Books by José Mário Gonçalves

Teologia pública no Brasil e na África do Sul - um diálogo teológico-político, 2020
Este livro é fruto de uma parceria Sul-Sul que vem se desenvolvendo nos últimos 12 anos. Teve vár... more Este livro é fruto de uma parceria Sul-Sul que vem se desenvolvendo nos últimos 12 anos. Teve várias etapas. Começou com visitas exploratórias e o Simpósio Internacional sobre Teologia Pública na América Latina, realizado de 4 a 7 de julho de 2008, em colaboração com o Instituto Humanitas Unisinos, da Universidade do Vale dos Sinos em São Leopoldo/RS, o primeiro a trabalhar com maior fôlego com o termo “teologia pública” no Brasil. As palestras principais, dos teólogos sulafricanos Clint Le Bruyns, Nico Koopman, da antropóloga brasileira Paula Montero e do teólogo estadunidense Max Stackhouse, foram publicados no primeiro volume da série Teologia Pública, protagonizada pelo Fundo e Publicações Teológicas da Faculdades EST em colaboração com a Editora Sinodal, em 2011. Seis outros livros foram publicados nesta série entrementes, sendo o presente o oitavo volume.
Na África do Sul, nos Estados Unidos, na Alemanha, na Inglaterra e em vários outros países já se falava de e escrevia sobre teologia pública desde os anos 1970, sendo que na África do Sul a discussão tomou fôlego após a abolição do nefasto sistema do apartheid e a democratização nos anos 1990, procurando desenvolver uma teologia libertadora na “nova dispensão” democrática, com uma configuração da esfera pública totalmente nova. Nico Koopman e Dirk Smit estão entre os mais conhecidos expoentes desta teologia que tem na Universidade de Stellenbosch um dos seus centros, como fica visível – com uma discussão crítica e analítica – nos textos de Felipe Gustavo Koch Buttelli e Dion Forster neste volume.
No Brasil, Leonardo e Clodovis Boff, em seu entrementes clássico Como fazer Teologia da Libertação, de 1985, já falam, no capítulo sobre a “Teologia da Libertação no panorama mundial”, da Teologia da Libertação como “uma Teologia pública e profética”. Segundo eles, a Teologia da Libertação pertence hoje ao “domínio público”, pois “está tocando em questões que envolvem toda a sociedade”. Embora não utilizem o termo “teologia pública”, docentes vinculadas, na época, à Universidade Metodista de São Paulo, trabalharam uma “pastoral urbana” como “presença pública da igreja em áreas urbanas”. Clóvis Pinto de Castro já havia publicado sua tese de doutorado “Por uma fé cidadã: a dimensão pública da igreja”. Nesta linha, e inspirado pelo texto de Hugo Assmann sobre “Teologia da Solidariedade e da Cidadania. Ou seja: continuando a Teologia da Libertação” , Rudolf von Sinner começou a desenvolver uma teologia pública como teologia da cidadania. Tais propostas são discutidas no texto de Jefferson Zeferino no presente volume. Outras publicações brasileiras se seguiram, buscando uma teologia pública para uma pastoral urbana (Alonso Gonçalves); a cidadania acadêmica da teologia no Brasil (Afonso Maria Ligório Soares e João Décio Passos, orgs.); o diálogo com a filosofia política contemporânea (Júlio Zabatiero, Eneida Jacobsen) e o resgate das raízes históricas teológicas protestantes liberais e libertadoras contra um neo-puritanismo e fundamentalismo que se alastrou em consideráveis setores do protestantismo brasileiro (Ronaldo Cavalcante). Ronaldo Cavalcante e Wanderley Pereira da Rosa trabalham alguns modelos estadunidenses relativamente recentes que já inspiraram e poderão novamente inspirar uma dimensão pública com índole protestante: Walter Rauschenbusch, Reinhold Niebuhr e Martin Luther King Jr. Robert Vosloo tece um diálogo contemporâneo com Dietrich Bonhoeffer, referência em muitos contextos para aqueles e aquelas que desenvolvem uma teologia pública. Rudolf von Sinner discute a teologia pública no Brasil em busca de sua voz em diálogo com tendências glocais, especialmente a África do Sul. Antônio Nunes Pereira fornece informações histórico-legais sobre a configuração do pluralismo religioso no Brasil e na África do Sul.
Uma primeira rodada de diálogo mais encorpado entre teólogas e teólogos do Brasil e da África do Sul resultou numa primeira publicação conjunta em 2014, sob o título de “Teologia Pública no Brasil e na África do Sul. Cidadania, Interculturalidade e HIV/AIDS”, que contou com apoio do Edital Pró-África do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Programa de Excelência (PROEX) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Aquela rodada incluiu, do lado brasileiro, a Faculdades EST, e do lado sul-africano as Universidades de Stellenbosch (SUN), do Cabo Oriental (UWC), de KwaZulu Natal (UKZN), da África do Sul (UNISA) e da Universidade de Pretoria (UP). Seis autoras e autores do Brasil e oito da África do Sul contribuíram.
A presente nova rodada começou em 2014 e foi finalizada em 2018. Do lado brasileiro, colaboraram nisto a Faculdade Unida de Vitória, mediante a Cátedra de Teologia Pública e Estudos da Religião João Dias de Araújo, criada em 2012 e coordenada inicialmente por Ronaldo Cavalcante, seguido por Claudete Beise Ulrich, e a Faculdades EST, mediante o Instituto de Ética, na pessoa do seu diretor, Rudolf von Sinner. Do lado sul-africano, participou a Universidade de Stellenbosch, mediante seu Centro Beyers Naudé de Teologia Pública, na pessoa do seu diretor, Nico Koopman, sucedido por Dion Forster ao assumir a vice-reitoria de Impacto Social, Transformação e Pessoal da Universidade. Novas autoras e novos autores juntaram-se a esta empreitada. A então doutoranda Alease Brown, nova-iorquina afro-descendente pesquisando na África do Sul, contribuiu um texto sobre a vontade violada e a violência do protesto, recorrendo, entre outros, a Duns Escoto em suas abordagens sobre a liberdade e a vontade e sua contribuição para lutas atuais especialmente de pessoas negras no Brasil e na África do Sul. Tristemente, a entrementes doutora Alease, poucos dias antes de atingir a idade de 50 anos, veio a falecer. Expressamos nossos mais sinceros e profundos sentimentos à família e ao grande círculo de amigas e amigos da Alease, e dedicamos este livro à memória dela.
A seguir, Nívia Ivette Nuñez de la Paz discorre, em relação à promoção da cidadania especialmente na visualização da e na luta pela superação da violência de gênero, sobre a contribuição de uma teologia pública contextual, dialógica, política, pedagógica e pneumatológica. Claudete Beise Ulrich e José Mario Gonçalves discorrem sobre violência de gênero, especialmente contra meninas e mulheres, nos dois contextos, numa dimensão de interseccionalidade. Celso Gabatz reflete sobre uma compreensão multicultural como desafio para uma prática descolonizadora, tema candente nos dois contextos em sua história de ex-colônias e países do Sul global. Luis Carlos Dalla Rosa, recorrendo à contribuição de Paul Ricœur – referência importante nos dois países – trata dos direitos humanos na perspectiva de uma teologia pública. Por fim, Donald Jaftha Katts envereda pelo fomento de uma relação inter-religiosa entre cristianismo e islã a partir de uma teologia pública. A estes treze capítulos, quatro de autores da África do Sul e sete de autoras e autores do Brasil, junta-se uma vasta bibliografia, reunida a partir das referências de cada capítulo e dando uma impressão da riqueza de reflexões agora disponíveis para consulta e para pensar adiante. Por fim, para facilitar ao leitor e à leitura a busca por nomes e termos específicos, incluímos um índice onomástico e outro remissivo. Agradecemos imensamente a Cesar Kuzma, professor na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e presidente da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER), pela generosidade em contribuir com o prefácio, e a Alzirinha Souza, professora no e coordenadora do Mestrado em Teologia da Universidade Católica de Pernambuco, pelo igual generosidade em escrever o posfácio. Informamos que o livro será publicado, posteriormente, também em versão inglesa, na África do Sul.
Além das autoras e autores deste livro, pudemos contar com uma forte equipe congregada no Instituto de Ética da Faculdades EST. O projeto do Edital Universal do CNPq, processo número 448368/2014-5, permitiu, além de financiamento para viagens, diárias e traduções de textos, o emprego de bolsistas de apoio técnico nível superior. Neste cargo, revezaram-se sucessivamente Sara Eunice Sander Müller, Josué Reichow, Edoarda Scherer e Simoni Emmerick Runge. Na modalidade Programa EST de Iniciação Científica, (PEIC), Mirian Bartz também colaborou com dedicação. Na preparação desta publicação, o graduando Joabe Marques dos Anjos nos ajudou. Na fase final de revisão de textos, podíamos contar com o apoio de Jefferson Zeferino, professor colaborador na PUCPR mediante o Programa Nacional de Pós-doutorado PNPD/CAPES. Os textos que chegaram em língua inglesa foram traduzidos por Luís Marcos Sander. A publicação foi aprovada e apoiada pelo Fundo de Publicações Teológicas da Faculdades EST, a quem agradecemos na pessoa do seu coordenador, Júlio Cézar Adam. A editoração e publicação foi realizada pela Editora Sinodal, a quem também agradecemos na pessoa do seu gerente editorial, Robson Luís Neu.
a organizadora e os organizadores
Papers by José Mário Gonçalves
Universidade Federal do Espírito Santo, Aug 1, 2018
Universidade Federal do Espírito Santo, Aug 1, 2018
REFLEXUS - Revista Semestral de Teologia e Ciências das Religiões
O artigo trata do conceito de mentira conforme as obras De mendacio (395) e Contra mendacio (420)... more O artigo trata do conceito de mentira conforme as obras De mendacio (395) e Contra mendacio (420) de Agostinho de Hipona (354-430). Apresenta-se a definição e a classificação agostiniana dos tipos diferentes de mentira e sua posição segundo a qual a mentira nunca pode ser justificada, mesmo que seja considerada útil. Discute-se a atualidade desse conceito à luz das ideias de fake news, pós-verdade e deep-fake e da crise contemporânea do conceito de verdade.

Este artigo analisa as cartas trocadas pelo bispo catolico Agostinho de Hipona e o pagao Nectario... more Este artigo analisa as cartas trocadas pelo bispo catolico Agostinho de Hipona e o pagao Nectario de Calama por ocasiao dos disturbios ocorridos em junho de 408. O enfoque do trabalho e perceber as estrategias retoricas usadas pelos correspondentes a fim de demarcar suas respectivas posicoes diante do conflito. Do lado pagao, Nectario se esforca para defender seus correligionarios e poupa-los das punicoes previstas na lei; do lado cristao, Agostinho procura justificar a disciplina dos culpados, tentando mostrar que elas estao de acordo com a caridade crista. A correspondencia revela o ambiente de conflito entre cristaos e pagaos no inicio do seculo V, no qual o cristianismo considerado ortodoxo conta com o apoio do poder Imperial, enquanto os grupos dissidentes se encontram em desvantagem e precisam fazer uso de diversas taticas que visam afirmar sua identidade e resistir ao predominio catolico.
IN TOTUM - Periódico de Cadernos de Resumos e Anais da Faculdade Unida de Vitória, Aug 2, 2019

Distributed Computing, 2021
Este artigo leva a uma análise histórico-constitucional como forma de resgatar o itinerário da af... more Este artigo leva a uma análise histórico-constitucional como forma de resgatar o itinerário da afirmação da secularidade nas constituições brasileiras desde a época do regime imperial de governo, a fim de destacar as principais disposições normativas que trataram de pontos chave da transição do estado confessional para o estado secular. A análise do desenvolvimento histórico dos dispositivos constitucionais que tratavam da secularidade no Brasil é de suma importância para se ter um entendimento adequado dos aspectos socioculturais que orientaram e orientam a aplicação da atual Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Além disso, essa abordagem é relevante para promover a elucidação do aprimoramento das normas constitucionais sobre a secularidade ao longo do tempo. Para esse fim, todas as constituições passadas e existentes foram lidas com cuidado em busca das principais disposições dos textos constitucionais cujos conteúdos orientavam o posicionamento.
O presente artigo aborda as caracteristicas e a forma de leitura biblica dos pentecostais em comp... more O presente artigo aborda as caracteristicas e a forma de leitura biblica dos pentecostais em comparacao com o movimento catolica da Renovacao Carismatica no Brasil, da origem historica do movimento pentecostal moderno e nos aspectos das Teorias da Recepcao. Tem como metodologia a pesquisa bibliografica de artigos e a analise de fontes impressas. A conclusao salienta que a recepcao das mensagens biblicas chega aos praticantes do pentecostalismo de multiplas formas.
A comunicacao pretende apresentar as cartas escritas pelo bispo Agostinho de Hipona como lugar on... more A comunicacao pretende apresentar as cartas escritas pelo bispo Agostinho de Hipona como lugar onde ele constroi as representacoes de si mesmo (como bispo da verdadeira igreja catolica, defensor da verdade e da ortodoxia, pastor interessado no bem do seu rebanho e na salvacao dos pecadores) e de seus adversarios (como pagaos, hereticos ou cismaticos, desviados da verdadeira fe). O objetivo e problematizar o uso desse tipo de documentacao para compreender os conflitos, as relacoes e as redes de poder existentes no contexto africano tardo antigo, bem como desvendar as estrategias utilizadas por Agostinho a fim de persuadir os seus interlocutores.
Este artigo analisa o Sermo ad Caesariensis ecclesiae plebem, documento que relata um encontro en... more Este artigo analisa o Sermo ad Caesariensis ecclesiae plebem, documento que relata um encontro ente o bispo catolico Agostinho de Hipona e o bispo donatista Emerito de Cesareia. O encontro aconteceu em 418, quando os donatistas ja haviam sido proscritos em virtude das decisoes do collatio Cartago. O texto registra um sermao pregado por Agostinho na igreja de Cesareia, no qual Agostinho objetiva convencer o bispo donatista a se converter ao catolicismo, bem como justificar as medidas coercitivas tomadas contra o donatismo.
Caminhos, Oct 18, 2017
José Mário Gonçalves** Resumo: o artigo analisa a condição do herege, conforme é definida pelos e... more José Mário Gonçalves** Resumo: o artigo analisa a condição do herege, conforme é definida pelos escritores cristãos antigos, em especial Agostinho de Hipona (354-430), à luz da figura do homo sacer, insacrificável e matável, a "vida que não merece ser vivida" como apresentada na obra de Giorgo Agamben.
REFLEXUS - Revista Semestral de Teologia e Ciências das Religiões, 2018
Este artigo analisa a Epístula 173 escrita por Agostinho de Hipona para o presbítero donatista Do... more Este artigo analisa a Epístula 173 escrita por Agostinho de Hipona para o presbítero donatista Donato de Mutugenna, após o collatio de Cartago em 411. O texto centra a sua atenção para o conceito de potestas usado pelo bispo católico como parte do seu argumento para justificar a repressão aos dissidentes do catolicismo. Revela-se na carta uma teologia da história, que distingue entre os primórdios da Igreja, que se caracteriza por uma atitude irência para com os de fora, e o tempo presente, no qual a Igreja, amparada pelo Império, possui poder que pode e deve ser usado para forçar os dissidentes a entrar na Igreja católica.

REFLEXUS - Revista Semestral de Teologia e Ciências das Religiões, 2015
Resumo: Este artigo pretende apontar os caminhos e descaminhos da tolerância e da intolerância re... more Resumo: Este artigo pretende apontar os caminhos e descaminhos da tolerância e da intolerância religiosa no período denominado de Antiguidade Tardia, considerando, em especial, o trato do Império Romano em relação ao Cristianismo e a atitude deste último em relação aos demais grupos religiosos. Divide-se em quatro partes: na primeira, procura-se conceituar os termos tolerância e intolerância e sua pertinência para o período histórico em questão, procurando diferenciá-lo do seu uso na modernidade e na contemporaneidade; na segunda, apresenta-se a maneira como o Império Romano lidava com as questões religiosas, particularmente com o Cristianismo, levando em consideração o papel que a religião desempenhava na ordem política e social romana; na terceira, discute-se a postura cristã para com outras crenças e práticas religiosas, desde as suas origens até o período agostiniano; finalmente, na quarta parte, apresenta-se a contribuição de Agostinho de Hipona na consolidação da intolerância ...
REFLEXUS - Revista Semestral de Teologia e Ciências das Religiões, 2014
Apresentamos neste artigo algumas reflexões de Santo Agostinho acerca da arte retórica e sua pert... more Apresentamos neste artigo algumas reflexões de Santo Agostinho acerca da arte retórica e sua pertinência para a pregação cristã. Palavras-chave: Retórica. Pregação Cristã. Santo Agostinho.
Estudos Teológicos, 2020
O artigo apresenta a obra De mortalitate, de Cipriano de Cartago (+258), à luz do seu pano de fun... more O artigo apresenta a obra De mortalitate, de Cipriano de Cartago (+258), à luz do seu pano de fundo histórico, a saber, a pandemia conhecida como “Praga de Cipriano”, que atingiu o Império Romano na segunda metade do século III, deixando um considerável saldo de mortos e afl igindo tanto pessoas pagãs como cristãs. Analisam-se os principais argumentos do bispo cartaginense que procura exortar seus fi éis diante da tragédia. Discutem-se as teses de Rodney Stark sobre o papel das epidemias no crescimento do cristianismo e procura-se refl etir criticamente sobre como as crenças e atitudes defendidas por Cipriano podem nos ajudar diante da atual pandemia de Covid-19.
REFLEXUS - Revista Semestral de Teologia e Ciências das Religiões, 2014
em alguns temas, especialmente no capítulo sobre Qumran e a relação da apocalíptica judaica com o... more em alguns temas, especialmente no capítulo sobre Qumran e a relação da apocalíptica judaica com os Cristianismos das origens. No entanto, pesquisas desse importante autor.
Uploads
Books by José Mário Gonçalves
Na África do Sul, nos Estados Unidos, na Alemanha, na Inglaterra e em vários outros países já se falava de e escrevia sobre teologia pública desde os anos 1970, sendo que na África do Sul a discussão tomou fôlego após a abolição do nefasto sistema do apartheid e a democratização nos anos 1990, procurando desenvolver uma teologia libertadora na “nova dispensão” democrática, com uma configuração da esfera pública totalmente nova. Nico Koopman e Dirk Smit estão entre os mais conhecidos expoentes desta teologia que tem na Universidade de Stellenbosch um dos seus centros, como fica visível – com uma discussão crítica e analítica – nos textos de Felipe Gustavo Koch Buttelli e Dion Forster neste volume.
No Brasil, Leonardo e Clodovis Boff, em seu entrementes clássico Como fazer Teologia da Libertação, de 1985, já falam, no capítulo sobre a “Teologia da Libertação no panorama mundial”, da Teologia da Libertação como “uma Teologia pública e profética”. Segundo eles, a Teologia da Libertação pertence hoje ao “domínio público”, pois “está tocando em questões que envolvem toda a sociedade”. Embora não utilizem o termo “teologia pública”, docentes vinculadas, na época, à Universidade Metodista de São Paulo, trabalharam uma “pastoral urbana” como “presença pública da igreja em áreas urbanas”. Clóvis Pinto de Castro já havia publicado sua tese de doutorado “Por uma fé cidadã: a dimensão pública da igreja”. Nesta linha, e inspirado pelo texto de Hugo Assmann sobre “Teologia da Solidariedade e da Cidadania. Ou seja: continuando a Teologia da Libertação” , Rudolf von Sinner começou a desenvolver uma teologia pública como teologia da cidadania. Tais propostas são discutidas no texto de Jefferson Zeferino no presente volume. Outras publicações brasileiras se seguiram, buscando uma teologia pública para uma pastoral urbana (Alonso Gonçalves); a cidadania acadêmica da teologia no Brasil (Afonso Maria Ligório Soares e João Décio Passos, orgs.); o diálogo com a filosofia política contemporânea (Júlio Zabatiero, Eneida Jacobsen) e o resgate das raízes históricas teológicas protestantes liberais e libertadoras contra um neo-puritanismo e fundamentalismo que se alastrou em consideráveis setores do protestantismo brasileiro (Ronaldo Cavalcante). Ronaldo Cavalcante e Wanderley Pereira da Rosa trabalham alguns modelos estadunidenses relativamente recentes que já inspiraram e poderão novamente inspirar uma dimensão pública com índole protestante: Walter Rauschenbusch, Reinhold Niebuhr e Martin Luther King Jr. Robert Vosloo tece um diálogo contemporâneo com Dietrich Bonhoeffer, referência em muitos contextos para aqueles e aquelas que desenvolvem uma teologia pública. Rudolf von Sinner discute a teologia pública no Brasil em busca de sua voz em diálogo com tendências glocais, especialmente a África do Sul. Antônio Nunes Pereira fornece informações histórico-legais sobre a configuração do pluralismo religioso no Brasil e na África do Sul.
Uma primeira rodada de diálogo mais encorpado entre teólogas e teólogos do Brasil e da África do Sul resultou numa primeira publicação conjunta em 2014, sob o título de “Teologia Pública no Brasil e na África do Sul. Cidadania, Interculturalidade e HIV/AIDS”, que contou com apoio do Edital Pró-África do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Programa de Excelência (PROEX) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Aquela rodada incluiu, do lado brasileiro, a Faculdades EST, e do lado sul-africano as Universidades de Stellenbosch (SUN), do Cabo Oriental (UWC), de KwaZulu Natal (UKZN), da África do Sul (UNISA) e da Universidade de Pretoria (UP). Seis autoras e autores do Brasil e oito da África do Sul contribuíram.
A presente nova rodada começou em 2014 e foi finalizada em 2018. Do lado brasileiro, colaboraram nisto a Faculdade Unida de Vitória, mediante a Cátedra de Teologia Pública e Estudos da Religião João Dias de Araújo, criada em 2012 e coordenada inicialmente por Ronaldo Cavalcante, seguido por Claudete Beise Ulrich, e a Faculdades EST, mediante o Instituto de Ética, na pessoa do seu diretor, Rudolf von Sinner. Do lado sul-africano, participou a Universidade de Stellenbosch, mediante seu Centro Beyers Naudé de Teologia Pública, na pessoa do seu diretor, Nico Koopman, sucedido por Dion Forster ao assumir a vice-reitoria de Impacto Social, Transformação e Pessoal da Universidade. Novas autoras e novos autores juntaram-se a esta empreitada. A então doutoranda Alease Brown, nova-iorquina afro-descendente pesquisando na África do Sul, contribuiu um texto sobre a vontade violada e a violência do protesto, recorrendo, entre outros, a Duns Escoto em suas abordagens sobre a liberdade e a vontade e sua contribuição para lutas atuais especialmente de pessoas negras no Brasil e na África do Sul. Tristemente, a entrementes doutora Alease, poucos dias antes de atingir a idade de 50 anos, veio a falecer. Expressamos nossos mais sinceros e profundos sentimentos à família e ao grande círculo de amigas e amigos da Alease, e dedicamos este livro à memória dela.
A seguir, Nívia Ivette Nuñez de la Paz discorre, em relação à promoção da cidadania especialmente na visualização da e na luta pela superação da violência de gênero, sobre a contribuição de uma teologia pública contextual, dialógica, política, pedagógica e pneumatológica. Claudete Beise Ulrich e José Mario Gonçalves discorrem sobre violência de gênero, especialmente contra meninas e mulheres, nos dois contextos, numa dimensão de interseccionalidade. Celso Gabatz reflete sobre uma compreensão multicultural como desafio para uma prática descolonizadora, tema candente nos dois contextos em sua história de ex-colônias e países do Sul global. Luis Carlos Dalla Rosa, recorrendo à contribuição de Paul Ricœur – referência importante nos dois países – trata dos direitos humanos na perspectiva de uma teologia pública. Por fim, Donald Jaftha Katts envereda pelo fomento de uma relação inter-religiosa entre cristianismo e islã a partir de uma teologia pública. A estes treze capítulos, quatro de autores da África do Sul e sete de autoras e autores do Brasil, junta-se uma vasta bibliografia, reunida a partir das referências de cada capítulo e dando uma impressão da riqueza de reflexões agora disponíveis para consulta e para pensar adiante. Por fim, para facilitar ao leitor e à leitura a busca por nomes e termos específicos, incluímos um índice onomástico e outro remissivo. Agradecemos imensamente a Cesar Kuzma, professor na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e presidente da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER), pela generosidade em contribuir com o prefácio, e a Alzirinha Souza, professora no e coordenadora do Mestrado em Teologia da Universidade Católica de Pernambuco, pelo igual generosidade em escrever o posfácio. Informamos que o livro será publicado, posteriormente, também em versão inglesa, na África do Sul.
Além das autoras e autores deste livro, pudemos contar com uma forte equipe congregada no Instituto de Ética da Faculdades EST. O projeto do Edital Universal do CNPq, processo número 448368/2014-5, permitiu, além de financiamento para viagens, diárias e traduções de textos, o emprego de bolsistas de apoio técnico nível superior. Neste cargo, revezaram-se sucessivamente Sara Eunice Sander Müller, Josué Reichow, Edoarda Scherer e Simoni Emmerick Runge. Na modalidade Programa EST de Iniciação Científica, (PEIC), Mirian Bartz também colaborou com dedicação. Na preparação desta publicação, o graduando Joabe Marques dos Anjos nos ajudou. Na fase final de revisão de textos, podíamos contar com o apoio de Jefferson Zeferino, professor colaborador na PUCPR mediante o Programa Nacional de Pós-doutorado PNPD/CAPES. Os textos que chegaram em língua inglesa foram traduzidos por Luís Marcos Sander. A publicação foi aprovada e apoiada pelo Fundo de Publicações Teológicas da Faculdades EST, a quem agradecemos na pessoa do seu coordenador, Júlio Cézar Adam. A editoração e publicação foi realizada pela Editora Sinodal, a quem também agradecemos na pessoa do seu gerente editorial, Robson Luís Neu.
a organizadora e os organizadores
Papers by José Mário Gonçalves
Na África do Sul, nos Estados Unidos, na Alemanha, na Inglaterra e em vários outros países já se falava de e escrevia sobre teologia pública desde os anos 1970, sendo que na África do Sul a discussão tomou fôlego após a abolição do nefasto sistema do apartheid e a democratização nos anos 1990, procurando desenvolver uma teologia libertadora na “nova dispensão” democrática, com uma configuração da esfera pública totalmente nova. Nico Koopman e Dirk Smit estão entre os mais conhecidos expoentes desta teologia que tem na Universidade de Stellenbosch um dos seus centros, como fica visível – com uma discussão crítica e analítica – nos textos de Felipe Gustavo Koch Buttelli e Dion Forster neste volume.
No Brasil, Leonardo e Clodovis Boff, em seu entrementes clássico Como fazer Teologia da Libertação, de 1985, já falam, no capítulo sobre a “Teologia da Libertação no panorama mundial”, da Teologia da Libertação como “uma Teologia pública e profética”. Segundo eles, a Teologia da Libertação pertence hoje ao “domínio público”, pois “está tocando em questões que envolvem toda a sociedade”. Embora não utilizem o termo “teologia pública”, docentes vinculadas, na época, à Universidade Metodista de São Paulo, trabalharam uma “pastoral urbana” como “presença pública da igreja em áreas urbanas”. Clóvis Pinto de Castro já havia publicado sua tese de doutorado “Por uma fé cidadã: a dimensão pública da igreja”. Nesta linha, e inspirado pelo texto de Hugo Assmann sobre “Teologia da Solidariedade e da Cidadania. Ou seja: continuando a Teologia da Libertação” , Rudolf von Sinner começou a desenvolver uma teologia pública como teologia da cidadania. Tais propostas são discutidas no texto de Jefferson Zeferino no presente volume. Outras publicações brasileiras se seguiram, buscando uma teologia pública para uma pastoral urbana (Alonso Gonçalves); a cidadania acadêmica da teologia no Brasil (Afonso Maria Ligório Soares e João Décio Passos, orgs.); o diálogo com a filosofia política contemporânea (Júlio Zabatiero, Eneida Jacobsen) e o resgate das raízes históricas teológicas protestantes liberais e libertadoras contra um neo-puritanismo e fundamentalismo que se alastrou em consideráveis setores do protestantismo brasileiro (Ronaldo Cavalcante). Ronaldo Cavalcante e Wanderley Pereira da Rosa trabalham alguns modelos estadunidenses relativamente recentes que já inspiraram e poderão novamente inspirar uma dimensão pública com índole protestante: Walter Rauschenbusch, Reinhold Niebuhr e Martin Luther King Jr. Robert Vosloo tece um diálogo contemporâneo com Dietrich Bonhoeffer, referência em muitos contextos para aqueles e aquelas que desenvolvem uma teologia pública. Rudolf von Sinner discute a teologia pública no Brasil em busca de sua voz em diálogo com tendências glocais, especialmente a África do Sul. Antônio Nunes Pereira fornece informações histórico-legais sobre a configuração do pluralismo religioso no Brasil e na África do Sul.
Uma primeira rodada de diálogo mais encorpado entre teólogas e teólogos do Brasil e da África do Sul resultou numa primeira publicação conjunta em 2014, sob o título de “Teologia Pública no Brasil e na África do Sul. Cidadania, Interculturalidade e HIV/AIDS”, que contou com apoio do Edital Pró-África do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Programa de Excelência (PROEX) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Aquela rodada incluiu, do lado brasileiro, a Faculdades EST, e do lado sul-africano as Universidades de Stellenbosch (SUN), do Cabo Oriental (UWC), de KwaZulu Natal (UKZN), da África do Sul (UNISA) e da Universidade de Pretoria (UP). Seis autoras e autores do Brasil e oito da África do Sul contribuíram.
A presente nova rodada começou em 2014 e foi finalizada em 2018. Do lado brasileiro, colaboraram nisto a Faculdade Unida de Vitória, mediante a Cátedra de Teologia Pública e Estudos da Religião João Dias de Araújo, criada em 2012 e coordenada inicialmente por Ronaldo Cavalcante, seguido por Claudete Beise Ulrich, e a Faculdades EST, mediante o Instituto de Ética, na pessoa do seu diretor, Rudolf von Sinner. Do lado sul-africano, participou a Universidade de Stellenbosch, mediante seu Centro Beyers Naudé de Teologia Pública, na pessoa do seu diretor, Nico Koopman, sucedido por Dion Forster ao assumir a vice-reitoria de Impacto Social, Transformação e Pessoal da Universidade. Novas autoras e novos autores juntaram-se a esta empreitada. A então doutoranda Alease Brown, nova-iorquina afro-descendente pesquisando na África do Sul, contribuiu um texto sobre a vontade violada e a violência do protesto, recorrendo, entre outros, a Duns Escoto em suas abordagens sobre a liberdade e a vontade e sua contribuição para lutas atuais especialmente de pessoas negras no Brasil e na África do Sul. Tristemente, a entrementes doutora Alease, poucos dias antes de atingir a idade de 50 anos, veio a falecer. Expressamos nossos mais sinceros e profundos sentimentos à família e ao grande círculo de amigas e amigos da Alease, e dedicamos este livro à memória dela.
A seguir, Nívia Ivette Nuñez de la Paz discorre, em relação à promoção da cidadania especialmente na visualização da e na luta pela superação da violência de gênero, sobre a contribuição de uma teologia pública contextual, dialógica, política, pedagógica e pneumatológica. Claudete Beise Ulrich e José Mario Gonçalves discorrem sobre violência de gênero, especialmente contra meninas e mulheres, nos dois contextos, numa dimensão de interseccionalidade. Celso Gabatz reflete sobre uma compreensão multicultural como desafio para uma prática descolonizadora, tema candente nos dois contextos em sua história de ex-colônias e países do Sul global. Luis Carlos Dalla Rosa, recorrendo à contribuição de Paul Ricœur – referência importante nos dois países – trata dos direitos humanos na perspectiva de uma teologia pública. Por fim, Donald Jaftha Katts envereda pelo fomento de uma relação inter-religiosa entre cristianismo e islã a partir de uma teologia pública. A estes treze capítulos, quatro de autores da África do Sul e sete de autoras e autores do Brasil, junta-se uma vasta bibliografia, reunida a partir das referências de cada capítulo e dando uma impressão da riqueza de reflexões agora disponíveis para consulta e para pensar adiante. Por fim, para facilitar ao leitor e à leitura a busca por nomes e termos específicos, incluímos um índice onomástico e outro remissivo. Agradecemos imensamente a Cesar Kuzma, professor na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e presidente da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER), pela generosidade em contribuir com o prefácio, e a Alzirinha Souza, professora no e coordenadora do Mestrado em Teologia da Universidade Católica de Pernambuco, pelo igual generosidade em escrever o posfácio. Informamos que o livro será publicado, posteriormente, também em versão inglesa, na África do Sul.
Além das autoras e autores deste livro, pudemos contar com uma forte equipe congregada no Instituto de Ética da Faculdades EST. O projeto do Edital Universal do CNPq, processo número 448368/2014-5, permitiu, além de financiamento para viagens, diárias e traduções de textos, o emprego de bolsistas de apoio técnico nível superior. Neste cargo, revezaram-se sucessivamente Sara Eunice Sander Müller, Josué Reichow, Edoarda Scherer e Simoni Emmerick Runge. Na modalidade Programa EST de Iniciação Científica, (PEIC), Mirian Bartz também colaborou com dedicação. Na preparação desta publicação, o graduando Joabe Marques dos Anjos nos ajudou. Na fase final de revisão de textos, podíamos contar com o apoio de Jefferson Zeferino, professor colaborador na PUCPR mediante o Programa Nacional de Pós-doutorado PNPD/CAPES. Os textos que chegaram em língua inglesa foram traduzidos por Luís Marcos Sander. A publicação foi aprovada e apoiada pelo Fundo de Publicações Teológicas da Faculdades EST, a quem agradecemos na pessoa do seu coordenador, Júlio Cézar Adam. A editoração e publicação foi realizada pela Editora Sinodal, a quem também agradecemos na pessoa do seu gerente editorial, Robson Luís Neu.
a organizadora e os organizadores