Papers by Patrick Pardini
Propõe-se aqui analisar o singular processo de composição do mosaico fotográfico Urublues (Memori... more Propõe-se aqui analisar o singular processo de composição do mosaico fotográfico Urublues (Memorial dos Povos, Belém, 2004 - projeto concebido e coordenado por Miguel Chikaoka) e explorar seus efeitos em termos de polissemia artística. Assim, a obra passa a ser experimentada coma "máquina barroca"; sistema "heliocêntrico"; dispositivo duplamente perspectivista; gerador/disseminador de pontos de vista excêntricos; produtor do múltiplo, do descontínuo e do heterogêneo; objeto crítico, "revelador" da pr6pria fotografia; forma plástica tensionada entre o figurativo e o abstrato; imagem "carnavalizada"; simulacro do simulacro; gesto artístico movido pela vontade redobrada/desvairada de jogo e artifício e pela subversão irônica, lúdica e espe tacular dos seus modelos (o mosaico figurativo e o puzzle).

Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 2012
As an artistic experience, the photographic research "Arborescence - plant physiognomy in Am... more As an artistic experience, the photographic research "Arborescence - plant physiognomy in Amazonian landscape" conduces the author to discover landscape as an interpenetration of Nature and Culture (man's indirect presence; being face to face with vegetable subjects); continuity, undifferentiation and equivalence between the 'natural' (heterogeneous, spontaneous, native, rural) and the 'cultural' (homogeneous, cultivated, exotic, urban) in the experience of landscape; arborescence as a "cosmic image" (Gaston Bachelard), where the high (sky, light, branches, sky water) and the low (earth, shade, roots, land water) are equivalent and reversible poles. Such experience echoes the eco-cosmology of forest societies in Amazonia. The Amerindian cosmology is a "symbolic ecology" (Philippe Descola), that is, "a complex dynamics of social intercourse and transformations between humans and non-humans, visible and invisible subjects" (B...

Managed and cultivated by humans for millennia, the Amazon rainforest was altered, but (as the su... more Managed and cultivated by humans for millennia, the Amazon rainforest was altered, but (as the subject of its own renovation) is still a forest. In other words, Amazonia became 'anthropogenic' – both cultural and natural, the result ofa two-way relationship between subjects: Man and the Forest, with the activities of one not nullifying those of the other. Thanks to anthropology, we know that the indigenous societies of Amazonia confer the dignity of a person or subjecton non-humans. The relationship between subjects (symmetrical, dialogic, reciprocal) is an ethical as well as poetical relationship. On the other hand, what prevails in western civilization is the subject-object relationship (asymmetrical, authoritarian, dominating), which generates Nature as an object, opposed to Man as a subject, the sole bearer of Culture. Meanwhile, "the other as an object" means denying the other and denying ethics. This is the substance ofthe radical alterity of indigenous ways ...

Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas
Resumo Cultivada, manejada pelos humanos durante milênios, a floresta amazônica alterou-se, torno... more Resumo Cultivada, manejada pelos humanos durante milênios, a floresta amazônica alterou-se, tornou-se ‘outra’, sem deixar de ser floresta; manteve a sua autonomia de sujeito – sujeito da sua própria renovação e reprodução. Em outras palavras, a Amazônia tornou-se ‘antropogênica’ – a um só tempo cultural e natural, fruto de uma relação de mão dupla entre sujeitos: o Homem e a Floresta, na qual a ação de um não anula a do outro. Graças à Antropologia, sabemos que as sociedadesindígenas da Amazônia conferem dignidade de pessoa ou sujeito aos não humanos. A relação entre sujeitos (simétrica, de troca e reciprocidade) é uma relação ética e também poética. Por outro lado, o que prevalece na civilização ocidentalé a relação sujeito-objeto (assimétrica, autoritária, de poder e dominação), da qual se origina a Natureza-objeto, em oposição ao Homem-sujeito, único detentor de Cultura. Ora, ‘o outro como objeto’ é a negação do outro e a negaçãoda ética. Nisso reside a alteridade radical dos mod...

Qual é o sentido que se pode atribuir a esta associação entre "autoria" e "fotografia" que a pala... more Qual é o sentido que se pode atribuir a esta associação entre "autoria" e "fotografia" que a palavra autografia sugere, auxiliada pelas suas irmãs autografar e autógrafo? "Autoria fotográfica", "fotografia autoral", "fotografia de autor" são noções essencialmente culturais (a cultura exige autoria e autores, obras assinadas, autógrafos) que a própria experiência da criação questiona, relativiza e até desmonta. O objetivo desta Autografia 01: Fotografia e Autoria é pensar a criação fotográfica como experiência de desautoria ou de não autoria: quem cria é o outro; o autor é o outro. O outro é fundamentalmente sujeito, e a marca do sujeito é a autonomia. Quem é o outro na Fotografia? Em primeiro lugar, a luz-que manifesta a sua autonomia nas expressões do acaso e do não intencional; a vida imprevisível que se oferece à captura fotográfica. Depois, os sujeitos fotografados (humanos e não humanos), na experiência do retrato. Finalmente, o próprio dispositivo fotográfico (o inumano), quando a Fotografia dispensa o Fotógrafo.

Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia: Brasil Brasis., 2010
"Podem as coisas tomar um rosto? A arte não é uma ati-vidade que confere rosto às coisas? A facha... more "Podem as coisas tomar um rosto? A arte não é uma ati-vidade que confere rosto às coisas? A fachada de uma casa não é uma casa que nos olha?" (Emmanuel Lévinas) Antes de constituir, para a sociedade e a cultura, um gê-nero visual ou uma prática artística, o retrato, para o fo-tógrafo, delimita um tipo de experiência: a relação com su-jeitos, e implica um modo de percepção: a percepção de subjetividades, que é um modo de percepção poética. O retrato, no sentido amplo da palavra e do ponto de vista do fotógrafo, consiste numa relação-geralmente face a face-com sujeitos, ou seja, num encontro com sujeitos ou na descoberta de sujeitos, que podem ser humanos ou não-humanos. Posso experimentar uma casa, uma cidade, um bairro, uma gata, uma árvore como sujeitos-basta que se manifestem numa fisionomia. Há fisionomias urba-nas, fisionomias arquitetônicas, fisionomias minerais, fi-sionomias animais, fisionomias vegetais, e na história da fotografia encontramos facilmente exemplos de retratos de árvores ou de plantas, retratos de casas, retratos de cachorros, de vacas, de bichos empalhados, retratos de monumentos, de montanhas, de caixas d'água...

Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 2012
Enquanto experiência artística, o projeto fotográfico “Arborescência – fisionomia do vegetal na p... more Enquanto experiência artística, o projeto fotográfico “Arborescência – fisionomia do vegetal na paisagem amazônica”
proporciona ao autor uma série de descobertas: a paisagem como entrelaçamento de Natureza e Cultura (a presença
indireta do homem; o face a face com ‘sujeitos vegetais’); as relações de continuidade, indiferenciação e equivalência entre
o ‘natural’ (heterogêneo, espontâneo, nativo, rural) e o ‘cultural’ (homogêneo, cultivado, exótico, urbano) na experiência
da paisagem vegetal; a arborescência como “imagem cósmica” (Gaston Bachelard), onde o alto (céu, luz, galhos, água
celeste) e o baixo (terra, sombra, raízes, água terrestre) são pólos equivalentes e reversíveis. Tal experiência encontra
ressonâncias na eco-cosmologia das sociedades da floresta amazônica. A cosmologia ameríndia é uma “ecologia simbólica”
(Philippe Descola), pois elabora “uma complexa dinâmica de trocas e transformações entre sujeitos humanos e não
humanos, visíveis e invisíveis” (Bruce Albert); a ecologia ameríndia é uma “cosmologia posta em prática” (Kaj Århem), na
qual animais caçados e plantas cultivadas são ‘parentes’ que é preciso seduzir ou coagir. Tal modelo constitui uma forma
de “socialização da natureza” (Descola), de “humanização da floresta” (Evaristo Eduardo de Miranda) e de “antropização
indireta” dos ecossistemas amazônicos (Descola), geradora de “matas culturais” (William Balée).

Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 2020
Resumo: Cultivada, manejada pelos humanos durante milênios, a floresta amazônica alterou-se, torn... more Resumo: Cultivada, manejada pelos humanos durante milênios, a floresta amazônica alterou-se, tornou-se 'outra', sem deixar de ser floresta; manteve a sua autonomia de sujeito-sujeito da sua própria renovação e reprodução. Em outras palavras, a Amazônia tornou-se 'antropogênica'-a um só tempo cultural e natural, fruto de uma relação de mão dupla entre sujeitos: o Homem e a Floresta, na qual a ação de um não anula a do outro. Graças à Antropologia, sabemos que as sociedades indígenas da Amazônia conferem dignidade de pessoa ou sujeito aos não humanos. A relação entre sujeitos (simétrica, de troca e reciprocidade) é uma relação ética e também poética. Por outro lado, o que prevalece na civilização ocidental é a relação sujeito-objeto (assimétrica, autoritária, de poder e dominação), da qual se origina a Natureza-objeto, em oposição ao Homem-sujeito, único detentor de Cultura. Ora, 'o outro como objeto' é a negação do outro e a negação da ética. Nisso reside a alteridade radical dos modos de ser e pensar indígenas com relação ao Ocidente. Essa 'alteridade indígena' tem, para nós, valor de tesouro e sabedoria. Há, porém, um Ocidente criança e poeta que se reconhece nos povos indígenas e na sua experiência de mundo. Palavras-chave: Sujeitos não humanos. Relação ética e poética. Alteridade indígena. Amazônia antropogênica. Sabedoria amazônica. Abstract: Managed and cultivated by humans for millennia, the Amazon rainforest was altered, but (as the subject of its own renovation) is still a forest. In other words, Amazonia became 'anthropogenic'-both cultural and natural, the result of a two-way relationship between subjects: Man and the Forest, with the activities of one not nullifying those of the other. Thanks to anthropology, we know that the indigenous societies of Amazonia confer the dignity of a person or subject on non-humans. The relationship between subjects (symmetrical, dialogic, reciprocal) is an ethical as well as poetical relationship. On the other hand, what prevails in western civilization is the subject-object relationship (asymmetrical, authoritarian, dominating), which generates Nature as an object, opposed to Man as a subject, the sole bearer of Culture. Meanwhile, "the other as an object" means denying the other and denying ethics. This is the substance of the radical alterity of indigenous ways of being and thinking with regard to the West; this "indigenous alterity" for us is a treasure of wisdom. Yet there is a childlike, poetic West that recognizes itself in the indigenous people and in their experience of the world. Keywords: Non-human subjects. Ethical and poetical relationship. Indigenous alterity. Anthropogenic Amazonia. Amazonian wisdom.
Drafts by Patrick Pardini
Neste ensaio de 2019, procura-se investigar, em termos conceituais, o movimento Fridays for Futur... more Neste ensaio de 2019, procura-se investigar, em termos conceituais, o movimento Fridays for Future, iniciado em 2018 pela jovem Greta Thunberg como “greve escolar pelo clima”: seu caráter de novidade absoluta, sua essência revolucionária. Crianças e adolescentes do mundo inteiro, movidos pelo senso de urgência, interrompem sua educação para “dar uma lição” aos adultos, e porque “não faz sentido preparar-se para um futuro que está ameaçado”. O sentido da revolução está no fato de crianças se assumirem como educadoras da classe política e como sujeitos de uma ação política; cumprirem a promessa do novo nelas depositada (Arendt); praticarem a “potência destituinte” (Agamben) contra os adultos; exercerem uma autoridade moral e política sobre os adultos: a autoridade inerente aos “habitantes do futuro que não foram consultados” (Zoja).
Uploads
Papers by Patrick Pardini
proporciona ao autor uma série de descobertas: a paisagem como entrelaçamento de Natureza e Cultura (a presença
indireta do homem; o face a face com ‘sujeitos vegetais’); as relações de continuidade, indiferenciação e equivalência entre
o ‘natural’ (heterogêneo, espontâneo, nativo, rural) e o ‘cultural’ (homogêneo, cultivado, exótico, urbano) na experiência
da paisagem vegetal; a arborescência como “imagem cósmica” (Gaston Bachelard), onde o alto (céu, luz, galhos, água
celeste) e o baixo (terra, sombra, raízes, água terrestre) são pólos equivalentes e reversíveis. Tal experiência encontra
ressonâncias na eco-cosmologia das sociedades da floresta amazônica. A cosmologia ameríndia é uma “ecologia simbólica”
(Philippe Descola), pois elabora “uma complexa dinâmica de trocas e transformações entre sujeitos humanos e não
humanos, visíveis e invisíveis” (Bruce Albert); a ecologia ameríndia é uma “cosmologia posta em prática” (Kaj Århem), na
qual animais caçados e plantas cultivadas são ‘parentes’ que é preciso seduzir ou coagir. Tal modelo constitui uma forma
de “socialização da natureza” (Descola), de “humanização da floresta” (Evaristo Eduardo de Miranda) e de “antropização
indireta” dos ecossistemas amazônicos (Descola), geradora de “matas culturais” (William Balée).
Drafts by Patrick Pardini
proporciona ao autor uma série de descobertas: a paisagem como entrelaçamento de Natureza e Cultura (a presença
indireta do homem; o face a face com ‘sujeitos vegetais’); as relações de continuidade, indiferenciação e equivalência entre
o ‘natural’ (heterogêneo, espontâneo, nativo, rural) e o ‘cultural’ (homogêneo, cultivado, exótico, urbano) na experiência
da paisagem vegetal; a arborescência como “imagem cósmica” (Gaston Bachelard), onde o alto (céu, luz, galhos, água
celeste) e o baixo (terra, sombra, raízes, água terrestre) são pólos equivalentes e reversíveis. Tal experiência encontra
ressonâncias na eco-cosmologia das sociedades da floresta amazônica. A cosmologia ameríndia é uma “ecologia simbólica”
(Philippe Descola), pois elabora “uma complexa dinâmica de trocas e transformações entre sujeitos humanos e não
humanos, visíveis e invisíveis” (Bruce Albert); a ecologia ameríndia é uma “cosmologia posta em prática” (Kaj Århem), na
qual animais caçados e plantas cultivadas são ‘parentes’ que é preciso seduzir ou coagir. Tal modelo constitui uma forma
de “socialização da natureza” (Descola), de “humanização da floresta” (Evaristo Eduardo de Miranda) e de “antropização
indireta” dos ecossistemas amazônicos (Descola), geradora de “matas culturais” (William Balée).