Papers by Jose Eduardo Xavier Lopes

ACHANDO-ME, dias atrás, de regresso da Itália à Inglaterra, a fim de não gastar todo o tempo da v... more ACHANDO-ME, dias atrás, de regresso da Itália à Inglaterra, a fim de não gastar todo o tempo da viagem em insípidas fábulas, preferi recrear-me, ora volvendo o espírito aos nossos comuns estudos, ora recordando os doutíssimos e ao mesmo tempo dulcíssimos amigos que deixara ao partir. E foste tu, meu caro More, o primeiro a aparecer aos meus olhos, pois que malgrado tanta distância, eu via e falava contigo com o mesmo prazer que costumava ter em tua presença e que juro não ter experimentado maior em minha vida. Não desejando, naquele intervalo, passar por indolente, e não me parecendo as circunstâncias adequadas aos pensamentos sérios, julguei conveniente divertir-me com um elogio da Loucura. Porque essa inspiração? (1)-perguntar-me-ás. Pelo seguinte: a princípio, dominou-me essa fantasia por causa do teu gentil sobrenome, tão parecido com a Mória (2) quanto realmente estás longe dela e, decerto, ainda mais longe do conceito que em geral dela se faz. Em seguida, lisonjeou-me a idéia de que essa engenhosa pilhéria pudesse merecer a tua aprovação, se é verdade que divertimentos tão artificiais, não me parecendo plebeus, naturalmente, nem de todo insulsos, te possam deleitar (3), permitindo que, como um novo Demócrito, observes e ridicularizes os acontecimentos da vida humana. Mas, assim como, pela excelência do gênio e de talentos, estás acima da maioria dos homens, assim também, pela rara suavidade do costume e pela singular afabilidade, sabes e gostas, sempre e em toda parte, de habituar-te a todos e a todos parecer amável e grato. Por conseguinte, gostarás agora, não só de aceitar de bom grado esta minha pequena arenga, como um presente do teu bom amigo, mas também de colocá-la sob o teu patrocínio, como coisa sagrada para ti e, na verdade, mais tua do que minha. Já prevejo que não faltarão detratores para insurgir-se contra ela, acusando-a de frivolidade indigna de um teólogo, de sátira indecente para a moderação cristã, em suma, clamando e cacarejando contra o fato de eu ter ressuscitado a antiga comédia (4) e, qual novo Luciano (5), ter magoado a todos sem piedade. Mas, os que se desgostarem com a ligeireza do argumento e com o seu ridículo devem ficar avisados de que não sou eu o seu autor, pois que com o seu uso se familiarizaram numerosos grandes homens. Com efeito, muitos séculos antes, Homero escreveu a sua Batraquiomaquia, Virgílio cantou o mosquito e a amoreira, e Ovídio a nogueira; Polícrates chegou a fazer o elogio de Busiris, mais tarde impugnado e corrigido por Isócrates; Glauco enalteceu a injustiça, o filósofo Favorino louvou Tersites e a febre quartã; Sinésio a calvície e Luciano a mosca parasita; finalmente, Sêneca ridicularizou a apoteose de Cláudio, Plutarco escreveu o diálogo do grilo com Ulisses, Luciano e Apuleio falaram do burro; e um tal Grunnio Corocotta fez o testamento do porco, citado por São Jerônimo. Saibam, pois, esses censores que também, para divertir-me, já joguei xadrez e montei em cavalo de pau (6), como um menino. Na verdade, haverá maior
Os conceitos da vida e do mundo que chamamos "filosóficos" são produto de dois fatores: um, const... more Os conceitos da vida e do mundo que chamamos "filosóficos" são produto de dois fatores: um, constituído de fatores religiosos e éticos

Não se pode duvidar de que todos os nossos conhecimentos começam com a experiência, porque, com e... more Não se pode duvidar de que todos os nossos conhecimentos começam com a experiência, porque, com efeito, como haveria de exercitar-se a faculdade de se conhecer, se não fosse pelos objetos que, excitando os nossos sentidos, de uma parte, produzem por si mesmos representações, e de outra parte, impulsionam a nossa inteligência a compará-los entre si, a reuni-los ou separá-los, e deste modo à elaboração da matéria informe das impressões sensíveis para esse conhecimento das coisas que se denomina experiência? No tempo, pois, nenhum conhecimento precede a experiência, todos começam por ela. Mas se é verdade que os conhecimentos derivam da experiência, alguns há, no entanto, que não têm essa origem exclusiva, pois poderemos admitir que o nosso conhecimento empírico seja um composto daquilo que recebemos das impressões e daquilo que a nossa faculdade cognoscitiva lhe adiciona (estimulada somente pelas impressões dos sentidos); aditamento que propriamente não distinguimos senão mediante uma longa prática que nos habilite a separar esses dois elementos. Surge desse modo uma questão que não se pode resolver à primeira vista: será possível um conhecimento independente da experiência e das impressões dos sentidos? Tais conhecimentos são denominados "a priori", e distintos dos empíricos, cuja origem e a posteriori", isto é, da experiência. Aquela expressão, no entanto, não abrange todo o significado da questão proposta, porquanto há conhecimentos que derivam indiretamente da experiência, isto é, de uma regra geral obtida pela experiência, e que no entanto não podem ser tachados de conhecimentos "a priori". Assim, se alguém escava os alicerces de uma casa, "a priori" poderá esperar que ela desabe, sem precisar observar a experiência da sua queda, pois, praticamente, já sabe que todo corpo abandonado no ar sem sustentação cai ao impulso da gravidade. Assim esse conhecimento é nitidamente empírico. Consideraremos, portanto, conhecimento "a priori", todo aquele que seja adquirido independentemente de qualquer experiência. A ele se opõem os opostos aos empíricos, isto é, àqueles que só o são "a posteriori", quer dizer, por meio da experiência. Entenderemos, pois, daqui por diante, por conhecimento "a priori", todos aqueles que são absolutamente independentes da experiência; eles são opostos aos empíricos, isto é, àqueles que só são possíveis mediante a experiência. Os conhecimentos "a priori" ainda podem dividir-se em puros e impuros. Denomina-se conhecimento "a priori" puro ao que carece completamente de qualquer empirismo. Assim, p. ex., "toda mudança tem uma causa", é um princípio "a priori", mas impuro, porque o conceito de mudança só pode formar-se extraído da experiência. Trata-se agora de descobrir o sinal pelo qual o conhecimento empírico se distingue do puro. A experiência nos mostra que uma coisa é desta ou daquela maneira, silenciando sobre a possibilidade de ser diferente. Digamos, pois, primeiro: se encontramos uma proposição que tem que ser pensada com caráter de compreende ainda mais claramente se se tomam números maiores, pois então é evidente que, por mais que volvamos e coloquemos nosso conceito quanto quisermos, nunca poderemos achar a soma mediante a simples decomposição de nossos conceitos e sem o auxilio da intuição. Tampouco é analítico um princípio qualquer de Geometria pura. É uma proposição sintética que a linha reta, entre dois pontos é a mais curta, porque meu conceito de reta não contém nada que seja quantidade, senão só qualidade. O conceito de mais curta é completamente aditado e não pode provir de modo algum da decomposição do conceito de linha reta. É preciso, pois, recorrer-se aqui à intuição, único modo para que seja possível a síntese. Algumas poucas proposições fundamentais, que os geômetras pressupõem, são realmente analíticas e se apóiam no princípio de contradição; mas também é verdade que só servem, como proposições idênticas, ao encadeamento do método e não como princípios, tais como, p. ex., a = a, o todo é igual a si mesmo: ou (a + b) < "a", o todo é maior do que a parte. E, sem embargo, estes mesmos axiomas ainda que valham como simples conceitos, são admitidos nas matemáticas somente porque podem ser representados em intuição. A ambigüidade de expressão é que geralmente nos faz crer que o predicado de tais juízos apodíticos existe já em nossos conceitos, e que, conseguintemente, é analítico o juízo. A um conceito dado temos que aditar certo predicado, e esta necessidade pertence já aos conceitos. Mas a questão não é o que devemos aditar com o pensamento a um conceito dado, senão o que realmente pensamos nele, ainda que de um modo obscuro. Vemos, pois, que o predicado se une necessariamente ao conceito, não como concebido nele, senão mediante uma intuição que a ele deve unir-se. II -A ciência da natureza (Física) contém como princípios, juízos sintéticos "a priori". Só tomarei como exemplos estas duas proposições: em todas as mudanças do mundo corpóreo a quanfidade de matéria permanece sempre a mesma, ou, em todas as comunicações de movimento a ação e reação devem ser sempre iguais. Em ambos vemos, não só a necessidade e, por conseguinte, sua origem "a priori", senão que são proposições sintéticas. Porque no conceito de matéria não penso em sua permanência, mas unicamente em sua presença no espaço que ocupa, e, portanto, vou além do conceito de matéria para atribuir-lhe algo "a priori" que não havia concebido nele. A proposição não é, pois, concebida analítica, senão sinteticamente ainda que "a priori", e assim sucede com as restantes proposições da parte pura da Física. III -Também devem haver conhecimentos sintéticos "a priori" na Metafísica, ainda que só a consideraremos como uma ciência em ensaio; mas que, não obstante, torna indispensável a natureza da razão humana. A Metafísica não se ocupa unicamente em analisar os conceitos das coisas que nós formamos a priori", e, por conseguinte, em explicações analíticas, senão que por ela queremos estender nossos conhecimentos "a priori", e para o efeito nos valemos de princípios que aos conceitos dados aditam algo que não estava compreendido neles, e mediante os juízos sintéticos "a priori" nos afastamos tanto, que a experiência não pode seguir-nos, p. ex., na proposição: o mundo deve ter um primeiro princípio etc., etc. Assim, pois, a Metafísica consiste, pelo menos segundo seu fim, em proposições puramente sintéticas "a priori".

Todos os direitos reservados. Este livro não pode ser reproduzido, no todo ou em parte, por qualq... more Todos os direitos reservados. Este livro não pode ser reproduzido, no todo ou em parte, por qualquer processo mecânico, fotográfico, electrónico, ou por meio de gravação, nem ser introduzido numa base de dados, difundido ou de qualquer forma copiado para uso público ou privado-além do uso legal como breve citação em artigos e críticas-sem prévia autorização do editor. VENDA INTERDITA NO BRASIL Direitos Te$dh1àdos para a língua portuguesa (Portugal) à Editora Pergaminho, Lda. Cascais-Portugal l. a Edição, 2002 ISBN 972-711-460-1 Este livro é incómodo porque arrebata ao Ser Humano a possibilidade de recorrer à doença como um álibi para a resolução dos seus problemas pendentes. Propomo-nos demonstrar que o doente não é a vítima inocente dos erros da natureza, mas antes o seu próprio carrasco. Através desta afirmação não nos referimos à contaminação do meio ambiente, aos males da civilização, à vida insalubre nem a outros quantos vilãos do género, pretendendo antes evidenciar o aspecto metafísico da doença. Encarados por esse prisma, os sintomas surgem como manifestações físicas de conflitos psíquicos e a sua mensagem pode desvendar o problema de cada paciente. Na primeira parte expomos uma filosofia da doença e fornecemos as chaves para a sua compreensão. Recomendamos ao leitor que a leia com particular atenção-mais do que uma vez se necessário for-antes de passar à segunda parte. Este livro pode ser considerado como a continuação, ou o comentário, do meu livro anterior, Schicksal ais Chance, ainda que nos tenhamos esforçado por torná-lo completo em si mesmo. De qualquer das formas, consideramos que uma leitura de Schicksal ais Chance poderá fornecer uma boa preparação ou complemento, em especial para aqueles que sintam dificuldades na abordagem da parte teórica.

N ú c l e o d e E d u c a ç ã o a D i s t â n c i a CANTO II Depois da invocação às Musas, Dante,... more N ú c l e o d e E d u c a ç ã o a D i s t â n c i a CANTO II Depois da invocação às Musas, Dante, considerando a sua fraqueza, dúvida de aventurar-se na viagem. Dizendo-lhe, porém, Virgílio, que era Beatriz quem o mandava, e que havia quem se interessava pela sua salvação, determina-se segui-lo e entra com o seu guia no difícil caminho. Fora-se o dia; e o ar, se enevoando, Aos animais, que vivem sobre a terra, 3 As fadigas tolhia; eu só, velando, Me aparelhava a sustentar a guerra Da jornada, assim como da piedade, 6 Que vai pintar memória, que não erra. Ó Musas! Ó do gênio potestade! Valei-me! Aqui, ó mente, que guardaste 9 Quanto vi, mostra a egrégia qualidade. "Poeta",-assim falei,-"que começaste A guiar-me, vê bem se em mim persiste 12 Calor que, à empresa que me fias, baste. "Que o pai do Sílvio fora, referiste, Corrutível ainda, até o inferno 15 Sem perder o que em corpo humano existe. Pentesiléia vi e o rosto ardido De Camila, e sentado o rei Latino 126 Junto a Lavinia estava enternecido. Notei Márcia, Lucrécia e o que Tarquino Lançou, Cornélia e Júlia; retirado 129 De todos demorava Saladino. Alçando os olhos, de respeito entrado, O Mestre vejo dos que mais se acimam 132 Em saber, de filósofos cercado. Todos com honra e acatamento o estimam. Aqui Platão e Sócrates estavam, 135 Que na grandeza mais se lhe aproximam.
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