de abordar a tradicao a partir de suas demandas no presente. Objetiva-se articular contribuicoes academicas e resultados de pesquisa que reflitam sobre a pertinencia de representacoes identitarias que tem como foco a regionalidade, bem como submeter tais representacoes a um dialogo teorico-critico com as novas configuracoes dos localismos no estagio atual de um capitalismo que tanto ameaca pulverizar toda identidade quanto repropoe em outras bases as formas tradicionais de pertencimento, modo de vida e imagem de si, exigin...

Nosso objetivo neste artigo e fazer uma leitura da novela O invasor, de Marcal Aquino, com o intu... more Nosso objetivo neste artigo e fazer uma leitura da novela O invasor, de Marcal Aquino, com o intuito de avaliar em que medida os movimentos de sentido da obra centrados nos tres protagonistas nao conseguem conter os muitos furos que os contatos e os contagios com os "outros da trama" potencializam. Partimos da premissa de que O invasor e um texto sobre os encontros com a alteridade a exigir da leitura uma etica politica que seja capaz de desvelar aquilo mesmo que o realismo literario nega por sob a mascara da objetividade. Para tanto, compreendemos o realismo como um modo necessariamente ambivalente e barroco de semiotizar tais encontros, e tanto clausura como potencia de diferenciacao. Dar conta dos silenciamentos que um real sempre em falta encena e a tarefa da critica como leitura a revelia da propria obra, em uma tal leitura e a primeiridade dos segundos que revela toda a riqueza dos muitos.
vLiteratura de multidão e intermidialidade: ensaios sobre ler e escrever o presente, 2015
Available from SciELO Books <http. All the contents of this work, except where otherwise noted, i... more Available from SciELO Books <http. All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição -Uso Não Comercial -Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported.

A pobreza é o simples fato de não conseguir dar valor à atividade. Portanto, também o migrante po... more A pobreza é o simples fato de não conseguir dar valor à atividade. Portanto, também o migrante pobre ou excluído é alguém que, de qualquer maneira, possui uma potência a ser expressa. Se nosso raciocínio caminha dessa forma, poderíamos reconhecer que os pobres são o sal da terra, porque são uma atividade geral, uma potência aqui irresolvida e bloqueada. Se a função da exploração é a de sufocar, reduzir espaço, mobilidade, além da capacidade de cooperação e criação de valor, então o pobre não é somente um excluído, mas é o sujeito exemplar da exploração. 5 lições sobre Império, Antonio Negri "Aqui", dizia ela, "aqui neste lugar, nós somos carne; carne que chora, ri; carne que dança descalça na relva. Amem isso. Amem forte. Lá fora não amam a sua carne. Desprezam a sua carne. Não amam seus olhos; são capazes de arrancar fora os seus olhos. Como também não amam a pele de suas costas. Lá eles descem o chicote nela. E, ah, meu povo, eles não amam as suas mãos. Essas que eles só usam, amarram, prendem, cortam fora e deixam vazias. Amem suas mãos! Amem. Levantem e beijem suas mãos. Toquem outros com elas, toquem uma na 0utra, esfreguem no rosto, porque eles não amam isso também. Vocês têm de amar, vocês! E não, eles não amam a sua boca. Lá, lá fora, eles vão cuidar de quebrar sua boca e quebrar de novo. O que sai de sua boca eles não vão ouvir. O que vocês gritam com ela eles não ouvem. O que vocês põem nela para nutrir seu corpo eles vão arrancar de vocês e dar no lugar os restos deles. Não, eles não amam sua boca. Vocês têm de amar. É da carne que estou falando aqui. Carne que precisa ser amada. Pés que precisam descansar e dançar; costas que precisam de apoio; ombros que precisam de braços, braços fortes, estou dizendo. E, ah, meu povo, lá fora, escutem bem, não amam o seu pescoço sem laço, e ereto. Então amem seu pescoço; ponham a mão nele, agradem, alisem e endireitem bem. E todas as suas partes de dentro que eles são capazes de jogar para os porcos, vocês têm de amar. O fígado escuro, escuro-amem, amem e o bater do batente coração, amem também. Mais que olhos e pés. Mais que os pulmões que ainda vão ter de respirar ar livre. Mais que seu útero guardador da vida e suas partes doadoras de vida, me escutem bem, amem seu coração. Porque esse é o prêmio." Baby Suggs em Amada, de Toni Morrison Sei que haverá um código, um sinal para chamar-me. procuro descobri-lo no confuso ir e vir das coisas que me cercam. será um som, será um odor, será uma cor, uma claridade? por vezes, percutem um martelo, ou me deparo com a fachada de um prédio, ou vejo desenhos num muro, ou cravo as unhas na pele. fico perguntando se alguma dessas coisas é meu nome: o soar do martelo, a parede brilhando, os riscos no cimento, a dor que sinto. assim vivo, nesta comunhão que me multiplica e atormenta, assim vivo, até precipitar-me para baixo no meu velocípede, eu e o mundo, eu e as três rodas que giram em derredor de mim, e tudo escurece e nessa escuridão eu sou novamente formulada, eu, novamente sou parida, sim, nasço outra vez. Avalovara, Osman Lins SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 13 I INTERMIDIALIDADE/SEMIÓTICA/TRADUÇÃO LIMA BARRETO E A INTERMIDIALIDADE COMO ESTRATÉGIA DE LEITURA 25 O que é médium quando se diz "intermidialidade" 29 Recordações do escrivão Isaías Caminha: um romance midiológico 38 JULIO CORTÁZAR: OS MEMES DA MULTIDÃO NA AUTO-ESTRADA DO SUL 51 De sujeitos e suas articulações 51 De máquinas e médium 55 ALTER E EGOS DA MEMÓRIA E DO ESQUECIMENTO: "FERNANDO EM PESSOA" DE LAERTE 61 Uma semiosfera sociossemiótica 62 A poesia está solta 68 "Poetas de todo o mundo: uni-vos" 76 HAROLDO/GLISSANT E O DIABO DO TRADUZIR 81 Walter Benjamin e a tarefa do tradutor 83 Da "transluciferação" antropofágica 89 Da nova épica crioula 95 II POTÊNCIA DOS POBRES ZUMBI OR NOT ZUMBI: THAT IS THE QUESTION UMA VANGUARDA INTERCULTURAL Intercultural é intersemiótico Vanguarda e democracia LITERATURA DE MULTIDÃO COMO ESTRATÉGIA DE LEITURA DA NARRATIVA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA A multidão e seus muitos Literaturas Literatura menor? A POTÊNCIA ORALIZANTE DA MULTIDÃO A literatura diante das formas de vida contemporâneas Pós-autonomia na multiplicidade Oralizar o Brasil pela literatura UM ROMANCE ALTERITÁRIO Do diverso e do alter A potência dos pobres II III POIESIS DE CAMPOS ECO-LÓGICAS: AUGUSTO DE CAMPOS LEITOR DE JOÃO CABRAL 199 João Cabral e seus minérios 201 Um leitor impertinente 208 TVGRAMAS 221 Aproximação: um poema e um clip 224 O fantasma de Mallarmé/Poe 228 "Ah, Mallarmé, tudo existe pra acabar em tv" 233

Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, Jun 1, 2011
No texto bíblico a origem da linguagem remonta aos primórdios da criação: "No princípio era o Ver... more No texto bíblico a origem da linguagem remonta aos primórdios da criação: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus" (João I, 1). De acordo, pois, com a tradição bíblica, inicialmente, Deus criou o verbo, para, depois, criar o mundo. É por essa razão que alguns autores chegam a traduzir o termo Verbo (verbum) como "o som" ou "o canto". A partir dessa interpretação, o Verbo assume o sentido de "a palavra divina" ou "o próprio Deus", podendo tomar como base a ideia de que o Criador seria uma espécie de canto infi nito. Não seria Deus, sob este aspecto, o primeiro poeta? E mais, no imaginário judaico-cristão, a poesia não estaria na origem do próprio mundo e o antecedendo? E, o que aqui nos interessa, sobretudo, não teria precisado Deus, não obstante sua onisciência, onipresença e onipotência, de um sistema de escuta que o pudesse ouvir e transformar o dito em ação e coisa? Relativizando o que há de mítico-religioso na narrativa bíblica, ela é exemplar do caráter fundante de pelo menos três grandezas: 1) a linguagem; 2) um suporte, neste caso, a voz; 3) um meio ambiente; às quais nem o próprio Deus estaria imune. É neste sentido que propomos uma abordagem da literatura, em especial da poesia, que articule produção, circulação e consumo, considerando as novas possibilidades abertas pela cultura digital e on line em suas relações com uma história das tecnologias da comunicação e de seus suportes. Em uma ecologia cognitiva dominantemente acústica, som, corpo emissor e meio-ambiente imediato são três dimensões indissociáveis. A palavra vocalizada nunca existe em um contexto puramente verbal, o som não se separa da "ligação imediata a outro corpo". As palavras proferidas são sempre atualizadas em circunstâncias existenciais, que envolvem os corpos dos participantes numa situação que Paul Zumthor (2000, p. 130) chama de verbomotor. Adrian Frutiger (2006, p. 83) considera que, no princípio, havia um "tipo de linguagem" ou "sistema de comunicação" que se desenvolveu em milhões de anos. Para esse pesquisador,
vLiteratura de multidão e intermidialidade: ensaios sobre ler e escrever o presente, 2015
Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, 2017
resumo Meu objetivo neste artigo é pensar A hora da estrela, de Clarice Lispector, a partir de du... more resumo Meu objetivo neste artigo é pensar A hora da estrela, de Clarice Lispector, a partir de duas instâncias éticas: uma da escrita e da literatura e outra do encontro incontornável com a alteridade, ambas à luz do que estou chamando de uma crítica nordestina. Na primeira, pretendo discorrer sobre as relações da obra com o contexto brasileiro dos anos 1970 e como Clarice Lispector responde a uma “demanda de engajamento”, problematizando e reinscrevendo a literatura e sua autonomia em face de um contexto por demais pregnante; na outra, objetivo demonstrar como a primeira se constitui sobre uma delimitação precisa, identitária, da alteridade de Macabéa e de sua nordestinidade.
Antares Letras E Humanidades, Sep 1, 2015
Via Atlântica, 2011
ESTE ENSAIO TOMA COMO CORPUS DE ANÁLISE A HQ O POETA, DE LAERTE, COM O OBJETIVO DE ENTENDER A MEM... more ESTE ENSAIO TOMA COMO CORPUS DE ANÁLISE A HQ O POETA, DE LAERTE, COM O OBJETIVO DE ENTENDER A MEMÓRIA, À LUZ DA SEMIÓTICA DA CULTURA E DO CONCEITO DE HISTÓRIA COMO CONSTELAÇÃO DE TEMPOS DE WALTER BENJAMIN, COMO UM DISCURSO QUE CRUZA O PRESENTE COM OUTRAS TEMPORALIDADES NÃO CONTEMPORÂNEAS. POSTULA-SE AQUI QUE A NARRATIVA DE LAERTE UTILIZA OS VERSOS E A PERSONA DE FERNANDO PESOA E SUA MIGRAÇÃO PARA A TV PARA MOSTRAR A PERTINÊNCIA DA POESIA ENQUANTO MEMÓRIA VIVA NO PROPALADO PÓS-MODERNISMO E EM SUAS FORMAS SÓCIO-DISCURSIVAS.
Linguagem Em Curso, Sep 27, 2010
Resumo: Este artigo discute a poesia a partir de uma perspectiva midiológica, em outras palavras,... more Resumo: Este artigo discute a poesia a partir de uma perspectiva midiológica, em outras palavras, observa o curso histórico da poesia no ocidente, especialmente em língua portuguesa, levando em conta principalmente seus suportes de inscrição simbólica, com o intuito de rastrear as implicações políticas e culturais do papel do poeta nas diferentes rupturas históricas.
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Papers by Luciano Barbosa Justino
de pós-doutoramento na UFF, sob a supervisão de José Luís
Jobim: o conceito de trabalho imaterial como potência ontológica
dos “muitos” na literatura brasileira e a força contemporânea do
que, na esteira de Edouard Glissant, entendo ser um processo de
oralização da literatura como resistência à supremacia de valores
dominantes no “campo literário”, tais como autonomia, imanência,
identidade. Trabalho imaterial e oralização da literatura são dois dos
fundamentos do que chamo de Literatura de multidão.
A pesquisa se estruturou, portanto, em dois eixos: 1. Crítica
e trabalho imaterial; e 2. Oralização da literatura como lugar de
fala de certas produções de singularidade. Para cada um dos eixos
escrevi dois artigos.
“A crítica diante do trabalho imaterial da multidão”, publicado
pela Revista da Abralic1, texto eminentemente teórico-metodológico,
objetiva, ao tempo em que engendra o próprio conceito de
literatura de multidão, demonstrar porque o trabalho imaterial é seu
fundamento contemporâneo, a exigir novos aportes críticos para dar
conta de obras que já não podem ser avaliadas como há cem anos.
Inicio discutindo o lugar da multidão no debate sobre a literatura
e as ciências humanas na modernidade, observando como
diversos autores e de diversas tendências teóricas sempre a compreenderam como uma metáfora de tudo o que o sujeito moderno
deve evitar. É a recusa da multidão que fundamenta, como princípio
heurístico e modo de estar no mundo, a própria concepção de ser
moderno, cujas consequências nos modos de entrar e sair da obras se
tornou determinante no pensamento sobre a literatura ao longo do
século XX, inclusive servindo de aferidor de uma suposta qualidade
ou maior densidade das obras: quanto mais sujeito mais literatura,
quando menos multidão, interação e contágio, menos literatura.
Concluo me referindo a uma longa tradição multitudinária na literatura
brasileira nos séculos XIX e XX.
“A hora da estrela: por uma leitura nordestina”, publicado
pela Revista Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea,
primeiro exercício de análise, objetiva demonstrar como a semiotização
de Macabéa se fundamenta numa “metafísica dos pobres”
que bloqueia sua potência imaterial. Macabéa é o contra exemplo de
toda a pesquisa, ela não sabe falar, não sabe sentir, não sabe amar:
“ela é capim”, diz o narrador. Em resumo, Macabéa metaforiza
todo o estigma de uma nordestinidade sem alma. Demonstro como
o racismo sem raça dA hora da estrela, na medida em que trata o
nordestino como coisa nos mesmos termos com que se tratam os
pretos, ou “quase brancos quase pretos de tão pobres”, como diriam
Caetano Veloso e Gilberto Gil, é o racismo sem raça da própria crítica
e de seus métodos, incapazes de dar conta da riqueza imaterial dos
pobres. As leituras enviesadas deste livro paradigmático, que cegam
para o lugar de Macabéia enquanto política de identidade, fazendo
sobressair apenas os dramas subjetivos do narrador Rodrigo S.M.,
servem de metonímia de nossa tradição crítica sedimentada no longo
e fundamental século XX.
“Stela do Patrocínio e a produção de subjetividade da voz”,
que abre a segunda parte da pesquisa, analisa a singularidade da
poiesis de Stela do Patrocínio, coligida por Viviane Mosé no livro
Reino dos bichos e dos animais é meu nome, com o objetivo de demonstrar como Stela tanto problematiza os modos convencionais de
abordagem da poesia quanto da própria construção das identidades
que definem “o poético”. Stela produz uma oralização da literatura
como potência dos pobres, ela é o grande Outro de Macabéa, alteridade
inescapável da própria poesia enquanto enlace de dois sulcos
que não se tocam, a razão e a loucura. Um estudo de natureza teórica
sobre a oralização da literatura no Brasil contemporâneo publiquei
em meu livro Literatura de multidão e intermidialidade: ensaios
sobre ler e escrever o presente. Aqui tento propor um exercício de
análise, a partir da poiesis ininquadrável de Stela.
“Gênero e lugar de fala na Literatura marginal”, objetiva
demonstrar como o projeto da Literatura marginal, uma série de
textos compilados por Ferréz para a Revista Caros Amigos, coloca a
literatura como um espaço de disputa por cidadania e por direitos,
inclusive direito à literatura, mas literatura enquanto outridade, alteridade, multidão. É o enlace entre lugar de fala e um novo estatuto
de gênero, e de literatura, que me interessam aqui.