Papers by Carlos Vinicius Frota de Albuquerque
ALBUQUERQUE, Carlos Vinicius Frota de. Ta na agua de beber: culto aos ancestrais na capoeira. 201... more ALBUQUERQUE, Carlos Vinicius Frota de. Ta na agua de beber: culto aos ancestrais na capoeira. 2012. 134f. – Dissertacao (Mestrado) – Universidade Federal do Ceara, Programa de Pos-graduacao em Sociologia, Fortaleza (CE), 2012.

O Brasil, ao longo do século XIX, era tido como um locus privilegiado para pesquisas, tendo sido ... more O Brasil, ao longo do século XIX, era tido como um locus privilegiado para pesquisas, tendo sido visitado por diversos viajantes naturalistas europeus. No entanto, a partir da década de 1870, um ideário cientificista começa a ganhar força no Brasil, deixando este de ser apenas um objeto de pesquisa, e passando a apresentar-se como uma nação que valorizava a produção científica. Uma elite intelectual brasileira, com base em uma racionalidade positivista, buscava pensar a organização das populações dos centros urbanos, passando a se congregar a partir de instituições de pesquisa e de ensino. O regime escravocrata encontrava-se fragilizado, ganhando força a campanha abolicionista. A abolição era vista como uma necessidade para que o Brasil se integrasse à modernidade. A aproximação do fim da escravidão, que veio a se concretizar em 1888, tornava, para a elite dirigente, central a preocupação com a substituição da mão de obra e a conservação da hierarquia social. Em meio a este contexto, as teorias raciais se apresentavam enquanto modelo teórico nas definições acerca da identidade do brasileiro e na busca de elucidação dos problemas do país. A desigualdade racial é uma construção social e epistemológica, em torno da qual se estrutura um sistema de poder socioeconômico, de exclusão e exploração. A racionalidade moderna surgiu no Brasil embebida em uma ciência positivista, tendo como traço marcante o determinismo biológico das teorias eugenistas. O negro viu-se submetido a situações de pauperização e anomia social, não tendo tido condições de acompanhar o processo de expansão urbana que se desenvolvia e sendo submetido a processos de não-existência. Com a introdução no Brasil de um ideário cientificista, começa a haver nas grandes cidades a adoção de programas de saneamento e de higienização. "Tratava-se de trazer uma nova racionalidade científica para os abarrotados centros urbanos, implementar projetos de cunho eugênico que pretendiam eliminar a doença, separar a loucura e a pobreza." (Schwarcz, 1993: 34) A medicina social ganha destaque tendo como preocupação central a degeneração da raça. Para este contexto, a noção de biopoder, de Michel Foucault, apresenta-se como central. Foucault analisa como a partir do surgimento do Estado governamentalizado prioriza-se todo um conjunto de saberes e dispositivos de segurança que se ocupam do controle das populações, porém convivendo com mecanismos jurídico-legais e mecanismos disciplinares. A vida biológica converte-se então em objeto do governo. O biopoder apresenta-se como poder sobre a vida e sobre a morte. Aqui o direito do soberano de fazer morrer e deixar viver é substituído pelo poder de fazer viver e deixar morrer. Também se faz fundamental a discussão proposta por Foucault em torno do racismo de Estado, que aparece no século XIX. Em um contexto de guerra das raças, o Estado terá como objetivo garantir a integridade e a pureza racial da população. O exercício do poder torna-se da ordem da normalização, desempenhando a medicina importante papel.
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