Talks/Papers by João Figueiredo
Discurso proferido dia 24, na celebração do Dia de África organizada na UTAD - Universidade de Tr... more Discurso proferido dia 24, na celebração do Dia de África organizada na UTAD - Universidade de Trás-os-Montes e Alto-Douro pela Associação de Estudantes Africanos de Vila Real.
"A celebração do Dia de África em Portugal deve ao mesmo tempo passar pelo reavivar de uma tradição de luta, avançando-se a causa antirracista, e pelo comemorar e rememorar desta presença silenciada".

When the Congregation of the Holy Spirit turned its attention towards Angola, in 1866, one of the... more When the Congregation of the Holy Spirit turned its attention towards Angola, in 1866, one of the earliest areas it decided to intervene in was the local African gender division of labor. At Lândana, the spot of their first successful mission, women seemed to do all the agricultural work, while the men hunted and took part in other public and heavily ritualized political and/or religious activities – a state of affairs they did neither understand, nor tolerate. The spiritan missionaries, wary of Protestant encroachment, decided to adapt their Christian rivals’ model, establishing in Angola the first mixed gender missions, thus hoping not only to successfully convert locally influent males (like their predecessors, the Capuchins), but also to create Christian families. In order to do so, they forced upon local women their take on the crafts of domesticity, asking them to abandon the fields in order to devote solely to an idealized role of wives and mothers. Fifty years later, at the southern plateaus of Huíla and Bié, the spiritans continued their campaign to shape “caring” mothers out of the local women, while trying to banish to oblivion “gentile” political and religious rituals decried as feitiçaria (sorcery).
Two of the most important photographers of colonial Angola, Cunha Moraes (active in the 1870’s and 1880’s) and Elmano Cunha e Costa (active in the 1930’s), either documented the work of the spiritans or actively collaborated with them, leaving a legacy of hundreds of images which still frame our possible understanding of the time. This paper will reflect on how the spiritans’ policy of gender role reorganization and selective forgetting of traditions shaped what is shown and/or hidden in these photographs – which have gained an agency of their own –, deconstructing the missionaries’ policy of the heimlich by confronting it with its unheimlich counterpart.

O decreto com força de lei de 30 de dezembro de 1852 vem introduzir profundas alterações no siste... more O decreto com força de lei de 30 de dezembro de 1852 vem introduzir profundas alterações no sistema de administração de Justiça em Angola, caminhando no mesmo sentido de uma outra peça legal, a “1.ª Carta Orgânica do Ultramar” (1836), e enquadrando-se portanto num projeto liberal mais lato de desmilitarização da administração Angolana. Este decreto, criando Distritos judiciais, subdivididos em Comarcas que por sua vez se cindiam ou em Julgados ou em Presídios, vem trazer para o cerne da delimitação do novo mapa judicial a questão do apuramento do “grau civilizacional” das populações – já central noutras delimitações civis ou religiosas, como a que dividia o território entre os locais que gozavam de Municípios e os que apenas contavam com “comissões instaladoras”, ou a que cindia Dioceses e Prefeituras Apostólicas. A partir de 1852, o Presídio passa portanto a ser considerado “a subdivisão da Comarca, que, não podendo gosar ainda das vantagens municipaes, é administrado pela Auctoridade militar que o governa.” Aliando assim o municipalismo a um “nível civilizacional” superior e à justiça administrada por civis, e circunscrevendo o poder dos militares julgarem apenas aos Presídios – diminuindo assim o seu aceso a uma das formas mais expeditas de enriquecer no hinterland, o julgamento de “mucanos” ou “causas gentílicas” –, o decreto de 30 de dezembro vem dar origem a uma vasta “quezília” entre autoridades civis e militares, que extravasaria para as páginas do Boletim Oficial da província, forçando a metrópole a lançar sucessivas legislações corretivas.
Esta apresentação seguirá esta polémica entre os Comandantes dos novos Presídios e as autoridades civis – autarcas, membros das comissões instaladoras ou Juízes de Direito – tendo também como Fio de Ariadne as sucessivas peças legislativas sobre os emolumentos a cobrar aquando as “Ouvidas” (até 1855 apelidadas de “Julgamento de mucanos”), os julgamentos sumários de “causas gentílicas”. Tendo em conta estes dois prismas – a introdução do “grau civilizacional” das populações como critério para definir o seu governo por civis ou militares, e a polémica aquando a fixação dos emolumentos para diversas “causas gentílicas” – é possível perceber porque depressa os dois ramos da administração se começam a acusar mutuamente de “gentilismo”, de prática de “superstições grosseiras” ou ainda de corrupção e/ou usurpação de bens públicos. Estas violentíssimas acusações mútuas tornam-se inteligíveis, tendo em conta que então se estabelecia um novo mapa judicial que iria definir quem poderia julgar “mucanos”, que eram a fonte de enormes rendas – bem como de escravos, e posteriormente de “resgatados”. Por outro lado, as acusações, porque o “nível civilizacional” passa a ser um fator a ter em conta, são ricas em descrições de comportamentos sincréticos e de adaptações por parte dos Portugueses de símbolos, práticas e rituais das autoridades locais africanas, que as partes sempre imputam aos seus inimigos, e que portanto se adivinham ubíquas.

When the Portuguese explorer Francisco José de Lacerda e Almeida died at the court of the Mwata K... more When the Portuguese explorer Francisco José de Lacerda e Almeida died at the court of the Mwata Kazembe (a Kingdom occupied by modern-day Zambia) in 1798 – leaving his papers and the command of his expedition to his chaplain, Father Pinto – he could never have guessed that his work would be at the kernel of an intense exchange of ideas between the theorizers of the Portuguese and the British African empires, throughout the 19th century. Eager to promote an expansionist reform of the Portuguese Empire loosely based on the new tendencies evinced by the post-abolitionist Victorian Empire, Portuguese statesman and chief abolitionist Viscount Sá da Bandeira promoted the diffusion of Lacerda’s journals and letters, only to draw the attention and competition of the international community towards the territories he was eager to annex. In 1873, the same Richard Burton that translated the One Thousand and One Nights and the Kama Sutra, publishes The Lands of Cazembe – Lacerda's Journey to Cazembe in 1798, a translation of the various sources the Portuguese had mobilized to justify their colonial aspirations during the 19th century, further fixating British attention towards an area already under close scrutiny, due to David Livingstone’s last journey. Throughout this period of time – from 1798 to 1873 – Lacerda’s narratives journeyed to-and-fro Portugal and the British isles, becoming the justification of different, and most of the times opposing Imperial claims. Interestingly, Lacerda himself was born in São Paulo (then part of colonial Brazil), and, after coming into contact with Captain Cook’s journals, loosely based his writing on the experiences of this charismatic British explorer.
This paper aims to trace the ways in which a given mytheme (Lacerda’s journeys and final apotheosis – itself owning a lot to Cook’s narratives of his misfortunes and adventures) travels through two Imperial contexts, demonstrating how the flow of ideas about Africa sometimes took place in an unexpected circular motion.

Na noite chuvosa de 21 de Junho de 2014, o Grupo Folclórico de Coimbra sobe a um pequeno coreto i... more Na noite chuvosa de 21 de Junho de 2014, o Grupo Folclórico de Coimbra sobe a um pequeno coreto improvisado no Largo do Marquês de Pombal, em plena Alta Universitária, para dar início às celebrações das “Fogueiras de São João”. Perante um público de estudantes, funcionários e professores universitários, cantam vários temas do seu reportório, inclusive a cantiga de roda “O Preto”. A audiência é então brindada com rimas sobre como “o preto à sombra da bananeira” espera “a preta para começar a brincadeira”, e ainda referências ao vício no dominó, e a um sombrio “mestre” do casal.
24 anos após Os Negros em Portugal de Tinhorão, que abertura existe para um estudo sério do papel do impacto dos negros e de culturas negro/africanas no folclore Português? Terá a recente vaga de “patrimonialização” – que por vezes ata as mãos de historiadores e antropólogos ao torna-los fieis depositários da “pureza” e “portugalidade” das tradições classificadas – contribuído para tornar as coisas mais fáceis, ou a herança negra continua a ser anátema? Por outro lado, a fixação dos cientistas sociais no multiculturalismo urbano de Lisboa/Porto (em que o estudo da presença e integração de comunidade africanas parece assumir um ex nihilo pós-25 de Abril), por oposição ao relego para segundíssimo plano do estudo de um interior cujo folclore é menosprezado, ajuda ou atrapalha o reconhecimento deste legado? Em Andam faunos pelos bosques Aquilino refere uma aldeia duriense povoada por mandingueiros – poderíamos hoje admitir esta influência guineense em “patrimónios” como os lenços de namorados?

Academics – even travel savvy cultural anthropologists – depend on commercial issued travel guide... more Academics – even travel savvy cultural anthropologists – depend on commercial issued travel guides, more often than they care to admit it (and just like the universally loathed tourists). When faced with a country totally lacking contemporary and certifiable travel information, the next best thing they turn to is hearsay and firsthand accounts, scattered throughout the internet and all the other off-line forums of their home communities. This paper has two goals, its epistemological basis being equally twofold. First, the author will try to briefly and modestly convey the major inconsistencies between what he heard and read in Portugal about working and living in Angola before he moved there for a year (to a suburb of Luanda), and what actually came to transpire. Second, the rising tide of political populism about Angola in Portugal will be taken into consideration, while always trying to address the ways in which this extreme political discourse (from both the Far-left and the Far-right) leaks into public opinion and becomes common sense, only to begin framing the hearsay academics are forced to base their travelling arrangements on. The first part of this presentation will be based on the fieldwork experience of the author, the second on a brief literary review of contemporary Portuguese political discourses about the “rise of the Angolan wealthy elite”. Despite the narrow focus of the second part (on a specific challenge posed to Portuguese researchers in Angola), its take on the dangers of self-censorship should have universal appeal.

This paper aims to convey a concise overview of the intricate dynamics that shaped the history of... more This paper aims to convey a concise overview of the intricate dynamics that shaped the history of the concept of “feitiçaria” [Portuguese; literally “sorcery”, in this setting translatable as “witchcraft”] in Angola, from the late 18th century until the 1880’s – the eve of the Scramble for Africa. Ever since Geschiere’s 'Modernity of Witchcraft' enticed the academic community into making a critical reassessment of current African occult beliefs and practices, only a few works on lusophone countries have emerged – mostly about Mozambique (Harry G. West’s 'Kupilikula', 2005, is a great example). This recent wave of scholarship has acutely resented the lack of a deeper historical understanding of the relations between the Portuguese colonial authorities and the African “brokers of the occult” – and their local and Atlantic traditions and innovations. Based on a four year doctoral study that is now coming to a conclusion, this paper will present the historical background much needed to understand the evolution of occult beliefs and practices in Angola, while stressing the points were it radically differs from the “British norm” that has come to dominate most (post)colonial analysis. For sake of brevity, the main topics covered will be the late Absolutist take on local traditions (from a juridical and epistemological point-of-view); the innovations brought by Romanticism, Liberalism and British-imposed abolitionism; and finally the triumph of a neo-mercantilist quasi-feudal occupation of the territory, that depended on “feitiçaria” accusations to maintain a pool of unpaid labor and forced converts.

The beginning of the nineteenth century heralded a huge Romantic shift in the conceptual and arch... more The beginning of the nineteenth century heralded a huge Romantic shift in the conceptual and architectonic design of graveyards throughout Europe - redesigned then as a bourgeois lieux de mémoire. This rupture, smoothed in Europe by a stable Judeo-Christian background, was differently enacted in colonial Angola. To the local and metropolitan elites, the creole compromise achieved during the late Enlightenment became impossible to sustain - during the Liberal and Romantic period that ensued - because it became unfeasible to imagine a "proper" city without its silent, hygienic and tightly regulated double: a modern public cemetery. This paradigm shift meant that an ongoing religious truce (during which the few Roman Catholic priests present at the colony didn't interfere with the local "gentile" funerary rites - such as "itamas" or "mutambe") was ultimately broken by Liberal public works reformers, in the name of progress and sanitation (Malaria was still attributed to miasmas). Public cemeteries thus became disputed memory sites, where two different groups worshiped the remembrance of their dead in wildly different ways, while projecting their values into the future via the design of their urban environment.

The year was 1894, and the members of the Portuguese Government, hard-pressed by the Lisbon Geogr... more The year was 1894, and the members of the Portuguese Government, hard-pressed by the Lisbon Geographical Society, could no longer postpone their official support to the establishment of a catholic missionary society in Angola. The Holy Ghost Fathers were thus reluctantly chosen (deeply infuriating the Republican Party). This society proceeded to buy and then free slaves (resgatados), in order to quickly establish villages of native converts – thus, an increasingly paranoid Colonial Government assumed, foiling the foreign Protestant plans of “stealing away the hinterland”. These resgatados, due to a loophole in the Portuguese anti-slavery laws of the 1830’s and 1870’s, would mostly be former convicts of witchcraft (feitiçaria) – and were also the labor-force of the then finally emerging plantations. This paper will explore the intricate relations that this tactic of “instant conversion” created in the Angolan hinterland, where villages which were occupied mostly by former “witchcraft accused” women and children began to emerge. This, while on the one hand trying to explain how the African witchcraft oracles began to expressly condemn only the female and the young (essentially due to the pressure exerted by the plantation owners who depended upon such a slave demographic division since the 1870’s); and, on the other, clarifying how the increasingly gender segregated bourgeois mentality of the missionaries made it impossible for them to realize the nature of the dynamics that ensued between their recently created “freed villages” and their African neighbors.
Articles by João Figueiredo
Resumo: Este artigo procura perceber qual é o lugar reservado à figura dos 'antecessores portugue... more Resumo: Este artigo procura perceber qual é o lugar reservado à figura dos 'antecessores portugueses' na literatura colonial inglesa, especialmente no período que marca a transição do consenso público em relação ao abolicionismo assente no bloqueio naval para a apologia da anexação territorial (1810-1840). Serão consideradas obras de Thomas Bowdich, Thomas Buxton, Richard Lander e James Tuckey.
Abstract: This article explores the role attributed to 'Portuguese predecessors' in works by Thomas Bowdich, Thomas Buxton, Richard Lander and James Tuckey. Its chronological focus will be on the period that bridges the gap between the public consensus regarding the abolitionist efficacy of the naval blockade, and the apology of territorial annexation (1810-1840).
Este artigo parte de duas polémicas que nas décadas de 50 e 60 do século XIX se desenrolaram nas ... more Este artigo parte de duas polémicas que nas décadas de 50 e 60 do século XIX se desenrolaram nas páginas do Boletim Official do Governo Geral da Provincia de Angola para apurar, quer como os modelos ideais de “Julgados” e “Presidios”, gizados na metrópole portuguesa, eram percebidos localmente, quer como o inevitável desfasamento entre estes paradigmas e o habitus dos agentes coloniais locais foi instrumentalizado em denúncias cruzadas por corporações rivais na prestação de justiça no sertão angolano. Especial atenção será dada à forma como estes embates na esfera pública se inserem nas tensões mais latas entre abolicionistas e negreiros, bem como entre os agentes fiéis a Lisboa e aqueles afetivamente mais próximos ao Brasil.
African Dynamics in a Multipolar World: 5th European Conference on African Studies — Conference Proceedings, Jun 30, 2014
This paper aims to demonstrate that an historical understanding of the introduction of public cem... more This paper aims to demonstrate that an historical understanding of the introduction of public cemeteries in Angola is feasible, although dependent on the study of a wider context: the “Lusophone Atlantic”. Taking this premise into account, before analyzing how the new Romantic ideals clashed at Luanda and Benguela (the two major Angolan urban spaces of the 19th century) with the ongoing Baroque traditions of the local elites – as well as the native costumes – a brief overview of what went on at Lisbon and Rio de Janeiro during the Romantic cemetery “revolution” is essayed.

"Cenários da História", 2011
O propósito deste artigo é refutar a noção, deveras prejudicial para o avanço da historiografia d... more O propósito deste artigo é refutar a noção, deveras prejudicial para o avanço da historiografia dos objectos de poder em circulação na Angola do século XIX, de pureza elementar dos mesmos, conceito que sendo acertado implicaria a possibilidade de se observar no registo histórico uma dicotomia estanque entre objectos de poder africanos e objectos de poder portugueses. Numa primeira parte, de forma a contextualizar como uma noção de tal maneira errónea foi historicamente construída, a despeito do que aquando a sua génese se passava no terreno, é analisada a situação esquizofrénica das elites portuguesas metropolitanas ao longo do século XIX (resultado da posição internacional ambígua de Portugal continental: metrópole para africanos, colónia, lato sensu, face às potências centro-europeias em ascensão). Tal, tendo como fio de ariana a história do conceito de feitiço, e a do seu desenvolvimento etimológico fétiche/fetish. Numa segunda parte, a fim de ilustrar com um exemplo concreto a natureza falaciosa do conceito de pureza elementar dos objectos de poder em circulação no mundo atlântico do século XIX um destes é escolhido: a vara de juiz.
Mneme - Revista de Humanidades, 2009
Recorrendo aos diários de viagem de Brandáo de Mello, este artigo pretende apresentar alguns dado... more Recorrendo aos diários de viagem de Brandáo de Mello, este artigo pretende apresentar alguns dados sobre a história do conceito de feitiço em Angola, expondo a perspectiva de um autor que viveu num período de forte mudança nesta ex-colônia portuguesa. De forma a perceber como é que práticas semelhantes às de Brandáo de Mello sáo assimiladas pelos sistemas de crenças locais, e uma vez que este nos seus textos náo permite que seja ouvida a outra parte do diálogo cultural que provoca, analisa-se de seguida uma das obras principais de Óscar Ribas.
Mneme - Revista de Humanidades, 2011
Este artigo contesta os motivos por detrás de um suposto relaxamento das autoridades coloniais po... more Este artigo contesta os motivos por detrás de um suposto relaxamento das autoridades coloniais portuguesas quanto à perseguiçáo de costumes e valores culturais africanos. Partindo do princípio de que uma tal circunstância náo se deve a uma política deliberada, mas sim a um desfasamento entre a teoria e a prática coloniais portuguesas, recorre-se às fontes oficiais do Governo da colónia de Angola para demonstrar como durante o século XIX é a adopçáo de elementos da religiosidade africana por parte dos agentes coloniais que vai impor um freio às políticas persecutórias traçadas a partir de Luanda ou da metrópole.
Drafts by João Figueiredo
Aula "Pluralidade Cultural e Identidade do Estado", do Curso de Formação Avançada em Cidadania e ... more Aula "Pluralidade Cultural e Identidade do Estado", do Curso de Formação Avançada em Cidadania e Liderança | "Ciências Sociais e Humanas" na Academia das Ciências de Lisboa.
Este 'paper' constitui uma reflexão de base, com vista à participação no debate "Que História(s) ... more Este 'paper' constitui uma reflexão de base, com vista à participação no debate "Que História(s) contamos no espaço público?", evento organizado pela Djass - Associação de Afrodescendentes, a decorrer dia 23 de junho de 2018, pelas 15 horas, no Museu Do Aljube - Resistência e Liberdade · Lisboa
Uploads
Talks/Papers by João Figueiredo
"A celebração do Dia de África em Portugal deve ao mesmo tempo passar pelo reavivar de uma tradição de luta, avançando-se a causa antirracista, e pelo comemorar e rememorar desta presença silenciada".
Two of the most important photographers of colonial Angola, Cunha Moraes (active in the 1870’s and 1880’s) and Elmano Cunha e Costa (active in the 1930’s), either documented the work of the spiritans or actively collaborated with them, leaving a legacy of hundreds of images which still frame our possible understanding of the time. This paper will reflect on how the spiritans’ policy of gender role reorganization and selective forgetting of traditions shaped what is shown and/or hidden in these photographs – which have gained an agency of their own –, deconstructing the missionaries’ policy of the heimlich by confronting it with its unheimlich counterpart.
Esta apresentação seguirá esta polémica entre os Comandantes dos novos Presídios e as autoridades civis – autarcas, membros das comissões instaladoras ou Juízes de Direito – tendo também como Fio de Ariadne as sucessivas peças legislativas sobre os emolumentos a cobrar aquando as “Ouvidas” (até 1855 apelidadas de “Julgamento de mucanos”), os julgamentos sumários de “causas gentílicas”. Tendo em conta estes dois prismas – a introdução do “grau civilizacional” das populações como critério para definir o seu governo por civis ou militares, e a polémica aquando a fixação dos emolumentos para diversas “causas gentílicas” – é possível perceber porque depressa os dois ramos da administração se começam a acusar mutuamente de “gentilismo”, de prática de “superstições grosseiras” ou ainda de corrupção e/ou usurpação de bens públicos. Estas violentíssimas acusações mútuas tornam-se inteligíveis, tendo em conta que então se estabelecia um novo mapa judicial que iria definir quem poderia julgar “mucanos”, que eram a fonte de enormes rendas – bem como de escravos, e posteriormente de “resgatados”. Por outro lado, as acusações, porque o “nível civilizacional” passa a ser um fator a ter em conta, são ricas em descrições de comportamentos sincréticos e de adaptações por parte dos Portugueses de símbolos, práticas e rituais das autoridades locais africanas, que as partes sempre imputam aos seus inimigos, e que portanto se adivinham ubíquas.
This paper aims to trace the ways in which a given mytheme (Lacerda’s journeys and final apotheosis – itself owning a lot to Cook’s narratives of his misfortunes and adventures) travels through two Imperial contexts, demonstrating how the flow of ideas about Africa sometimes took place in an unexpected circular motion.
24 anos após Os Negros em Portugal de Tinhorão, que abertura existe para um estudo sério do papel do impacto dos negros e de culturas negro/africanas no folclore Português? Terá a recente vaga de “patrimonialização” – que por vezes ata as mãos de historiadores e antropólogos ao torna-los fieis depositários da “pureza” e “portugalidade” das tradições classificadas – contribuído para tornar as coisas mais fáceis, ou a herança negra continua a ser anátema? Por outro lado, a fixação dos cientistas sociais no multiculturalismo urbano de Lisboa/Porto (em que o estudo da presença e integração de comunidade africanas parece assumir um ex nihilo pós-25 de Abril), por oposição ao relego para segundíssimo plano do estudo de um interior cujo folclore é menosprezado, ajuda ou atrapalha o reconhecimento deste legado? Em Andam faunos pelos bosques Aquilino refere uma aldeia duriense povoada por mandingueiros – poderíamos hoje admitir esta influência guineense em “patrimónios” como os lenços de namorados?
Articles by João Figueiredo
Abstract: This article explores the role attributed to 'Portuguese predecessors' in works by Thomas Bowdich, Thomas Buxton, Richard Lander and James Tuckey. Its chronological focus will be on the period that bridges the gap between the public consensus regarding the abolitionist efficacy of the naval blockade, and the apology of territorial annexation (1810-1840).
Drafts by João Figueiredo
https://www.facebook.com/events/282188603583703/?ref=newsfeed
"A celebração do Dia de África em Portugal deve ao mesmo tempo passar pelo reavivar de uma tradição de luta, avançando-se a causa antirracista, e pelo comemorar e rememorar desta presença silenciada".
Two of the most important photographers of colonial Angola, Cunha Moraes (active in the 1870’s and 1880’s) and Elmano Cunha e Costa (active in the 1930’s), either documented the work of the spiritans or actively collaborated with them, leaving a legacy of hundreds of images which still frame our possible understanding of the time. This paper will reflect on how the spiritans’ policy of gender role reorganization and selective forgetting of traditions shaped what is shown and/or hidden in these photographs – which have gained an agency of their own –, deconstructing the missionaries’ policy of the heimlich by confronting it with its unheimlich counterpart.
Esta apresentação seguirá esta polémica entre os Comandantes dos novos Presídios e as autoridades civis – autarcas, membros das comissões instaladoras ou Juízes de Direito – tendo também como Fio de Ariadne as sucessivas peças legislativas sobre os emolumentos a cobrar aquando as “Ouvidas” (até 1855 apelidadas de “Julgamento de mucanos”), os julgamentos sumários de “causas gentílicas”. Tendo em conta estes dois prismas – a introdução do “grau civilizacional” das populações como critério para definir o seu governo por civis ou militares, e a polémica aquando a fixação dos emolumentos para diversas “causas gentílicas” – é possível perceber porque depressa os dois ramos da administração se começam a acusar mutuamente de “gentilismo”, de prática de “superstições grosseiras” ou ainda de corrupção e/ou usurpação de bens públicos. Estas violentíssimas acusações mútuas tornam-se inteligíveis, tendo em conta que então se estabelecia um novo mapa judicial que iria definir quem poderia julgar “mucanos”, que eram a fonte de enormes rendas – bem como de escravos, e posteriormente de “resgatados”. Por outro lado, as acusações, porque o “nível civilizacional” passa a ser um fator a ter em conta, são ricas em descrições de comportamentos sincréticos e de adaptações por parte dos Portugueses de símbolos, práticas e rituais das autoridades locais africanas, que as partes sempre imputam aos seus inimigos, e que portanto se adivinham ubíquas.
This paper aims to trace the ways in which a given mytheme (Lacerda’s journeys and final apotheosis – itself owning a lot to Cook’s narratives of his misfortunes and adventures) travels through two Imperial contexts, demonstrating how the flow of ideas about Africa sometimes took place in an unexpected circular motion.
24 anos após Os Negros em Portugal de Tinhorão, que abertura existe para um estudo sério do papel do impacto dos negros e de culturas negro/africanas no folclore Português? Terá a recente vaga de “patrimonialização” – que por vezes ata as mãos de historiadores e antropólogos ao torna-los fieis depositários da “pureza” e “portugalidade” das tradições classificadas – contribuído para tornar as coisas mais fáceis, ou a herança negra continua a ser anátema? Por outro lado, a fixação dos cientistas sociais no multiculturalismo urbano de Lisboa/Porto (em que o estudo da presença e integração de comunidade africanas parece assumir um ex nihilo pós-25 de Abril), por oposição ao relego para segundíssimo plano do estudo de um interior cujo folclore é menosprezado, ajuda ou atrapalha o reconhecimento deste legado? Em Andam faunos pelos bosques Aquilino refere uma aldeia duriense povoada por mandingueiros – poderíamos hoje admitir esta influência guineense em “patrimónios” como os lenços de namorados?
Abstract: This article explores the role attributed to 'Portuguese predecessors' in works by Thomas Bowdich, Thomas Buxton, Richard Lander and James Tuckey. Its chronological focus will be on the period that bridges the gap between the public consensus regarding the abolitionist efficacy of the naval blockade, and the apology of territorial annexation (1810-1840).
https://www.facebook.com/events/282188603583703/?ref=newsfeed
As performances encenadas no “Terreiro do Folclore” parecem estar portanto no cerne de uma política de relações internacionais que apostava forte na aproximação a dois dos principais intelectuais públicos nordestinos das décadas de 1950 e 60. Sendo claro que estas se tratam de comemorações públicas, pormenorizadamente coreografadas pela administração colonial da Diamang, resta a seguinte pergunta inquietante: o que estava a ser celebrado? No presente trabalho proponho que tanto o público alvo escolhido, os folcloristas brasileiros de renome, bem como as obras de José Redinha e de Acácio Videira, nos proporcionam pistas decisivas. No “Terreiro do Folclore” celebrava-se a tentativa europeia de definir, controlar e coagir o devir daqueles que os colonos acreditavam ser os ‘naturais’ contornos das etnias locais. Por outras palavras, a performance cerimonial tinha com fim naturalizar, inscrevendo nos corpos, nas memórias e nos registos técnicos e científicos, traços das culturas locais que desde a fundação do Museu do Dundo vinham sendo alienados e posteriormente reificados em construções que os europeus apelidavam de ‘etnias’(1936). Qual o saldo real desta experiência? Como decolonizar o seu legado?
No presente paper propomos primeiro traçar de forma breve os contornos do corte conceptual que a criação da Colecção Etnográfica da Diamang proporcionou, e que se vieram a consolidar, primeiro com a sua transformação em Museu Etnográfico (1938), e posteriormente em Museu do Dundo (1942). De seguida, procuraremos demonstrar como as categorias ‘Folclore’ e ‘Arte’ foram instrumentais na hora de proporcionar um ponto de apoio a partir do qual foi possível articular um novo pensamento administrativo colonial. Este passa a depender do alicerçar de abstracções como ‘etnia’ ou ‘tipo étnico’ tanto a divisões territoriais, como a grupos populacionais entendidos enquanto unidades biológicas colectivas. A real herança dos ‘folcloristas’ e museólogos em serviço para a Diamang foi portanto não só a ideia de que existe uma ‘Arte Tchockwé’, como uma forma muito específica de pensar e entender a suposta ‘Carta Étnica de Angola’.
Como lidar com diagramas no arquivo, e em relação a este? A pesquisa que apresentamos dá conta do nosso trabalho sobre os diagramas que José Redinha (1905-1983), influente etnógrafo e funcionário da administração colonial de Angola, foi dando ao prelo nas suas obras. Entendendo-os enquanto signos icónicos, que articulam o arquivo museológico escultórico da Diamang (empresa diamantífera angolana), com o acervo fotográfico desta mesma companhia, e com os textos e discursos etnográficos de Redinha e seus seguidores, pretendemos demonstrar que estes elementos não podem ser entendidos enquanto meros mediadores mecânicos e inertes entre objectos físicos e signos simbólicos, condensando, de contrário, várias potencialidades de pensar a articulação entre estes traços arquivais de diferente natureza (objectos escultóricos, índices pictóricos e símbolos escritos). Um diagrama, qual ‘armadilha cognitiva’, captura o pensamento. Estudando os diagramas de Redinha pretendemos extrair e dissecar o pensamento colonial do seu autor.
SOAS: 11 February 2017.
The year 2016 marked the third jubilee of the Congregation of the Holy Ghost in Angola. For the last 150 years, the Holy Ghost Fathers, or spiritans, have been setting the tone of Catholic proselytism in this former Portuguese colony. During the late colonial stages (c. 1930 – c. 1970), the Congregation had an untroubled or even amicable relation with the imperial administration, sharing with it an anti-protestant, integralist agenda. This quietude and unity of purpose starkly contrasts with the first spiritan efforts to set a foothold in Angola. This paper proposes to focus on these first decades, from the late 1860’s to the 1890s, clearly outlining the future implications for the history of Christianity in Angola of early spiritan institutional choices. Two important aspects will be contextualized, because they provide particularly helpful insights to those interested in studying later prophetic movements and independent African Christian Churches. One will be the spiritan practice of buying resgatados [“rescued” slaves], often accused by their communities of practicing witchcraft; and the other the Holy Ghost Fathers’ strict opposition towards popular/vernacular Christian expressions, when understood as “syncretic”. This paper will take stock of my PhD investigation, as well as my more recent post-doctoral research.
This paper proposes an historical-anthropological exercise, arguing that the use of physical substances, mostly of herbal origin, as long been a characteristic of courtship in “creole” Luanda, facilitating the establishment of intercultural love relationships even when verbal communication was not viable. Besides this point, the idea of “love”, as a form of intimacy having witchcraft as its counterpoint, will also be historically and anthropologically situated, contextualizing the current debate between different kinds of “relationship specialists”.