Papers by Caroline Caregnato

Os efeitos da educação musical sobre o desenvolvimento da motricidade, da cognição e da sociabili... more Os efeitos da educação musical sobre o desenvolvimento da motricidade, da cognição e da sociabilização são constantemente anunciados como argumentos a favor do ensino de música. Recentemente, argumentos desse gênero ganharam espaço na internet através da divulgação de uma imagem contendo "10 motivos para você estudar música". Neste artigo buscamos discutir a validade científica de três desses "motivos" e também o uso de argumentos desse gênero como justificativa para a educação musical. Através de uma revisão de literatura focada sobre estudos de transferência, pudemos observar que os 3 "motivos" analisados não possuem fundamentação científica suficientemente consolidada que deponha a seu favor, e também são argumentos frágeis já que não outorgam à música efeitos que não possam ser obtidos por outras disciplinas escolares, e ainda demandam do professor o domínio de habilidades extra pedagógicas. Palavras-chave: Estudos de transferência; Justificativas para o ensino de música; Desenvolvimento da motricidade; Desenvolvimento cognitivo; Desenvolvimento da sociabilização.

A Teoria Espiral do Desenvolvimento Musical foi formulada, de acordo com seus autores Swanwick e ... more A Teoria Espiral do Desenvolvimento Musical foi formulada, de acordo com seus autores Swanwick e Tillman, a partir de conceitos tomados da Epistemologia Genética. Este artigo busca observar as relações existentes entre os fundamentos dessas duas teorias de desenvolvimento a fim de identificar se existe de fato essa relação entre a Teoria Espiral e a teoria de Piaget. Neste artigo é realizada uma breve revisão de literatura, acompanhada da análise comparativa de conceitos como egocentrismo, assimilação, acomodação, imitação e intuição, encontrados na Epistemologia Genética e na Teoria Espiral do Desenvolvimento Musical. Através desse trabalho de confrontação de concepções foi possível observar, por exemplo, que Swanwick e Tillman -ao contrário de Piaget -concebem a assimilação e a acomodação como processos separados, que se manifestam em diferentes momentos do desenvolvimento musical. Para aqueles autores, a imitação também só se manifesta em um momento intermediário do desenvolvimento das competências musicais e o comportamento musical é guiado pela intuição no começo de todos os grandes momentos do desenvolvimento. Embora Swanwick e Tillman apresentem uma visão diferente da proposta por Piaget em questões relativas à imitação e à intuição, cabe frisar que aqueles autores defendem questões também defendidas pela teoria piagetiana. Um exemplo dessa semelhança seria o reconhecimento por parte dessas duas teorias (Teoria Espiral e Epistemologia Genética) da importância da ação (da experimentação) no início do desenvolvimento. De forma geral, no entanto, é possível afirmar que Swanwick e Tillman realizaram uma interpretação livre de alguns dos fundamentos da teoria de Piaget, e que aqueles autores chegaram a empregar conceitos supostamente piagetianos em seus trabalhos de uma forma diferente da forma como esses conceitos são empregados dentro de trabalhos de Piaget. Essas constatações podem nos levar a negar a ideia já difundida de que a Teoria Espiral do Desenvolvimento Musical seja uma teoria de base piagetiana.

Resumo: Este trabalho teve como objetivo geral investigar o efeito da aprendizagem musical sobre ... more Resumo: Este trabalho teve como objetivo geral investigar o efeito da aprendizagem musical sobre a percepção de timbres. Mais especificamente, o que se buscou foi investigar o efeito que a realização de atividades de execução, apreciação e composição musical teria sobre essa percepção. Neste trabalho foi realizado um estudo experimental envolvendo 51 crianças de 6 a 9 anos de idade. Os participantes do estudo foram divididos em um grupo controle e três grupos experimentais. Todos os grupos foram submetidos a um teste de percepção de timbres. Cada um dos grupos experimentais realizou, antes do teste, uma atividade musical focada na execução, ou na composição ou na apreciação musical. O grupo controle não realizou nenhuma atividade. Os resultados observados apontaram para a existência de uma diferença significativa entre o desempenho dos grupos experimentais e do grupo controle, comprovando assim a hipótese levantada incialmente de que a educação musical favoreceria a percepção de timbres.

As relações entre Música e Educação dentro do contexto brasileiro são permeadas por entraves. A M... more As relações entre Música e Educação dentro do contexto brasileiro são permeadas por entraves. A Música tarde em adentrar o espaço dedicado à Educação -a escola -e, mesmo quando adentra essa instituição, as relações entre ambas por vezes permanecem conflituosas. Essa forma de Arte é usualmente vista dentro do ambiente escolar e mesmo no imaginário social como um instrumento para a concretização de objetivos amplos da Educação, como o desenvolvimento da inteligência, da coordenação motora e da socialização. Este trabalho tem como objetivo discutir criticamente a concepção do ensino de Música como instrumento para o desenvolvimento de competências não artísticas. Neste artigo é apresentado um discurso veiculado em uma rede social na internet que demonstra a valorização da Música como instrumento para a concretização de objetivos amplos da Educação. Esse caso é analisado, neste trabalho, à luz dos conceitos de contextualismo e essencialismo no ensino da Arte como apresentados por Ana Mae Barbosa, autora do campo de ensino de Artes Visuais. Através da aplicação dos conceitos defendidos por Barbosa e da realização dessa análise, se pôde observar que a valorização do uso instrumental da Música, defendida pelo discurso coletado da internet, reflete uma apropriação equivocada da abordagem contextualista de ensino. A apropriação de ideias difundidas pela abordagem essencialista de ensino poderia contribuir para a valorização da Música e do desenvolvimento de competências especificamente musicais.

A abstração pode ser entendida como uma espécie de processo de "leitura" mental da realidade ou, ... more A abstração pode ser entendida como uma espécie de processo de "leitura" mental da realidade ou, mais especificamente, como uma apropriação da realidade por parte do indivíduo. Este trabalho tem como objetivo buscar compreender, a partir do conceito de abstração proposto por Piaget, o modo como ocorre a compreensão musical dos alunos da disciplina de Percepção Musical. Este estudo está focado sobre a teoria piagetiana e sobre trabalhos de autores que estudaram a obra de Piaget. Neste artigo são apresentados os quatro tipos de abstração mencionados na teoria piagetiana: a abstração empírica, responsável por apreender da realidade os seus aspectos materiais; a abstração reflexionante, que permite a extração de dados não concretos da realidade; a abstração pseudo-empírica, que abstrai elementos não concretos da realidade com o auxílio de manipulações concretas; e a abstração refletida, responsável por estabelecer relações entre dados já abstraídos. Neste trabalho ainda são apresentados paralelos entre esses tipos de abstração e situações vivenciadas no cotidiano do ensino de Percepção Musical. Através da transposição das ideias de Piaget sobre abstração para o campo da disciplina de Percepção Musical é possível compreender como o pensamento dos estudantes se organiza durante a construção da compreensão musical.

A Educação Musical pode e precisa se beneficiar de alguns dos saberes da área de estudo (ou, do c... more A Educação Musical pode e precisa se beneficiar de alguns dos saberes da área de estudo (ou, do campo de saber) das Letras. Essa necessidade de intersecção foi observada através de um levantamento realizado com acadêmicos de um curso de Licenciatura em Música. Durante o levantamento, os futuros professores analisaram a letra da peça coral São João Dararão (Francisco Braga), e nessa análise manifestaram suas crenças quanto à adequação da obra à prática coral infantil. Alguns destes acadêmicos afirmaram que a presença de temas polêmicos, e o uso de palavras que fogem à norma culta da língua portuguesagraças à presença de variantes linguísticastornam a peça inadequada à educação musical infantil. Dentro do campo das Letras, contudo, a variação linguística é aceita como uma expressão natural da linguagem, o que permite a abordagem de textos que contenham desvios da norma padrão da língua portuguesa em sala de aula como um elemento enriquecedor na formação do aluno. Ainda, nenhuma temática literária pode ser considerada como imprópria para a educação, pois qualquer texto que contenha um tema de interesse à criança pode ser apresentado a ela com a intermediação de um adulto. Considerando as teorias do campo das Letras e as concepções dos licenciandos, este trabalho busca discutir o uso na educação musical infantil de canções que, como São João Dararão, contenham em seus textos desvios da norma padrão e temas polêmicos. Conforme pudemos observar, essa intersecção de saberes é necessária a fim de que o público infantil não seja privado, graças às escolhas dos professores, de uma prática coral enriquecedora. Concluímos ser desnecessária a exclusão, do repertório coral infantil, de canções que contenham em suas letras elementos como os discutidos acima. Apenas se faz necessária a realização de uma intermediação entre o texto e as crianças, conduzida pelo professor.
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