Papers by Rui Paes Mendes
O conceito de cidade-jardim O conceito de cidade-jardim formulado por Ebenezer Howard consistia n... more O conceito de cidade-jardim O conceito de cidade-jardim formulado por Ebenezer Howard consistia numa reflexão e reacção em relação ao crescimento urbano ditado pela industrialização de padrão locativo urbano que tornava as cidades cada vez mais caóticas, insalubres, sobrepovoadas, potenciadoras de promiscuidade e desajustadas, portanto, à vida em comunidade. A bibliografia sobre a cidade-jardim é imensa e já lhe dedicamos cuidada atenção noutro momento e contexto. Assim, num esforço de clarificação de conceitos, aqui se transcreve parte daquele contributo, simplificado pelo corte de alguns parágrafos e de muitas das referenciações bibliográficas, consultáveis no original1:

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana, 2015
Resumo A Cidade da Beira, é um estudo de caso complexo e ímpar no que se refere à implementação d... more Resumo A Cidade da Beira, é um estudo de caso complexo e ímpar no que se refere à implementação das ideias modernistas em países tropicais. A cidade tornou-se próspera em virtude dos elevados rendimentos providenciados pela sua interface ferro-portuário que a ligava à Rodésia/Zimbabwe e constituía a base da sua riqueza, atraindo jovens ambiciosos e talentosos arquitectos e engenheiros civis portugueses que construíram uma urbe paradoxal, repleta de edifícios modernistas emblemáticos, plenos de complexas e pouco ortodoxas soluções técnicas que preenchem um plano urbanístico único na África colonial portuguesa. Este artigo discute o processo de expansão da cidade assente numa matriz modernista, profundamente influenciado pelo imaginário arquitectónico e urbano brasileiro procurando sublinhar a inscrição da influência modernista na lógica de expansão da cidade como opção técnica e política. Paralelamente discute a importância da circulação das ideias e modelos urbanos e arquitectónicos...

As urbes mocambicanas sao frequentemente cidade duais, coexistindo numa mesma cidade duas realida... more As urbes mocambicanas sao frequentemente cidade duais, coexistindo numa mesma cidade duas realidades morfotipologicas claramente distintas, temporal e tecnicamente diferenciaveis, mas interdependentes e imbricadamente ligadas entre si. A cidade de cimento e a cidade herdada do poder, uma cidade para aqueles que dominavam e onde assentava a estrutura administrativa do territorio. Como o nome indica, uma cidade edificada em materiais nobres, perenes, e estruturada formalmente de forma planeada e, pelo menos pretensamente, mais racional. No entanto, fruto do crescimento economico e da consequente demanda de mao-de-obra para o sector industrial que se instalava nas cidades mocambicanas, nasceram nas franjas dessas urbes outras cidades ou novas partes da mesma cidade, improvisadas pelas gentes provenientes do hinterlandproximo e do interior mais longinquo, que trazem modos de vida proprios e ancestrais e os incorporam no espaco urbano. Esses novos espacos, bairros originalmente "esp...

URBE - Revista Brasileira de Gestão Urbana, 2012
A ditadura portuguesa condicionou a vida de Portugal durante grande parte do séc. XX, procurando ... more A ditadura portuguesa condicionou a vida de Portugal durante grande parte do séc. XX, procurando regular todos os sectores da vida portuguesa à vontade do Estado, indo sua intervenção até a uma imposição do gosto e da estética dos seus cidadãos que se refletiram na arquitetura e no urbanismo. Os arquitetos portugueses, inicialmente conformados a uma política de encomenda do Estado Novo, vêm a ser influenciados com o advento do modernismo, com forte impacto junto às novas gerações de arquitetos que se formam na década de 1940. A nova visão preconizava que a arquitetura deveria aproximar-se dos anseios do cidadão, numa linguagem internacional que conduziria à própria reorganização da cidade. Essa visão é fortemente influenciada pela produção arquitetónica brasileira, que se revelaria essencial, pois do ponto de vista climático era muito semelhante ao continente africano, existindo diversas soluções e técnicas já experimentadas e saberes sedimentados que poderiam ser transpostos para aquele contexto. Até a independência, as colónias portuguesas experimentam um conjunto de intervenções arquitetónicas e urbanísticas influenciadas pelo modernismo brasileiro. Com a independência, a generalidade dos arquitetos regressa a Portugal, introduzindo novas contribuições estilísticas na paisagem urbana portuguesa, mas alguns partem (também) para o Brasil, estabelecendo sua atividade naquele país.
22Nd Isuf Conference City As Organism New Visions For Urban Life, Feb 4, 2015

EIBEA 2019 ENCONTRO IBEROAMERICANO DE ESTUDOS DO ANTROPOCENO, 2019
Nas últimas décadas a humanidade tem assistido à eclosão de diversas ameaças de doenças declarada... more Nas últimas décadas a humanidade tem assistido à eclosão de diversas ameaças de doenças declaradas pandémicas. Os vírus da Gripe A, do Ébola ou o Zika, entre outros, representaram preocupações que ocuparam (e ocupam) os órgãos de comunicação social, a opinião pública e os decisores políticos, conjugando esforços para a contenção desses e de outros vírus com grande poder letal. Esta conjuntura pandémica que a nossa civilização e o nosso tempo têm vivido, mais não é do que uma das faces de um problema complexo que assenta raízes fundas no desenvolvimento tecnológico e social. Nos últimos duzentos anos, desde o dealbar da Revolução Industrial, o Homem tem quebrado as barreiras do espaço e do tempo. Continentes que outrora eram terra ignota, estão hoje profusamente mapeados; povos que estavam literalmente a anos de distância, encontram-se hoje tão próximos quanto o tempo que um voo intercontinental demore. A vertigem do desenvolvimento tecnológico a que assistimos teve (tem) consequências. Essa tecnologia, obra do engenho humano que permitiu a qualidade de vida de metade da população mundial e se tornou símbolo do progresso e das conquistas tecnológicas da humanidade é a mesma que mostra que esse mesmo engenho, esse mesmo progresso, é a maior ameaça à sobrevivência da humanidade e que um dos seus grandes inimigos tem uma dimensão microscópica.

A paisagem presta-se a inúmeras leituras consoante os contextos geográficos, culturais e individu... more A paisagem presta-se a inúmeras leituras consoante os contextos geográficos, culturais e individuais do observador. É um suporte que tem tanto de físico como de imaterial que resulta da sua condição de espaço cultural porque construído pelo Homem seja ao nível da sua forma, como dos (pré)conceitos do olhar. A proposta do presente artigo assenta numa reflexão sobre o conceito como unidade de estudo e de compreensão do mundo como entidade construída (ou a construir) e a sua (re)interpretação ou apropriação pelas expressões artísticas. Esta síntese provocada pelo observável (espaço exterior) e pelo sentido (domínio do indivíduo) contribui fortemente para a transformação cultural da paisagem, especialmente numa sociedade altamente mediatizada como a ocidental.
Landscape lends itself to numerous interpretations depending on the geographical , cultural and individual observer. It is an unit that is both physical as intangible that results from its status as a cultural space, built by man in terms of their shape and characteristics, as well as with individual (pre)concepts. e aim of this article is set on a ree ection on the concept of landscape as a unit of study and interpretation of the world as a cra ed entity (or in process of construction) and its (re)interpretation or appropriation by di erent artistic expressions. is synthesis caused by the observable (physical space) and the senses (of the individual domain) contributes meaningfully to the cultural transformation of the landscape, especially in a highly mediated society as Western.

A Cidade da Beira, é um estudo de caso complexo e ímpar no que se refere à implementação das idei... more A Cidade da Beira, é um estudo de caso complexo e ímpar no que se refere à implementação das ideias modernistas em países tropicais. A cidade tornou-se próspera em virtude dos elevados rendimentos providenciados pela sua interface ferro-portuário que a ligava à Rodésia/Zimbabwe e constituía a base da sua riqueza, atraindo jovens ambiciosos e talentosos arquitectos e engenheiros civis portugueses que construíram uma urbe paradoxal, repleta de edifícios modernistas emblemáticos, plenos de complexas e pouco ortodoxas soluções técnicas que preenchem um plano urbanístico único na África colonial portuguesa. Este artigo discute o processo de expansão da cidade assente numa matriz modernista, profundamente influenciado pelo imaginário arquitectónico e urbano brasileiro procurando sublinhar a inscrição da influência modernista na lógica de expansão da cidade como opção técnica e política. Paralelamente discute a importância da circulação das ideias e modelos urbanos e arquitectónicos no meio dos arquitectos e engenheiros civis portugueses radicados em Moçambique. Metodologicamente os autores procederam a um trabalho de campo assente no reconhecimento da matriz da cidade e na identificação do legado arquitectónico modernista de influência brasileira, seleccionando de entre o edificado os exemplos mais emblemáticos.
A cidade de cimento é a cidade herdada do poder colonial, uma cidade para aqueles que dominavam e... more A cidade de cimento é a cidade herdada do poder colonial, uma cidade para aqueles que dominavam e onde assentava a estrutura administrativa dos territórios: edificada em materiais nobres e estruturada de forma racional. O crescimento económico e a procura de mão-de-obra para o sector industrial que se instalava nas cidades, origina nas franjas das urbes cidades improvisadas, de gentes provenientes do interior que trazem para as cidades modos de vida próprios e ancestrais que incorporam no espaço urbano. Tecnicamente opostas, estes espaços estabelecem relações de interdependência muito fortes.
As urbes moçambicanas são frequentemente cidade duais, coexistindo numa mesma cidade duas realida... more As urbes moçambicanas são frequentemente cidade duais, coexistindo numa mesma cidade duas realidades morfotipológicas claramente distintas, temporal e tecnicamente diferenciáveis, mas interdependentes e imbricadamente ligadas entre si.

A imensidão do espaço africano e as suas características climáticas tornou-se o espaço (improváve... more A imensidão do espaço africano e as suas características climáticas tornou-se o espaço (improvável) para a sedimentação da concepção urbana de Ebenezer Howard. É nas colónias, nomeadamente em África, que o modelo da “cidade-jardim” se expande, traduzindo todo um repertório estilístico e urbanístico que atenuava os constrangimentos orográficos e climáticos, adequava-se à criação de uma linguagem formal de monumentalidade para subjugação dos populações locais, assim como satisfazia a necessidade de segregação racial no espaço urbano, tão caro aos poderes coloniais.
A expansão da cidade-jardim no espaço tropical fez-se essencialmente no período entre as duas guerras mundiais, embora no caso do universo colonial português tenha conhecido o seu apogeu após a II Guerra Mundial. É em áfrica que encontramos algumas das mais interessantes e espectaculares realizações da cidade-jardim que serviu de modelo económico a criação de elementos cénicos de demonstração de supremacia do colono sobre o colonizado permitindo, simultaneamente, a criação de um zonamento urbano que segregava a população em estratos raciais e sociais. Foi assim um pouco por todo o continente africano independente do poder colonial dominante fosse em Nairobi, em Dakar ou em Lourenço Marques (Maputo).
As características formais das cidades-jardins europeias eram, no espaço tropical, adaptados à arquitectura dos trópicos e orientados para alojar a população branca dominante: espaços amplos e ajardinados, edifícios de baixa volumetria, vias largas em orientação que favorecesse a circulação do ar. Por sua vez, a população negra estabelecia-se na periferia em habitações modestas e de má qualidade e sem grandes preocupações higienistas. Estes bairros eram do ponto de vista urbanístico provisórios e encarados como áreas de expansão das cidades.
Entre as diversas zonas urbanas eram implantados equipamentos que serviam de cordões sanitários urbanos, nos quais predominava o verde, como ferramenta de embelezamento do espaço urbano através da construção de parques e campos de golfe para lazer da população branca ou assimilada com estatuto económico.
Esta estrutura encontra-se em diferentes escalas nos espaços urbanos analisados sendo uma consequência da dimensão da cidade mas igualmente da função que a mesma cidade desempenhava no território. Em Lourenço Marques/Maputo a cidade-jardim encontra-se em redor do núcleo em áreas distintas consoante a classe social e racial: a este a população das classes sociais mais elevadas e relacionada com a administração, a norte a classe média branca e a oeste a classe média assimilada e/ou baixa. No segundo caso em apreço, a cidade de Nampula, bastião militar entre a área norte e a área central de Moçambique, a cidade-jardim faz a ponte entre a área comercial e administrativa e a zona militar, sendo uma área reservada às classes sociais mais privilegiadas. Finalmente na cidade de Porto Amélia/Pemba, devido à sua localização geográfica e climáticas aprazíveis mas igualmente à sua dimensão, o que predomina na matriz original da cidade é a concepção da cidade-jardim que define esse mesmo espaço urbano.
Em suma, aquilo que permanece é que independentemente das abordagens formais de que o conceito de cidade-jardim se revestia, estes eram espaços concebidos para o conforto físico e psicológico do colono que, com a descolonização, são aproveitadas pelas elites autóctones, que transformam o carácter de zonamento racial em zonamento social e, em alguns casos étnicos.

Pela sua posição geográfica e pelas características do relevo, o concelho de Baião, tem-se mantid... more Pela sua posição geográfica e pelas características do relevo, o concelho de Baião, tem-se mantido como uma área pouco permeável ao exterior e moderadamente alterada mesmo quando comparada com a restante região. Encravado entre o rio -Douro -e as serras, o concelho, conhece uma notável diversidade tanto no que respeita aos recursos naturais como aos elementos humanos de fácies histórico-cultural. O relativo isolamento que o tem marcado ao longo dos séculos e ainda hoje, contribuiu para preservar o património e os «modos de vida» numa «harmonia» entre as formas físicas e humanas, entre o material e o imaterial ou entre o passado e o futuro, binómios que pautam a «personalidade» do território. Entre fortes declives e vastas manchas florestais e agrícolas, identificam-se preciosos testemunhos de uma presença humana milenar, em que se sobrepõem camadas civilizacionais desde a pré-história à actualidade, com marcas de praticamente todos os períodos históricos e de tantas convulsões culturais, afinal testemunhos de uma irrecusável e valiosa identidade A análise do território bem como um levantamento exaustivo e rigoroso das suas potencialidades, nas múltiplas componentes referidas, permitem alimentar um debate alargado e integrador sobre os grandes princípios de desenvolvimento do turismo de forma a não coartar as possibilidades de crescimento enquanto são reafirmadas as linhas de responsabilização dos agentes locais envolvidos nesta fase essencial da valorização e da promoção do município de Baião.

A ditadura portuguesa condicionou a vida de Portugal durante grande parte do séc. XX, procurando ... more A ditadura portuguesa condicionou a vida de Portugal durante grande parte do séc. XX, procurando regular todos os sectores da vida portuguesa à vontade do Estado, indo sua intervenção até a uma imposição do gosto e da estética dos seus cidadãos que se refletiram na arquitetura e no urbanismo. Os arquitetos portugueses, inicialmente conformados a uma política de encomenda do Estado Novo, vêm a ser influenciados com o advento do modernismo, com forte impacto junto às novas gerações de arquitetos que se formam na década de 1940. A nova visão preconizava que a arquitetura deveria aproximar-se dos anseios do cidadão, numa linguagem internacional que conduziria à própria reorganização da cidade. Essa visão é fortemente influenciada pela produção arquitetónica brasileira, que se revelaria essencial, pois do ponto de vista climático era muito semelhante ao continente africano, existindo diversas soluções e técnicas já experimentadas e saberes sedimentados que poderiam ser transpostos para aquele contexto. Até a independência, as colónias portuguesas experimentam um conjunto de intervenções arquitetónicas e urbanísticas influenciadas pelo modernismo brasileiro. Com a independência, a generalidade dos arquitetos regressa a Portugal, introduzindo novas contribuições estilísticas na paisagem urbana portuguesa, mas alguns partem (também) para o Brasil, estabelecendo sua atividade naquele país.
As urbes africanas são na sua essência cidades duais. Coexistem num mesmo espaço duas cidades, te... more As urbes africanas são na sua essência cidades duais. Coexistem num mesmo espaço duas cidades, temporal e tecnicamente distantes mas imbricadamente ligadas entre si e interdependentes.
As urbes moçambicanas são cidade duais. Coexistem num mesmo espaço duas cidades, temporal e tecni... more As urbes moçambicanas são cidade duais. Coexistem num mesmo espaço duas cidades, temporal e tecnicamente distantes mas imbricadamente ligadas entre si e interdependentes.

A estrutura urbana da cidade colonial, nomeadamente das mais importantes, privilegia o espaço jun... more A estrutura urbana da cidade colonial, nomeadamente das mais importantes, privilegia o espaço junto ao porto de mar e/ou de rio, ou no interior e com maior premência nos territórios enclavados, da linha de caminho-de-ferro. Aqui confluem as vias de comunicação ferroviárias, crescem empresas, estabelecem-se entrepostos comerciais, enfim, bate o coração económico da cidade. Paralelamente domestica-se o espaço e a paisagem urbana colonial com o que de mais moderno se fazia à altura na Europa (Toulier, 2005). Essa domesticação do espaço mais não era do que o reflexo da importância do comércio que tornava a posse dos territórios uma prioridade estratégica. A estruturação territorial tinha como traves mestras o imperativo económico pois "a acumulação de matérias-primas e alimentos requeria mais do que bases comerciais; dependia da aquisição de território e da organização da produção por forma a manter os custos o mais reduzido possível" (Drakakis-Smith, 2000), implantando e fazendo crescer cidades e vias de comunicação em locais económica e comercialmente centrais que permitissem a exploração e distribuição das matérias-primas e alimentos.
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Landscape lends itself to numerous interpretations depending on the geographical , cultural and individual observer. It is an unit that is both physical as intangible that results from its status as a cultural space, built by man in terms of their shape and characteristics, as well as with individual (pre)concepts. e aim of this article is set on a ree ection on the concept of landscape as a unit of study and interpretation of the world as a cra ed entity (or in process of construction) and its (re)interpretation or appropriation by di erent artistic expressions. is synthesis caused by the observable (physical space) and the senses (of the individual domain) contributes meaningfully to the cultural transformation of the landscape, especially in a highly mediated society as Western.
A expansão da cidade-jardim no espaço tropical fez-se essencialmente no período entre as duas guerras mundiais, embora no caso do universo colonial português tenha conhecido o seu apogeu após a II Guerra Mundial. É em áfrica que encontramos algumas das mais interessantes e espectaculares realizações da cidade-jardim que serviu de modelo económico a criação de elementos cénicos de demonstração de supremacia do colono sobre o colonizado permitindo, simultaneamente, a criação de um zonamento urbano que segregava a população em estratos raciais e sociais. Foi assim um pouco por todo o continente africano independente do poder colonial dominante fosse em Nairobi, em Dakar ou em Lourenço Marques (Maputo).
As características formais das cidades-jardins europeias eram, no espaço tropical, adaptados à arquitectura dos trópicos e orientados para alojar a população branca dominante: espaços amplos e ajardinados, edifícios de baixa volumetria, vias largas em orientação que favorecesse a circulação do ar. Por sua vez, a população negra estabelecia-se na periferia em habitações modestas e de má qualidade e sem grandes preocupações higienistas. Estes bairros eram do ponto de vista urbanístico provisórios e encarados como áreas de expansão das cidades.
Entre as diversas zonas urbanas eram implantados equipamentos que serviam de cordões sanitários urbanos, nos quais predominava o verde, como ferramenta de embelezamento do espaço urbano através da construção de parques e campos de golfe para lazer da população branca ou assimilada com estatuto económico.
Esta estrutura encontra-se em diferentes escalas nos espaços urbanos analisados sendo uma consequência da dimensão da cidade mas igualmente da função que a mesma cidade desempenhava no território. Em Lourenço Marques/Maputo a cidade-jardim encontra-se em redor do núcleo em áreas distintas consoante a classe social e racial: a este a população das classes sociais mais elevadas e relacionada com a administração, a norte a classe média branca e a oeste a classe média assimilada e/ou baixa. No segundo caso em apreço, a cidade de Nampula, bastião militar entre a área norte e a área central de Moçambique, a cidade-jardim faz a ponte entre a área comercial e administrativa e a zona militar, sendo uma área reservada às classes sociais mais privilegiadas. Finalmente na cidade de Porto Amélia/Pemba, devido à sua localização geográfica e climáticas aprazíveis mas igualmente à sua dimensão, o que predomina na matriz original da cidade é a concepção da cidade-jardim que define esse mesmo espaço urbano.
Em suma, aquilo que permanece é que independentemente das abordagens formais de que o conceito de cidade-jardim se revestia, estes eram espaços concebidos para o conforto físico e psicológico do colono que, com a descolonização, são aproveitadas pelas elites autóctones, que transformam o carácter de zonamento racial em zonamento social e, em alguns casos étnicos.
Landscape lends itself to numerous interpretations depending on the geographical , cultural and individual observer. It is an unit that is both physical as intangible that results from its status as a cultural space, built by man in terms of their shape and characteristics, as well as with individual (pre)concepts. e aim of this article is set on a ree ection on the concept of landscape as a unit of study and interpretation of the world as a cra ed entity (or in process of construction) and its (re)interpretation or appropriation by di erent artistic expressions. is synthesis caused by the observable (physical space) and the senses (of the individual domain) contributes meaningfully to the cultural transformation of the landscape, especially in a highly mediated society as Western.
A expansão da cidade-jardim no espaço tropical fez-se essencialmente no período entre as duas guerras mundiais, embora no caso do universo colonial português tenha conhecido o seu apogeu após a II Guerra Mundial. É em áfrica que encontramos algumas das mais interessantes e espectaculares realizações da cidade-jardim que serviu de modelo económico a criação de elementos cénicos de demonstração de supremacia do colono sobre o colonizado permitindo, simultaneamente, a criação de um zonamento urbano que segregava a população em estratos raciais e sociais. Foi assim um pouco por todo o continente africano independente do poder colonial dominante fosse em Nairobi, em Dakar ou em Lourenço Marques (Maputo).
As características formais das cidades-jardins europeias eram, no espaço tropical, adaptados à arquitectura dos trópicos e orientados para alojar a população branca dominante: espaços amplos e ajardinados, edifícios de baixa volumetria, vias largas em orientação que favorecesse a circulação do ar. Por sua vez, a população negra estabelecia-se na periferia em habitações modestas e de má qualidade e sem grandes preocupações higienistas. Estes bairros eram do ponto de vista urbanístico provisórios e encarados como áreas de expansão das cidades.
Entre as diversas zonas urbanas eram implantados equipamentos que serviam de cordões sanitários urbanos, nos quais predominava o verde, como ferramenta de embelezamento do espaço urbano através da construção de parques e campos de golfe para lazer da população branca ou assimilada com estatuto económico.
Esta estrutura encontra-se em diferentes escalas nos espaços urbanos analisados sendo uma consequência da dimensão da cidade mas igualmente da função que a mesma cidade desempenhava no território. Em Lourenço Marques/Maputo a cidade-jardim encontra-se em redor do núcleo em áreas distintas consoante a classe social e racial: a este a população das classes sociais mais elevadas e relacionada com a administração, a norte a classe média branca e a oeste a classe média assimilada e/ou baixa. No segundo caso em apreço, a cidade de Nampula, bastião militar entre a área norte e a área central de Moçambique, a cidade-jardim faz a ponte entre a área comercial e administrativa e a zona militar, sendo uma área reservada às classes sociais mais privilegiadas. Finalmente na cidade de Porto Amélia/Pemba, devido à sua localização geográfica e climáticas aprazíveis mas igualmente à sua dimensão, o que predomina na matriz original da cidade é a concepção da cidade-jardim que define esse mesmo espaço urbano.
Em suma, aquilo que permanece é que independentemente das abordagens formais de que o conceito de cidade-jardim se revestia, estes eram espaços concebidos para o conforto físico e psicológico do colono que, com a descolonização, são aproveitadas pelas elites autóctones, que transformam o carácter de zonamento racial em zonamento social e, em alguns casos étnicos.