Papers by Erick N Vidal
Maloca: revista de estudos indígenas, 2021
Palavras-chave: etnologia; arqueologia; escrita; tradução intersemiótica; desconstrução.
Anais do IV Seminário de Antropologia da UFSCar, 2017
Books by Erick N Vidal

Dissertação de Mestrado - Universidade de São Paulo, 2020
Esta dissertação busca, através de uma discussão da noção de escrita, apresentar um conjunto de p... more Esta dissertação busca, através de uma discussão da noção de escrita, apresentar um conjunto de problemas conceituais atualmente em debate na etnologia americanista em torno da ideia de tradução intersemiótica. Ela recorre, em primeiro lugar, a trabalhos recentes de síntese teórica e a certo número de etnografias mais específicas para caracterizar as distintas propostas conceituais em disputa. Em segundo lugar, reconhecendo, em parte importante deste debate, um conjunto de problemas análogo ao que, ao longo do século XX, definiu a tensão entre linguística e semiótica – e ao qual dá o nome de problema semiológico – busca mostrar o interesse de retomar certas referências dessas disciplinas, bem como da teoria da informação. Para tanto, recorre, em especial, à linguística estrutural (tanto na tradição fonológica de Roman Jakobson quanto na proposta glossemática de Louis Hjelmslev), que serve então de fio condutor da primeira parte do trabalho. Em terceiro lugar, tendo mostrado de que modo a noção de escrita funciona como articulador central do complexo problemático em questão, lança um olhar sobre o problema da escrita nos casos clássicos da arqueologia do Oriente Próximo e do helenismo, para aí reconhecer dilemas conceituais comparáveis aos da etnologia atual. Essa revisão, ponto de partida da segunda parte do trabalho, permite uma releitura da célebre “lição de escrita” de Lévi-Strauss, que de certo modo sintetiza os dilemas do debate. Em último lugar, deve-se observar que o tratamento desses diferentes conjuntos bibliográficos se inspira no trabalho de Jacques Derrida, demonstrando certas afinidades e tensões entre o trabalho filosófico da desconstrução e o trabalho conceitual etnológico.
This discussion of the concept writing strives to lay out a set of conceptual problems currently on debate in Americanist ethnology, which revolve around the notion of intersemiotic translation (or transmutation). It makes use, in the first place, of recent works of theoretical synthesis and of a certain number of more specific ethnographies to charcaterize the main conceptual proposals currently undergoing dispute. Secondly, given its recognition of a set of problems analogous to that which, in the course of the XXth century, defined the tension between linguistics and semiotics – and which we here call the semiological problem – it seeks to show the interest of recovering some references coming from these disciplines, as well as from information theory. It makes special use of structural linguistics (in both the phonological tradition of Roman Jakobson, and the glossematic perspective of Louis Hjelmlsev), which serves as a guide to the first part of this work. Thirdly, having shown how the notion of writing articulates the whole set, it glances at the problem of writing in the classics cases of hellenistic studies and the archaeology of the ancient Near East, where it finds conceptual dilemmas similar to those of contemporary ethnology. This revision, which starts off the second part of the work, allows us to rediscuss Lévi-Strauss’ famous ‘writing lesson’, a text which partly synthesises the whole debate. Finally, it is worth noting that the treatment given to these different aspects finds its inspiration in the work of Jacques Derrida, so that certain affinities and tensions between the conceptual work of ethnology and the philosophical work of deconstruction are suggested.
Ce mémoire essaie de présenter un complexe de problèmes conceptuels actuellement en discussion à l’intérieur de l’ethnologie américaniste touchant à la notion de traduction intersémiotique, et cela à travers une discussion du concept d’écriture. En premier lieu, on fait ici usage de quelques travaux de synthèse théorique, aussi bien que d’un certain nombre d’ethnographies spécifiques, à fin de carcatériser les principaux propositions du débat. Deuxièmement, étant donné qu’on reconnaît là-dedans des analogies avec l’ensemble des problèmes qui a carctériser la tension entre linguistique et sémiotique au long du XXme siècle – et qu’on appelle ici le problème sémiologique – on essai de montre l’intérêt qu’il y a à reprendre certaines références de ces disciplines, aussi bien que de la theórie de l’information. On fait usage, tout spécialement, de la linguistique structurale (aussi bien du côté de Jakobson que du côté de Hjelmslev) qui nous sert donc de conducteur dans la première partie du texte. En troisième lieu, ayant montré la place centrale da la notion d’écriture dans cet ensemble, on jette un coup d’oeil sur la problème de l’écriture dans les cas classiques de la Grèce ancienne, de la Mésopotamie et de l’Égypte. Cete révision nous permet de réévaluer la fameuse ‘leçon d’écriture’ de Lévi-Strauss. Le traitement de ces différents aspects du problème s’inspire, finalmente, de l’oeuvre de Jacques Derrida.
Conference Presentations by Erick N Vidal
I Jornada de Antropologia - USP, 2016
Que tipo de questões cabe colocar acerca da intersemioticidade, nas terras baixas da América do S... more Que tipo de questões cabe colocar acerca da intersemioticidade, nas terras baixas da América do Sul? Peter Gow começava um artigo sobre arte gráfica piro (Amazônia peruana) com uma questão análoga 2 , que traduz, de certo modo, aquela que é, em mais de um sentido, a questão primeira ou, por assim dizer, a questão original, a saber: que

Texto de Apresentação na 33ª RBA
Esta comunicação tem por objetivo mostrar como, na história do... more Texto de Apresentação na 33ª RBA
Esta comunicação tem por objetivo mostrar como, na história dos estudos de parentesco, especialmente na primeira metade do século XX, um tipo de problema se formulou que tem relevância contemporânea, mas em outro campo: aquele das chamadas formas expressivas ou da chamada antropologia da arte. Trata-se da interação entre formas ou níveis de comunicação distintos. Aqui, será esboçada uma demonstração de como a obra de Lévi-Strauss formulou este problema num campo e permite ainda abordá-lo no outro.
A narrativa tradicional – que tem, sem dúvida, sua validade – quanto à abordagem estruturalista do parentesco reserva um lugar de honra a Mauss e ao problema da reciprocidade. A ênfase nesta, no entanto, levou a questionamentos sobre até que ponto a troca é um modelo pertinente, na medida em que ela suporia uma abstrata igualdade entre os polos. O problema real estaria nas desiguldades reais supostas e reproduzidas por ela. Ocorre que, como Bourdieu certa vez salientou, a acusação de ‘panlogismo’ ou de uma ‘visão puramente semiológica’ não se aplica perfeitamente às análises do próprio Lévi-Strauss. Isso nos lança na via de um outro tipo de questionamento e, para resgatá-lo, é útil retornar a história dos estudos de parentesco.
De fato, já a disputa entre Morgan e McLennan supunha um conflito entre duas teorias simbólicas e inaugurava, com a própria antropologia, o campo tenso do logocentrismo: disputa entre a ênfase sobre a linguagem e outros sistemas de signo. Autores como Rivers e Kroeber, Malinowski e Hocart enfrentaram, à sua maneira, dilemas comparáveis, como será indicado. Sobretudo a relação entre práticas relacionais e terminologia de parentesco opôs Kroeber e Radcliffe-Brown, mas ambos buscaram, em formulações diferentes, enfatizar o caráter parcial da integração entre elas. O que fez Lévi-Strauss foi não só reelaborar esse nexo, mas inseri-lo numa teoria mais ampla dos sistemas de comunicação (endossada por Jakobson) incluindo o parentesco, a economia e a linguagem verbal (mas também a arte) – uma teoria, no entanto, que, longe de supor que esses diferentes níveis ou campos se encaixam perfeitamente, oscila entre a busca de um código comum capaz de traduzir a todos e a análise dos seus múltiplos desencontros.
Ora, este é precisamente o tipo de problema enfrentado atualmente por estudiosos de práticas semióticas complexas como a música do Alto Xingu ou as múltiplas tradições de desenho na areia em Vanuatu. Indicá-lo, ainda que esquematicamente, permitirá formular uma indagação sobre a própria essência dos sistemas semióticos em sua potência de transformação e conexão com outros. Ademais, sugerirá uma releitura da história da disciplina do ponto de vista deste problema dito ‘intersemiótico’ que parece novo apenas por uma ilusão historiográfica.
Drafts by Erick N Vidal

Este manuscrito reproduz, quase sem alterações, um "relatório de estágio" para o curso de Licenci... more Este manuscrito reproduz, quase sem alterações, um "relatório de estágio" para o curso de Licenciatura em Ciências Sociais, da Universidade de São Paulo, escrito em Agosto de 2020. Esse tipo de estágio usualmente envolve observações feitas "em campo" em escolas da rede pública ou privada na região metrpolitana de São Paulo, mas o desencadeamento e subsquente agravamento progressivo no Brasil da pandemia de COVID-19 obrigou a Faculdade de Educação, responsável pelo curso, a suspender tal exigência, ao menos na sua forma tradicional. Após certa deliberação interna ao corpo docente, ficou decidido que o relatório seria substituído pela produção de um texto mais livre baseado em reflexões e discussões feitas a partir da bibliografia pertinente e da participação, nas aulas (já em modo remoto), de professores e estudantes das duas redes, convidados a relatar suas experiências recentes 1. As peculiaridades dessa situação (em especial o misto de frustração pelo retorno forçado ao mais tradicional modo de atividade discente e de apreciação das oportunidades oferecidas pelo modo específico como esse retorno se deu) são um dos assuntos tratados abaixo. Movido por preocupações mais recentes em outro campo (aquele da educação escolar indígena, retornei a este texto em busca de antigas referências. Pareceu-me, em retrospecto (e em vista da situação crítica de minha instituição atual que está na raiz de um atual ciclo de greves de docentes e discentes), que o texto foi capaz de transmitir algumas preocupações de professores e alunos (item 2), de formular algumas questões pertinentes (principalmente no item 3), além de servir como registro de um momento singular da história recente (sobretudo item 1)-a esse triplo título é que decidi agora compartilhá-lo.
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This discussion of the concept writing strives to lay out a set of conceptual problems currently on debate in Americanist ethnology, which revolve around the notion of intersemiotic translation (or transmutation). It makes use, in the first place, of recent works of theoretical synthesis and of a certain number of more specific ethnographies to charcaterize the main conceptual proposals currently undergoing dispute. Secondly, given its recognition of a set of problems analogous to that which, in the course of the XXth century, defined the tension between linguistics and semiotics – and which we here call the semiological problem – it seeks to show the interest of recovering some references coming from these disciplines, as well as from information theory. It makes special use of structural linguistics (in both the phonological tradition of Roman Jakobson, and the glossematic perspective of Louis Hjelmlsev), which serves as a guide to the first part of this work. Thirdly, having shown how the notion of writing articulates the whole set, it glances at the problem of writing in the classics cases of hellenistic studies and the archaeology of the ancient Near East, where it finds conceptual dilemmas similar to those of contemporary ethnology. This revision, which starts off the second part of the work, allows us to rediscuss Lévi-Strauss’ famous ‘writing lesson’, a text which partly synthesises the whole debate. Finally, it is worth noting that the treatment given to these different aspects finds its inspiration in the work of Jacques Derrida, so that certain affinities and tensions between the conceptual work of ethnology and the philosophical work of deconstruction are suggested.
Ce mémoire essaie de présenter un complexe de problèmes conceptuels actuellement en discussion à l’intérieur de l’ethnologie américaniste touchant à la notion de traduction intersémiotique, et cela à travers une discussion du concept d’écriture. En premier lieu, on fait ici usage de quelques travaux de synthèse théorique, aussi bien que d’un certain nombre d’ethnographies spécifiques, à fin de carcatériser les principaux propositions du débat. Deuxièmement, étant donné qu’on reconnaît là-dedans des analogies avec l’ensemble des problèmes qui a carctériser la tension entre linguistique et sémiotique au long du XXme siècle – et qu’on appelle ici le problème sémiologique – on essai de montre l’intérêt qu’il y a à reprendre certaines références de ces disciplines, aussi bien que de la theórie de l’information. On fait usage, tout spécialement, de la linguistique structurale (aussi bien du côté de Jakobson que du côté de Hjelmslev) qui nous sert donc de conducteur dans la première partie du texte. En troisième lieu, ayant montré la place centrale da la notion d’écriture dans cet ensemble, on jette un coup d’oeil sur la problème de l’écriture dans les cas classiques de la Grèce ancienne, de la Mésopotamie et de l’Égypte. Cete révision nous permet de réévaluer la fameuse ‘leçon d’écriture’ de Lévi-Strauss. Le traitement de ces différents aspects du problème s’inspire, finalmente, de l’oeuvre de Jacques Derrida.
Conference Presentations by Erick N Vidal
Esta comunicação tem por objetivo mostrar como, na história dos estudos de parentesco, especialmente na primeira metade do século XX, um tipo de problema se formulou que tem relevância contemporânea, mas em outro campo: aquele das chamadas formas expressivas ou da chamada antropologia da arte. Trata-se da interação entre formas ou níveis de comunicação distintos. Aqui, será esboçada uma demonstração de como a obra de Lévi-Strauss formulou este problema num campo e permite ainda abordá-lo no outro.
A narrativa tradicional – que tem, sem dúvida, sua validade – quanto à abordagem estruturalista do parentesco reserva um lugar de honra a Mauss e ao problema da reciprocidade. A ênfase nesta, no entanto, levou a questionamentos sobre até que ponto a troca é um modelo pertinente, na medida em que ela suporia uma abstrata igualdade entre os polos. O problema real estaria nas desiguldades reais supostas e reproduzidas por ela. Ocorre que, como Bourdieu certa vez salientou, a acusação de ‘panlogismo’ ou de uma ‘visão puramente semiológica’ não se aplica perfeitamente às análises do próprio Lévi-Strauss. Isso nos lança na via de um outro tipo de questionamento e, para resgatá-lo, é útil retornar a história dos estudos de parentesco.
De fato, já a disputa entre Morgan e McLennan supunha um conflito entre duas teorias simbólicas e inaugurava, com a própria antropologia, o campo tenso do logocentrismo: disputa entre a ênfase sobre a linguagem e outros sistemas de signo. Autores como Rivers e Kroeber, Malinowski e Hocart enfrentaram, à sua maneira, dilemas comparáveis, como será indicado. Sobretudo a relação entre práticas relacionais e terminologia de parentesco opôs Kroeber e Radcliffe-Brown, mas ambos buscaram, em formulações diferentes, enfatizar o caráter parcial da integração entre elas. O que fez Lévi-Strauss foi não só reelaborar esse nexo, mas inseri-lo numa teoria mais ampla dos sistemas de comunicação (endossada por Jakobson) incluindo o parentesco, a economia e a linguagem verbal (mas também a arte) – uma teoria, no entanto, que, longe de supor que esses diferentes níveis ou campos se encaixam perfeitamente, oscila entre a busca de um código comum capaz de traduzir a todos e a análise dos seus múltiplos desencontros.
Ora, este é precisamente o tipo de problema enfrentado atualmente por estudiosos de práticas semióticas complexas como a música do Alto Xingu ou as múltiplas tradições de desenho na areia em Vanuatu. Indicá-lo, ainda que esquematicamente, permitirá formular uma indagação sobre a própria essência dos sistemas semióticos em sua potência de transformação e conexão com outros. Ademais, sugerirá uma releitura da história da disciplina do ponto de vista deste problema dito ‘intersemiótico’ que parece novo apenas por uma ilusão historiográfica.
Drafts by Erick N Vidal
This discussion of the concept writing strives to lay out a set of conceptual problems currently on debate in Americanist ethnology, which revolve around the notion of intersemiotic translation (or transmutation). It makes use, in the first place, of recent works of theoretical synthesis and of a certain number of more specific ethnographies to charcaterize the main conceptual proposals currently undergoing dispute. Secondly, given its recognition of a set of problems analogous to that which, in the course of the XXth century, defined the tension between linguistics and semiotics – and which we here call the semiological problem – it seeks to show the interest of recovering some references coming from these disciplines, as well as from information theory. It makes special use of structural linguistics (in both the phonological tradition of Roman Jakobson, and the glossematic perspective of Louis Hjelmlsev), which serves as a guide to the first part of this work. Thirdly, having shown how the notion of writing articulates the whole set, it glances at the problem of writing in the classics cases of hellenistic studies and the archaeology of the ancient Near East, where it finds conceptual dilemmas similar to those of contemporary ethnology. This revision, which starts off the second part of the work, allows us to rediscuss Lévi-Strauss’ famous ‘writing lesson’, a text which partly synthesises the whole debate. Finally, it is worth noting that the treatment given to these different aspects finds its inspiration in the work of Jacques Derrida, so that certain affinities and tensions between the conceptual work of ethnology and the philosophical work of deconstruction are suggested.
Ce mémoire essaie de présenter un complexe de problèmes conceptuels actuellement en discussion à l’intérieur de l’ethnologie américaniste touchant à la notion de traduction intersémiotique, et cela à travers une discussion du concept d’écriture. En premier lieu, on fait ici usage de quelques travaux de synthèse théorique, aussi bien que d’un certain nombre d’ethnographies spécifiques, à fin de carcatériser les principaux propositions du débat. Deuxièmement, étant donné qu’on reconnaît là-dedans des analogies avec l’ensemble des problèmes qui a carctériser la tension entre linguistique et sémiotique au long du XXme siècle – et qu’on appelle ici le problème sémiologique – on essai de montre l’intérêt qu’il y a à reprendre certaines références de ces disciplines, aussi bien que de la theórie de l’information. On fait usage, tout spécialement, de la linguistique structurale (aussi bien du côté de Jakobson que du côté de Hjelmslev) qui nous sert donc de conducteur dans la première partie du texte. En troisième lieu, ayant montré la place centrale da la notion d’écriture dans cet ensemble, on jette un coup d’oeil sur la problème de l’écriture dans les cas classiques de la Grèce ancienne, de la Mésopotamie et de l’Égypte. Cete révision nous permet de réévaluer la fameuse ‘leçon d’écriture’ de Lévi-Strauss. Le traitement de ces différents aspects du problème s’inspire, finalmente, de l’oeuvre de Jacques Derrida.
Esta comunicação tem por objetivo mostrar como, na história dos estudos de parentesco, especialmente na primeira metade do século XX, um tipo de problema se formulou que tem relevância contemporânea, mas em outro campo: aquele das chamadas formas expressivas ou da chamada antropologia da arte. Trata-se da interação entre formas ou níveis de comunicação distintos. Aqui, será esboçada uma demonstração de como a obra de Lévi-Strauss formulou este problema num campo e permite ainda abordá-lo no outro.
A narrativa tradicional – que tem, sem dúvida, sua validade – quanto à abordagem estruturalista do parentesco reserva um lugar de honra a Mauss e ao problema da reciprocidade. A ênfase nesta, no entanto, levou a questionamentos sobre até que ponto a troca é um modelo pertinente, na medida em que ela suporia uma abstrata igualdade entre os polos. O problema real estaria nas desiguldades reais supostas e reproduzidas por ela. Ocorre que, como Bourdieu certa vez salientou, a acusação de ‘panlogismo’ ou de uma ‘visão puramente semiológica’ não se aplica perfeitamente às análises do próprio Lévi-Strauss. Isso nos lança na via de um outro tipo de questionamento e, para resgatá-lo, é útil retornar a história dos estudos de parentesco.
De fato, já a disputa entre Morgan e McLennan supunha um conflito entre duas teorias simbólicas e inaugurava, com a própria antropologia, o campo tenso do logocentrismo: disputa entre a ênfase sobre a linguagem e outros sistemas de signo. Autores como Rivers e Kroeber, Malinowski e Hocart enfrentaram, à sua maneira, dilemas comparáveis, como será indicado. Sobretudo a relação entre práticas relacionais e terminologia de parentesco opôs Kroeber e Radcliffe-Brown, mas ambos buscaram, em formulações diferentes, enfatizar o caráter parcial da integração entre elas. O que fez Lévi-Strauss foi não só reelaborar esse nexo, mas inseri-lo numa teoria mais ampla dos sistemas de comunicação (endossada por Jakobson) incluindo o parentesco, a economia e a linguagem verbal (mas também a arte) – uma teoria, no entanto, que, longe de supor que esses diferentes níveis ou campos se encaixam perfeitamente, oscila entre a busca de um código comum capaz de traduzir a todos e a análise dos seus múltiplos desencontros.
Ora, este é precisamente o tipo de problema enfrentado atualmente por estudiosos de práticas semióticas complexas como a música do Alto Xingu ou as múltiplas tradições de desenho na areia em Vanuatu. Indicá-lo, ainda que esquematicamente, permitirá formular uma indagação sobre a própria essência dos sistemas semióticos em sua potência de transformação e conexão com outros. Ademais, sugerirá uma releitura da história da disciplina do ponto de vista deste problema dito ‘intersemiótico’ que parece novo apenas por uma ilusão historiográfica.