Papers by Christine A Chaves
Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, por qualquer meio, se... more Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, por qualquer meio, seja ela total ou parcial, constitui violação da Lei nº 5.988.
Festas da política 3 2 Festas da política Festas da política Uma etnografia da modernidade no ser... more Festas da política 3 2 Festas da política Festas da política Uma etnografia da modernidade no sertão (Buritis/MG) christine de alencar chaves Rio de Janeiro
Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, por qualquer meio, se... more Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, por qualquer meio, seja ela total ou parcial, constitui violação da Lei nº 5.988. C438m 01-0110 O problema sociológico consiste em procurar, através das diferentes formas de imposição exterior, as diferentes espécies de autoridade moral correspondentes, e em descobrir as causas que determinaram essas últimas.

Cheguei à hora combinada. Não precisei bater, pois a porta da sala estava, como sempre, aberta. A... more Cheguei à hora combinada. Não precisei bater, pois a porta da sala estava, como sempre, aberta. As palavras exatas, assim como a data do encontro, perderam-se na memória. Não há, porém, como esquecer o ano, 1989, nem o diálogo curto-a concisão é uma virtude cultivada nos gestos, na escrita e na fala de minha interlocutora. Para mim, aquele foi um bom encontro, um encontro decisivo que mudaria o rumo da minha os daqueles anos de redemocratização: eu queria entender os fundamentos teóricos e os condicionantes sociais da vertente autoritária do pensamento social brasileiro do início do século XX, e assim investigar supostas articulações com a história recente do país recém-saído do regime militar. O pensamento autoritário parece formar uma espécie de matriz de sentimentos, ideias, atitudes e práticas imemoriais que, infelizmente, reverberam renovados no solo social e moral do Brasil no alvorecer do novo milênio. Naquele encontro, porém, recebi um convite à etnografia e, com o apoio que o acompanhou, senti-me encorajada a desafiar a timidez escondida no gosto que então sustentava pelo estudo teórico: saí à busca dos dragões escondidos na experiência de campo. 1 Aos iniciantes da antropologia, a lição é repetida: é preciso "examinar dragões" (Peirano, 1992b, 2006b), ou seja, buscar o "sentido de surpresa" 2 invariavelmente trazido pela pesquisa (Peirano, 1995c:136). Esse convite à etnografia não foi episódico, reconhecidamente uma marca forte da obra 3 de Mariza Peirano expressa no continuado esforço reflexivo dedicado ao tema em seus escritos, mas também presente-o que provavelmente apenas os seus alunos saibam-em sua forma de ensinar e orientar. A defesa do projeto antropológico como inerentemente etnográfico é uma tomada de posição teórica de Mariza que se expressa em vários campos para além da teoria: aparece analiticamente na antropologia da antropologia por ela empreendida em sua tese de doutorado, 4 desdobra-se em sua continuada reflexão comparativa sobre a antropologia feita no Brasil e alhures, ressurge em sua etnografia dos documentos, estende-se ao exame dos modos de reprodução e transmissão da disciplina no país

Em 17 de abril, há vinte anos, 1.300 sem-terra chegavam a Brasília com a Marcha Nacional por Refo... more Em 17 de abril, há vinte anos, 1.300 sem-terra chegavam a Brasília com a Marcha Nacional por Reforma Agrária, Emprego e Justiça, organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra-MST. Foram dois meses de caminhada diária em que sem-terra de diferentes estados da federação atravessaram o território brasileiro partindo de São Paulo, Governador Valadares e Cuiabá. Reunidos nessas cidades em 17 de fevereiro, acampados e assentados do MST passaram a integrar as três Colunas que formavam a Marcha Nacional. Em suas fi leiras, os sem-terra buscaram atravessar pontos diversos do território nacional seguindo diferentes itinerários rumo a Brasília, cada qual completando um percurso superior a mil quilômetros. Mais que estradas, porém, a Marcha Nacional atravessou o solo moral do país ao colocar em xeque os fundamentos da ordem democrática e conclamar a "sociedade brasileira" a reconhecer como problema a concentração da riqueza e da terra, o desemprego, a violência, a injustiça e a impunidade nela reinantes. Vinte anos depois, o dia escolhido pelos sem-terra para chegarem a Brasília permanece um símbolo de violência e impunidade: 17 de abril, data do massacre de Eldorado dos Carajás pela polícia militar do Estado do Pará 2. Ao longo de todo o trajeto, nas ruas e praças de vilas e cidades por que passou, a razão de ser da Marcha Nacional era exposta em palavras de ordem, hinos, representações teatrais, canções e discursos. Uma sequência padronizada defi nia a sua passagem pelos centros urbanos: entrada das duas fi leiras de marchantes na cidade, desfi le pelas ruas e avenidas principais até a praça central, comício a céu aberto seguido de nova caminhada rumo ao local de pouso. Usando referenciais simbólicos consagrados, 1 Fotografi as e apresentação são o resultado de pesquisa de campo realizada junto ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra-MST, cujo fruto foi um trabalho etnográfi co sobre a Marcha Nacional. 2 No massacre de Eldorado dos Carajás resultou no assassinato de 21 trabalhadores sem-terra, 69 feridos, alguns com seqüelas graves. Em 17 de abril de 1996, 150 policiais militares, armados de fuzis e sem identifi cação nas fardas, foram destacados pelo governador Almir Gabriel para interromper a caminhada dos trabalhadores. Dos vinte e um trabalhadores assassinados, dez foram executados, nove foram mutilados até a morte com suas próprias ferramentas de trabalho e dois faleceram em decorrência dos ferimentos recebidos. Apenas dois comandantes da operação foram condenados, o Coronel Mário Colares Pantoja e o Major Oliveira; nem os policiais militares, nem a autoridade civil tiverem sua participação apurada. Nesses vinte anos, 271 trabalhadores rurais foram assassinados apenas no estado do Pará.
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