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Alfredo Cruz

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Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7356386509536437
ORCID iD: http://orcid.org/0000-0002-8625-2721
Address: Valença, Rio de Janeiro, Brazil

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Robério de Paula

Universidade de Brasília - UnB

National Council of Scientific and Technological Research (CONICET)

Silvia Siqueira

Universidade Estadual do Ceara

Heloisa Maria Paes de Souza

Thiago de Souza Ribeiro Chaves

UNIRIO - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

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Videos by Alfredo Cruz

O fim do cristianismo primitivo

Palestra ministrada na página do Facebook da Ordem Hermética da Aurora Dourada em 13 de agosto de... more

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Violência intercomunitária e a criação da identidade cristã no Egito (séculos IV-VII d.C.)

Palestra ministrada no canal no YouTube do Laboratório de Estudos Mediterrânicos e Bizantinos (LÆ... more Palestra ministrada no canal no YouTube do Laboratório de Estudos Mediterrânicos e Bizantinos (LÆMEB-LEME/UNIFESP) em 16 de outubro de 2020. Originalmente disponível em https://youtu.be/UkmFUCksrGE. Infelizmente, por problemas técnicos, o vídeo ficou sem introdução e com baixa qualidade de áudio e imagem.

Entrevista concedida a Lucas Gestas no dia 15 de dezembro de 2020. Originalmente disponível em ht... more

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Entrevista por ocasião do minicurso "Introdução à História do Islã e do Mundo Islâmico"

Entrevista concedida a Victor S. Gomez no dia 4 de setembro de 2018 por ocasião da realização do ... more

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As múltiplas faces do cristianismo primitivo

Entrevista concedida a Marcelo Del Debbio no dia 16 de setembro de 2020, publicada no canal do Yo... more

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Introdução histórica ao gnosticismo: uma expressão espiritual de nostalgia

Palestra ministrada no canal do YouTube do Centro Dom Vital em 24 de setembro de 2020. Originalme... more

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A Igreja Copta e a invasão islâmica (parte 1)

Primeira parte de entrevista concedida a Lucas Gesta em 9 de julho de 2018. Originalmente disponí... more

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A Igreja Copta e a invasão islâmica (parte 2)

Segunda parte de entrevista concedida a Lucas Gesta em 9 de julho de 2018. Originalmente disponív... more

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A Igreja Copta e a invasão islâmica (parte 3)

Terceira parte de entrevista concedida a Lucas Gesta em 9 de julho de 2018. Originalmente disponí... more

Conflito e conciliação no estabelecimento do Egito islâmico

Palestra ministrada no canal no YouTube do Laboratório de Estudos de Outros Medievos (LEOM/UFPE) ... more

Conversões e reconversões de Santa Sofia

Mesa-redonda no Centro Dom Vital (Rio de Janeiro, RJ), realizada em 20 de agosto de 2020, mediada... more Mesa-redonda no Centro Dom Vital (Rio de Janeiro, RJ), realizada em 20 de agosto de 2020, mediada por Jefferson Alves, com a participação de Alfredo Cruz, João Henrique dos Santos e João Vicente Dias. Originalmente disponível em https://youtu.be/fY1I76WjRKs. Infelizmente, por problemas técnicos, o vídeo ficou com baixa qualidade de áudio e imagem.

4 views

Cristianismos africanos

Entrevista concedida a Marcos Carvalho Lopes, publicada no podcast Filosofia Pop no dia 7 de feve... more

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Papers by Alfredo Cruz

As circunstâncias da morte do Papa Abraão de Alexandria (978)

Anais do 2º Simpósio de História Antiga e Medieval, Dec 2021

No início de dezembro de 978, o Papa Abraão de Alexandria faleceu repentinamente. De acordo com u... more No início de dezembro de 978, o Papa Abraão de Alexandria faleceu repentinamente. De acordo com um boato registrado na "História do Patriarcado Copta de Alexandria", principal registro e monumento histórico desta instituição, foi envenenado por um dos eclesiásticos a quem tinha proibido a participação na Eucaristia em função de uma conduta matrimonial considerada desviante. Elevado ao trono patriarcal contra sua vontade, Abraão ajudou a estabelecer o papel da Igreja Copta no novo regime instaurado pela conquista fatímida do Egito (969) e fez um esforço para reformar os costumes do clero no sentido daquilo que compreendia como uma moralização necessária. Seu possível assassinato coloca à tona alguns dos principais problemas com os quais lidou, e ajuda a pensar em mais de um ângulo como se relacionavam cristãos e muçulmanos no Egito medieval.

Senhora poderosa e eficaz: uma leitura introdutória do livro etíope d'Os milagres da Beata Virgem Maria

Coletânea, Jun 2019

Como forma de enfatizar a união hipostática das Naturezas humana e divina na Pessoa de Jesus Cris... more Como forma de enfatizar a união hipostática das Naturezas humana e divina na Pessoa de Jesus Cristo, a tradição cristã etíope, assim como sua correligionária copta, concedeu à figura da Virgem Maria um local central em sua teologia, liturgia e prática devocional. Nesta antiga comunidade afro-oriental, insistiu-se sempre mais no papel da Mãe de Deus como medianeira de graças e operadora de prodígios, papéis que se expressam também na arte religiosa e em numerosos textos, dos quais se destacam as coletâneas de milagres atribuídos à Virgem, verdadeiro sucesso editorial no medievo etíope. O presente artigo objetiva reconstituir de forma introdutória a difusão destes relatos, assim como a imagem de Maria que deles emerge. Parte para isso de uma leitura de uma destas coletâneas, traduzida ao inglês e publicada com extenso comentário por Sir Alfred Wallis Budge (1857-1934) em Londres em 1900. Para a preparação desta edição, Budge baseou-se na leitura de dois dos manuscritos etíopes constantes na coleção de Valeria Susan, Lady Meux (1847-1910). Alguns dos episódios aí constantes foram originalmente elaborados em copta ou em alguma das outras linguagens do entorno mediterrânico, e são bons para pensar tanto as especificidades da tradição cristã etíope quanto a sua posição mais geral no ecúmeno cristão.

Relações perigosas: etiqueta, extorsão e debate inter-religioso em dois (des)encontros entre o papa João de Samannûd e o emir 'Abd al-'Aziz (685-686 d.C.)

SEMNA IV: estudos de egiptologia, Jul 2017

De 677 a 686, o papa João III governou a Igreja Copta; tratou-se de um período em que se ajustava... more De 677 a 686, o papa João III governou a Igreja Copta; tratou-se de um período em que se ajustava um modus vivendi entre os árabes muçulmanos, que haviam entrado como conquistadores no Egito pouco antes, e os cristãos autóctones, divididos de modo então quase inconciliável entre coptas/miafisitas e melquitas/calcedônicos. A consideração de dois (des)encontros entre esse líder religioso e o emir ‘Abd al-‘Aziz evidencia a complexidade da conjuntura do estágio inicial da ocupação muçulmana do Vale do Nilo.

O funcionamento econômico da Igreja Copta nos estágios iniciais do Egito islâmico (séculos VII a X)

Veredas da História, Mar 2018

Partindo de uma leitura da "História do Patriarcado Copta de Alexandria", crônica oficial desta i... more Partindo de uma leitura da "História do Patriarcado Copta de Alexandria", crônica oficial desta instituição, este trabalho tem por objetivo reconstituir, de forma sinóptica, o funcionamento econômico da Igreja Copta nos estágios iniciais do Egito islâmico – ou seja, desde a conquista do Vale do Nilo pelos árabes, em 641, até as vésperas da tomada da região pelos fatímidas, em 969. No âmbito de tal reconstituição, deu-se especial atenção às assimétricas interações econômicas entre o governo islâmico e a comunidade cristã egípcia, e às estratégias de arrecadação praticadas pelos diferentes tipos de profissionais vinculados à Igreja Copta – tais como monges, bispos, clérigos casados e patriarcas. Espera-se que o texto contribua para a elaboração de uma futura história comparada da administração eclesiástica na Antiguidade Tardia e no Medievo.

A Mãe de Deus na tradição cristã etíope: uma leitura introdutória da "Anáfora de Santa Maria" de Abba Ciríaco de Behnesa

Coletânea, Mar 2018

A figura da Virgem Maria possui um local central na teologia, liturgia e devoção dos cristãos afr... more A figura da Virgem Maria possui um local central na teologia, liturgia e devoção dos cristãos afro-orientais, membros de antigas comunidades de origem apostólica, que insistiram sempre mais em seu caráter de Mãe de Deus como forma de enfatizar a união hipostática das Naturezas humana e divina na Pessoa de Jesus Cristo. Essa centralidade se expressa também na arte religiosa e em numerosos textos, entre os quais se incluem canções populares, poemas devotos, homilias comemorativas, tratados teológicos e coletâneas de milagres atribuídos à Virgem. Um dos mais impressionantes destes escritos é a "Anáfora de Santa Maria", tradicionalmente atribuída a Abba Ciríaco (ou Heráclito) de Behnesa (el-Bahnasa ou Oxirrinco), utilizada na Divina Liturgia da Igreja Etíope algumas vezes por ano - nas mais importantes festas marianas, na véspera do Natal, na véspera e no dia da Anunciação e na comemoração do mesmo São Ciríaco. Como bem se sabe, a liturgia etíope deriva em larga medida da liturgia copta, em função da ligação milenar entre as Igrejas de Alexandria e da Abissínia, mas desenvolveu uma série de características originais a partir da absorção de elementos autóctones, do peso de sua herança semítica e de significativas influências siríacas. A "Anáfora de Santa Maria" de Abba Ciríaco de Behnesa é justamente uma das peças originais da Etiópia cristã, pois em nenhuma outra das liturgias hoje conhecidas preservou-se uma oração eucarística que faz menção à Virgem de modo tão específico. O objetivo deste artigo é, partindo de uma contextualização histórica, apresentar este texto e identificar como nele aparece figurada a Mãe de Jesus.

O paquiderme axumita: esboço de um contexto político para a Sura 105 do Corão

Coletânea, 2015

O Corão, texto sagrado do Islã, parece desconfortavelmente hermético para os seus leitores ociden... more O Corão, texto sagrado do Islã, parece desconfortavelmente hermético para os seus leitores ocidentais, de modo que a interpretação de sua narrativa continua dependente, por um lado, das leituras devotas dos muçulmanos ou, por outro, das abordagens demasiado interessadas dos orientalistas. Passando por alto as considerações de ordem teológica a respeito de sua formação e difusão, não se pode deixar de considerar que se trata da mais relevante das fontes documentais para se compreender o surgimento e o período formativo da terceira das religiões abraâmicas. Uma abordagem histórico-crítica adequadamente respeitosa de suas partes, portanto, faz-se necessária àqueles interessados no período e espaço sociocultural do qual ele dá notícias. O que se pretende fazer no presente trabalho é justamente uma incursão experimental neste sentido, focada na Sura 105, conhecida como sendo d’O elefante. Não se quer interpretar o texto por meio do texto, em perspectiva meramente exegética, em última análise estéril aos historiadores e críticos culturais, mas, partindo de alguns elementos localizáveis, direta ou indiretamente, neste fragmento, fazer referência ao intrincado contexto geopolítico da Península Arábica de fim do século VI/início do século VII d.C., horizonte de referência necessário para se entender o conteúdo específico da pregação de Muhammad e o desenvolvimento inicial do Islã.

O fechamento do horizonte índico da Igreja Ortodoxa Copta: o caso do "sacerdote do povo das Índias" na corte do Papa Simão de Alexandria (689-701)

Espacialidades, Sep 2017

No tempo do governo eclesiástico do Papa Simão de Alexandria (689-701), um "sacerdote do povo das... more No tempo do governo eclesiástico do Papa Simão de Alexandria (689-701), um "sacerdote do povo das Índias" apresentou-se em sua corte pedindo que lhe ordenasse um bispo para sua comunidade de origem. O fato de o patriarca estar submetido ao governo muçulmano, mas não seu visitante estrangeiro, contudo, impediu que o caso tivesse uma solução simples. O objetivo deste trabalho é, partindo deste episódio, tecer algumas considerações a respeito de como se deu o fechamento do horizonte índico das missões e relações eclesiásticas da Igreja Ortodoxa Copta, ainda antes do primeiro século de domínio árabe muçulmano no Egito.

Condições políticas da era de ouro da Dhimmah na história do Egito islâmico (séculos IX e X AD)

TransVersos, Aug 2017

É um relativo consenso entre os especialistas que o período de governo fatímida do Egito (969-117... more É um relativo consenso entre os especialistas que o período de governo fatímida do Egito (969-1171), foi, com a exceção de curtos intervalos, provavelmente o mais tranquilo e próspero para os judeus e cristãos desde a conquista islâmica do Vale do Nilo até a Contemporaneidade. Esta era de ouro para a Dhimmah, entretanto, não se deveu a alguma excepcional tolerância desta dinastia xiita, mas pode ser considerada como um dos resultados fortuitos da complexa conjuntura política do Egito e do Levante no interior do ecúmeno islâmico dos séculos IX e X AD. O objetivo deste paper é reconstituir algumas das tramas que compuseram esta conjuntura, usando, neste horizonte, a trajetória dos cristãos coptas como uma espécie de estudo de caso.

O fim do cristianismo primitivo

Palestra ministrada na página do Facebook da Ordem Hermética da Aurora Dourada em 13 de agosto de... more

5 views

Violência intercomunitária e a criação da identidade cristã no Egito (séculos IV-VII d.C.)

Palestra ministrada no canal no YouTube do Laboratório de Estudos Mediterrânicos e Bizantinos (LÆ... more Palestra ministrada no canal no YouTube do Laboratório de Estudos Mediterrânicos e Bizantinos (LÆMEB-LEME/UNIFESP) em 16 de outubro de 2020. Originalmente disponível em https://youtu.be/UkmFUCksrGE. Infelizmente, por problemas técnicos, o vídeo ficou sem introdução e com baixa qualidade de áudio e imagem.

Entrevista concedida a Lucas Gestas no dia 15 de dezembro de 2020. Originalmente disponível em ht... more

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Entrevista por ocasião do minicurso "Introdução à História do Islã e do Mundo Islâmico"

Entrevista concedida a Victor S. Gomez no dia 4 de setembro de 2018 por ocasião da realização do ... more

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Conversões e reconversões de Santa Sofia

Mesa-redonda no Centro Dom Vital (Rio de Janeiro, RJ), realizada em 20 de agosto de 2020, mediada... more Mesa-redonda no Centro Dom Vital (Rio de Janeiro, RJ), realizada em 20 de agosto de 2020, mediada por Jefferson Alves, com a participação de Alfredo Cruz, João Henrique dos Santos e João Vicente Dias. Originalmente disponível em https://youtu.be/fY1I76WjRKs. Infelizmente, por problemas técnicos, o vídeo ficou com baixa qualidade de áudio e imagem.

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As circunstâncias da morte do Papa Abraão de Alexandria (978)

Anais do 2º Simpósio de História Antiga e Medieval, Dec 2021

No início de dezembro de 978, o Papa Abraão de Alexandria faleceu repentinamente. De acordo com u... more No início de dezembro de 978, o Papa Abraão de Alexandria faleceu repentinamente. De acordo com um boato registrado na "História do Patriarcado Copta de Alexandria", principal registro e monumento histórico desta instituição, foi envenenado por um dos eclesiásticos a quem tinha proibido a participação na Eucaristia em função de uma conduta matrimonial considerada desviante. Elevado ao trono patriarcal contra sua vontade, Abraão ajudou a estabelecer o papel da Igreja Copta no novo regime instaurado pela conquista fatímida do Egito (969) e fez um esforço para reformar os costumes do clero no sentido daquilo que compreendia como uma moralização necessária. Seu possível assassinato coloca à tona alguns dos principais problemas com os quais lidou, e ajuda a pensar em mais de um ângulo como se relacionavam cristãos e muçulmanos no Egito medieval.

Senhora poderosa e eficaz: uma leitura introdutória do livro etíope d'Os milagres da Beata Virgem Maria

Coletânea, Jun 2019

Como forma de enfatizar a união hipostática das Naturezas humana e divina na Pessoa de Jesus Cris... more Como forma de enfatizar a união hipostática das Naturezas humana e divina na Pessoa de Jesus Cristo, a tradição cristã etíope, assim como sua correligionária copta, concedeu à figura da Virgem Maria um local central em sua teologia, liturgia e prática devocional. Nesta antiga comunidade afro-oriental, insistiu-se sempre mais no papel da Mãe de Deus como medianeira de graças e operadora de prodígios, papéis que se expressam também na arte religiosa e em numerosos textos, dos quais se destacam as coletâneas de milagres atribuídos à Virgem, verdadeiro sucesso editorial no medievo etíope. O presente artigo objetiva reconstituir de forma introdutória a difusão destes relatos, assim como a imagem de Maria que deles emerge. Parte para isso de uma leitura de uma destas coletâneas, traduzida ao inglês e publicada com extenso comentário por Sir Alfred Wallis Budge (1857-1934) em Londres em 1900. Para a preparação desta edição, Budge baseou-se na leitura de dois dos manuscritos etíopes constantes na coleção de Valeria Susan, Lady Meux (1847-1910). Alguns dos episódios aí constantes foram originalmente elaborados em copta ou em alguma das outras linguagens do entorno mediterrânico, e são bons para pensar tanto as especificidades da tradição cristã etíope quanto a sua posição mais geral no ecúmeno cristão.

Relações perigosas: etiqueta, extorsão e debate inter-religioso em dois (des)encontros entre o papa João de Samannûd e o emir 'Abd al-'Aziz (685-686 d.C.)

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De 677 a 686, o papa João III governou a Igreja Copta; tratou-se de um período em que se ajustava... more De 677 a 686, o papa João III governou a Igreja Copta; tratou-se de um período em que se ajustava um modus vivendi entre os árabes muçulmanos, que haviam entrado como conquistadores no Egito pouco antes, e os cristãos autóctones, divididos de modo então quase inconciliável entre coptas/miafisitas e melquitas/calcedônicos. A consideração de dois (des)encontros entre esse líder religioso e o emir ‘Abd al-‘Aziz evidencia a complexidade da conjuntura do estágio inicial da ocupação muçulmana do Vale do Nilo.

O funcionamento econômico da Igreja Copta nos estágios iniciais do Egito islâmico (séculos VII a X)

Veredas da História, Mar 2018

Partindo de uma leitura da "História do Patriarcado Copta de Alexandria", crônica oficial desta i... more Partindo de uma leitura da "História do Patriarcado Copta de Alexandria", crônica oficial desta instituição, este trabalho tem por objetivo reconstituir, de forma sinóptica, o funcionamento econômico da Igreja Copta nos estágios iniciais do Egito islâmico – ou seja, desde a conquista do Vale do Nilo pelos árabes, em 641, até as vésperas da tomada da região pelos fatímidas, em 969. No âmbito de tal reconstituição, deu-se especial atenção às assimétricas interações econômicas entre o governo islâmico e a comunidade cristã egípcia, e às estratégias de arrecadação praticadas pelos diferentes tipos de profissionais vinculados à Igreja Copta – tais como monges, bispos, clérigos casados e patriarcas. Espera-se que o texto contribua para a elaboração de uma futura história comparada da administração eclesiástica na Antiguidade Tardia e no Medievo.

A Mãe de Deus na tradição cristã etíope: uma leitura introdutória da "Anáfora de Santa Maria" de Abba Ciríaco de Behnesa

Coletânea, Mar 2018

A figura da Virgem Maria possui um local central na teologia, liturgia e devoção dos cristãos afr... more A figura da Virgem Maria possui um local central na teologia, liturgia e devoção dos cristãos afro-orientais, membros de antigas comunidades de origem apostólica, que insistiram sempre mais em seu caráter de Mãe de Deus como forma de enfatizar a união hipostática das Naturezas humana e divina na Pessoa de Jesus Cristo. Essa centralidade se expressa também na arte religiosa e em numerosos textos, entre os quais se incluem canções populares, poemas devotos, homilias comemorativas, tratados teológicos e coletâneas de milagres atribuídos à Virgem. Um dos mais impressionantes destes escritos é a "Anáfora de Santa Maria", tradicionalmente atribuída a Abba Ciríaco (ou Heráclito) de Behnesa (el-Bahnasa ou Oxirrinco), utilizada na Divina Liturgia da Igreja Etíope algumas vezes por ano - nas mais importantes festas marianas, na véspera do Natal, na véspera e no dia da Anunciação e na comemoração do mesmo São Ciríaco. Como bem se sabe, a liturgia etíope deriva em larga medida da liturgia copta, em função da ligação milenar entre as Igrejas de Alexandria e da Abissínia, mas desenvolveu uma série de características originais a partir da absorção de elementos autóctones, do peso de sua herança semítica e de significativas influências siríacas. A "Anáfora de Santa Maria" de Abba Ciríaco de Behnesa é justamente uma das peças originais da Etiópia cristã, pois em nenhuma outra das liturgias hoje conhecidas preservou-se uma oração eucarística que faz menção à Virgem de modo tão específico. O objetivo deste artigo é, partindo de uma contextualização histórica, apresentar este texto e identificar como nele aparece figurada a Mãe de Jesus.

O paquiderme axumita: esboço de um contexto político para a Sura 105 do Corão

Coletânea, 2015

O Corão, texto sagrado do Islã, parece desconfortavelmente hermético para os seus leitores ociden... more O Corão, texto sagrado do Islã, parece desconfortavelmente hermético para os seus leitores ocidentais, de modo que a interpretação de sua narrativa continua dependente, por um lado, das leituras devotas dos muçulmanos ou, por outro, das abordagens demasiado interessadas dos orientalistas. Passando por alto as considerações de ordem teológica a respeito de sua formação e difusão, não se pode deixar de considerar que se trata da mais relevante das fontes documentais para se compreender o surgimento e o período formativo da terceira das religiões abraâmicas. Uma abordagem histórico-crítica adequadamente respeitosa de suas partes, portanto, faz-se necessária àqueles interessados no período e espaço sociocultural do qual ele dá notícias. O que se pretende fazer no presente trabalho é justamente uma incursão experimental neste sentido, focada na Sura 105, conhecida como sendo d’O elefante. Não se quer interpretar o texto por meio do texto, em perspectiva meramente exegética, em última análise estéril aos historiadores e críticos culturais, mas, partindo de alguns elementos localizáveis, direta ou indiretamente, neste fragmento, fazer referência ao intrincado contexto geopolítico da Península Arábica de fim do século VI/início do século VII d.C., horizonte de referência necessário para se entender o conteúdo específico da pregação de Muhammad e o desenvolvimento inicial do Islã.

O fechamento do horizonte índico da Igreja Ortodoxa Copta: o caso do "sacerdote do povo das Índias" na corte do Papa Simão de Alexandria (689-701)

Espacialidades, Sep 2017

No tempo do governo eclesiástico do Papa Simão de Alexandria (689-701), um "sacerdote do povo das... more No tempo do governo eclesiástico do Papa Simão de Alexandria (689-701), um "sacerdote do povo das Índias" apresentou-se em sua corte pedindo que lhe ordenasse um bispo para sua comunidade de origem. O fato de o patriarca estar submetido ao governo muçulmano, mas não seu visitante estrangeiro, contudo, impediu que o caso tivesse uma solução simples. O objetivo deste trabalho é, partindo deste episódio, tecer algumas considerações a respeito de como se deu o fechamento do horizonte índico das missões e relações eclesiásticas da Igreja Ortodoxa Copta, ainda antes do primeiro século de domínio árabe muçulmano no Egito.

Condições políticas da era de ouro da Dhimmah na história do Egito islâmico (séculos IX e X AD)

TransVersos, Aug 2017

É um relativo consenso entre os especialistas que o período de governo fatímida do Egito (969-117... more É um relativo consenso entre os especialistas que o período de governo fatímida do Egito (969-1171), foi, com a exceção de curtos intervalos, provavelmente o mais tranquilo e próspero para os judeus e cristãos desde a conquista islâmica do Vale do Nilo até a Contemporaneidade. Esta era de ouro para a Dhimmah, entretanto, não se deveu a alguma excepcional tolerância desta dinastia xiita, mas pode ser considerada como um dos resultados fortuitos da complexa conjuntura política do Egito e do Levante no interior do ecúmeno islâmico dos séculos IX e X AD. O objetivo deste paper é reconstituir algumas das tramas que compuseram esta conjuntura, usando, neste horizonte, a trajetória dos cristãos coptas como uma espécie de estudo de caso.

Algumas imagens do catolicismo nos contos de H. P. Lovecraft

Abusões, Jul 2017

Partindo da leitura de três contos de H. P. Lovecraft – "Ar frio" (1926/1928), "Sonhos na Casa da... more Partindo da leitura de três contos de H. P. Lovecraft – "Ar frio" (1926/1928), "Sonhos na Casa da Bruxa" (1932/1933) e "O assombro nas trevas" (1935/1936) – procurou-se tecer algumas considerações a respeito da representação do catolicismo na obra ficcional deste autor. Concluiu-se que a marca desta é, antes do mais, uma interessante ambiguidade.

Vida monástica e dissidência eclesial no Egito islâmico: relações na vita de Santo Agatão, o Estilita (séculos VII-VIII)

Roda da Fortuna, Jul 2017

Em algum momento da segunda metade do século VII ou do início do século VIII, Agatão, padre e mon... more Em algum momento da segunda metade do século VII ou do início do século VIII, Agatão, padre e monge, deixou seus mestres espirituais no Mosteiro de São Macário de Sceté para, seguindo o exemplo de São Simeão, o Estilita, passar o resto de sua vida sobre uma coluna. Tendo introduzido este novo tipo de ascese no Egito, realizou curas e milagres e morreu reconhecido como santo. Pouquíssimos dados sobreviveram a seu respeito, dos quais os principais constam no texto que o Sinaxário Copta traz no dia da comemoração de sua morte. O objetivo deste artigo é realizar uma leitura deste encômio e de alguns documentos conexos para, buscando reconstituir algumas das relações que aí se evidenciam, tecer considerações sobre as formas da vida monástica e da dissidência eclesial entre os cristãos coptas na fase inicial do domínio islâmico do Egito.

Ritos de humilhação: al-Qasim ibn Ubaydallâh e os cristãos coptas (734-741)

TransVersos

De 734 a 741 AD, al-Qasim ibn Ubaydallâh governou o Egito, então uma parte do califado omíada. Du... more De 734 a 741 AD, al-Qasim ibn Ubaydallâh governou o Egito, então uma parte do califado omíada. Durante este período, manteve uma política ao mesmo tempo de proximidade e de agressividade para com os cristãos coptas, caracterizada pela execução daquilo que bem poderiam ser chamados de ritos de humilhação destes. Esse governo e esse relacionamento foram registrados principalmente na História do Patriarcado Copta de Alexandria, crônica oficial desta comunidade religiosa, o que possui importantes consequências cognitivas. Este artigo objetiva retomar a narrativa desta interação de forma analítica, chamando atenção para alguns dos contextos sociopolíticos e religiosos e dos clichês literários e teológicos que nela se fazem presentes.

Ortodoxos, hereges e infiéis na conquista islâmica do Egito: política e religião em uma encruzilhada entre história e memória

Coletânea, Feb 2017

O presente texto objetiva tecer uma reflexão sobre certos lugares-comuns na historiografia ociden... more O presente texto objetiva tecer uma reflexão sobre certos lugares-comuns na historiografia ocidental sobre a trajetória do cristianismo e seu relacionamento com o Islã, partindo da discussão a respeito das narrativas sobre a conquista árabe do Egito (639-641). Em primeiro lugar, evidencia a contingência da versão agora mais conhecida entre nós a respeito deste evento. A seguir, realiza o cotejo desta com a memória copta do mesmo acontecimento, conforme esta foi registrada na vita do Patriarca Benjamin de Alexandria (r.622-661). Chama atenção para os vínculos entre categorias de descrição histórica e de classificação religiosa, fundamentais para se entender a forma como se constituíram as diferentes narrativas do estabelecimento do Islã no Vale do Nilo e a relação de seus adeptos com os cristãos dessa região.

Duas conjuras: religião e política em um episódio da vida do Patriarca Agatão de Alexandria (c.670)

Livro de Anais do 2º Simpósio Sudeste da Associação Brasileira de História das Religiões: gênero e religião - violência, fundamentalismos e política (São Paulo, 2015), 2015

Na longa tradição de comentários ocidentais sobre o Vale do Nilo, não foram poucos os autores que... more Na longa tradição de comentários ocidentais sobre o Vale do Nilo, não foram poucos os autores que sublinharam que a história egípcia, especialmente no que refere às técnicas da sobrevivência e às práticas religiosas, parece compor-se por mais continuidades do que rupturas.Estas, entretanto, estão longe de serem inexistentes, principalmente no âmbito da história política. O Egito do último quarto do século VII, por exemplo, era fundamentalmente diverso daquele de cem anos antes quanto a esse aspecto particular. Uma nova variável político-religiosa surgida no cenário por volta do meado desse intervalo – o Islã – havia feito deslizar de maneira sutil, mas significativa a proximidade entre o espaço de experiência e o horizonte de expectativa dos agentes sociais então sediados no Vale do Nilo. A complexa dialética de continuidade e ruptura implicada nesse processo, somada aos atravessamentos que aí se verificam entre história política e religiosa, parecem-me os mais interessantes. Para tratar dele, partirei de um episódio particularmente complexo, descrito em um parágrafo da vita do Patriarca Agathon de Alexandria, cujo pontificado deu-se de 661 a 677.

A tragédia do Patriarca Protério de Alexandria (451-458): disputas teológico-eclesiásticas e violência no Egito tardo-antigo

Poder & Cultura

No período que se seguiu ao Concílio de Calcedônia (451), a cidade de Alexandria mergulhou em ver... more No período que se seguiu ao Concílio de Calcedônia (451), a cidade de Alexandria mergulhou em verdadeiro caos. A cristologia desenvolvida nesta cidade havia suplantado a sua concorrente antioquena no Concílio de Éfeso (431). Sob a proteção de Teodósio II (r.408-450), ela havia se estabelecido como a ortodoxia cristã no segundo concílio realizado na mesma metrópole (449). No entanto, viu-se, após a morte inesperada de seu patrono, subitamente desfavorecida pelo governo imperial e condenada como herética. A deposição do Patriarca Dióscoro de Alexandria, responsabilizado pelo assassinato de Flaviano, arcebispo de Constantinopla, nesse que ficou conhecido como o Latrocínio de Éfeso, colocou em xeque o regime de autoridade que a Sé egípcia havia estabelecido sobre as demais igrejas do Mediterrâneo Oriental nas décadas anteriores. Apoiando-se apenas sobre uma minoria de legalistas étnica e linguisticamente apartados da população circundante, o governo constantinopolitano não teve sucesso em impor Protério – um egípcio helenófono feito monge na capital imperial – como sucessor reconhecido de Dióscoro. Ao contrário, diante de sua nomeação levantaram-se veementes protestos urbanos, reprimidos com dureza pelas autoridades constituídas. Seguiu-se uma escalada de violência que culminou com a ocupação da cidade por tropas imperiais e, depois da morte do Imperador Marciano (r.450-457), promotor do credo calcedônico, com o assassinato de Protério. O presente trabalho pretende retomar este enredo, cotejando algumas diferentes versões a seu respeito e tomando-o, em sua mistura de religião e violência algo chocante às sensibilidades contemporâneas, como um sintoma das mudanças sociopolíticas e culturais então em curso no Egito tardo-antigo.

Hierofanias e territorialidades do cristianismo copta em uma época de transição: a vita do Patriarca Benjamin de Alexandria (622-661)

Espaço & Cultura, Mar 2016

Com base na análise da vita do Patriarca Benjamin de Alexandria (622-661) investiga-se a (re)cons... more Com base na análise da vita do Patriarca Benjamin de Alexandria (622-661) investiga-se a (re)constituição da espacialidade e das interações da Igreja Ortodoxa Copta no período em que o Vale do Nilo passou pela importante transição política que marcou o fim do Egito Romano e a ascensão do Egito Islâmico. Para tanto, destaca-se de modo especial as hierofanias que se fazem presentes neste escrito, constante na História do Patriarcado Copta de Alexandria, texto em que se encontra consignada a memória oficial do cristianismo autóctone egípcio.

Ideólogo ou testemunha? Duas avaliações contemporâneas da pessoa e da obra de Eusébio de Cesareia

Coletânea, Feb 2016

Eusébio foi bispo de Cesareia e realizou sua formação na biblioteca aí fundada por Orígenes. Sua ... more Eusébio foi bispo de Cesareia e realizou sua formação na biblioteca aí fundada por Orígenes. Sua produção intelectual foi notável, estendendo-se a campos muito diversos. Seu trabalho mais importante foi a História Eclesiástica, na qual se dispôs a narrar a trajetória do cristianismo até o tempo de Constantino. Nela praticou um gênero literário diverso dos relatos históricos precedentes. Trata-se de figura ainda controversa, tanto por sua ambiguidade teológica quanto por sua apologia do Império Cristão. O objetivo do presente trabalho é tratar das avaliações sobre Eusébio presentes em dois textos contemporâneos. O primeiro, de Eduardo Hoornaert, considera-o como um retórico que seria essencialmente oposto à tradição profética do cristianismo. O segundo, do Papa Bento XVI, toma-o como um estudioso que soube reconhecer os sinais do amor de Deus na história.

Por vontade de Deus: a investida sassânida de 614-618 no espelho cristão

Livro de Anais da 10º Semana de História Política (Rio de Janeiro, 2015), Jan 2016

Em 614 exércitos persas ocuparam a cidade de Jerusalém. Quatro anos mais tarde tomaram Alexandria... more Em 614 exércitos persas ocuparam a cidade de Jerusalém. Quatro anos mais tarde tomaram Alexandria, estabelecendo uma ocupação duradoura. Tal campanha, que expôs de modo dramático a fragilidade da autoridade bizantina sobre as províncias levantinas e africanas do Império Romano, implicou danos severos para a infraestrutura religiosa da região, já abalada por mais de um século de violentos conflitos deflagrados por polêmicas teológicas. Pretende-se retomar documentos que tratam dessa investida persa – duas vidas constantes da História do Patriarcado Copta de Alexandria e o relato da invasão de Jerusalém por Antíoco Estratego – para pensar como os invasores foram representados em fontes eclesiásticas.

Aryara contra os Filhos da Noite: fantasia e ciência em um conto de Robert E. Howard

Círculo de Giz, Jul 2015

O objetivo do presente trabalho é apontar como na narrativa de "Os Filhos da Noite", de Robert E.... more O objetivo do presente trabalho é apontar como na narrativa de "Os Filhos da Noite", de Robert E. Howard, publicada originalmente em 1931 pela revista Weird Tales e marcada pela regressão e/ou alucinação, imbricam-se temas da literatura fantástica e da discussão antropológica do começo do século XX.

As várias fibras da túnica inconsútil: a história do cristianismo como mosaico e como rede

Coletânea, Oct 2014

O presente artigo, de caráter exploratório e experimental, trata da possibilidade e possíveis ben... more O presente artigo, de caráter exploratório e experimental, trata da possibilidade e possíveis benefícios de se redimensionar a história do cristianismo apartando-o de uma suposta essência ocidental e ocidentalizante, levando-se em conta sua composição multicultural e, portanto, sua heterogeneidade constitutiva. Para tanto, o trabalho compõe-se de três partes. Na primeira, avalia-se o grave silenciamento a respeito das experiências cristãs na Ásia e na África presente na maior parte das histórias do cristianismo produzidas por ocidentais. Na segunda, indicam-se algumas das motivações que podem conduzir à elaboração de narrativas históricas menos eurocêntricas sobre as trajetórias do movimento dos seguidores de Jesus Cristo. Na terceira, faz-se a recensão do primeiro volume da obra História do Movimento Cristão Mundial, de Dale T. Irvin e Scott W. Sunquist, publicado no Brasil em 2004. Trata-se este de um dos poucos textos historiográficos existentes em língua portuguesa que escapam ao lugar comum eurocêntrico que costuma ser a nota característica da maior parte dos trabalhos sobre história do cristianismo existentes no mercado editorial brasileiro.

O Myriobiblon: as miríades de saberes na Bibliotheca de Fócio de Constantinopla. Iniciando um mapeamento da medicina bizantina no século IX

by Alfredo Cruz and Alessandra Viegas

Livro de Anais do Congresso Scientiarum Historia VI (Rio de Janeiro, 2013), Oct 2013

Fócio de Constantinopla (c. 820-891) foi membro da burocracia bizantina, diplomata e eclesiástico... more Fócio de Constantinopla (c. 820-891) foi membro da burocracia bizantina, diplomata e eclesiástico. Nos idos de 840-850, compôs a obra a que chamou "Myriobiblon", ou "Bibliotheca", na qual comentou duzentos e oitenta livros – alguns somente por meio dele nos são conhecidos. Seu principal interesse é a teologia e a história eclesiástica, porém se dedica também a vários outros assuntos. Como pouco se sabe sobre a formação específica de Fócio, sua "Bibliotheca" converte-se em uma súmula de quais volumes um erudito podia ou se interessava em ler na Constantinopla do século IX. Nesta primeira pesquisa, mapearemos sucintamente os códices da "Bibliotheca" que se detêm em obras médicas, visando a descobrir a que autores e escritos Fócio tinha acesso ou interesse para abordar os temas da saúde e da doença.

Os eunucos bizantinos: gênero, religião e poder no Império Romano do Oriente. Resenha de: Ringrose, Kathryn M. "The perfect servant: eunuchs and the social construction of gender in Byzantium" (2003)

Nures, Dec 2017

Resenha crítica de: Ringrose, Kathryn M. "The perfect servant: eunuchs and the social constructio... more

Uma santa que disse não a Roma. Resenha de: Galāwdēwōs. "The life and struggles of Our Mother Walatta Petros: a seventeenth-century african biography of an ethiopian woman" (2015)

Poder & Cultura, Dec 2018

Resenha crítica de: Galāwdēwōs. "The life and struggles of Our Mother Walatta Petros: a seventeen... more Resenha crítica de: Galāwdēwōs. "The life and struggles of Our Mother Walatta Petros: a seventeenth-century african biography of an ethiopian woman". Organização, tradução, introdução e notas de Wendy Laura Belcher e Michael Kleiner. Princeton e Oxford: Princeton University Press, 2015. 544 p., il.

Encontros modernos, feridas antigas. Resenha de: D'Alòs-Moner, Andreu Martínez. "Envoys a Human God: the jesuit mission to christian Ethiopia (1557-1632)" (2015)

Fênix, Oct 2018

Resenha crítica de: D'Alòs-Moner, Andreu Martínez. "Envoys a Human God: the jesuit mission to chr... more

"Contigo pelo caminho, Santa Maria vai". Resenha de: Portella, Rodrigo. "Mirar Maria: reflexos da Virgem em espelhos da História" (2016)

Coletânea, 2018

Resenha crítica de: Portella, Rodrigo. "Mirar Maria: reflexos da Virgem em espelhos da História".... more

Muito mais do que uma sobrevivente. Resenha de: Samuel Noble e Alexander Treiger, "The Orthodox Church in the Arab World (700-1700 AD): an anthology of sources" (2014)

Roda da Fortuna, Sep 2018

Resenha crítica de: Noble, Samuel & Treiger, Alexander (2014). "The Orthodox Church in the Arab W... more

Religião e historicidade: a batalha pela ortodoxia islâmica no Califado Abássida. Resenha de: John Abdallah Nawas, "Al-Ma’mūn, the Inquisition and quest for Caliphal authority" (2015)

Sæculum, Sep 2018

Resenha crítica de: Nawas, John Abdallah. "Al-Ma’mūn, the Inquisition and quest for Caliphal auth... more

Conversas com um gigante. Resenha de: Pauline Allen e Bronwen Neil (orgs.), "The Oxford Handbook of Maximus the Confessor" (2015)

Coletânea, Sep 2018

Resenha crítica de: Allen, Pauline & Bronwen, Neil (orgs.). "The Oxford Handbook of Maximus the C... more

Testemunhos de um mundo partilhado. Resenha de: Michael Philip Penn (org.), "When christians first met muslims: a sourcebook of the earliest syriac writings on Islam" (2015)

Maracanan, Jan 2018

Resenha do livro "When christians first met muslims", publicado em 2015 por Michel Philip Penn, c... more Resenha do livro "When christians first met muslims", publicado em 2015 por Michel Philip Penn, coletânea de documentos, traduzidos e comentados, produzidos por cristãos sírios nos séculos VII a IX, tematizando de diferentes ângulos o fenômeno da ascensão do império árabo-muçulmano, da expansão do Islã e de suas relações com os grupos cristãos então estabelecidos no Oriente Médio.

Oração e experiência cristã no Mediterrâneo Oriental da Antiguidade Tardia e do Medievo. Resenha de: Brouria Bitton-Ashkelony & Derek Krueger (orgs.), "Prayer and worship in eastern christianities (5th to 11th centuries)" (2017)

Revista Brasileira de História das Religiões, Dec 2017

Dentre os documentos referentes à história das religiões, talvez os mais negligenciados pelos pes... more Dentre os documentos referentes à história das religiões, talvez os mais negligenciados pelos pesquisadores são aqueles que dizem respeito, em sentido estrito, à oração individual e comunitária. Esses, contudo, nos remetem a questões que tocam o âmago da experiência do homem religioso no mundo. Essa lacuna é ainda mais grave em se tratando dos estudos dos cristianismos orientais, antigas experiências eclesiásticas que, de um modo geral, ainda são praticamente desconhecidas cá entre nós. A coletânea organizada pelos Professores Brouria Bitton-Ashkelony e Derek Krueger sobre a oração na experiência cristã no Mediterrâneo Oriental da Antiguidade Tardia e do Medievo é uma boa introdução ao tema, que pode nos ajudar a romper esse silêncio.

Outra África, outra Cristandade, outro Israel. Resenha de: Amsalu Tefera, "The Ethiopian Homily on the Ark of the Covenant" (2015)

Revista Brasileira de História das Religiões, Aug 2017

O estudo de história da África e das religiões e religiosidades africanas ainda é feito no Brasil... more O estudo de história da África e das religiões e religiosidades africanas ainda é feito no Brasil quase que só de modo necessariamente vinculado à história das religiões e religiosidades afro-brasileiras e da diáspora africana no Brasil, o que é compreensível em função da história e da conjuntura particular deste tipo de investigação, mas também um tanto quanto limitador. Olhar para outros cenários socioculturais, políticos, econômicos e religiosos na história do continente que não exclusivamente os das sociedades afro-ocidentais envolvidas no ecúmeno imperial lusitano é um dos testes de maturidade para a consolidação cá entre nós dos estudos de história da África e das religiões e religiosidades africanas. Neste sentido, pode ser de grande auxílio o contato com uma obra como a do Prof. Amsalu Tefera dedicada à edição crítica e contextualização da "Dǝrsanä Ṣǝyon", "Homilia [em honra] de Sião", texto do século XV que nos remete a importantes questões referentes à tradição religiosa e à construção da autoridade política da Etiópia medieval.

Cinzas que queimam. Resenha de: Philip Jenkins, "Guerra Santas" (2013)

Sæculum, Dec 2014

Resenha crítica de: Jenkins, Philip. Guerras santas: como quatro patriarcas, três rainhas e dois ... more

O Vodou Haitiano: história e religião

O Vodou Haitiano é um sistema religioso resultante do encontro, diálogo, atrito e emaranhamento d... more O Vodou Haitiano é um sistema religioso resultante do encontro, diálogo, atrito e emaranhamento de tradições diversas de origem africana e europeia, que começou a tomar forma na antiga colônia francesa de Saint Domingue, mais tarde o Haiti, durante o século XVIII. Foi identificado por muitos como demasiado pesado, mesmo demoníaco, e por outros como problemático por evidentemente composto através da mistura de coisas provenientes de partes diferentes. Contudo, estruturando-se em torno dos problemas e demandas de uma população em sua maior parte pobre e camponesa, funcionou como espaço de sociabilidade, de devoção, de lazer, de organização das casas, das famílias e das vizinhanças; além de possuir uma cosmovisão plástica o suficiente para fazer com que seja internamente muito variado e aberto a absorver e retrabalhar todo tipo de elemento externo com o qual tem contato. Também teve um papel relevante na história sociopolítica haitiana, sendo os primeiros documentos a seu respeito intrinsecamente relacionados àqueles que dão notícia das mobilizações dos negros escravizados de Saint Domingue para conquistar a sua liberdade. O objetivo desta oficina é apresentar brevemente esta experiência religiosa, não do ponto de vista de um praticante, mas a partir de um olhar histórico. Para tanto, irá se esboçar uma imagem de sua cosmovisão, de seu panteão e de sua organização enquanto fenômeno religioso produzido por um processo sociocultural particular e fazer um resumo de sua presença na história do Haiti.

Os loa Èrzulie: história e religião no Vodu haitiano

O Vodu haitiano é um sistema de crenças surgido do encontro e hibridismo, realizado em condições ... more O Vodu haitiano é um sistema de crenças surgido do encontro e hibridismo, realizado em condições de forças muito assimétricas, entre o catolicismo e as crenças dos africanos transportados à força para o trabalho escravo na parte francesa da Ilha da Hispaniola. Ele possui uma série de similaridades com o culto aos voduns da África Ocidental e de sua recriação no nordeste brasileiro e em outras regiões americanas, mas também uma série de especificidades que têm a ver com a incorporação em sua mitologia e práticas das relações políticas e religiosas próprias da história do Haiti, região marcada principalmente pelo seu original processo de independência, surgido de uma rebelião escrava, animado pelos ideais republicanos das Revoluções Americana e Francesa, muito estimulado pela peculiar religiosidade local e alvo de uma sistemática sabotagem da parte dos demais países ocidentais. O Vodu haitiano é organizado ao redor do culto aos loa, espíritos de diversos tipos, que se manifestam entre os seres humanos através de atos prodigiosos ou da incorporação em determinados médiuns, em cerimônias especificamente destinadas a isso. Os loa são organizados em nações e linhagens, reunidos de acordo com sua origens, relações e personalidades. Uma destas linhagens é a das Èrzulie, espíritos femininos muito populares e importantes no sistema vodu, bons para se pensar como este funciona e como se conjugam em seu interior elementos históricos e religiosos de procedências diversas. O objetivo desta oficina é, partindo de uma breve caracterização da história do Haiti e do Vodu, e fazendo um breve inventário sinóptico dos loa Èrzulie, tratar de algumas questões referentes às relações entre história e religião.

Entre Cristo e os Orixás: cristianismo e religiões de matriz africana na história do Brasil

A história das relações entre o cristianismo e as religiões de matriz africana é constitutiva da ... more A história das relações entre o cristianismo e as religiões de matriz africana é constitutiva da história do Brasil e tão antiga quanto a chegada dos primeiros africanos trazidos como escravos ao território conquistado pelos portugueses na América. Ela tem sido marcada por uma notável assimetria de forças das partes forçadas à convivência, ensejando fenômenos de conversão forçada, resistência e hibridismo religioso. Não se trata, contudo, de um campo de pura e simples oposição, nem mesmo de permanente atrito, pois mobiliza agentes sociais e instituições diversas em um largo tempo e espaço; para constatar isso, basta observar as oscilações verificadas na prática e no discurso católico em relação à Umbanda e ao Candomblé durante o século XX, assim como a presença atual dos temas do sincretismo e da africanização na prática e no discurso dos membros das religiões de matriz africana em relação aos símbolos e valores católicos integrados por suas tradições em períodos anteriores. Pretende-se nesta oficina, portanto, apresentar de modo sintético as relações estabelecidas entre o cristianismo e as religiões de matriz africana na história do Brasil, partindo da observação do discurso católico a respeito de seu outro religioso afro-brasileiro, inventariando suas fases significativas e apresentando algumas de suas tendências e recorrências. Como estudo de caso, irá se privilegiar a consideração de pronunciamentos feitos por atores-autores católicos e a forma como percebem e constroem a si mesmo e a alteridade religiosa associada às religiões de matriz africana através de suas práticas e discursos. Espera-se desta forma ajudar a dimensionar o problema da intolerância e do conflito inter-religioso contemporâneo no Brasil em perspectiva histórica.

Linha, novelo e leque: algumas sinuosidades no relacionamento entre história e memória

Uma questão com a qual se deparou todo professor de História, especialmente aquele chamado a fala... more Uma questão com a qual se deparou todo professor de História, especialmente aquele chamado a falar diante de um público de não historiadores, é a seguinte: como você, que não estava lá, pode me dizer que isto aconteceu? Eu mesmo, quando criança, fiz muitas vezes esta pergunta, algumas vezes em voz alta; em última instância, é ela que determina o cuidado todo particular que este tipo de estudioso normalmente tem com as referências bibliográficas e documentais que integra e questiona em sua pesquisa. Tal pergunta, só aparentemente simples, conduz em um átimo ao cerne da distinção entre história e estória, entre o relato não apenas verossímil, mas verídico, e a invencionice, a ficção e a mentira.

Uma antropologia universal para pensar o local: o Acervo Castro Faria

Nesta comunicação se tece uma reflexão a respeito da prática de pesquisa antropológica de Luiz de... more Nesta comunicação se tece uma reflexão a respeito da prática de pesquisa antropológica de Luiz de Castro Faria. Usa-se como principal fonte para a discussão os processos de organização e doação de seu acervo pessoal ao Arquivo de História da Ciência do Museu de Astronomia e Ciências Afins (AHC-MAST/MCT), que até o recebimento deste conjunto de documentos custodiava os acervos apenas de cientistas ligados às ciências exatas e da natureza. Busca-se evidenciar como no arranjo e nesta destinação dos registros de seu trabalho, assim como em algumas de suas formulações a respeito do que deveria ser a pesquisa antropológica, articula-se a observação do local com a formulação de um conhecimento científico de validade universal.

Ecologia e história em dois textos de Luiz de Castro Faria (1942-1944)

Livro de Anais do Congresso Scientiarum Historia VI (Rio de Janeiro, 2013), Oct 2013

Luiz de Castro Faria integrou-se como estagiário na Seção Antropologia e Etnografia do Museu Naci... more Luiz de Castro Faria integrou-se como estagiário na Seção Antropologia e Etnografia do Museu Nacional (MN) em 1936. Em 1938 participou da Expedição à Serra do Norte, e em 1942 foi contratado como naturalista do MN. Nos anos 1940, encontrava-se vinculado ao referencial de pesquisa antropológica da ecologia humana, ou seja, a um paradigma científico que não comportava uma dissociação absoluta entre ciências biológicas e sociais. Analisa-se aqui como foram abordadas por este autor o processo histórico e o relacionamento dos grupos humanos com o meio natural nos textos "Notas sobre Santa Catarina", de 1942, e "Garimpos", de 1944. Com isto, objetiva-se compreender melhor que tipo de conhecimento que podia produzir um cientista vinculado à tradição de pesquisa do MN no período considerado.

Chamada para a primeira edição do Boletim do Grupo de Estudos sobre História do Oriente Cristão (GEHOC)

O Grupo de Estudos sobre História do Oriente Cristão (GEHOC) objetiva lançar um boletim anual com... more O Grupo de Estudos sobre História do Oriente Cristão (GEHOC) objetiva lançar um boletim anual com contribuições acadêmicas originais, resenhas e recensões críticas, notas de pesquisa, entrevistas e traduções de documentos e trabalhos relevantes disponíveis até agora apenas em língua estrangeira. Sua finalidade é de fomento acadêmico e de divulgação cultural, não estando, portanto, relacionado a fins lucrativos de qualquer ordem. A princípio, seu formato será unicamente digital, mas não se descarta a possibilidade de uma futura edição impressa, viabilizada via financiamento colaborativo.

Em concordância com o espírito do GEHOC, o boletim aceitará trabalhos que versem sobre história, teologia, política, espiritualidade, práticas religiosas, características linguísticas e características culturais referentes às comunidades do Oriente Cristão, em seu ambiente nativo ou na diáspora, em qualquer período de sua existência. De modo subsidiário, acolhe também trabalhos comparativos, discussões teórico-metodológicas sobre o estudo do/s cristianismo/s, estudos sobre relacionamentos ecumênicos e inter-religiosos nos quais estejam engajados os cristãos orientais, e textos referentes a outras questões conexas de história, cultura e religião médio-oriental, leste-europeia, afro-oriental e assim por diante.

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GEHOC intends to publish an annual report with original academic contributions, reviews and critical reviews, research notes, interviews, and translations of documents and relevant works available only in foreign languages until now. Its purpose is the academic instigation and the cultural dissemination, therefore not being for-profit. At first, it will be exclusively in a digital format, however it does not dismiss the possibility of a print publishing in the future, through crowdfunding.

In accordance with the GEHOC spirit the report will accept works on history, theology, politics, spirituality, religious practices, and linguistic and cultural characteristics regarding communities from Christian East in their native or diaspora environment, in any period of their existence. Additionally embrace comparative works, theoretical and methodological discussions on Christianity or Christianities, studies on ecumenical and interreligious relationships which Eastern Christians have been engaged, and texts referring to other related issues of middle eastern, eastern European, afro-eastern history, religion, and culture, and so on.

Antes do ser humano: três recentes filmes lovecraftianos.

Jesus de Nazaré como ponte entre cristãos e muçulmanos

A caixa aberta: aproximação ao Concílio Vaticano II

O Cisma Oriente-Ocidente: revisando os momentos-chave

Compartilhando de longos séculos de história comum e tendo por fundamentação doutrinária básica a... more Compartilhando de longos séculos de história comum e tendo por fundamentação doutrinária básica a adesão às fórmulas proclamadas como ortodoxas nos Sete Concílios Ecumênicos (325-787) realizados no âmbito do antigo Império Romano Cristão, a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa encontram-se separadas como dois corpos independentes, muitas vezes rivais, nos últimos quase mil anos de existência do cristianismo. Apesar da aproximação institucional experimentada desde o Concílio Vaticano II (1962-1965) entre o papado romano e os patriarcas greco-ortodoxos, a divisão entre duas das maiores e mais antigas porções do movimento cristão continua sendo motivo de escândalo e de interpretações simplistas, não raro fundadas em um desconhecimento básico das circunstâncias históricas nas quais se deu aquilo que justamente foi chamado de Grande Cisma ou, de forma mais técnica, simplesmente de Cisma Oriente-Ocidente. Este curso objetiva retomar de forma sinóptica alguns dos momentos-chave que levaram a esta grande cisão e seu aprofundamento, de modo a fornecer aos alunos elementos básicos para situar historicamente a realidade da divisão entre católicos e ortodoxos.

Um sinal para os crentes: a Virgem Maria entre cristãos e muçulmanos

Pode-se afirmar, sem sombra de dúvida, que desde o início do movimento dos seguidores de Muḥammad... more Pode-se afirmar, sem sombra de dúvida, que desde o início do movimento dos seguidores de Muḥammad (primeira metade do século VII AD), a figura da Virgem Maria ocupou proeminente lugar na espiritualidade e teologia islâmicas. Os muçulmanos designam a mãe de Jesus como Maryam, nome proveniente do Corão, e não poucas vezes também a chamaram como Sayyida, que corresponde mais ou menos ao título honorífico de Senhora com que ela desde muito cedo foi designada no Ocidente. Seu lugar de relevo encontra-se intimamente vinculado ao papel ocupado no Islã por seu filho Jesus, ‘Īsā, que aí, contudo, não é considerado como o Filho de Deus, mas como eminente profeta, o mais importante depois do próprio Muḥammad. Considerar como o Islã representou a figura da Virgem Maria é pensar como uma das maiores religiões do mundo assimilou gigantesca figura de outra, uma atividade tanto de interesse histórico-cultural quanto de importante implicação para o diálogo inter-religioso contemporâneo. Por outro lado, também é uma oportunidade de olhar com maior cuidado para certas raízes cristãs cujo contato com a prática e crença do cristianismo contemporâneo parecem ter se rompido, mas que em tempo anterior irrigaram a fé viva de grande número de pessoas. Sendo assim, o objetivo do curso é fornecer uma introdução sintética a essas questões, procurando dimensioná-las no interior de adequado contexto histórico.

Jesus de Nazaré no Islã

Apresentação introdutória da figura de Jesus de Nazaré no Corão e na tradição islâmica, com ênfas... more Apresentação introdutória da figura de Jesus de Nazaré no Corão e na tradição islâmica, com ênfase especial para seu papel no processo de interação entre cristãos e muçulmanos ao fim do primeiro milênio da era cristã. Jesus de Nazaré é um personagem eminente no Corão, na espiritualidade, na escatologia e no folclore islâmicos, que o consideram como profeta, atribuindo-lhe os títulos de Messias e Palavra de Deus, mas negando que seja Deus ou Filho de Deus, ou que tenha sofrido a morte na cruz. As principais fontes de informação a seu respeito no interior da tradição islâmica são as menções que lhe são feitas no Corão e as parábolas e ditos que se lhe atribuem em várias obras de exegese, jurisprudência e história produzidas em contextos muçulmanos. Este curso objetiva fazer uma apresentação sinóptica de como Jesus é figurado no Islã, perguntando-se sobre as fontes desta imagem e sobre o seu papel no processo inicial de interação entre cristãos e muçulmanos.

Introdução aos antigos cristianismos africanos

A ideia de uma contraposição dura entre cristianismo e religiões de matriz africana surge, entre ... more A ideia de uma contraposição dura entre cristianismo e religiões de matriz africana surge, entre outras coisas, de dois pressupostos conexos e historicamente equivocados. O primeiro é o mito de que a religião cristã é pouca coisa mais do que um apêndice ou aparelho ideológico da dominação europeia. O segundo é o de que a expansão ou retração do cristianismo estão intrinsecamente vinculadas à sorte das culturas do Ocidente. Este enquadramento, contudo, distorce amplamente o padrão histórico de crescimento deste movimento religioso ao longo do tempo, principalmente caso se considere o primeiro milênio de sua existência. Entretanto, ele pode ser dissipado, por exemplo, caso se considere as histórias das antigas igrejas autóctones do território africano, que durante séculos disputaram a preeminência do mundo cristão com as comunidades eclesiásticas da Ásia e da Europa. O objetivo deste curso é fazer uma abordagem sinóptica e introdutória destas experiências religiosas africanas, com a explícita pretensão de borrar alguns dos lugares comuns muito enraizados sobre a história do cristianismo e a história da África.

Cristianismos orientais: introdução à história das antigas igrejas apostólicas (séculos I a VII)

Abordagem sinóptica a respeito das especificidades históricas e das principais questões teológica... more Abordagem sinóptica a respeito das especificidades históricas e das principais questões teológicas que marcaram as trajetórias das comunidades cristãs da Europa Oriental, da Ásia e da África desde a pregação dos apóstolos até às vésperas do surgimento do Islã. Para fazê-lo de forma adequada, dar-se-á especial atenção às questões da diversidade dessas igrejas do período tardo-antigo e medieval e à historicidade dos debates realizados neste âmbito sobre a natureza divina. Assim sendo, de modo mais geral, também objetiva-se mostrar qual seu valor e importância para o cristianismo mundial de hoje, e o que podemos aprender com essas experiências cristãs diversas da ocidental.

A Igreja e a Mesquita - contatos iniciais. Experiências de diálogo e confronto entre cristãos e muçulmanos no primeiro milênio da era cristã (622 a 1000)

O curso objetiva reconstituir de maneira analítica as diversas relações de contato cultural e con... more O curso objetiva reconstituir de maneira analítica as diversas relações de contato cultural e conflito estabelecido entre os diferentes grupos de cristãos da segunda metade do primeiro milênio da era cristã e o islamismo nascente, com vistas a contribuir para um redimensionamento da história das relações entre cristãos e muçulmanos, presa relativamente fácil das distorções e dos estereótipos politicamente orientados.

Guerras por Jesus: teologia e conflito na Antiguidade Tardia

Com a ascensão do cristianismo à religião oficial do Império Romano, a controvérsia religiosa pas... more Com a ascensão do cristianismo à religião oficial do Império Romano, a controvérsia religiosa passou a ser uma questão de Estado. Dada a diversidade das abordagens dos grupos cristãos estabelecidos na bacia mediterrânica sobre os pontos mais básicos de sua fé, e a divergência de suas pautas de atuação política, a polêmica religiosa transbordou das reuniões de cúpula e tomou as cidades e campos, assumindo a forma de verdadeiros conflitos civis. Neste jogo em que participaram imperadores, bispos, cortesãos, monges, princesas, chefes bárbaros e as multidões urbanas, o prêmio era o direito de estabelecer qual a definição correta da natureza de Jesus Cristo. Grande parte do caráter religioso do mundo que conhecemos foi moldado por esse conflito, centrado no período circunvizinho aos Concílios de Éfeso (431) e Calcedônia (451), e o objetivo deste curso é retomá-lo de maneira analítica.

Conversão de Constantino: cristianização do Império ou imperalização da Igreja?

Em um curto período do século IV depois de Cristo, o movimento de seus seguidores passou de perse... more Em um curto período do século IV depois de Cristo, o movimento de seus seguidores passou de perseguido pelas autoridades imperais a confissão pessoal de fé do Imperador Romano. O ingresso de Constantino na comunidade cristã marcou profundamente tanto o Império sob seu governo quanto a crença institucionalizada ao qual aderiu, colocando em ação forças sociais que iriam modificar profundamente as relações entre Estado, religião e cultura no mundo romano e áreas circunvizinhas. As repercussões históricas desses acontecimentos podem ser sentidas ainda hoje. O objetivo deste curso é refletir sobre estas modificações e repercussões, assim como sobre algumas de suas leituras nos campos do discurso religioso e da análise histórica.

Os dois primeiros séculos de interações cristão-muçulmanas na "História do Patriarcado Copta de Alexandria" de Severo de Hermópolis

Concha sobre concha: o estudo e a conservação dos sambaquis na correspondência entre Luiz de Castro Faria e Pe. João Alfredo Rohr (1960-1971)

Este trabalho reconstitui e interpreta o relacionamento entre o antropólogo Luiz de Castro Faria ... more Este trabalho reconstitui e interpreta o relacionamento entre o antropólogo Luiz de Castro Faria e o arqueólogo Pe. João Alfredo Rohr, S.J., conforme este é testemunhado pela documentação epistolar, administrativa e fotográfica constante no Acervo Castro Faria, custodiado pelo Arquivo de História da Ciência do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Rio de Janeiro). Tal relação se constituiu em torno das questões interligadas do estudo e da conservação dos sítios arqueológicos pré-colombianos conhecidos como sambaquis, e, de forma mais específica, daqueles localizados no litoral do Estado de Santa Catarina. A produção e uso imediato da documentação referida estendeu-se de 1960 a 1971, e, para fazê-la mais rentável como fonte para a história da ciência, incluiu-se junto de sua análise a consideração de outros documentos que dizem respeito a como Castro Faria avaliava a obra de Pe. Rohr, e de como ambos se situavam na estrutura objetiva do campo científico da arqueologia brasileira e em relação aos debates aí surgidos. Para dar conta desta análise de forma satisfatória, reconstituindo a prática científica e a militância em favor da preservação dos sambaquis nas quais se empenharam estes agentes, buscou-se compor uma imagem de suas trajetórias culturais e vínculos sociais diversos, ponderando a respeito de quais afinidades e divergências estes lhe propunham, e de como eles concorreram para dar uma feição especifica à sua interação. § This work reconstructs and interprets the relationship between the anthropologist Luiz de Castro Faria and archaeologist Fr. João Alfredo Rohr, S. J., as testified by the documentation epistolary, administrative and photographic in the Castro Faria Collection, under custody of the Archives of the History of Science from the Astronomy and Sciences Museum (Rio de Janeiro). Such relationship was constituted around the interconnected issues of the study and preservation of pre-Columbian archaeological sites known as middens (sambaquis), and, more specifically, those located on the coast of the State of Santa Catarina. The production and use of the referred documentation were from 1960 to 1971, and to make it more effective as a source for the History of Science, it included their analysis, considering other documents that concern how Castro Faria evaluated the work of Fr Rohr, and how both had a position in the objective structure of the scientific field of Brazilian archeology and about the debates arisen then. To account this analysis in a satisfactory way, reconstituting the scientific practice and the militancy in favor of the preservation of the middens, in which these agents were engaged, we attempted to compose a picture of their cultural backgrounds and different social ties, considering which affinities and divergences they proposed, and how they combined to give a specific feature of their interaction.

Interações político-religiosas no Egito em época de transição: o caso do Patriarcado Copta de Alexandria do papado de Benjamin ao de Simão (622-701), seus antecedentes e imediatos desdobramentos

O presente trabalho objetiva discutir as interações político-religiosas estabelecidas pelo Patria... more O presente trabalho objetiva discutir as interações político-religiosas estabelecidas pelo Patriarcado Copta de Alexandria no período dos governos patriarcais de Benjamin a Simão (622-701), assim como alguns de seus antecedentes e imediatos desdobramentos. Pretende-se desta forma abordar as questões da atuação política e da formação da identidade copta sob o duplo impacto da continuidade da polêmica teológico-eclesiástica estruturada na sua recusa da ortodoxia imperial bizantina fundada no Concílio de Calcedônia (451) e da conquista árabo-muçulmana do Egito (639-641). A argumentação se estrutura em três etapas sucessivas e complementares. Por primeiro, um dimensionamento do papel do Egito no interior do ecúmeno romano, desde sua anexação pelo Império até os desdobramentos do Concílio de Calcedônia. Em seguida, uma reconstituição da conjuntura político-religiosa e da atuação dos agentes sociais egípcios quando da conquista árabo-muçulmana, atentando para seus imediatos antecedentes e desdobramentos. Em terceiro, uma descrição analítica das interações estabelecidas pelo Patriarcado Copta de Alexandria desde a anexação do Egito pelo jovem Califado até o início do século VIII, atentando para a inserção destas no âmbito específico da dhimmitude. Procura-se, por fim, pensar o impacto de tais interações na constituição da identidade copta como uma comunidade que se descreve como firmemente ortodoxa, autóctone e permanentemente sofredora, assim como da complexa relação entre esta autoimagem e a tradição de ação direta do cristianismo egípcio. A pesquisa fundou-se na leitura da História dos Patriarcas da Igreja Copta de Alexandria, crônica oficial desta instituição, assim como, de modo secundário, de outros documentos de época informativos sobre a situação do cristianismo egípcio nos períodos considerados.

Introdução histórica ao maniqueísmo: a "Religião da Luz" no mundo das trevas

Surgido no século III d.C. na Mesopotâmia submetida ao domínio persa a partir uma complexa e orig... more Surgido no século III d.C. na Mesopotâmia submetida ao domínio persa a partir uma complexa e original mistura de elementos religiosos provenientes do cristianismo, do judaísmo, do zoroastrianismo e do budismo, o maniqueísmo se estendeu por virtualmente todos os centros do mundo então conhecido, desde os confins mais ocidentais da Europa até a costa chinesa, onde sobreviveu de forma autônoma até o século XVII. Única religião da Antiguidade Tardia cujo sistema foi seguramente concebido por seu criador como dotada de um caráter universal e aparato institucional, rivalizou fortemente com a Igreja Cristã em seu crescimento, deixando-lhe também, tanto de forma direta quanto indireta, algumas marcas duradouras, assim como fez em outros meios religiosos bastante diversos entre si, incluindo certas correntes islâmicas, indianas, budistas e tibetanas. O objetivo deste curso é traçar um esboço histórico deste movimento religioso, partindo, para isso, de uma narrativa a respeito da vida de seu fundador e de seu momento histórico, destacando as origens, diálogos, atritos e consequência desta forma extraordinariamente popular, plástica e niilista de gnosticismo.