Papers by Anélia Pietrani
Texto Poético, 2021
A poética de Ferreira Gullar é uma busca constante pelo tangível e pelo momento vivido agora. Nes... more A poética de Ferreira Gullar é uma busca constante pelo tangível e pelo momento vivido agora. Neste artigo, apresentamos uma leitura de seu poema “Bananas podres” (1991), explorando a ideia de concretude e do contato com o real. Partimos de uma comparação com o gênero de pintura natureza-morta, ressignificando-o em um processo de transformação: um caminho até tornar-se paisagem. Pensando o conceito de Michel Collot sobre paisagem, analisamos a mudança no poema de Gullar como uma experiência de movência e afeto, contrastando com a premissa estática e repleta de morte de uma natureza-morta.

Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, 2021
Os papelões retornam a Carolina. Dessa vez, na encadernação de seu livro de poemas, finalmente pu... more Os papelões retornam a Carolina. Dessa vez, na encadernação de seu livro de poemas, finalmente publicados, em 2019, com o título que a poeta havia escolhido para ele: Clíris. Com organização de Ary Pimentel e Raffaella Fernandez, Clíris: poemas recolhidos reúne aos 56 poemas e às 14 canções de Carolina Maria de Jesus o prólogo que a própria autora escreveu e dois posfácios assinados por Raffaella Fernandez e Regina Dalcastagnè. O livro convoca seu leitor a abrir-se à reflexão já em sua capa: o sentido da forma escolhida pela Desalinho Publicações e a Ganesha Cartonera para a artesania dessa publicação estabelece com o conteúdo dos poemas uma perfeita isomorfia. "O papelão descartado é nossa riqueza (os refugos da nossa sociedade)". A frase estampa uma das postagens do professor Ary Pimentel na página de Facebook da Ganesha Cartonera, editora independente criada em 2018, baseada na Faculdade de Letras da UFRJ e em duas favelas do Rio de Janeiro: Nova Holanda (Maré) e Morro da Babilônia (Leme). A poesia de Carolina sobe o morro num livro impresso na gráfica Book7, em papel Offset 75g/m², usando fontes tipográficas Adobe Garamond e Master Of Break. Lá chegando, o livro, que saiu do (digamos) prelo, recebe a capa confeccionada do papelão das caixas compradas de catadores de rua. A mão entra em cena. O papelão é cortado, dobrado, pintado e costurado ao livro pelos oficineiros da Ganesha Cartonera. O que foi antes surge agora em um novo ciclo: o livro é protegido pela capa irrepetível. Assim, único, sai das mãos da artesania e se materializa nas mãos para a leitura. O leitor, então, pode recolher a poesia de Carolina Maria de Jesus. No caso de Clíris, o processo de recolha e reciclagem também é a riqueza de seu conteúdo. Os poemas de Carolina recolhem os "refugos da sociedade": negros, operários, assalariados, presidiários, colonos das fazendas, empregadas domésticas, mal amados, mulheres traídas, o poeta, a poetisa. Alguns títulos de poemas do livro podem ser ilustrativos desse aspecto: "Os feijões", "Negros", "Súplica do mendigo", "O custo de vida atual", "Agruras de poeta", "A empregada", "Barracão" "Operário", "Súplica de poetisa", "O colono e o fazendeiro", "Súplica do encarcerado", "Muitas fugiam ao me ver", "Riso do poeta", "Será que pedi a Deus para nascer?", "Humanidade", "Quadros". Ela segue, assim, a linha traçada por muitos poetas que compreendem o poder que a palavra poética tem de fazer com que o real se apresente poeticamente, reconhecendo na poesia tanto sua função de expressão das experiências mais íntimas e profundas do ser humano quanto sua função de ação. A liricidade de Carolina Maria de Jesus é, nesse sentido, atravessada pela política da escrita (Rancière, 1995) que tensiona o sentimento individual, único, e a radical e profunda expressão do todo. Em sua palavra lírica, torna-se uma constante o revelar-se do eu no espelho que vê imagens de outros/outras em si mesma, com suas angústias, solidões, medos, indignações, revoltas. Isso significa que sua poesia suplanta o contexto particularizante e, como pretende a lírica moderna (ou talvez a de todos os tempos), conflui para a universalização. Carolina tem consciência de que, na singularidade do sujeito lírico, enreda-se o drama coletivo, potencializando a máxima de Adorno em sua antológica Palestra sobre lírica e sociedade, de 1957: "Só entende aquilo que o poema diz quem escuta, em sua solidão, a voz da humanidade" (Adorno, 2003, p. 67). Essa lírica radical aparece emoldurada nas 85 quadras do poema "Quadros", de que destacamos algumas como exemplo: Eu disse: o meu sonho é escrever! Responde o branco: ela é louca. O que as negras devem fazer...

LUCIA HELENA concluiu o doutorado em Letras (Ciência da Literatura) pela Universidade Federal do ... more LUCIA HELENA concluiu o doutorado em Letras (Ciência da Literatura) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1983. Realizou o Pós-Doutorado em Literatura Comparada na Brown University, em 1989. Aposentada do departamento de Ciência da Literatura da UFRJ, onde lecionou Teoria da Literatura até 1992. Atualmente é professora Titular Aposentada da Universidade Federal Fluminense. Até o momento, publicou 57 capítulos de livros e 12 livros de autoria individual, além de ter organizado 6 livros coletivos. Orientou e supervisionou, intensamente, mais de 50 dissertações de Mestrado, teses de Doutorado, pesquisas de Pós-doutorado e Bolsas PIBIC, também na área de Letras. Coordenou diversos projetos de pesquisa. Atua na área de Letras, com ênfase em Teoria Literária, Literatura Comparada e Literatura Brasileira. Mais recentemente tem se dedicado à Literatura inicialmente produzida na África e de expressão inglesa, abordando, em especial, a obra de J. M.Coetzee, hoje radicado na Austrália. Criou e dirigiu, em 1993, o Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Mulher na Literatura, NIELM, na Faculdade de Letras da UFRJ. E criou e lidera, desde 1995 até o presente, o grupo de Estudos CNPQ/UFF "Nação e narração". Tem lecionado, como professora visitante, cursos no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa; no exterior, deu cursos como visitante, a saber,

SOLETRAS, 2020
A partir da recolha de textos publicados na imprensa do século XIX brasileiro sobre as poetas Nar... more A partir da recolha de textos publicados na imprensa do século XIX brasileiro sobre as poetas Narcisa Amália (1852-1924) e Amália Figueiroa (1845-1878), este artigo pretende examinar a recepção crítica das duas autoras nos jornais e nas revistas da época, de modo a reunir elementos sobre como elas eram apresentadas aos leitores ou às leitoras, como suas obras eram abordadas, que aspectos comuns às duas eram aludidos, que relações eram estabelecidas entre suas obras e a experiência de cada poeta, que diferenças se evidenciam entre o ponto de vista de redatores masculinos e femininos. Além disso, pretende-se interpretar os textos críticos publicados por Narcisa Amália, dando destaque a seu ensaio sobre a poesia de Amália Figueiroa, como um modelo de sororidade literária em defesa da emancipação e educação da mulher. Busca-se, desse modo, propor reflexões que levem à discussão e compreensão do esquecimento ou apagamento das escritoras no cânone historiográfico da literatura brasileira.
Interdisciplinar - Revista de Estudos em Língua e Literatura, 2020
Este ensaio pretende refletir sobre as relações entre poesia, educação e compromisso social de Ce... more Este ensaio pretende refletir sobre as relações entre poesia, educação e compromisso social de Cecília Meireles, percorrendo a visão ecopoética na leitura de sua obra. Objetiva-se, com isso, destacar sua ética pacifista tanto como educadora quanto como poeta, tomando como ponto principal de análise comparativa os poemas “Lamento do oficial por seu cavalo morto”, do livro Mar absoluto (1945), e “Elegia a uma pequena borboleta”, de Retrato natural (1949). PALAVRAS-CHAVE: Cecília Meireles. Ecopoesia. Lírica social. Pacifismo.

Revista Graphos, 2020
Tomando por relevo as relações político-textuais e político-contextuais dos estudos literários, e... more Tomando por relevo as relações político-textuais e político-contextuais dos estudos literários, este artigo tem por objetivo interpretar poemas de Gilka Machado (1893-1980), cuja produção teve início naquele momento nomeado por alguns críticos historiográficos como pré-modernismo, um período de transição que reúne tendências conservadoras e renovadoras no início do século XX brasileiro. A poesia de Gilka Machado estabelece diálogos com essas tendências literárias, mas constrói uma voz poética muito própria, marcada por intensa carga de erotização e por reflexões sobre o papel social e cultural das mulheres – temáticas já amplamente estudadas pela fortuna crítica da autora, que podem ser bastante enriquecidas quando conjugadas à abordagem sobre a consciência poética que ela expressa em sua poesia. Exemplo significativo dessa comunhão de aspectos se encontra no poema “Lépida e leve”, publicado em Meu glorioso pecado (1928), cuja leitura interpretativa dos traços imagéticos, estilístic...
Revista Légua & Meia, 2019
Este artigo tem o propósito de refletir, sob uma perspectiva literária, acerca da caracterização ... more Este artigo tem o propósito de refletir, sob uma perspectiva literária, acerca da caracterização das mulheres presentes em Os sertões, de Euclides da Cunha, partindo do estudo de Mireille Dottin-Orsini (1996) sobre a representação da mulher fatal na arte da segunda metade do século XIX. Considerando que a construção das imagens de mulheres no livro de Euclides atravessa tanto o estilo gótico quanto o expressionismo, objetiva-se também discutir como a presença feminina na obra estabelece relação com o projeto do autor de escrever um livro vingador, de denúncia ao crime perpetrado pelo Exército brasileiro em Canudos, a fim de compreender que a existência das mulheres no arraial, tal como figuradas por Euclides em seus “quadros de guerra” (BUTLER, 2015), significa sua própria resistência.

O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira, 2016
Este artigo tem por objetivo fazer um estudo interpretativo do conto “Judas-Asvero”, de Euclides ... more Este artigo tem por objetivo fazer um estudo interpretativo do conto “Judas-Asvero”, de Euclides da Cunha, um dos mais importantes intelectuais no Brasil do final do século XIX e início do século XX. Publicado no livro À margem da história, cuja primeira edição data de 1909, o conto assume, na vasta obra do autor de Os sertões, um lugar de destaque, pela unidade temático-imagística e pelo tratamento estético que o escritor lhe confere, ao retratar a situação de trabalho e sobrevivência do seringueiro do Alto Purus, no Acre. Em um discurso em que o ensaio e a ficção parecem não ser antípodas, “Judas-Asvero” pode ser considerado bom exemplo de texto integrante do conjunto de narrativas curtas do início do século XX que promove reflexão sobre o complexo processo literário brasileiro, especialmente no que concerne às discussões acerca dos vínculos entre literatura e sociedade.
Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, 2015
Na obra da jovem poeta mineira Ana Martins Marques, autora de A vida submarina e Da arte das arma... more Na obra da jovem poeta mineira Ana Martins Marques, autora de A vida submarina e Da arte das armadilhas, a sensibilidade feminina e a disciplina estética são marcas significativas. Ler seus poemas, especialmente seus metapoemas, e a arquitetura de seus textos faz-nos situar a novíssima poesia brasileira na atualidade do século XXI, de modo a refletir sobre o papel, o valor e o lugar da poesia na contemporaneidade, como potência e busca de significados em que confluem a razão ética e a poética.
Pensares em Revista, 2012
Este artigo tem por objetivo refletir sobre o papel do narrador no livro Os sertões (1902), de Eu... more Este artigo tem por objetivo refletir sobre o papel do narrador no livro Os sertões (1902), de Euclides da Cunha (1866-1909), no que concerne à aliança entre ciência e arte em seus escritos, bem como sobre sua singularidade estética no período histórico e literário do início do século XX brasileiro, o chamado Pré-modernismo, especialmente tomando por apoio teórico-filosófico a conceituação de ironia romântica, segundo Friedrich Schlegel, em consonância com o que a filósofa Hannah Arendt compreende por uma das atividades espirituais básicas: o ato de pensar. Palavras-chave: Euclides da Cunha. Romantismo alemão. Reflexão. Literatura e sociedade.

Metamorfoses, 2020
por meio do qual serão exploradas as relações entre a proposição, desde os títulos, de uma recupe... more por meio do qual serão exploradas as relações entre a proposição, desde os títulos, de uma recuperação de imagens míticas clássicas de mulheres e o contexto contemporâneo das marcações de espaço e tempo presentes nos dois contos; e o sociocrítico, quando serão abordadas as leituras que os contos fazem das situações de tensão que caracterizam as relações de gênero e a inserção das mulheres nos espaços sociais no âmbito de uma sociedade que, em pleno século XXI, ainda mantém vivas estruturas patriarcais rígidas e violentas. Nesse segundo recorte, o estudo dialogará, especialmente, com Yanetsy Pino Reina (2018), Helena Parente Cunha (2006) e Giorgio Agamben (2009), de modo a evidenciar como Hühne se apropria do repertório mítico clássico para bordar seu próprio discurso de resistência nos contos de Maria e as outras, com especial destaque para os dois contos que configuram o corpus deste artigo. PALAVRAS-CHAVE: conto contemporâneo; Leda Miranda Hühne; imagem mítica; discurso de resistência.
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